Depois da decepção que tiveram, cada uma seguiu para sua sala. Bruna se sentiu pior ainda ao entrar e dar de cara com suas inimigas. As duas sorriram maldosas ao ver a garota. A ruiva seguiu para o fim da sala e sentou no fundo. Queria distância daquelas metidas.
Mas claro que elas foram implicar com ela...
— Cadê sua defensora? Não vai mais te ajudar?
Bruna não respondeu e as duas riram debochadas.
— Estou achando que ela te abandonou a própria sorte. O que será de você sem ela, hein?
A ruiva não respondeu. As duas sempre implicavam com ela desde crianças e era Vitória que a defendia, colocando as duas para correr.
— Acho que esse ano sim vai ser interessante...
Bruna revirou os olhos e as duas saíram de perto rindo. Ia ser um ano infernal, isso sim.
No fim das aulas fez questão de ser a última a sair da sala. Isso para que as duas não pegassem no seu pé. Esperou um pouco e saiu. No corredor não encontrou ninguém. Se sentindo confiante, seguiu seu caminho. Ao virar para esquerda, sentiu algo em seu pé e se desequilibrou, caindo no chão com tudo.
Risadas foram ouvidas e Bruna olhou para cima. As duas riam dela deitada.
— Olha por onde anda, queridinha.
Elas saíram de perto rindo e Bruna sentou no chão e começou a recolher suas coisas que se espalharam.
— Isso não foi nada legal...
A menina olhou para o lado e um garoto moreno e fortinho oferecia a mão a ela.
— Já acostumei com isso. — Segurou a mão dele.
— Pois não deveria. — Puxou ela para cima.
— Obrigada.
— Sou o Breno e você?
— Bruna.
— Disse que está acostumada... Sempre fizeram isso com você?
— Sim, elas me perseguem desde criança.
— Por quê?
— Não faço ideia!
— Deve ser inveja.
— Inveja? De que?
— De você ué.
— Por que teriam inveja de mim? — perguntou surpresa.
— Talvez da sua beleza...
A menina caiu na gargalhada e Breno franziu a testa.
— O que eu disse de engraçado?
— Essa foi ótima!
— Não estou entendendo...
— Elas me odeiam e nunca teriam inveja de mim. Vivem dizendo que tenho cara de trakinas.
— Trakinas?
— É. O biscoito, sabe?
— Você não tem cara de trakinas.
— Não é o que elas acham... Bom, eu tenho que ir. Meu pai deve me buscar.
— Então a gente se vê.
— Tá bom.
Bruna continuou caminhando e no pátio encontrou Vitória.
— E aí como foi? Quem está na sua turma?
— Adivinha?
— Mayara e Carolina?
— Sim.
— Não acredito...
— Sou sortuda demais da conta.
— Você tem é que revidar!
— Eu não vou fazer isso. Elas são duas.
— Mas correm de mim que sou uma só.
— Mas eu não sou como você.
Vitória revirou os olhos.
— Você devia era entrar em algum tipo de luta...
— Isso não me deixaria mais forte.
— Nem tudo é força, Bruna.
— Meu pai chegou. Vai querer carona? — falou ao ver Nick parar o carro em frente ao portão.
— Não. Minha mãe está vindo me buscar.
— Ok. Até amanhã então.
— Até.
A ruiva seguiu para o carro e sentou no banco da frente. Nick saiu com o carro dali.
— E aí, como foi o primeiro dia?
— Normal.
— E o que mais?
Bruna suspirou.
— Vitória não está na mesma turma que eu.
— Mesmo? Que chato. Se você quiser pode conversar com a diretora e pedir para mudar.
— Será que ela deixa?
— Não custa tentar, não é? Se quiser eu falo com ela.
— Acho que eu posso tentar.
— Tudo bem.
Os dois chegaram em casa e encontraram Laura e Ana conversando na cozinha.
— Oi tia. — Beijou o rosto de Laura.
— Oi. Está tudo bem?
— Tudo ótimo! — mentiu.
Laura e Ana trocaram olhares.
— Cadê a Júlia?
— Está no banheiro.
— Hum...
— Como foi a escola? — Ana perguntou.
— Boa. Só não fiquei na mesma turma que a Vitória.
— E isso foi r**m pra você?
— Ah... Era melhor ficarmos na mesma sala.
— Falei pra ela pedir a diretora para mudar — disse Nick.
— Pode ser. Mas talvez seja bom vocês ficarem em salas diferentes.
— Por quê?
— Vocês vivem grudadas! Pelo menos assim vão ficar distante um pouco.
Laura e Nick riram.
— Mas qual o problema? Somos amigas ué.
— Eu sei, só quis dizer que assim vocês vão conhecer outras pessoas.
— Vou pensar se peço ou não a diretora.
Júlia apareceu na cozinha e a Bruna sorriu quando a viu. Ela era filha de Laura e Lucas e tinha treze anos de idade. Tinha os cabelos castanhos e olhos claros.
Nick agarrou a menina e beijou sua bochecha.
— Pai! Deixa ela!
— Está com ciúmes? — Agarrou o pulso de Bruna e puxou ela para junto dos dois abraçando as duas.
Laura e Ana riram da expressão de sofrimento das meninas.
— Chega, pai... — falou com as bochechas comprimidas. Nick apertava as meninas contra seu peito.
O moreno soltou as duas. Bruna ajeitou o cabelo e olhou o rosto do pai. Ele sorriu largamente e ela riu.
Bruna segurou a mão de Júlia e levou ela para o quarto.
— Como foi seu primeiro dia?
— Normal. Fiquei na mesma turma de sempre.
— Sorte a sua.
— Por quê?
— As únicas pessoas que conheço na minha turma são Mayara e Carolina.
— A Vitória ficou em outra sala?
— Sim.
— Puxa... Achei que nunca separariam vocês.
— Pelo visto só no ensino médio... — resmungou.
— Eu ainda acho que você devia contar aos seus pais o que elas fazem...
— De jeito nenhum! Aí que vão pegar no meu pé! Se conto, meu pai vai na escola falar com a diretora e aí sim vou ser motivo de chacota pelo resto da vida.
— Então o que pretende fazer em relação a isso?
— Não tenho a mínima ideia!
****
No dia seguinte quase fingiu que estava passando m*l para não ter que ir para escola, mas achou melhor deixar essa ideia para um dia mais perigoso...
Ao chegar na escola, encontrou Vitória no portão e as duas ficaram conversando antes de entrar.
— Te vejo no intervalo — disse a loira e seguiu para sua turma.
Bruna lentamente seguiu para a dela. Estava até com vontade de mudar de escola, mas isso talvez não seja bom também, pois ia ter que contar aos pais o motivo de mudar e não ia saber o que dizer.
Assim que entrou na sala, procurou pelas duas, mas elas ainda não estavam lá. Respirou aliviada e sentou no fundo da sala.
— Olá.
Bruna olhou para o lado e o Breno estava em pé ao seu lado.
— Oi. Você é da minha turma?
— Sim. Mas acho que você não notou por causa daquelas duas, não é?
— Não foi bem por causa delas... Eu apenas não reparei.
— Sei... Posso sentar aqui? — Apontou para a mesa em frente a dela.
— Por que não?
O garoto colocou sua mochila em cima da mesa e sentou na cadeira. Enquanto o professor não chegava, os dois ficaram conversando. Agora que relaxou um pouco, a garota reparou melhor o Breno. Tinha cabelos negros e olhos verdes. Era um garoto bonito, mas ela estava em uma situação bem constrangedora no momento em que se conheceram, então só pôde reparar agora.
A menina parou de falar ao ver Mayara e Carolina entrarem na sala. As duas sorriram ironicamente ao vê-la. Breno olhou também ao ver Bruna olhando sem piscar.
— Por que você não conta pra alguém?
— O que?
— Sobre elas.
— De jeito nenhum!
— Por quê?
— Vão pegar mais ainda no meu pé.
— Ou não. Talvez levem uma dura e parem de vez.
— Acredita mesmo nisso? — perguntou com uma sobrancelha levantada.
Breno sorriu.
— Não sei, só tentando pra saber.
— Pois então não vamos saber.
O professor chegou e eles pararam de falar. A aula correu normalmente e na hora do intervalo saíram juntos da sala de aula. Ao ver Bruna acompanhada de Breno, Mayara e Carolina não seguiram a menina.
Vitória esperava no fim do corredor e sorriu ao ver Bruna se aproximar.
— E aí, algum problema?
— Hoje não.
— Hum...
A loira franziu a testa olhando Breno.
— Ah! Esse é o Breno.
— Oi.
— Essa é a Vitória.
— Prazer. — Estendeu a mão na direção da garota e ela apertou a mão dele.
— E aquelas cobras?
— Não sei.
— Você sabe que elas implicam com a Bruna? — Breno perguntou.
— Sim. Coloco elas pra correr sempre que posso.
— E não acha que ela deveria contar pra alguém?
— Sim, mas ela não quer.
Breno balançou a cabeça em negação.
— Se você puder não falar nada também, vai ser ótimo — disse a ruiva.
— Ótimo? Então você gosta que elas fiquem no seu pé?
— Não gosto, mas acredito que será bem pior se falar.
Vitória e Breno trocaram olhares quando ela disse isso. Eles também não sabiam o que poderia acontecer, se seria pior ou não ela falar sobre o assunto, mas do jeito que estava, não podia continuar.
Uns dias se passaram e Bruna convenceu os dois a não falarem nada com ninguém sobre as implicâncias. Mas eles só aceitaram com uma condição: na sala o Breno ficaria ao lado dela e no intervalo ela ficaria com a Vitória, pois perto deles, as meninas não mexiam com Bruna. Ela topou a ideia. Era melhor do que ter que contar ao pai e virar um baita problema.
A menina resolveu não pedir a diretora para mudar de turma. Talvez ela perguntasse o motivo e ela gaguejaria e a diretora poderia desconfiar de algo.
Bruna e Vitória estavam na sorveteria conversando. Era fim de semana e elas não queriam ficar o dia todo em casa.
— E eles vão viajar de novo?
— Sim — respondeu entediada. — Vou ter que ficar na casa do meu tio de novo.
— Você acha isso r**m?
— Não em ficar na casa deles, mas sim de não poder ir na viagem e show — disse carrancuda.
— Você podia ficar lá em casa uns dias...
— É só pedir a sua mãe.
— Vou ver com ela.
— Oi maninhas...
As duas olharam para o lado. Bernardo estava perto da mesa e sorriu olhando as duas. O garoto estava agora com vinte anos. Assim como Matt, chamava bastante atenção das garotas.
— O que faz aqui? — Bruna perguntou.
— Vim tomar um sorvete, ué — falou puxando uma cadeira.
— Decidiu finalmente seu curso? — Vitória questionou.
— Acho que sim.
— Ouvi isso da última vez — resmungou Bruna.
— Você também vai chegar na época da decisão e quero ver se vai escolher bem rápido — disse meio irritado.
— E qual você escolheu? — perguntou Vitória.
— Ciências contábeis.
As duas fizeram careta ao mesmo tempo.
— Nerd! — Vitória implicou.
Bernardo revirou os olhos.
— O pai vai viajar de novo?
— Sim.
— Quando será que vão parar com essa vida? Já estão ficando velhinhos, não é?
Vitória o olhou irritada. Ele sempre falava a mesma coisa e era só para irritar mesmo. Sabia que ela ficava brava com o assunto.
— Eles não estão velhinhos! Principalmente a minha mãe! Se você não lembra, ela é um ano mais nova do que o meu pai.
— Quanta diferença... — debochou.
— Vocês me cansam — disse Bruna.
— Ele que começou!
Bruna revirou os olhos. Os dois continuaram se alfinetando e a ruiva desviou o olhar deles. Sempre era a mesma implicância.... Pareciam duas crianças. Ela passou os olhos pela sorveteria e assim percebeu uma pessoa olhando para ela. Assim que percebeu que ela também olhava, a pessoa sorriu.
Era um garoto. E um belo garoto... Tinha olhos azuis e cabelo loiro escuro. Sorriu de volta. Não sabia quem ele era, mas o achou lindo!
— O que está olhando?
Bruna virou o rosto para o lado e deu de cara com o irmão, que se aproximou dela para poder ver o que ela via.
— Não estou olhando nada! — disse nervosa.
— Quem é esse garoto?
— Não sei.
— E por que está sorrindo pra ele?
— Porque tenho educação!
— Educação? Me engana, Bruna.
— Ah cala a boca, Bernardo! Já não basta meu pai em cima de mim? Agora vai ficar também? — falou irritada.
Vitória deu uma risadinha e Bernardo olhou na direção do garoto de novo.
Por algum motivo não foi com a cara dele.
****
No dia seguinte a Bruna se encontrou com a Vitória no portão da escola e as duas esperaram o Breno chegar. Foi o combinado. Assim que o garoto chegou, eles seguiram para sua sala de aula. Ao ver Bruna entrando na sala com Breno, as duas garotas fecharam a cara. Estavam há muito tempo sem implicar com ela.
Bruna se sentiu bem ao ver a decepção das duas.
O primeiro tempo passou rápido e logo o professor saiu para outro entrar. A professora chegou e junto com ela um garoto. Bruna arregalou os olhos quando viu que o garoto, era o mesmo da sorveteria. Ele sorriu ao ver ela.
A professora pediu para ele sentar depois de dizer que era aluno novo, que veio de outra cidade.
O garoto foi até o final da sala e sentou na carteira atrás de Bruna. A menina estava paralisada olhando para frente. Logo virou a cabeça para trás quando ele a cutucou levemente.
— Você por acaso teria uma caneta pra me emprestar?
— Claro. — Pegou no estojo e entregou a ele.
— Obrigado.
— De nada.
Ninguém conversou durante a aula, pois a professora era uma das mais bravas da escola, então não tinha um que se atrevesse.
Quando tocou o sinal para o intervalo, foi de grande alívio que deixaram a sala. Mesmo sendo os primeiros dias de aula, a professora não perdoou e passou um monte de dever de casa.
Bruna e Breno estavam saindo quando o garoto chamou por ela.
— Desculpa, mas será que você pode me ajudar?
— Como?
— Pode me mostrar a escola? Eu não conheço nada aqui.
Bruna e Breno trocaram olhares.
— Desculpa, cara. Não quero problemas, só preciso de ajuda mesmo...
— Por que teria problemas? — Breno perguntou confuso.
— Porque cheguei assim falando com sua namorada...
— Ele não é meu namorado. É meu amigo — respondeu Bruna.
— Ah... Entendi.
— Bom, vou resolver umas coisas com o time de futebol. Qualquer coisa sabe onde me encontrar — disse Breno.
— Ok.
O garoto se afastou e os dois ficaram sozinhos.
— Qual seu nome mesmo?
— Diego e o seu?
— Bruna.
Depois das apresentações, Bruna mostrou toda a escola ao garoto. Era seu primeiro ano no ensino médio, mas ela conhecia o local, pois só mudava o prédio do ensino fundamental e ela sempre visitava o do ensino médio. Principalmente no último ano do fundamental.
— Obrigado, Bruna. Aqui é muito bom. Minha outra escola não chegava nem perto.
— É bom sim, tirando um professor ou outro...
— Aquele garoto não é seu namorado mesmo?
— Não. É meu amigo.
— Hum... Achei que fossem namorados, pois estavam juntos na sala e saíram juntos.
— Sempre ando com ele e minha amiga Vitória. Ela não ficou na minha turma esse ano. Aí conheci o Breno.
— Entendi.
— Você quer ficar com a gente? Não somos os mais populares ou mais interessantes da escola, mas acho que valemos alguma coisa...
Diego deu uma risadinha.
— Eu topo.
Depois desse dia os quatro andavam sempre juntos. Os meninos ficavam com Bruna na sala de aula e no intervalo encontravam Vitória.
Também saiam nos fins de semana.
— E quem é esse Diego?
— Um garoto que entrou na escola agora.
— Hum... e o outro?
— Breno. Também entrou na escola agora.
— Sei...
Nick estava fazendo um questionário a Bruna, pois ela estava andando tempo demais com esses meninos e ele não estava gostando nada disso.
— Deixa de ser chato, Nick! Ela não pode ter amigos agora? — Ana perguntou irritada.
— Eu nunca disse isso.
— Mas fica perguntando toda hora o que ela fez!
— E não é pra saber?
— Sim, mas só onde ela anda e com quem. Não precisa ficar perguntando se beijou um dos garotos!
Bruna cobriu o rosto com a mão. Seu pai sabia ser intrometido e ficava pior quando Ana começava a discutir com ele sobre o assunto.
— Mas é claro que eu tenho que perguntar! — falou indignado. — Bruna não tem idade para namoros.
Ana revirou os olhos.
— É claro que tem. Já fez quinze anos se você não lembra.
— Justamente!
Bernardo entrou em casa e percebeu o clima tenso entre os dois. Ele olhou Bruna, que encarava o prato de comida em silêncio.
— Tá tudo bem?
— Não! — os dois falaram ao mesmo tempo.
Bernardo levantou as mãos e sentou ao lado da irmã.
— E ninguém disse que ela está namorando.
— Nem vai estar! — falou alto.
— Ah... Entendi...
Os dois olharam Bernardo e ele desviou o olhar. O olhar de Nick pegava fogo e ele não queria que sobrasse para ele.
— São só amigos, Nick!
— Por quanto tempo?
— Acha que vou namorar os dois?
Nick e Ana ficaram em silêncio quando Bruna perguntou.
— Porque se um dia eu for namorar, pretendo que seja um só.
— Acho muito bom! — disse Nick. — Mas por enquanto é nenhum!
— Não se preocupa, pai. Não estou interessada em ninguém. Eles são meus amigos.
— Mas isso pode mudar a qualquer momento. Esses garotos de hoje em dia são muito atiradinhos.
— As meninas também — disse Bernardo.
— Está sendo assediado também?
— Quem disse que eu estou? — Bruna perguntou antes que Bernardo pudesse responder.
— Você não está ainda.
Bruna revirou os olhos e Ana balançou a cabeça em negação. Todo dia era a mesma ladainha...
— Eu não sou a única garota na escola, sabia? — perguntou irritada.
— E daí? Eles andam com você não com as outras.
— Vitória também anda com a gente! — falou alto.
— Não use esse tom comigo.
— Podemos ao menos uma vez na vida comer em paz? — Ana perguntou cansada.