AYANA
Depois de Hugo me deixar sozinha organizo minhas roupas na cômoda do quarto, estou achando que trouxe poucas coisas mas pretendo fazer compras na cidade.Depois de anoitecer tomo um banho e fico alguns minutos penteando meus longos cachos, parada na frente do espelho do banheiro passo a mão pelo meu cabelo devagar e quando fecho os olhos sou levada a memória do meu pai acariciando meus cachos.Me sinto confortável por alguns instantes ali parada sem ver nada apenas sentindo, sou tirada do meu momento quando alguém bate a porta.
Ayana:-Pode entrar.-aviso um pouco assustada e me viro para ver quem esta chamando, logo Laura abre a porta sorridente.
Laura:-Te assustei?
Ayana:-Um pouco, estava distraída.-respondo sem graça ajeitando o macaquinho azul escuro que estou usando.
Laura:-Vim te buscar pro jantar, Hugo nos avisou que queria jantar lá mas nós já íamos te chamar.-conta cautelosa, ela deve estar tentando mostrar ao máximo que minha presença é bem vinda.
Ayana:-Eu imaginei.-na verdade não imaginei nada nem tinha pensado sobre esses detalhes antes de vir.-Só queria ter certeza.
Laura:-Pode comer com a gente sempre que quiser.
Ayana:-Obrigada Laura, espero não ter atrasado o jantar de vocês.
Laura:-Na verdade a Ana esta terminando tudo, vamos descer?-aceno a cabeça em afirmação e pego meu celular que estava em cima da pia do banheiro.
Sigo Laura pelo terreno sentindo o cheiro maravilhoso de café no ar, o tempo esta perfeito fresco com uma brisa gostosa.Quando vejo a casa quase não reconheço, tudo mudou muito eles a pintaram de amarelo clarinho deixando ela um charme, a casa lembra o casarão porém é um pouco menor e seus detalhes em madeira são brancos.Subo os quatro degraus da entrada e fico apaixonada pelo balanço que instalaram na varanda, ele deve suportar uns três adultos e sua cor branca me encanta ainda mais.
Ayana:-Que lindo o balanço.-elogio parando próximo a porta, Laura para ao meu lado e também o encara por um instante.
Laura:-Foi ideia do Hugo e da Ana, as vezes sento aqui de madrugada quando o sono some.A vista aqui da varanda é linda mesmo ficando na parte mais baixa da fazenda.
Ayana:-Sempre achei a vista linda de qualquer parte desse lugar.-volto meu olhar para ela e sorrio.
Laura:-Vem a comida já deve estar pronta.-ela abre a porta e entra na casa a sigo e fecho a porta, a medida que ela caminha e vou andando atrás dela observando tudo vejo que por dentro não mudou muito.Os moveis foram todos trocados mas a estrutura da casa é a mesma ate a cor das paredes esta igual, o mesmo tom de branco gelo com os quadros de família pendurados no corredor principal.
Ayana:-Aqui ficou lindo.-comento depois de passar enfrente a sala.
Laura:-Nós mudamos muita coisa, acho legal seus pais manterem o casarão a moda antiga mas por aqui eu cansei de tudo sempre igual.-confessa entrando em uma porta e quando entro vejo que é a cozinha, sempre achei a cozinha deles grande e bonita agora esta ainda mais.
Ayana:-Boa noite.-cumprimento Afonso sentado a mesa e vejo uma garota pegando algo na geladeira.-Ana Laura?-pergunto surpresa, ela cresceu muito desde a última vez e seu cabelo esta muito mais parecido com o da mãe agora com suas ondas indo ate o meio das costas.
Ana Laura:-Oi Ayana.-ela se vira sorridente depois de pegar uma jarra de suco na geladeira.-Toda vez que digo seu nome ou escuto alguém dizer lembro automaticamente do seu pai.-conta colocando a jarra sobre a mesa e depois se aproxima de mim.-Significa bela flor, ele sempre dizia essa frase depois de dizer seu nome para alguém pela primeira vez.
Ayana:-Ele nunca parou de fazer isso, acho que era o hobby dele.-respondo antes de abraçar Ana o mais forte que posso, ela por ser mais novinha me via como a irmã mais velha legal e eu amava muito.
Ana Laura:-Meus pêsames nós sabemos muito bem a pessoa incrível que ele foi.-ela me consola apertando mais o abraço e depois o desfaz.-Espero que fique muito tempo por aqui.
Ayana:-Essa é a ideia.-digo acariciando seu cabelo macio.-Seu cabelo esta lindo.
Ana Laura:-O seu esta mais, nunca vi ele tão grande.-responde sorrindo e parando atrás de mim para analisar.-O cabelo dela não esta lindo Hugo?-foi nesse momento que percebi ele parado na porta nos observando de braços cruzados.
Hugo:-Pelo o que eu me lembre ele sempre foi bonito.-ele me encara rapidamente e depois se aproxima da pequena pilha de pratos limpos sobre a mesa.-Vamos comer logo estou morto de fome.
O jantar foi bom e tranquilo, passei a maior parte do tempo rindo de vergonha das histórias que Laura e Afonso desenterraram da minha infância.Me senti tão em casa e a vontade que nem percebi o tempo passar ate que Daniel me ligou e ao recusar a ligação vi que já era tarde.
Ayana:-Acho melhor eu subir.-aviso levantando da mesa pegando meu prato e copo.-Vocês precisam acordar cedo amanhã.-ando ate a pia e me preparo para lavar a louça.
Laura:-O que pensa que esta fazendo?-pergunta incrédula, se levantando.-Deixa isso ai amanhã eu lavo, e realmente esta tarde o Hugo vai te levar ate em casa.
Ayana:-Não precisa disso, eu ainda sei me localizar por aqui.
Hugo:-Tenho minhas dúvidas se sabe mesmo.-debocha e o encaro.-Eu te levo vai ser rápido.
Ayana:-Tudo bem então.-me rendo a sua insistência.-Tudo estava delicioso.-falo e Laura sorri.
Laura:-Vem tomar café da manhã com a gente amanhã.-pede simpática.
Ayana:-Vou vir sim, tchau e ate amanhã.-aceno em despedida para Afonso e Ana Laura que estão tirando a mesa.-Vamos subir rápido para você dormir cedo.-digo para Hugo que assente.
Ele sai andando na frente e o sigo para fora da casa, ficamos em silêncio ate que tropeço em uma pedra e Hugo por instinto me segura.Me recomponho com vergonha e ele ri, com certeza estou parecendo uma patricinha agora.
Hugo:-Nem sei se chegaria inteira na fazenda se subisse sozinha.-debocha.
Ayana:-Alguma hora eu chegaria lá e inteira realmente talvez não seria.-brinco e ele ri.-Quero lembrar de novo onde fica cada pedra desse lugar, lembro que quando era criança eu sabia o lugar de cada uma.
Hugo:-Aqui o que mudou foram as aparências mas continua o mesmo lugar incrível que eu corria todo dia a tarde.
Ayana:-Quero ver os novos animais acho que ainda sei montar a cavalo.-comento enquanto ando observando o chão para não tropeçar de novo.
Hugo:-O Max ainda esta aqui sabia?-paro de caminhar e o encaro incrédula.-Esta velhinho mas continua bonito.-ela para de caminhar e me olha.-Ele vai gostar de te ver.
Ayana:-Eu não acredito que ele ainda esta aqui.-meus olhos marejam quando lembro da primeira vez que o vi, meu pai que o trouxe e me contou que ele foi tirado de um dono que não cuidava bem dele.-Eu quero ver ele.-digo e ele n**a balançando a cabeça.
Hugo:-Uma hora dessa ele já esta dormindo, te levo no estabulo amanhã.-assinto e volto a caminhar com Hugo me acompanhando.-Sabe quanto tempo vai ficar? Tipo não que eu queira que você vá embora só quero saber mesmo.
Ayana:-Ainda não sei e também não quero colocar uma quantidade de dias e ficar tensa para aproveitar sabe.-respondo dando de ombros e percebo que estamos chegando no casarão.
Hugo:-Vou fazer você querer morar aqui de novo.-avisa rindo.-Duvido que aquela cidade poluída seja melhor que a roça.
Ayana:-E realmente não é.-não digo para agradar ele mas porque é verdade, cidade grande não tem o aconchego do interior.-Mas não sei se moraria aqui de novo, seria difícil acostumar.
Hugo:-Vamos ver se você não vai ficar com vontade de voltar sei que vou me esforçar para isso.-chegamos próximas da entrada do casarão e ele para de caminhar, dou mais alguns passos e também paro me virando para ele.-Boa noite amanhã vou te acordar cedo.
Ayana:-Então ate daqui algumas horas Hugo.-sorrio e ele retribui, me viro de costas para ele e subo os poucos degraus da entrada.
Enquanto entro em casa escuto os passos dele indo embora, vou direto para o quarto e ligo para Daniel.O telefone toca muitas vezes antes que ele finalmente atenda.
Daniel:-Você sumiu acabei pegando no sono enquanto te esperava ligar.-diz com a voz sonolenta e escuto seu bocejo.
Ayana:-Eu fui jantar na casa da família que cuida aqui da fazenda, e sem contar que a fazenda esta linda demais.-comento sentando na cama.
Daniel:-Que bom que esta gostando eu preciso voltar para a cama, amanhã preciso conversar com um contador do resort.
Ayana:-Ta bom pode ir dormir, depois vamos olhar um dia para você vir aqui na fazenda acho que vai gostar daqui.-falo animada.
Daniel:-Vamos olhar sim sempre quis conhecer esse lugar, boa noite amor amanhã a gente se fala.-responde com a voz sumindo de tanto sono.
Ayana:-Boa noite meu bem.-me despeço e desligo a ligação.
Seria legal Daniel vir aqui e conhecer tudo isso ele precisa entender porque amo esse lugar e só tem como entender vendo tudo isso pessoalmente.
Durmo como uma pedra a viagem me cansou demais, acordo algumas vezes e me viro na cama voltando a dormir mas com a sensação de já ter dormido demais ate que alguém bate a porta.Me levanto e visto a roupa que separei ontem a noite, um short preto e uma camiseta rosa claro.
Ayana:-Bom dia.-digo ao abrir a porta e vejo Hugo ajeitando o cabelo molhado, ele claramente acabou de tomar banho.
Hugo:-Bom dia flor do dia.-diz irônico fazendo piada com o meu nome na verdade com o significado dele.-Hoje meus pais me pediram para fazer algo muito difícil.-ele passa por mim entrando no quarto e o encaro esperando o restante da informação que não vem.
Ayana:-O que eles te pediram?-pergunto curiosa.
Hugo:-Eles querem que eu te faça companhia, mostre a fazenda e essas coisas basicamente que eu cole em você ate seu dia de ir embora.-ele cruza os braços e sorri me fitando.
Ayana:-Um acompanhante de luxo?-brinco e ele ri.
Hugo:-Estou acima do luxo.
Ayana:-Bom eu vou só escovar os dentes e a gente pode começar com o passeio turístico com direito a guia.-aviso e ando ate o banheiro, escovo meus dentes e aproveito para fazer um rab.o de caval.o para aliviar o calor que vai fazer durante o dia inteiro.
Quando saio do banheiro vejo minha cama já arrumada e Hugo parado na porta mexendo no celular, ele parece estar lendo algo nada agradável.
Ayana:-Porque arrumou a cama? Eu ia fazer isso.-digo irritada, eu não vim aqui para dar ainda mais trabalho para ele e a família dele.
Hugo:-Foi m*l da próxima eu deixo para você arrumar isso é a força do hábito.-diz guardando o celular no bolso da calça jeans.
Ayana:-Ta bom mas vou repetir que não vim aqui para dar trabalho para ninguém, quero fazer as coisas para mim só não vou cozinhar porque seria desfeita com a sua mãe.
Hugo:-Relaxa você não da trabalho nenhum e vamos descer rápido eles já devem estar tomando café.
Desço com Hugo ate a casa e tomamos café da manhã com os pais e a irmã dele, ainda continuamos falando sobre quando eu morava aqui sobre o que eu costumar aprontar por aqui relembrar é muito gostoso.Depois do café Hugo me chama para finalmente irmos no estabulo ver Max, fico encantada o quanto o estabulo esta maior e mais bonito.Agora só tem duas éguas e dois cavalos vivendo aqui, me lembro que eram muitos.
Hugo:-A baia dele ainda é a última.-avisa e apresso meu passo indo ate a baia de Max, quando o vejo respiro fundo não sabia que tinha tanta saudade dele aqui dentro.
Max sempre foi lindo mas quando chegou a fazenda era bem magrinho, me lembro do meu pai chegando com ele e me perguntando qual nome combinava com um cavalo n***o como minério.Ele era totalmente preto e lindo, hoje seu pelo ainda esta preto porém mais suave isso deve ser a marca da idade.Quando ele me reconhece fica agitado na baia e logo entro e vou ate ele, quando passo a mão na lateral da sua cara posso sentir ele se acalmando.
Hugo:-Você poderia aparecer daqui a vinte anos que se ele ainda estivesse vivo se lembraria de você.-ele para ao meu lado e acaricia a longa crina do dorso dele.
Ayana:-Ele esta tão bonito ainda, queria que meu pai tivesse visto ele antes de morrer.-lembro da forma que meu pai se empenhou em cuidar do Max nas primeiras semanas dele na fazenda.-Ele ainda ama cenouras?
Hugo:-Sim ele ainda ama.-comenta rindo.-Ele não esta aguentando ser montado mas vamos dar uma volta com ele.-diz e termina de abrir a baia.-Ainda lembra como se faz?-pergunta se afastando.
Ayana:-Ainda lembro sim.-saio da baia e estalo os dedos duas vezes dando o sinal para Max sair da baia e ele obedece caminhando ate mim.-Algumas coisas nunca mudam.