Laís Narrando
Eu estava exausta da noite cansativa de trabalho, eu não vi mais o Formiga, provavelmente ele estava muito puto comigo e não quis me ver hoje.
Quando terminei tudo, era por volta de 1:30 da manhã, eu estava indo pra casa sozinha quando parou um carro ao meu lado.
Eu conheço a quebrada inteira, então não fiquei com medo, eu apenas olhei para dentro do carro e vi que era o Duque, só não estou entendendo o que ele quer comigo.
Ele parou o carro na minha frente e abriu a porta, ele sorriu pra mim e em seguida me chamou para entrar.
— Aê filé, entra aí... — Ele chamou. — Vou te levar em casa.
Eu hesitei mil vezes em entrar no carro, mas como eu estava muito cansada, resolvi aceitar.
Entrei no carro e fechei a porta, Duque estava com uma bermuda jeans e uma camiseta regata, bem a vontade para estar simplesmente de passagem.
— Só porque estou cansada... — Falei colocando o cinto de segurança.
Ele sorriu e acelerou o carro.
— Estive pensando melhor... — Ele falou me olhando pelo canto dos olhos. — Acho essa cena muito perigosa pra alguém como você.
— E o que eu tenho de diferente das outras pessoas? — Perguntei curiosa. — Eu atiro melhor, consigo fugir de boa e dificilmente alguém vai me ligar a essa cena.
— Sendo filha de quem é... tu seria a primeira. — Ele falou por impulso e eu Ergui uma sobrancelha.
— Como assim? — Perguntei sem entender o que ele queria dizer.
— Estou dizendo que seu pai também era o melhor atirador da quebrada... — Ele explicou. — Tu sabe que o que houve com ele foi acerto de contas né?!
— Acerto de quê, afinal? — Perguntei curiosa.
— O dono do Vidigal tinha um policial contratado dele paisana aqui no morro... — Duque falou e apertou o volante. — Ele descobriu a cena e abateu o policial com um tiro em um raio de km.
— p**a merda. — Coloquei a mão na boca.
— Houve a cobrança e sua mãe acabou pagando o preço com um tiro de bala perdida... mas eles ainda não desistiram. — Duque me olhou parando o carro em frente minha casa. — Se eu te envolver em uma cena como essa, eles vão deduzir que possa ter sido teu pai e cobrar novamente.
— Eu não tenho medo... — Fui direta. — Eles mataram minha mãe e tudo o que eu mais quero é me vingar.
— Eu posso te dar essa grana pra acertar o agiota e o Alquimista, sem que tu entre na cena... — Ele ofereceu, mas eu neguei. — Tu fica em débito comigo e quanto eu precisar de tu pra outras coisas, eu chamo e aí você me paga.
— Não! — Eu neguei. — Agora, mais do que nunca eu quero ir.
— Eu sabia que tu tinha o sangue quente da tua mãe... — Ele falou sorrindo. — Vai estar devidamente equipada pra que ninguém descubra seu rosto.
— Tá certo! — Eu concordei. — Agora preciso ir descansar.
— Só mais uma coisa. — Duque falou e quando eu me virei, ele me surpreendeu com um beijo.
Não era o que eu esperava, nunca imaginei beijar ele a primeira vez dessa forma.
Para mim era como beijar as nuvens, lábios macios, língua ligeira e gostosa, do jeito que eu sonhava.
Ele invadia minha boca, enquanto uma de suas mãos iam para a minha nuca, puxando meu cabelo de leve e a outra estava passeando pelo meu corpo, minha cintura e foi subindo até os meus s***s, foi aí que eu parei o beijo e me afastei.
— Assim não! — Eu reprovei. — Não estou aqui pedindo ajuda em troca de sexo...
— Sempre tive vontade dos teus lábios, desde aquele tempo no campo... — Ele confessou.
— Nunca deu moral... — Eu respondi sorrindo. — Melhor tu cuidar da tua fiel.
Eu abri a porta do carro e saí, fechei a mesma e em seguida entrei na minha casa sem olhar pra trás.
Eu poderia imaginar mil e uma vezes esse beijo, poderia pensar que seria digno de cena de cinema, que jantávamos a luz de velas e depois ia nos acabar a noite inteira em um quarto de motel 5 estrelas, mas nada que eu imaginasse chegaria perto do que eu senti.
Eu perdi a noção do tempo, perdi os sentidos ao tocar aqueles lábios, aquelas mãos passeando pelo meu corpo e desejando que eu fosse sua.
Eu gostaria de poder tentar algo com ele… mas do jeito que ele está, eu jamais tentaria, principalmente porque ele ainda está com a Kemilly.
Se eu fizer isso, aí sim vou dar razão às piadinhas envolvendo meu nome.
Eu cheguei em casa e aparentemente estava tudo em paz, eu entrei direto para o meu quarto e fui tomar um banho para descansar.
Achei estranho tudo silencioso a essa hora, mas tudo bem, milagres podem acontecer.
Entrei no banheiro e tomei banho tranquilamente, lavei meus cabelos e fiz minha higiene, depois me troquei, vesti um baby doll preto de renda e sequei meu cabelo.
Abri a porta do quarto e ouvi um barulho alto vindo de fora da minha casa.
Eu saí correndo, poderia ser qualquer coisa acontecendo… Abri a porta e dei de cara com o meu pai entrando completamente bêbado e ensanguentado.
— Que p***a é essa de novo? — Perguntei preocupada, mas ao mesmo tempo com raiva.
— Me respeita que eu sou teu pai. — Ele falou tudo enrolado de tão bêbado.
— Parece que é só contrário. — Eu respondi ajudando ele a entrar em casa. — No que se meteu dessa vez?
— Eu tava no bar do Sidi… fui elogiar uma mulher que tinha lá e eles me encheram de porrada. — Ele falou tombando para o lado.
— Você agora está dando de virar homem safado, quer mexer com mulher casada pai? — Perguntei irritada.
— Se liga menina, a mulher era uma amiga. — Ele sorriu. — Eu acho que ela era a sua mãe.
— Para de falar besteira… a mamãe morreu. — Eu respondi colocando ele debaixo do chuveiro gelado. — Toma seu banho aí pra poder dormir em paz, amanhã vai estar com uma ressaca que nunca viu. Boa noite…
Eu deixei ele se virando lá no banheiro e fui para o meu quarto. Eu não sou obrigada a toda vez fazer o papel de mãe… ele precisa aprender e se conformar de que minha mãe não vai mais voltar.
Toda vez que ele bebe tanto assim, ele diz que vê a minha mãe nos lugares e acaba apanhando porque mexe com mulher comprometida.
Eu não sei mais o que eu faço com ele… Eu já saio na rua com a cara no chão de tanta vergonha que ele me faz passar.
Eu apaguei a luz do quarto e fiquei um tempo pensando no que eu iria ter que fazer.
Minutos depois eu dormi, de tão cansada que eu estava.