ELE

1098 Words
ENRICO Milão, Itália UM ANO ANTES... Eu vinha de um ritmo bem frenético de trabalho. Hora estava em Zurique, Genebra ou Berna, na Suiça, hora em Milão, na Itália. O trabalho de modelo era apenas porque a grana era muito boa, eu odiava fazer aquilo, aquele meio me irritava, a arrogância daquelas pessoas e a necessidade que elas tinham de ser melhor que as outras, me cansavam. O trabalho de DJ era legal, mas só no início, quando as pessoas não me conheciam e só estavam ali pela bebida, agitação e pegação. Enquanto eu me exibia com as minhas habilidades avançadas em mixagem, eu escolhia com quem eu sairia da balada depois da apresentação. Sempre as levava para o meu apê, nos dois quartos tinham camas de casal. Em um eu me divertia, no outro eu dormia. *** Aos poucos, as baladas foram ficando pequenas para a quantidade de fãs eufóricas que só crescia. A parte boa era que eu estava deixando cada vez mais de lado aquele trabalho de modelo que eu detestava, mas a parte r**m era que eu passei a viver rodeado de pessoas. Produção, agente, puxa sacos, fãs... CaraIho, as fãs davam muito trabalho. [...] Eu iria tocar no meu primeiro grande festival em Milão. Eu estava na van da minha produção esperando a hora de entrar no palco, não queria ir para o camarim e ter que ficar socializando com os organizadores do evento, então ficamos só eu e o meu agente Tommaso. Ele no seu laptop trabalhando e eu com meu fone de ouvido. Ele já me conhecia bem, e sabia que eu era um cara de poucas palavras. *** De onde a van estava, dava para ter uma boa visão das pessoas chegando naquele festival. Eu estava observando a movimentação, quando eu avistei uma garota absurdamente linda, mas a beleza é subjetiva, ela tinha algo a mais que fez com que os meus olhos a seguissem até ela sumir no meio da multidão. Depois de um tempo, o Tommaso me chamou, me tirando dos meus pensamentos. — Enrico, está na hora. Vamos! Eu coloquei o capuz da camisa na cabeça, os óculos escuros e fui seguindo o Tommaso em direção ao palco. Comecei a minha apresentação, e estranhamente, aquela garota que eu tinha visto passando com duas amigas, não saia da minha cabeça. Instintivamente, eu a procurava no meio de uma multidão de mais de dez mil pessoas. *** O sol estava bem quente aquele dia, e eu vi uma movimentação em um canto na lateral do palco. Uma garota havia passado maI, e aquela garota, a mesma que eu tinha visto passando mais cedo, estava junto com outra amiga segurando a garota que havia passado maI, tentando mantê-la de pé. Eu chamei o Leonardo, um dos caras da minha produção. — Trás aquelas três garotas para assistir do palco. Fala que é por causa do sol e da garota que está passando maI. "A quem eu estava querendo enganar?'' O Leonardo foi pessoalmente até as garotas, e alguns minutos depois elas estavam na lateral do palco. "Nossa, ela é ainda mais perfeita de perto." Volta e meia eu a olhava, mas sempre que eu demorava um pouco mais de tempo a fitando, ela desviava o olhar. *** A minha apresentação acabou. Geralmente eu vou direto para a Van, mas dessa vez eu fui até às garotas, mas antes avisei para o Tommaso que iria usar o camarim. — Oi — me aproximei das garotas. — Você está se sentindo melhor? — perguntei direcionando o olhar para a garota que estava passando maI. — Sim, bem melhor. Obrigada! — O que vocês acham de ir até o camarim? — perguntei. — Não precisa. Obrigada!— a garota respondeu. "Drog@, ela não quer facilitar." — Sua amiga passou maI, provavelmente por conta das altas temperaturas. Seria bom ela comer alguma coisa. — Ele tem razão, amiga! — quem falou foi a outra garota, que até então não tinha falado nada. — Vamos — eu falei guiando as três até o camarim. Eu tive que tirar algumas fotos com fãs no caminho, mas aquilo não mudou o meu humor. Ao entrar no camarim, tinham bebidas alcoólicas e não alcoólicas e um buffet com alguns aperitivos. — Podem se servir à vontade — falei pegando uma garrafa de cerveja para aliviar o calor. — A propósito, qual o nome de vocês? As garotas também começaram a tomar cerveja, e a que estava passando maI anteriormente, comeu alguns dos aperitivos que estavam no buffet. — Giulia — a garota que estava passando maI respondeu. — Sofia — a outra garota respondeu. — Elena — a minha garota respondeu. "Minha garota? É sério, Enrico?" — Você não tem cara de Elena — respondi. — Você não tem cara de Leone — ela comentou arqueando uma sobrancelha. Eu usava como nome artístico o sobrenome do Gianluca e da Matilde como forma de homenagem. — Ah não? E eu tenho cara de que? — perguntei. — Lorenzo, Matteo... — Esse pode ser o nome dos nossos filhos — eu disse com um sorriso sugestivo. É claro que ela pensou que fosse uma cantada barata, e deu uma gargalhada. *** A conversa com as garotas estava fluindo, o papo estava divertido, apesar de que eu queria que apenas uma delas estivesse ali. — Vamos! — a garota que havia passado maI falou. A próxima apresentação havia começado. — Você quer ir? — ela me perguntou. — Acho que seria legal, se não for um problema. — Problema algum — ela respondeu e as outras duas ficaram em silêncio. Quando eu estava saindo do camarim com as garotas, o Tommaso entrou. — A van está pronta. — Você pode ir e levar a van, eu pego um carro de aplicativo — respondi fazendo o Tommaso quase colar uma sobrancelha na outra. — Tudo bem — ele respondeu entregando a minha camisa que tinha o capuz, o meu celular, meus documentos com cartões e dinheiro e a chave do meu apê. Mesmo com o sol quente e fazendo tanto calor, eu tive que colocar o capuz na cabeça. Era isso, ou ter que ficar o tempo inteiro tendo que tirar fotos. Estavamos os quatro diante daquela multidão. O sol já estava se pondo, eu geralmente não me intimido na frente de nenhuma mulher, mas aquela garota me deixou intimidado. Não dava para conversar, o barulho estava bem alto, e antes que eu pudesse tomar a iniciativa de beija-la, ela me beijou. "CaraIho, fazia tempos que um beijo não encaixava tão bem."
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