Estava atrasado. Odiava estar atrasado, mas naquele momento nada estava dando certo para mim. Acabei de assumir a TEC Corporation, empresa de tecnologia do meu pai.
Apesar da minha experiência, eu me via tendo que equilibrar meus trabalhos já em andamento, as visitas ao hospital onde meu pai estava internado e a nova responsabilidade com a empresa. Estava estressado, havia deixado boa parte da minha vida para me dedicar a isso. Não reclamava, pois a minha maior preocupação era a saúde do meu pai, que, naquele exato momento, oscilava. Minha mãe não saía do lado do meu pai, com quem era casada há mais de quarenta anos. Eu não tinha irmãos, tios por perto e meus avós já tinham falecido. O único que podia fazer algo era eu, e jamais reclamaria disso.
Com trinta e sete anos, vivi a regalia de ser o herdeiro de um homem muito bem-sucedido. Estudei nos melhores colégios e na melhor faculdade. Vivi bem com a minha mesada. Atualmente, era conhecido por ser um galinha, mas isso não me incomodava; na verdade, às vezes, eu era um babaca por me exibir por isso.
Ao sair do meu apartamento de luxo e avistar o meu carro novo, esportivo e caríssimo, não funcionar, fiquei puto.
— Só pode ser brincadeira — murmurei irritado. — Quanto custou esse carro? Até parece que comprei na esquina. Peguei o telefone, em meio aos papéis, dentro da minha mala, e liguei para o homem responsável pela manutenção do veículo. Eu o daria um esporro se não estivesse super atrasado para uma reunião. — Serei breve — disse ao me controlar. — Por sua causa, a p***a do meu carro está morto, e agora, tenho que me virar para chegar na merda da empresa, onde trabalho. Respirei fundo, não queria alongar a história para não me estressar mais. — Quero que conserte essa merda, para que eu não fique mais irritado. O homem, do outro lado da linha, nem deu um pio. — Infelizmente vou ter que ir de metrô, pois não tenho saco para ficar acenando para a p***a de um táxi!
Desliguei, coloquei o telefone no bolso da calça e saí dali, bufando.
Nada tenho contra transporte público, só acho chato ter que me entrosar com outras pessoas ou ser encarado por estranhos. Além disso, meu carro estaciona na garagem do prédio, vai no meu ritmo, era tudo mais fácil. Correndo contra o tempo, entrei na estação subterrânea e, por sorte, já vinha o trem. Me enfiei lá dentro e olhei as horas. Mesmo sabendo que eu era o chefe e todos estavam ali por mim, e que se atrasar dois minutos não faria m*l, me irritei, suei e fiquei inquieto. Rezei para que os sete minutos de viagem passassem logo. Entretanto, em uma das paradas, o vagão parou, muitas pessoas entraram, e foi aí que me irritei mais.
— Merda, esse transporte público não… — fechei os olhos, respirei fundo e senti tudo voltar ao seu lugar, indo para a próxima estação. — Você é o chefe, não precisa se irritar — sussurrei. As pessoas ao meu lado podiam até estar me achando maluco.
Meu celular tocou, bem no momento em que eu estava próximo à parada. Só deu tempo de pegar, checar a mensagem e colocar novamente no bolso. Então, as portas se abriram, mais pessoas iam sair e, com pressa e querendo ser o primeiro, comecei a andar para fora, sem perceber que havia alguém na minha frente. Esbarrei na pessoa, saí e disse um singelo “desculpa”, quase inaudível.
Correndo dali, subi as escadas, saí na rua e, próximo dali, estava a empresa na qual agora trabalhava. Outros funcionários chegavam. Ninguém me conhecia ainda. A única barreira a ser cruzada ali era a porta giratória, onde chegava ao hall de entrada. Nem disse um bom dia à recepcionista, peguei o cartão de acesso e passei direto.