O som de uma música cigana começou a soar ao longe. Era o dia das mulheres e dos rapazes se reunirem para dançar , uma dança tradicional do povo de Baltazar. Paula dançava como ninguém.
— Vou dançar com as mulheres.
— Não use lenço, Paula.
— Por quê?
— Coloque um top, não um lenço como blusa.
— Mas eu gosto...
Ele não queria ser grosso, mas odiava aqueles lenços usados como blusas. Odiava com todas as forças, porque marcavam os bi.cos dos seio.s e a deixavam sens.ual demais. Os rapazes ficavam hipnotizados com a beleza dela. Respirou fundo, mas passou os dedos nos lábios dela. Queria mantê-la para sempre debaixo de seu braço, protegida. Ele sabia que não poderia tratá-la como uma criança, mas o ciúme queimava o seu peito como uma brasa viva. Paula estava ali, tão linda, tão jovem, com uma confiança que começava a florescer, e ele temia que outros olhos não apenas a admirassem, mas tentassem ultrapassar limites.
Passou a mão pela nuca, tentando manter a calma. Os seus dedos deslizaram pelo braço de Paula, firmes, mas não agressivos. Ele precisava que ela entendesse o que sentia, mesmo que fosse difícil colocar em palavras.
— Tenho tanta coisa para ensinar, tanta coisa, Paula e tanto ciumes para controlar.. tanto.
Ele pensou em sentá-la em cima do seu p£nis, queria saber a reação dela. Precisavam começar a entender esse novo passo, mas um rapaz apareceu na porta.
— Vim chamar Paula para dançar.
Baltazar quase viu o fogo, as chamas queimando em seus olhos.
— Saia da minha porta.
Paula o viu dizer algo em romani, mas não entendeu o significado. No entanto, Vasco entendeu bem e sumiu pelo acampamento, assustado com o que Baltazar havia dito.
— Baltazar...
— Não gosto desse garoto perto de você.
— Mas...
O ciúme estava batendo ainda mais forte, e ele lutava para não perder a noção. Respirou fundo, tomando ciência de que não podia ser um louco ciumento.
— Sinto ciúmes, Paula. Louco. E depois de beijar você, ficou ainda p.ior.
— Não vai me impedir de dançar, vai?
— Não, mas troque o lenço amarrado por tops.
— Não troco. Foi a mãe do baro que fez cada lenço para mim, porque eu queria vestir somente camisetas. Tinha medo que me olhassem, e ela me fez perceber que a culpa não foi minha... eu não tive culpa do que aconteceu.
— Claro que não foi, claro que não foi culpa sua. Era só uma menina inocente e mesmo se fosse uma mulher, mesmo se fosse, ainda não seria a sua culpa.
— Então não me impeça de usar as minhas coisas. Não me impeça.
Ele sabia que não podia impedir, não era justo. Beijou os olhos dela, porque se beijasse a boca, a levaria para o quarto, mas a porta estava aberta e o casamento ainda tinha que acontecer.. Precisava aprender também sobre controle. Nunca havia tido um relacionamento assim.
— Vá amarrar o seu lenço e dançar. Vou pegar Baldrick para um banho e colocá-lo para dormir.
— Eu faço isso, danço outro dia.
— Não. Eu o levo para vê-la dançar. Ele dorme no colo e gosta de ver você dançar. Você é a mulher mais bonita dançando aqui. Vá se preparar.
.Você fica com ele enquanto ajudo a organizar o levante do acampamento. Cuida do nosso filho nesse momento.
Ele falava "nosso filho" com tanta propriedade, com tanta convicção, que Paula sentia um misto de emoção e conforto.
— Vamos ter mais um filho, não vamos? Para fazer companhia para Baldrick.
Ele abriu a boca para responder, mas antes que pudesse dizer algo, a voz animada de Brisa a chamou para dançar. Paula sorriu, levantando-se para se arrumar.
Ele precisava contar para Paula, tinha que contar. Mas não queria que isso apagasse a chama que brilhava nos olhos dela, aquela alegria genuína que ele exalava ao falar do futuro, de Baldrick, deles juntos. Não queria que a notícia trouxesse preocupação ou sombras, não agora. Baltazar respirou fundo, decidindo guardar isso por mais um momento, enquanto a música a chamava para dançar.
Descobriria primeiro quem a estava procurando, resolveria isso à sua maneira, mat.aria o desaviado. Só depois contaria a Paula que ficariam apenas com Baldrick. Para ele, Baldrick era mais que suficiente. Ele era apaixonado pelo menino, um amor que transbordava de cada gesto e palavra.
Nunca, em toda a sua vida, Baltazar havia imaginado que seria pai. Mas agora, o seu mundo azul estava perfeito.
Foi em busca do menino. Havia areia por toda parte, mas Baldrick sorria, feliz com a sua bagunça. Baltazar pegou o filho nos braços com um sorriso discreto.
— Quer que eu limpe ele? — Hadassa perguntou, já se aproximando.
— Não, não. Eu coloco ele no chuveiro e depois vou com ele ver Paula dançar.
Caminhou com o filho nos braços, sentindo o peso leve e a energia vibrante do garoto. Baldrick ainda tentava se soltar, querendo correr e explorar tudo ao redor.
— Parece uma pequena rajada de fogo, menino — comentou, enquanto segurava o filho com firmeza.
Mas no fundo, sabia que Baldrick era mais que isso. Ele era a própria centelha do coração de Baltazar, seu pequeno clarão de alegria e amor, o seu "clarão de fogo". O menino fazia o mundo parecer mais quente e cheio de vida, o filho tinha poder de arrancar o lado bom dele.