No quarto, as duas ainda não tinham dormido. Júlia por não conseguir parar de pensar na mãe e Bruna por lembrar o tempo todo de Vitória e Diego no cinema.
— Júlia? Está dormindo?
As duas estavam no escuro.
— Não.
— Acha que a Vitória gosta do Diego?
— Não sei.
— Mas eles estavam de mãos dadas no cinema, você viu?
— Vi sim, mas não soube o que pensar. Ela nunca falou sobre isso, ou falou com você?
— Pois é! Nunca falou nada do tipo.
— Mas qual o problema?
Bruna demorou a respondeu.
— Acho que gosto dele.
O quarto ficou silencioso depois do que ela disse. Júlia não sabia o que dizer. Não esperava por essa...
— Mas claro que ele ia olhar a Vitória e não eu.
— Por que disse isso?
— Porque ela é linda e eu...
— Você também é, Bruna.
— Mas ela é mais.
— Se você quer que ele goste de você por sua beleza, não vai valer a pena.
Bruna ficou sem resposta. Não tinha pensado dessa forma.
— E você acha que ele gosta dela?
— Não sei. Pode ter sido só uma coisa de momento.
— Como pode ser que se gostem.
— Acho que vai ter que perguntar a ela então.
Não falaram mais depois que a Júlia disse isso. Bruna ficou uma boa parte da noite pensando nesse assunto. Será que valia a pena perguntar a Vitória? E se ela perguntasse o porquê do interesse? Ou percebesse que também sentia algo por Diego? Melhor não mexer com o assunto! Se ela estiver gostando dele, vai contar por si mesma.
****
No dia seguinte Júlia já quis logo ligar para casa e saber se estava tudo bem. Laura que atendeu e disse que estava melhor e que Lucas buscaria a menina. Ana a fez comer, mesmo ela não querendo. Achou que estava muito pálida, mas sabia que ela era tão preocupada quanto Laura e que era normal ficar daquele jeito.
Lucas não demorou para buscá-la. Quando chegaram em casa, ela foi direto até a mãe.
— Não dormiu, não é?
— Como dormiria?
— O que a Ana te contou? — Lucas perguntou.
— Que você levou minha mãe ao médico pra ver o que ela tem logo. Descobriram?
Os dois trocaram olhares.
— É algo grave? — disse nervosa.
— Não, filha. Nada grave — respondeu Laura.
— O que é então?
Lucas se aproximou de Laura e os dois olharam Júlia com um ar misterioso.
— Então? — falou impaciente.
— Você vai ter um irmãozinho.
A menina ficou de boca aberta olhando os dois, que sorriram largamente.
****
— Eu sabia. E ela ainda teimou comigo — Ana revirou os olhos.
Depois de contar a Júlia, todos ficaram sabendo da novidade.
— Nossa! Um irmão assim deve ser muito ruim... — disse Bruna.
— No início eu não achei r**m, até você começar a quebrar minhas coisas — reclamou Bernardo e Ana e Nick riram.
— Não era de propósito...
— Claro que não — disse irônico. — Bom mesmo era a Vitória...
— Como assim?
— Só via nos fins de semanas e ela não tinha acesso as minhas coisas...
Bruna revirou os olhos e os dois riram mais.
— Ainda bem que não tive irmãos — disse Ana.
— Não é tão r**m assim — falou Nick.
— Ter a Laura como irmã não deve mesmo ser r**m. Agora se fosse igual a Bruna... — Bernardo implicou.
A menina o acertou quando falou isso.
— Como se você fosse o melhor irmão do mundo!
— E sou mesmo! — disse sorrindo.
— Se gosta tanto da Vitória, vai morar com ela — disse azeda.
— Parem com isso — Ana brigou quando viu que ia começar uma discussão.
****
Quando foi para a escola na segunda feira, estava praticamente dormindo ainda, mas ao ver Vitória esperando no portão, despertou como que por mágica.
— Oi.
— Nossa! Você está um bagaço!
Bruna revirou os olhos.
— Não precisa me lembrar.
— Precisa dormir mais cedo...
— Eu sei.
— Mas e aí? O que achou do cinema no sábado?
— Foi legal. O filme é muito bom.
— É, mas não rolou nada?
— Como assim? — perguntou confusa.
— Ai Bruna... Você é muito lerda!
— Está falando de que, Vitória?
— O Breno está caidinho por você.
— É?
Vitória revirou os olhos.
— Você é tão tapada!
Bruna tentou acertar ela, mas ela fugiu.
— Todo mundo viu isso.
— Todo mundo?
— Sim. Até o Diego disse.
— Disse?
— O que foi, Bruna? Tá estranha... — falou franzindo a testa.
— Estou com muito sono. Ainda não acordei completamente...
— Sei — falou desconfiada. — Então não rolou nada mesmo entre vocês?
— Não.
— Aquele menino ficou de olho na Júlia, você viu?
— Quem?
— Pelo amor de Deus, Bruna! Estava dormindo no cinema também?
— Eu não fico reparando os outros como você.
— Tá. O Bruno não tirava os olhos dela.
— Quantos anos esse menino tem?
— Acho que catorze. Não sei. Por quê?
— Nada. Só perguntei.
— Achei que tinha rolado algo entre você e o Breno.
— Somo amigos.
— Mas ele gosta de você.
— Deve estar enganada.
Vitória sorriu maliciosa.
— Não estou não.
— Tá bom.
— Você não gosta dele?
— Só como amigo.
— Hum... Não vou nem perguntar se reparou mais alguma coisa nesse dia, pois já vi que você estava dormindo também — disse sarcástica.
— Como assim? Teve mais coisa? — Se fez de inocente.
— Sim.
— O que?
— Depois que você foi embora, o Breno e o primo também foram. Aí a Agatha resolveu ir também e eu fiquei sozinha com o Diego.
— E aí?
— E aí que eu fiquei com ele.
— É? E como foi isso?
— Ah... A gente já estava meio que trocando uns olhares dentro do cinema e depois ele segurou a minha mão. Quando ficamos sozinhos, ele ficou mais carinhoso e rolou um beijo.
— Hum...
— Ele é tão incrível!
— Está gostando dele?
— Já estava há um tempo, só que não quis falar pra ninguém, mas agora que rolou, por que não?
— Mas eu sou sua amiga, Vitória! Podia ter falado antes — brigou.
— Eu sei, mas não tinha certeza de nada ainda.
— Agora tem?
— Sim. Estou completamente apaixonada pelo Diego.
Bruna não soube o que dizer depois da revelação. Estava chocada! Mesmo vendo os dois de mãos dadas no cinema, não imaginou que Vitória estivesse mesmo gostando dele. Ou talvez lá no fundo, tenha desejado que isso não fosse verdade...
— Não vai falar nada?
— Acho que vocês formam um casal fofo.
Vitória sorriu.
— Estou esperando ele chegar. Me mandou mensagem falando que quer me ver logo.
— E já está vindo?
— Sim.
— Acho que vou entrar...
— Mas o Breno ainda não chegou. As meninas já estão na sala. Melhor esperar um pouco.
Bruna respirou fundo e desviou o olhar. Estava se odiando nesse momento por ser tão medrosa! Podia entrar e mandar aquelas duas ir a merda ou esfregar a cara delas na parede para que parem de uma vez por todas com as implicâncias, mas não tinha forças para isso e teria que esperar o Breno chegar para poder ir.
Viu primeiro do que a Vitória quando o Diego chegou. Estava de skate e parou perto das duas fazendo a loira levar susto.
— Ai!
— Desculpa — disse sorrindo. Ele se aproximou de Vitória e a beijou ardentemente.
Bruna desviou o olhar da cena. Isso é coisa que se faça a essa hora da manhã? Diego se afastou de Vitória e ela sorriu.
— Oi ruiva. — Deu um beijo rápido na bochecha de Bruna.
— Oi.
— Melhor entrar. A primeira aula é daquela bruxa — disse Diego.
— O Breno não chegou — Bruna olhou ao redor para ver se achava ele.
— Bem, ele vai ter que levar bronca sozinho, não acha?
— É.
— Até o intervalo. — Deu um selinho em Vitória.
— Até.
A loira seguiu para a sala dela e os dois foram juntos para a sua. Bruna não falou absolutamente nada sobre a cena que presenciou, ou qualquer outro assunto diferente. Estava se sentindo m*l. Um embrulho horroroso no estômago.
Breno só chegou na segunda aula e como Diego disse, levou uma baita bronca da professora. Quando bateu o sinal para o intervalo, Bruna pediu a Breno para esperar ela por um momento. Ele não entendeu, mas esperou. Diego saiu e a menina respirou fundo.
— O que você vai fazer agora?
— Vou comprar algo pra comer. Estou cheio de fome.
— Posso ficar com você?
Breno sorriu.
— É claro que pode. Mas aconteceu alguma coisa?
Bruna deu de ombros.
— Talvez um possível início de namoro.
— Mesmo? Quem?
— Diego e Vitória.
— Hum... Eles são mesmo parecidos.
— Você acha?
— Sim. São bonitos, cheios de si...
Bruna o empurrou para longe.
— Não fala assim da minha amiga!
— Desculpa, mas é a verdade — disse rindo.
— Mas ela tem motivos pra se achar.
— Tem?
— É claro que tem. É linda.
— E daí? Você também é e não fica se achando melhor do que ninguém.
Bruna desviou o olhar.
— Só que eu não acho que sou.
Breno revirou os olhos.
— Vamos lá. Estou com fome.