Ao entrarem no apartamento encontraram Nick sentado no sofá com os braços e as pernas cruzadas. Trocaram olhares e Júlia fez sinal para Bruna ir na frente. A menina suspirou e foi. Parou em frente ao pai, que a olhava sério.
— O que foi dessa vez? Perdeu a hora?
— Eu não percebi que já era tão tarde.
— Hum...
— E a gente só foi tomar um sorvete.
— Todos?
— Sim. Não é Júlia?
— Sim.
Nick desviou o olhar de Bruna para Júlia.
— E aqueles meninos foram?
— Sim.
— Mas ela não ficou de chamego com nenhum deles, ficou?
— Pai!
— Só quero saber.
— Do que você tem medo exatamente? Estou começando a achar que não tem medo só de eu arrumar um namorado...
— É claro que não quero que namore agora! Você tem que estudar. Focar em coisas importantes.
— Você só namorou com cinquenta anos? — perguntou irritada.
— Nem cheguei aos cinquenta ainda...
— Exatamente! E já tem esposa e filha! Duvido que começou a namorar depois dos vinte!
— Na verdade, foi assim mesmo.
Bruna ficou em silêncio olhando o pai. Ele ainda tinha os braços e pernas cruzados.
— Achei que tinha namorado minha mãe bem antes.
— Não. Ela namorava o Matt.
— E não teve nenhuma outra?
— Não.
— Mas deve ter ficado com outra pessoa.
— Sim, mas não coisa séria.
— Então você pode e eu não?
— Bruna você é inocente demais. Esses garotos vão acabar te machucando.
A menina riu, mas não tinha nada de divertido em sua risada. Era mais uma risada irônica.
— Não acha que eu preciso passar por certas coisas pra crescer?
— Ah eu acho!
Os três olharam para o lado. Ana acabava de entrar em casa dizendo isso.
— Ela vai ficar inocente se você continuar desse jeito. Aí quando realmente for viver, vai ser passada pra trás.
Nick revirou os olhos. Maldita hora para chegar!
— Não acho que funcione assim.
— Você tem medo que eles façam algo com ela, mas ela precisa dessas experiências.
— Por quê? — perguntou carrancudo.
— Porque assim vai saber escolher o certo.
O moreno ficou um longo momento olhando Ana. Ela tinha as sobrancelhas levantadas olhando-o. Nick suspirou profundamente.
— Tá. Mas não gosto nada disso e se esses moleques fizerem uma merdinha que seja, vou pegar eles.
Júlia e Bruna olharam Ana e ela revirou os olhos. As duas riram.
— Você nem conhece!
— Não interessa! Não quero ninguém magoando minha filha.
— Somos amigos, pai. Amigos.
— E daí? Eu e sua mãe também éramos amigos.
— Desisto! Vai me castigar pelo atraso?
— Você está muito abusada, sabia?
— Deixa a menina em paz, Nick! — Ana brigou.
Antes que um deles pudesse retrucar, o telefone tocou. Ana virou as costas a Nick e atendeu.
— Alô?
— Oi Ana. É o Lucas.
— Oi Lucas.
— Será que a Júlia pode ficar aí hoje?
— É claro, mas aconteceu alguma coisa?
— Estou com a Laura no hospital, mas não precisa preocupar a Júlia.
— O que foi? — tentou não soar preocupada para não chamar a atenção da menina. Mas Júlia prestava atenção.
— Ela estava passando muito m*l e eu resolvi ver isso logo.
— É melhor mesmo. Me diga depois o que é.
— Tudo bem. Obrigado.
— De nada. Até mais.
— Até.
Os dois desligaram e Ana respirou fundo. Sabia que a menina ia querer saber. Ouviu quando ela falou o nome do pai.
— O que foi, tia?
— Seu pai pediu pra você ficar aqui hoje.
— Está tudo bem?
— Sim. Ele está cuidando da sua mãe.
— Ela passou m*l de novo?
— De novo? — Nick que perguntou.
Ana suspirou. Era muito difícil mentir para Júlia. Ela era esperta demais!
— Não precisa ficar preocupada. Ela passou m*l e o Lucas resolveu levar ela ao médico logo para ver o que é de uma vez.
Júlia desviou o olhar de Ana e olhou seu tio. O moreno olhava Ana, avaliando para ver se mentia e logo olhou a menina. Ele fez sinal com a mão chamando para mais perto. Júlia se aproximou dele.
— Senta aqui. — Deu um leve tapa no sofá.
A menina obedeceu.
— Não precisa se preocupar. Você sabe que sua mãe tem umas alergias e que fica meio m*l as vezes... Pode ser isso.
— Acho que não é alergia.
— Mas também não é nada sério.
— O que vocês acham que pode ser?
— Uma vez ela ficou da mesma forma quando era criança, lembra disso, Nick? — Ana perguntou.
— Sim. Estava com anemia. Pode ser de novo.
— Hum... — Júlia resmungou olhando os pés.
Ana e Nick trocaram olhares. O moreno puxou a menina para mais perto e abraçou ela. Ele acariciou os cabelos de Júlia. Ela sabia que eles estavam mentindo. Estavam tão preocupados e duvidosos quanto ela.
— Você está quente... — Passou a mão no rosto dela. — Se sente bem?
— Sim.
Ana se aproximou e colocou a mão na testa da menina.
— Parece ser uma febre baixa. Tome um banho. Vou fazer um lanche pra gente, tá bom?
— Ok.
— Vou te emprestar uma roupa — Bruna segurou a mão dela e as duas foram para o quarto.
— Acha que é algo sério? — o moreno perguntou assim que elas saíram.
— Eu acho é que a família vai aumentar...
Nick arregalou os olhos.
****
Bernardo entrou em casa e encontrou sua mãe e Nick conversando. Já era tarde e as meninas tinham ido dormir.
— Aconteceu alguma coisa?
— A Júlia está aí... — Ana explicou a situação a ele.
— E o que ela acha que tem?
— Eu e a Bia falamos que pode estar grávida, mas ela insiste em dizer que não é possível.
— Mas ela que sabe, não é?
— Pelo visto não.
— Meu Deus! Será que é isso mesmo? — Nick perguntou atordoado e os dois riram dele.
— Vai dizer que ela não tem idade pra isso de novo? — Ana perguntou sarcástica.
— Não. Acho que vou gostar. Adoro a Júlia.
— Até porque agora o foco é a Bruna, não é?
Nick revirou os olhos e Bernardo riu.
— Eu sabia que você ia ser chato se tivesse uma filha, mas não imaginei tanto.
— Não sou chato. Apenas quero proteger ela.
— Mesma ladainha de sempre... Falou isso quando era a Laura...
Bernardo comprimiu os lábios para não rir. Isso porque a expressão de Nick não era nada bonita nesse momento.
— Assuma que tem ciúmes da sua filha que fica mais bonito.
— É claro que tenho! Mas também é porque não quero que ela sofra.
— Mas se algum desses garotos fizer alguma coisa, até comigo vão se ver — disse Bernardo.
— Ah que ótimo! Se já não bastava um....
Os dois riram do sarcasmo de Ana.