No sábado, Bianca e a filha foram até a casa de Ana visitar. A menina tinha a idade de Júlia, mas era bem mais “para frente”. Lembrava muito a mãe.
Bruna estava em seu quarto e ela entrou.
— Não sabe bater? — perguntou rabugenta.
— Iiih! Tá na TPM, é?
— Não.
— Já sei! Seu pai?
— Não é tão difícil de adivinhar — disse revirando os olhos.
— O que foi agora?
— Eu não aguento mais ele me fazendo perguntas toda vez que saio com o pessoal. Acha que um dos meninos vai dar em cima de mim a qualquer momento...
— E por que não poderia acontecer?
— Porque eu não acho que eles me notariam dessa forma.
— Você precisa de espelhos em casa...
— Eu tenho espelho em casa.
— Então precisa de óculos...
— Por que está falando isso?
— Você é linda, Bruna! E cisma em ficar se colocando pra baixo. Por isso aquelas meninas implicam com você.
— Fala baixo! — repreendeu nervosa. — Eu só não vejo o que você disse ué.
— Por isso uns óculos cairiam bem.
Bruna revirou os olhos.
— Mas e você? Tem interesse em algum deles?
— Não...
Agatha sorriu maliciosa quando ela desviou o olhar.
— Qual?
— Qual o que?
— Breno ou Diego?
— O que tem?
— Você é muito tapada, Bruna!
A menina jogou o travesseiro nela.
— Qual deles você gosta?
A menina ficou um longo momento olhando a outra sem dizer nada. Como assim qual deles ela gosta? Nunca disse que gostava de ninguém...
— Eles são meus amigos.
— E qual você acha mais bonito?
— O que isso tem a ver?
— Responde, Bruna.
— O Diego.
— E está gostando dele?
— Não...
— Você é tão péssima mentirosa! — disse revirando os olhos. — Ele é lindo mesmo. O Breno também é, mas o Diego...
As duas ficaram em silêncio quando alguém bateu na porta. Bruna abriu e suspirou. Era só a Júlia, o que era bem melhor do que ser o seu pai e ter escutado a conversa.
— Entra — Puxou a menina e fechou a porta.
— Nossa...
— Estamos em um assunto que meu pai não pode nem sonhar!
— E qual é?
— A Bruna tá apaixonada pelo Diego.
— Eu não estou!
— Negar é a prova.
Júlia deu uma risadinha enquanto Bruna encarou Agatha com raiva.
— E meu tio não pode saber disso porque vai surtar, não é? — disse Júlia.
— Se ele imaginar que eu acho qualquer um deles atraente, ele me amarra aqui dentro de casa até completar setenta anos!
As duas riram do drama de Bruna.
— Se eu fosse você investia... Vale a pena — disse Agatha.
— E você por acaso entende dessas coisas? — perguntou com deboche.
— Sim.
— Você tem namorado, Agatha? — falou de olhos arregalados.
— É claro que não! — Revirou os olhos.
— Então como entende?
— Entendendo ué.
— Você já beijou alguém?
— É claro que sim.
— Você só tem treze anos, Agatha!
— Qual o problema, senhora Nicolas?
Júlia riu do deboche e Bruna cruzou os braços.
— Você é muito nova!
— Falou sério, Bruna! Você odeia quando seu pai fala isso, não é? Então não venha falar pra mim!
— Tá bom — disse com as mãos para ar.
— E você, Júlia? — Agatha perguntou.
— Eu o que?
— Já beijou alguém?
A menina olhou de uma para a outra. Agatha tinha um sorriso de desafio no rosto e Bruna a olhava curiosa.
— Não.
— Por favor! O que tem de errado com você?
Bruna a empurrou para o lado.
— Não seja i****a.
— Acho que o problema não está comigo... — disse Júlia.
— O que quer dizer com isso? — Se aproximou de Júlia e Bruna entrou no meio delas.
— Chega desse assunto! Hoje a gente vai ao cinema, querem ir também? O Breno disse que o primo dele também vai.
— Tenho que ver com a minha mãe — respondeu Agatha.
— Eu não sei se vou... — disse Júlia
— Por quê?
— Minha mãe vai ficar sozinha se eu for com vocês.
— E seu pai? — Bruna perguntou.
— Vai chegar tarde hoje.
— E qual o problema ela ficar sozinha? — disse Agatha.
— Ela não anda muito bem.
— O que ela tem? — Bruna se preocupou.
— Eu não sei.
As três ficaram em silêncio. Logo Ana apareceu e chamou elas para um lanche.
— Eu acho que você devia comprar...
Quando Bianca viu as meninas, parou de falar.
— Está tudo bem? — Bruna perguntou olhando Laura.
— Sim.
— Está pálida...
— Estou um pouco cansada.
— Vamos pra casa então? — Júlia se aproximou da mãe.
— Daqui a pouco.
Agatha e Bruna trocaram olhares. A aparência de Laura não era de quem estava cansada.
As três sentaram para comer e de vez em quando olharam Laura. Ela não comeu nada. Depois do lanche, Laura e Júlia foram embora, mas Bianca e Agatha ficaram mais.
— Mãe o que a tia Laura tem? — Bruna perguntou.
— Não sei.
— Ela não sabe?
— Não.
— E não vai ao médico?
— Ela marcou uma consulta.
— Hum... Acha que é algo grave?
— Dependendo do que apareça no exame, deve ser pior do que doença... — disse Bianca.
— O que pode ser pior do que isso?
— Deixa pra lá. Vamos esperar pra ver.
Bruna e Agatha trocaram olhares.
— Você deixa eu ir no cinema com o pessoal? — Agatha falou com Bianca.
— Que pessoal?
— Eu, a Vitória e alguns amigos — respondeu Bruna.
— Que horas é isso?
— Na sessão das 16.
— Está bem. Não deve acabar muito tarde, não é?
— Acredito que não.
— Pode ir.
As duas sorriram largamente. Logo foram para o quarto e Bruna avisou Vitória, mandando uma mensagem pelo celular.
Quase na hora de sair, Júlia ligou e avisou que poderia ir sim, que seu pai tinha chegado e liberou ela.
Lucas deixou a menina na casa de Ana para irem juntas.
— Seu pai não ia chegar tarde? — Agatha perguntou.
— Ia, mas deu um jeito de chegar cedo. Pareciam até querer que eu saísse mesmo...
— Como assim?
— Comentei que vocês iam sair e minha mãe falou pra eu ir também, sem que pedisse nada.
— Eles devem querer conversar algo e você ia fica atrapalhando — provocou.
— Eu não fico atrapalhando nada, Agatha.
— Chega vocês duas! Vamos logo que a sessão é daqui a pouco — disse Bruna.
As três seguiram para o cinema e encontraram Vitória, que já esperava.
— Que demora! — reclamou.
— Culpa da Júlia — disse Agatha.
— Já estou de saco cheio disso! — Bruna falou irritada e encarou Agatha de um jeito enfurecido.
— Eu não disse nada demais.
— Já estão estressadas? — Vitória perguntou sorrindo.
— A Agatha que está pegando no meu pé hoje — respondeu Júlia.
— E eu estou cansada das duas! — disse Bruna.
— Então não devia ter convidado a gente — Agatha retrucou.
Vitória deu uma risadinha ao ver o olhar que a ruiva lançou a Agatha.
— Cadê os meninos?
— O Diego me mandou mensagem falando que está chegando. O Breno eu não sei — respondeu Vitória.
— Estou aqui.
As quatro olharam para trás com pressa. O garoto sorria. Tinha um menino com ele.
— E aí? Já podemos entrar?
— O Diego não chegou.
— É claro que não! — disse revirando os olhos.
— Não vai apresentar seu primo? — Vitória perguntou.
— É claro. Esse é o Bruno. — Apontou para um garoto baixo de cabelos castanhos e olhos da mesma cor.
Eles ficaram conversando por um tempo, esperando Diego chegar. O garoto chegou cinco minutos antes da sessão começar.
— Podia ter demorado mais — Vitória falou sarcástica. — Assim a gente perdia o filme de uma vez.
— Você perderia, pois eu ia entrar com ou sem ele — disse Agatha.
— E quem é essa?
— É uma amiga nossa — respondeu Bruna.
— Vamos parar de discutir e entrar de uma vez — Breno falou indo na frente.
Os outros seguiram ele sem dizer mais nada. Sentaram nas poltronas e as luzes se apagaram. Mais um pouco e realmente perderiam o início do filme.
Era comédia romântica e eles estavam se divertindo bastante. Bruna de vez em quando olhava disfarçadamente para Diego e as vezes ele olhava também, fazendo ela desviar o olhar rapidamente.
Mas teve um momento que ela olhou e sentiu uma coisa gelada em seu estômago.
Diego segurava a mão de Vitória!
Bruna voltou a olhara tela, mas não prestou mais atenção ao filme. Será que viu direito? Não está tão iluminado ali dentro, pode ter visto demais.
Não conseguiu olhar de novo. Não queria ter certeza de nada. Por que ficou tão incomodada com o que viu?
Saíram da sala junto com a multidão de pessoas assim que o filme acabou.
— Está tudo bem? — Júlia perguntou.
— Sim.
A menina franziu a testa, mas não perguntou mais nada.
Depois do cinema eles resolveram tomar um sorvete. O filme não demorou tanto e eles tinham um pouco de tempo ainda.
— Esse foi o melhor filme que eu já vi. Você gostou, Vitória? — Agatha perguntou debochada.
— Eu gostei sim. Foi bem engraçado — respondeu naturalmente.
Agatha sorriu sarcástica. Tinha visto ela e Diego de chamego um com o outro e por isso estava falando desse jeito.
— Está tudo bem? — Breno perguntou ao ver Bruna distraída.
— Sim.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não.
O menino ergueu as sobrancelhas e não perguntou mais nada. Tinha certeza que a menina estava mentindo. No curto tempo que conviveu com ela, percebeu quando tentava mentir, porque conseguir, ela nunca conseguia.
Ficaram um tempo conversando e tomando sorvete. Bruna reparou que tinha mesmo rolado algo entre Diego e Vitória. Nem que fosse só clima, mas rolou...
O celular da garota tocou e ela suspirou ao ver o nome no visor.
— Oi, pai.
— Onde você está?
— Na sorveteria.
— Que horas você tinha que estar aqui, Bruna?
— Antes das sete.
— E que horas são, Bruna?
— Vinte para as oito... Estou indo!
— Tá.
Ele desligou e Bruna ficou preocupada. Sempre que isso acontecia, dava problema depois.
— Que foi? — Diego perguntou.
— Meu pai tá irritado. Preciso ir. — Levantou da cadeira.
— Vou com você. Meu pai disse que me buscava na sua casa — disse Júlia.
— Então vamos logo.
As duas se despediram dos amigos e seguiram andando apressadas para a casa de Bruna. Não era tão distante da sorveteria e elas chegaram bem rápido.