Baldrick havia adormecido e foi colocado na rede ao lado de Kael. Enquanto isso, Paula foi ajudar as mulheres a guardar as louças. Tudo era organizado com extremo cuidado para que nada se quebrasse ou fosse perdido. Ao se abaixar para colocar um prato de porcelana numa caixa, notou algo estranho ao se levantar: os olhos de Rosimário estavam fixos nela. Não gostou.
Já vinha percebendo isso outras vezes e achava que Baltazar também tinha notado, especialmente depois do dia em que Baltazar dera um "surr.a" no rapaz durante a roda de capoeira. Só não foi adiante porque o mestre da roda havia interferido.
Enquanto passava perto do rapaz, Rosimário puxou a ponta do lenço de Paula, que se soltou, revelando mais do que ela gostaria. Ela segurou rapidamente, mas foi preciso Bruno intervir e protegê-la em um abraço para cobrir os s£ios, Paula tremeu, sentindo o impacto da situação, .
— Somos amigos, respeito você... nem gosto de mulher — Bruno disse.__ Tudo bem.. Bruno chamou por Zachary..
De longe, Zachary percebeu a movimentação e assobiou. Era o sinal que usava para chamar Baltazar, porque Baltazar odiava que gritassem o nome dele, mas um assobio ele atendia rapidamente. Não demorou para o pai de Baldrick surgir.
— Quem puxou o lenço? — Baltazar perguntou, a voz dele já era uma ameaça.
— Rosimário — Brumo respondeu sem hesitar.
Baltazar pegou o lenço e passo entre Bruno e Paula, amarrou o tecido novamente.. , com calma, mas o olhar era de pura fúria. Paula murmurou, tentando aliviar a tensão:
— Vou vestir uma blusa...
— Não vai — ele interrompeu. — Disse que gosta de usar lenços, e vai continuar usando. Eu me entendo com Rosimário, não vai mais acontecer..
Baltazar então virou-se para Rosimário, encarando-o com uma intensidade que fez o rapaz perceber o tamanho do erro que havia cometido.
— Ela nem é uma de nós, nem sangue cigano tem — Rosimário resmungou, a voz trêmula. — A senhora do baro pelo menos tem sangue cigano, e ela?
Baltazar não hesitou. Com um movimento firme, segurou Rosimário pela gola e o encarou..
— O sangue dela é mais forte do que o seu. Não precisa ser cigana para ter valor. E nunca mais toque na minha mulher. Nunca.
Rosimário engoliu em seco, sem coragem de responder. Baltazar soltou o rapaz com força, fazendo-o tropeçar para trás, antes de se virar para Paula e dizer:
— Continue o que estava fazendo. Ninguém mais vai te incomodar.
Rosimário caminhou quase correndo, tentando escapar do olhar mortal de Baltazar. Mas antes que conseguisse alcançar seu trailer, foi derrubado pelo cigano e arrastado até as brasas ainda vivas de uma fogueira.
— Isso não vai mais acontecer — Baltazar rosnou, a voz baixa e cheia de fúria.
— Por que ela tem que ficar entre a gente? Ela é mais bonita que a maioria das mulheres ciganas.. Nem é justo com as outras?
Rosimário tentou argumentar, mas Baltazar não deu espaço. Segurou a mão do homem e, sem hesitar, pressionou-a contra as brasas da fogueira. O grito de dor e o cheiro de carne queimada encheram o ar. Rosimário se debatia, mas não adiantava. Baltazar segurava firme, a expressão de ódio gravada no rosto.
Zachary observava tudo de longe, impassível. Não disse uma palavra. Paula era a escolhida de um cigano, destinada a ser uma senhora, e, por isso, precisava ser respeitada. Era a lei deles.
Quem surgiu para interromper a cena foi Angela, a mãe de Zachary, com um rolo de amassar pão nas mãos.
— Chega com isso, Baltazar! — gritou, se aproximando sem hesitar.
Baltazar soltou Rosimário, que caiu no chão, gemendo de dor enquanto segurava a mão queimada.
— O que ele fez? — Ângela perguntou.
Zachary explicou em poucas palavras, e Ângela, sem pestanejar, ergueu o rolo de madeira e bateu na cabeça de Rosimário com força.
O rapaz, ainda em choque pela dor da queimadura, nem tentou se defender. Sabia que, se o fizesse, estaria se colocando contra Angela, e ninguém, nem mesmo os mais corajosos do acampamento, ousava desafiar a matriarca.
— Isso é o que acontece quando se desrespeita a mulher de um cigano — Ângela disse, olhando para ele . — Você deveria ter aprendido a se comportar, moleque, já fez dezoito anos e não tem um pingo de vergonha.
Rosimário chorava de dor, a mão queimada latejando e as palavras presas na garganta.
— Se você ao menos olhar para minha mulher de novo, eu mesmo te jogo inteiro na brasa.
__ E ninguém vai impedir.__ Avisou Ângela.
Rosimário não respondeu. Apenas se levantou com dificuldade e foi embora. Baltazar, ainda respirando pesado, ergueu o olhar para Ângela, que o encarava com um leve sorriso de aprovação.
— Paula é perfeita, Baltazar. Não importa, se ela não tem sangue cigano. Agora só não estrague tudo com o ciúme.
Baltazar não respondeu, mas sabia que a mãe de Zachary tinha razão. Não podia estragar tudo com o seu ciúme... mas ainda podia cortar Rosimário em pedados e queimar, isso ele podia.