ENRICO
Milão, Itália
UM ANO ANTES...
Eu vinha de um ritmo bem frenético de trabalho. Hora estava em Zurique, Genebra ou Berna, na Suiça, hora em Milão, na Itália.
O trabalho de modelo era apenas porque a grana era muito boa, eu odiava fazer aquilo, aquele meio me irritava, a arrogância daquelas pessoas e a necessidade que elas tinham de ser melhor que as outras, me cansavam.
O trabalho de DJ era legal, mas só no início, quando as pessoas não me conheciam e só estavam ali pela bebida, agitação e pegação.
Enquanto eu me exibia com as minhas habilidades avançadas em mixagem, eu escolhia com quem eu sairia da balada depois da apresentação.
Sempre as levava para o meu apê, nos dois quartos tinham camas de casal. Em um eu me divertia, no outro eu dormia.
***
Aos poucos, as baladas foram ficando pequenas para a quantidade de fãs eufóricas que só crescia.
A parte boa era que eu estava deixando cada vez mais de lado aquele trabalho de modelo que eu detestava, mas a parte r**m era que eu passei a viver rodeado de pessoas. Produção, agente, puxa sacos, fãs... CaraIho, as fãs davam muito trabalho.
[...]
Eu iria tocar no meu primeiro grande festival em Milão.
Eu estava na van da minha produção esperando a hora de entrar no palco, não queria ir para o camarim e ter que ficar socializando com os organizadores do evento, então ficamos só eu e o meu agente Tommaso. Ele no seu laptop trabalhando e eu com meu fone de ouvido. Ele já me conhecia bem, e sabia que eu era um cara de poucas palavras.
***
De onde a van estava, dava para ter uma boa visão das pessoas chegando naquele festival.
Eu estava observando a movimentação, quando eu avistei uma garota absurdamente linda, mas a beleza é subjetiva, ela tinha algo a mais que fez com que os meus olhos a seguissem até ela sumir no meio da multidão.
Depois de um tempo, o Tommaso me chamou, me tirando dos meus pensamentos.
— Enrico, está na hora. Vamos!
Eu coloquei o capuz da camisa na cabeça, os óculos escuros e fui seguindo o Tommaso em direção ao palco.
Comecei a minha apresentação, e estranhamente, aquela garota que eu tinha visto passando com duas amigas, não saia da minha cabeça.
Instintivamente, eu a procurava no meio de uma multidão de mais de dez mil pessoas.
***
O sol estava bem quente aquele dia, e eu vi uma movimentação em um canto na lateral do palco.
Uma garota havia passado maI, e aquela garota, a mesma que eu tinha visto passando mais cedo, estava junto com outra amiga segurando a garota que havia passado maI, tentando mantê-la de pé.
Eu chamei o Leonardo, um dos caras da minha produção.
— Trás aquelas três garotas para assistir do palco. Fala que é por causa do sol e da garota que está passando maI.
"A quem eu estava querendo enganar?''
O Leonardo foi pessoalmente até as garotas, e alguns minutos depois elas estavam na lateral do palco.
"Nossa, ela é ainda mais perfeita de perto."
Volta e meia eu a olhava, mas sempre que eu demorava um pouco mais de tempo a fitando, ela desviava o olhar.
***
A minha apresentação acabou. Geralmente eu vou direto para a Van, mas dessa vez eu fui até às garotas, mas antes avisei para o Tommaso que iria usar o camarim.
— Oi — me aproximei das garotas. — Você está se sentindo melhor? — perguntei direcionando o olhar para a garota que estava passando maI.
— Sim, bem melhor. Obrigada!
— O que vocês acham de ir até o camarim? — perguntei.
— Não precisa. Obrigada!— a garota respondeu.
"Drog@, ela não quer facilitar."
— Sua amiga passou maI, provavelmente por conta das altas temperaturas. Seria bom ela comer alguma coisa.
— Ele tem razão, amiga! — quem falou foi a outra garota, que até então não tinha falado nada.
— Vamos — eu falei guiando as três até o camarim.
Eu tive que tirar algumas fotos com fãs no caminho, mas aquilo não mudou o meu humor.
Ao entrar no camarim, tinham bebidas alcoólicas e não alcoólicas e um buffet com alguns aperitivos.
— Podem se servir à vontade — falei pegando uma garrafa de cerveja para aliviar o calor. — A propósito, qual o nome de vocês?
As garotas também começaram a tomar cerveja, e a que estava passando maI anteriormente, comeu alguns dos aperitivos que estavam no buffet.
— Giulia — a garota que estava passando maI respondeu.
— Sofia — a outra garota respondeu.
— Elena — a minha garota respondeu.
"Minha garota? É sério, Enrico?"
— Você não tem cara de Elena — respondi.
— Você não tem cara de Leone — ela comentou arqueando uma sobrancelha.
Eu usava como nome artístico o sobrenome do Gianluca e da Matilde como forma de homenagem.
— Ah não? E eu tenho cara de que? — perguntei.
— Lorenzo, Matteo...
— Esse pode ser o nome dos nossos filhos — eu disse com um sorriso sugestivo.
É claro que ela pensou que fosse uma cantada barata, e deu uma gargalhada.
***
A conversa com as garotas estava fluindo, o papo estava divertido, apesar de que eu queria que apenas uma delas estivesse ali.
— Vamos! — a garota que havia passado maI falou. A próxima apresentação havia começado. — Você quer ir? — ela me perguntou.
— Acho que seria legal, se não for um problema.
— Problema algum — ela respondeu e as outras duas ficaram em silêncio.
Quando eu estava saindo do camarim com as garotas, o Tommaso entrou.
— A van está pronta.
— Você pode ir e levar a van, eu pego um carro de aplicativo — respondi fazendo o Tommaso quase colar uma sobrancelha na outra.
— Tudo bem — ele respondeu entregando a minha camisa que tinha o capuz, o meu celular, meus documentos com cartões e dinheiro e a chave do meu apê.
Mesmo com o sol quente e fazendo tanto calor, eu tive que colocar o capuz na cabeça. Era isso, ou ter que ficar o tempo inteiro tendo que tirar fotos.
Estavamos os quatro diante daquela multidão.
O sol já estava se pondo, eu geralmente não me intimido na frente de nenhuma mulher, mas aquela garota me deixou intimidado.
Não dava para conversar, o barulho estava bem alto, e antes que eu pudesse tomar a iniciativa de beija-la, ela me beijou.
"CaraIho, fazia tempos que um beijo não encaixava tão bem."