Voltaram ao acampamento. Baldrick ficou em sua cadeirinha, saboreando o iogurte que tanto gostava, enquanto Baltazar caminhava até o quarto, foi puxado para-o banheiro. Lá, encontrou Paula no chuveiro. O cabelo dela estava molhado, as mechas brilhando ao escorrerem pelo corpo. Seco, o cabelo ficava na altura do sutiã, mas molhado caía até as n@degas. Ele parou, quase hipnotizado pela visão. Não era comum vê-la assim, tão vulnerável e tão linda ao mesmo tempo.
Paula percebeu a presença dele e deu um pequeno sobressalto.
— Baltazar! — disse, cobrindo-se com uma toalha.
Ele ergueu as mãos, com um sorriso leve.
— Só estou olhando. Nunca tinha visto você assim... nunca. E ainda mais bonita nua..
Por um momento, ficaram apenas se olhando, o silêncio preenchido pelo som do chuveiro. Mas o encanto foi quebrado quando Baldrick gritou da sala, chamando pelo pai. O menino tinha terminado o iogurte e já sentia falta dele.
— Espero você para tomarmos café — disse Baltazar, o café comunitário já estava pronto.
— Estou indo. Hoje é meu dia de ajuda no almoço.
No acampamento, todos tinham as suas funções bem definidas. Os homens cuidavam da manutenção, da limpeza pesada e da estrutura dos trailers, enquanto as mulheres organizavam a comida e a limpeza da cozinha. Baltazar parou no corredor para respirar fundo e se acalmar antes de ir pegar o filho. Depois de entregar um carrinho de brinquedo para Baldrick, esperou Paula sair do quarto. Quando ela apareceu, já com o cabelo seco, ele se aproximou e deu-lhe um selinho rápido.
Não podia beijá-la de verdade fora do quarto; ainda não estava acostumado com a ideia de que ela era dele, oficialmente e um beijo o excit.aria.
Foram juntos tomar café, onde todos estavam reunidos. Baltazar, com Baldrick ainda nos ombros, se juntou aos outros. O ambiente estava tranquilo, mas não por muito tempo. Vinícius, um dos rapazes do grupo, surgiu apressado, o semblante preocupado.
— A polícia está na porta, baro.. — avisou.
Zachary soltou um palavrão em romani, claramente irritado. Baltazar imediatamente passou Baldrick para o colo de Paula e se levantou, pronto para acompanhar o Baro até o portão. Mas o menino começou a chorar e estendeu os braços para ele e chorou, o garoto preferia o colo dele ao da mãe, na verdade, o garoto preferia o colo dele ao colo de qualquer pessoa, tinham uma ligação forte.
Baltazar suspirou e pegou o menino de volta, segurando-o firme.
— Fique aqui — disse ele para Paula, com um olhar firme.
— O que houve? — ela perguntou, querendo ir até o portão também.
— Nada. O de sempre. Acham que andamos por aí roubando crianças, como se quiséssemos filhos deles.. Não se preocupe. Você sabe que cuido do nosso filho com a minha vida.
Sabia, como sabia, Baltazar era melhor como pai do que ela jamais seria como pai, disso ela tinha certeza.
Paula permaneceu à mesa, ao lado de Hadassa, enquanto Zachary e Baltazar caminhavam até o portão. Baltazar carregava Baldrick, e Zachary tinha Kael, seu próprio filho, no colo. Quando chegaram, três viaturas estavam paradas do lado de fora. Zachary encarou um dos policiais com o seu olhar sério e autoritário.
— Não viemos em guerra — disse o policial, olhando para Zachary e depois para Baltazar.
— E? — questionou Baltazar, já impaciente.
— Recebemos uma denúncia sobre uma criança que não é de vocês. Disseram que o menino estava com um cigano tatuado, mas especificamente com tatuagens no pescoço.
Baltazar deu um passo à frente, o olhar mortal.
— Estava comigo porque o filho é meu. Só por isso.
— Podem facilitar as coisas — disse o policial, com um tom quase de súplica. — Mostrem os documentos do menino e o seus, e nós vamos embora. Só isso, problema resolvido.
Nesse momento, Baldrick começou a chorar novamente. Baltazar o acalmou, falando em romani. O menino logo parou, aninhando-se ao peito do pai, mas ele não queria colaborar, mas Zachary deu um gesto firme de cabeça. Era uma ordem do Baro, e ele sabia que precisava obedecer. Relutante, pegou os documentos: a identidade e uma cópia reduzida da certidão de nascimento de Baldrick. Entregou ao policial.
O homem analisou os papéis, conferiu os dados e devolveu.
— Tudo certo. Vou avisar ao homem que fez a denúncia que foi um engano. Não queremos problemas.
Baltazar não se segurou.
— Diga a ele que, se insistir, vou quebrar pelo menos alguns ossos dele. Não vou tolerar mais acusações assim.
O policial ficou pálido e recuou um passo.
— Não, ele foi só... cauteloso. Achou que estava ajudando — tentou justificar, sem convicção.
Zachary indicou com um gesto que era hora de voltar para dentro do acampamento. Baltazar o seguiu, Baldrick ainda em seus braços. Ele sabia que o mundo lá fora nunca entenderia completamente seu modo de vida, mas também sabia que faria de tudo para proteger Paula e Baldrick.
E algumas vezes, sentia vontade de arrancar cabeças.