Tiro certeiro

1671 Words
Laís Narrando. Madrugada... 3:40 am. Eu acordei com o despertador do celular, eu já sabia o que eu tinha que fazer, me levantei e vesti um moletom preto bem largo, coloquei um tênis e prendi meu cabelo, deixei o meu celular desligado para não correr o risco de alguém me ligar ou eu perder, porque essas coisas são sérias e eu não posso dar mole. Meu pai nesse momento é o menor dos meus problemas, ele vive bêbado, então jamais vai me ver sair... essa hora ele deve estar roncando igual um trator com a roupa ainda molhada. É uma vergonha... Nesses últimos anos meu pai me fez passar tanta, mais tanta vergonha que se fosse outra pessoa, provavelmente nem sairia na rua, mas, eu sempre dei um jeito de resolver os problemas e conseguir limpar meu nome pelo menos, porque o dele vai de m*l a pior. Ele perdeu total credibilidade aqui na favela, ninguém mais dá uma força para ele e quem pode afundar, faz isso... esse é o caso do Alquimista... era amigão, dizia correr junto, batia no peito que era parceiro e hoje quer f*der com a vida do meu pai. Eu abri a porta devagar e fui para a calçada na ponta do pé para que ninguém me visse e esperei até que alguém fosse me buscar. Eu jurava que era o Formiga que ia comigo, apesar dele estar bastante chateado por eu ter pedido isso para o Duque, eu ainda achava que ele iria comigo. Minutos depois parou uma moto sem placa ao meu lado, ele levantou o visor do capacete e me surpreendi vendo o Duque pilotando a moto. — Porque tu veio? — Perguntei desconfiada. — Quero acompanhar essa cena de perto, filé… — Ele sorriu. — Sobe aí. Ele me entregou o capacete e a arma, eu coloquei na cintura e coloquei o capacete, ele ligou a moto e fomos até o local em que iríamos encontrar o tal policial. Era bem distante do morro, mas eu estava de boa, eu sabia que ia conseguir e graças aos meus estudos de estratégia de tiro, eu sabia exatamente onde eu tinha que acertar para deixá-lo pelo menos de cadeira de rodas um tempo. Paramos na frente de um galpão abandonado, eu desci da moto e o Duque guardou a moto num local que daria fácil acesso para a gente ir embora e que ninguém fosse nos ver. Subimos as escadas inacabadas e entramos numa espécie de sala abandonada, onde tinha apenas uma mesa velha e a arma que seria usada para o trabalho. Eu me aproximei da janela e comecei a avaliar o local e a cada passo que eu dava, o Duque me observava sem dizer uma palavra. Sem encostar em nada, eu olhei a mira da arma para verificar se estava no local exato e na hora eu só faria os últimos ajustes. A parte positiva desse lugar é que não tem nenhum obstáculo, eu tenho a vista limpa, o que me davia uma vantagem e com certeza facilitaria muito na hora. — Tudo no esquema, filé? — Duque perguntou chegando perto de mim. — Sim, esse local é perfeito... a única coisa que me deixou com uma pulga atrás da orelha é o porquê de você mesmo não fazer isso. — Eu falei me encostando da borda da mesa. — Não adianta eu dizer que não quero me sujar, porque eu já estou fodido até nos dentes... — Ele sorriu. — Mas, eu não sou muito bom com mira. — Ah, essa é boa... — Eu neguei com a cabeça. — Não se fazem mais chefes como antigamente, não é mesmo? — Acha que eu não sou um bom irmão? — Ele perguntou arqueando uma sobrancelha. — Se for levar em conta as suas últimas atividades, eu diria que para um bom irmão, você é um excelente cafetão... — Eu gargalhei. — Não para de entrar e sair r**o de saia do QG, daqui a pouco vão confundir com o bordel da dona Paloma. — Bem engraçada você... — Ele cruzou os braços. — E você, porque nunca foi lá fazer uma visita? — Está achando que eu tenho cara de marmita de bandido? — Cara não... — Ele falou alisando meu rosto. — Mas, bem que eu queria que fosse minha. — Conta outra Duque... — Eu afastei a mão dele e depois me afastei olhando para a janela. — Se liga, está na hora. — Fica pronta e arruma a touca ninja, agora é jogo rapido. — Ele falou arrumando a touca no seu rosto. Eu ajeitei a luva para não deixar nenhuma digital, olhei de novo na janela me certificando de que ele estava lá e o Duque fez sinal para que eu fizesse o meu trabalho, eu respirei fundo, olhei na mira da arma e comecei a controlar a minha respiração, coloquei o dedo no gatilho e escolhi exatamente onde eu queria atirar. — O tiro um pouco acima da sexta vértebra da coluna cervical vai deixar ele tetraplégico e acima de C4 interrompem o controle da respiração e ele para de respirar instantaneamente. — Falei acertando a mira. — Como tu não quer morte, o tiro vai ser exatamente aqui... (Barulho de tiro) — Sexta vértebra atingida com sucesso. — Eu falei me levantando. — Perfeito. — Foi a única palavra que o Duque conseguiu pronunciar. Ele parecia estar surpreso com a minha mira, ou com o meu bom trabalho. O homem caiu no chão assim que atingido e os que estavam com ele se dispersaram, cada um foi para um local e apenas um homem ficou com o policial atingido. De longe eu o vi puxando a arma da cintura e correndo de um lado para o outro para tentar pegar quem deu o tiro, mas ele sequer sabia em qual direção tinha vindo. Ele se aproximou do policial e aferiu os sinais vitais, ele pegou o celular e ligou para alguém. Essa era a nossa hora, só tinha um, perfeito para irmos embora sem que alguém nos pegasse. — Vamos embora... — Duque falou pegando a arma e jogando nas costas, em seguida ele segurou minha mão e começou a correr escada abaixo até chegarmos no local da moto. Eu não sabia o que eu estava sentindo, minhas mãos estavam geladas, minhas pernas bambas e o estado de choque começou a tomar conta do meu corpo inteiro me deixando pesada. Eu não queria que o Duque percebesse, então eu peguei uma garrafinha de água e bebi tudo de uma vez antes de subir na moto e depois que eu terminei, ele acelerou praticamente impinando a mesma e deu partida. O barulho do acelerador estava fazendo com que o meu coração praricamente pulasse dentro do peito, ele costurava os carros e eu de vez enquanto olhava para tras me certificando de que ninguém estava nos seguindo. A volta parecia uma eternidade, eu estava agoniada para chegar em casa e fazer como meu pai, encher a cara de bebida e apagar da memória o que eu acabei de fazer. Eu sabia que não ia dar nada, ele ficaria uns dias na cama, sem andar e depois iria para uma cadeira de rodas e depois, com muita fisioterapia, ele não teria problemas em voltar a andar. Considerando a quantidade de dinheiro que ele tinha roubado, não seria dificil pagar um bom cirurgião e um bom fisioterapeuta. Embora a minha vontade fosse matá-lo exatamente do jeito que ele mandou fazer quando veio cobrar o meu pai e matou a minha mãe. Eu e o Duque chegamos na favela, a primeira coisa que ele fez foi me levar até o QG, nós tiramos nossas roupas e vestimos as reservas que o Formiga havia deixado lá para nós. Ele me observava a cada peça de roupa tirada até eu estar vestida de novo e o pior, Duque não disfarçava. — Me dá suas roupas. — Ele pediu e eu entreguei. — Os sapatos também... — O que vai fazer com o meu tênis? — Perguntei curiosa. — Botar fogo em tudo, não podemos correr o risco de nos descobrir. — Ele falou pegando uma garrafa de refrigerante de dois litros e me entregou. Ele saiu do QG e fez sinal para que eu o seguisse, ele foi em direção ao fundo do QG e amontoou as nossas roupas todas na mata. — Dá a garrafa. — Ele pediu e eu entreguei. — Quer ajuda? — Perguntei sem saber o que fazer. — Tem um bic aí? — Ele perguntou e eu tirei de dentro no meu sutiã. Ele me olhou e sorriu com malícia, depois ele jogou a gasolina em cima das roupas e acendeu o bic jogando em cima das roupas. Não levou 5 segundos e o fogo já estava por todo canto, não tinha uma peça que estava inteira. Duque me olhou e suspirou, parecia que ele estava tão aliviado quanto eu. Ele abraçou meu pescoço e me conduziu até o QG novamente. Eu fiquei na porta parada esperando ele resolver me levar para casa, ele se sentou atrás da mesa e abriu uma gaveta, tirou um bolo de notas de 200 reais e me entregou. — Seu p*******o. — Ele falou sério. — Que morra aqui essa situação, demorou? — Pode ficar suave. — Eu falei pegando o dinheiro. — Tu não sabe o quanto isso aqui vai me salvar. — Se liga filé, de onde veio esse, têm muito mais. — Ele piscou. — Espero ser a última vez. — Falei suspirando. — Me leva pra casa, por favor. — Suave, bora lá. — Ele falou saindo do QG e trancando a porta logo em seguida. Assim que eu ia subir na garupa da moto, eu ouvi uma voz me chamar, eu conhecia a quilometros de distância, era o Formiga. Eu recuei e fiquei parava esperando ele chegar, assim como o Duque, ele se apoiou no painel da moto e ficou com cara de paisagem.
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