No dia seguinte, a chegada de Henrique à empresa como vice-presidente foi motivo de muitas conversas paralelas e receio por parte dos funcionários, um desconforto imediato para Luíz Miguel. O novo cargo do primo gerou uma onda de incertezas e rivalidades, tornando o ambiente corporativo um verdadeiro campo de batalha onde os empregados pareciam se dividir.
Henrique, habilmente disfarçando os seus verdadeiros sentimentos, decidiu explorar a situação a seu favor. Ele enxergou a oportunidade perfeita para semear ciúmes e discórdia entre Luíz e Emília, usando isso para desqualificar o primo perante o avô.
— Em qual dessas salas Emília fica? — Ele perguntou para uma das secretárias.
— Ela compartilha uma sala com outras assistentes!
Henrique sorriu com a resposta e murmurou:
— Meu primo se importa tanto com a esposa, que nem sequer um cargo decente deu a ela nessa empresa.
A secretária ficou constrangida, mas não quis compartilhar o que pensava sobre o comentário. Aquele duelo de poderes parecia estar apenas começando... — Mande que ela venha até a minha sala e traga os últimos contratos.
— De quais meses precisa? — perguntou ela.
— Diga a ela o que madei!
Com uma astúcia calculada, Henrique encontrava motivos para se aproximar dela, solicitando documentos, informações ou atualizações que, na realidade, poderiam ser facilmente resolvidos por outros meios.
Do outro lado, Luíz Miguel saia da sua sala e observou a cena de longe e ficou furioso ao vê-la entrar na sala do primo. Estava enciumado e não podia negar a si, queria ir até lá mandar Henrique tratar dos assuntos com os outros empregados, mas não queria parecer possessivo. Aguardou até o horário da reunião de apresentação do seu primo como novo vice-presidente com a presença de Jorge.
Emília foi convocada para participar, ela sentou-se ao lado do marido e permaneceu como alvo dos olhares maliciosos de Henrique e do acionista Miguel.
e a presença constante de Henrique ao redor de Emília começou a provocar desconforto e insegurança. A estratégia de Henrique funcionava perfeitamente, minando a confiança de Luíz e fazendo-o questionar a decisão de tê-lo como vice-presidente.
— Essas últimas semanas foram de muitas mudanças na empresa, o meu neto Luíz como novo CEO e agora apresento Henrique, meu outro neto como vice-presidente. — Jorge finalizou a fala ao som de algumas palmas,
— Sinto-me muito honrado e com receio de não corresponder as expectativas do senhor meu avô! Mas sei que terei todo o apoio para dar o melhor de mim. — Henrique, em um dos seus momentos de provocação sutil, dirigiu-se a Emília com um sorriso dissimulado.
Após um brinde, Miguel aproximou-se de Emília e ofereceu um gole de vinho.
— Esse vinho não é digno de você, mas deve ser tão adocicado quanto o seu olhar!
Emília ficou constrangida, Luíz se aproximou e a envolveu pela cintura.
— Pare de flertar com a minha esposa ou te jogarei por aquela janela! — disse Luíz ao tomar calmamente um gole de vinho.
— Você enlouqueceu? Como pode ameaçar um acionista? — perguntou Emília.
Miguel retribuiu o sorriso e completou:
— É claro que ele disse isso brincando, não é chefe?
Aquele assunto foi bloqueado com a aproximação de Jorge, ele desejou sucesso aos netos nessa nova jornada na Golden. Enquanto isso, Emília saiu para ir até o banheiro e retocar a sua maquinagem, enquanto lavava as mãos, Verônica, que acabara de chegar à empresa, a seguiu sorrateiramente.
Verônica, vestindo uma roupa provocante e com um sorriso malicioso, aproximou-se de Emília, deixando-a desconfortável.
— Olá, Emília você estava na reunião?
— Claro, essa é a empresa do meu marido. — Emília respondeu com firmeza, ela ia sair, mas antes ouviu a rival dizer:
— Parece tão ocupada cuidando dos negócios do seu marido, você não acha que seria mais útil para ele em casa?
— Não tenho tempo para joguinhos ou insinuações, mas saiba que sou útil para ele em qualquer lugar!
Verônica, mantendo a sua postura provocativa, continuou.
— Muito cuidado com a soberba menina!
Emília, sem se deixar abalar, respondeu com determinação.
— Agora, se me der licença, eu tenho trabalho a fazer.
Emília afastou-se, deixando Verônica para trás com as suas insinuações.
Após a reunião, cada um dos membros da empresa voltou às suas responsabilidades. Emília, passando por eles carregando uma pasta com documentos, percebeu o olhar descarado de Miguel sobre ela. Henrique, atento à situação, flagrou o momento e não gostou da ideia de ter mais um rival disputando a atenção da esposa do seu primo.
Henrique percebeu a presença de uma secretária, Clara, uma jovem dedicada e comprometida com as suas responsabilidades. Ele enxergou uma oportunidade de utilizá-la para seus próprios objetivos.
Henrique, se aproximou de Clara enquanto ela organizava papéis na sua mesa de trabalho e repetiu o nome dela escrito no seu crachá.
— Clara, não sei o que faria sem a sua eficiência por aqui. Parece ser tão organizada.
Clara, sorrindo: Obrigada, Henrique. Estou aqui para ajudar no que for preciso.
Henrique, olhando para alguns documentos: Na verdade, eu estava revendo uns contratos e percebi que precisamos de algumas assinaturas urgentes. Seria possível para você pegar documentos na sala de Miguel e trazê-los para eu revisar?
— Claro, senhor Henrique. Agora mesmo!
Enquanto Clara se dirigia à sala de Miguel, ele não perdeu a oportunidade de lançar olhares sugestivos para iludir a garota. Ao retornar com os documentos, ela se deparou com Henrique ainda lá.
Henrique, com um sorriso sedutor: Ah, você foi rápida. Às vezes, a velocidade é essencial nos negócios.
— Ele não estava na sala, mas acho que não terá problema entregá-los ao senhor, já que é vice-presidente.
— Continue assim e prometo que crescerá muito na empresa.
— Estou aqui para ajudar. — respondeu ela.
Henrique pegou os documentos, conferiu as assinaturas.
No término do expediente, algumas colegas de trabalho de Emília a convidaram para tomarem um sorvete e conversar um pouco. Ela apenas pediu alguns minutos para avisar o marido onde iria.
— Luíz, pode ir para casa. Irei com a Ana e a Luíza até a sorveteria e aproveito para jantar com meus pais mais tarde!
Ele não esboçou descontentamento, mas sabia que isso agradaria os seus rivais.
— Vá! Eu também irei sair mais tarde! — respondeu ele.
Emília entrou no carro com as duas e seguiram para a sorveteira, mesmo tendo um momento de descontração onde não gostariam de falar de trabalho a reunião anterior foi tema do início da conversa.
— Emília, por quê está tão pensativa? — perguntou Ana.
— Me desculpa, não quero ser uma má companhia.
— E você não é, aquela empresa está uma completa bagunça. Te convidamos por saber que apesar de ser esposa do CEO é uma pessoa humilde e agradável.
As palavras de Luíza fizeram Emília sorrir, desde que chegou a Golden apenas despertou ciúmes em todas as mulheres de lá. O celular dela tocou e era Bernando que insistia na aproximação, mas ela não atendeu. Após aquele encontro de amigas, Emília pediu carona para ir até a casa de seus pais.
— Mamãe? — perguntou ela.
— Filha, finalmente se lembrou que tem uma família!
— E o meu pai? Onde está? — perguntou Emília.
— Seu pai está trabalhando na boate Foccus como segurança.
— Por quê? É muito perigoso, ele já é um idoso e ainda caminha com dificuldade. Por que a senhora deixou ele fazer isso?
— Você se casou e nem nos convidou, eu disse para o teimoso do seu pai que está mais do que na hora de você se responsabilizar por nós dois, mas ele insiste nessa bobagem de continuar trabalhando.
Emília passou a mão pela testa, irritada.
— Meu pai tem dignidade e não quer se escorar em mim... Diferente da senhora! — respondeu ela, pegando a bolsa e colocando-a de volta no ombro.
— Onde vai? m*l chegou!
— Buscar o meu pai!
Emília pediu um Uber e seguiu para a boate, seu pai estava trabalhando na portaria e ela exigiu que ele fosse para casa.
— Eu não sou nenhum inválido filha!
— Eu sei que não pai, mas não te quero aqui no meio dessa baderna e correndo perigo.
Os dois foram para casa, Emília entrou em casa e sua mãe a convidou para jantar enquanto conversavam sobre o que havia acontecido.
— Se não vai permitir que seu pai trabalhe então me diga como vamos viver?
— A senhora ainda pode trabalhar mamãe, mas eu sei que isso não te agrada em nada. Tirarei uma parte do meu salário e acredito que isso dê para as despesas da casa!
O pai dela recusou:
— Não vamos aceitar.
— Eu sou a pessoa que mais os ama e se importa, cuidaram de mim desde sempre e é a minha vez de retribuir.
O tempo passou e Emília não se deu conta.
— Já está muito tarde, preciso ir agora!