Capítulo 02

920 Words
Luna se encontrava sentada atrás de sua mesa no escritório do D.S.E, tentando manter sua mente ocupada após a avalanche de reportagens que pareciam nunca ter fim após os últimos acontecimentos que mexeram com o mundo. Enquanto a neve caía lá fora, a cientista percebeu que, pela terceira vez, lia o mesmo parágrafo daquele arquivo empilhado em sua mesa. No rodapé da página, uma linha aguardava sua assinatura enquanto a caneta esferográfica prateada vagava de maneira superficial o papel. Os estagiários aguardavam por sua aprovação para dar continuidade àquele projeto, mas Luna estava distante em pensamentos. Ela ainda não entendia como as coisas ficaram tão desastrosas dentro de si. Todavia, seus pensamentos tempestuosos foram interrompidos quando a porta de seu escritório fora aberta sem sua autorização, e a figura familiar de Alice surgiu, trazendo consigo uma embalagem de uma rede de fast food. ━ Estou ocupada. A jovem balbuciou. Voltando suas íris esmeraldas para a papelada pendente que aguardava sua atenção. ━ Você e o resto do mundo, meu bem. Alice ignorou seu desdém, rebatendo-o com uma ponta perspicaz de sarcasmo. Deixando o embrulho sobre a mesinha de centro e consequentemente atraindo o interesse de Luna que agora batia de maneira inquieta com a caneta, tamborilando o mármore branco e frio da mesa, Alice suspirou. Luna conseguia ser a rainha do silêncio quando queria, e quando aquilo persistiu, a garota de olhos castanhos sentiu que precisava falar mais alguma coisa, até que Luna decidisse quebrar o gelo desconfortável ali presente. ━ Não respondeu minhas mensagens desde o enterro. Sua assistente me informou que não havia saído da cidade, logo imaginei que estaria nos evitando. Todos nós estamos preocupados. Sentando-se no sofá branco que ficava de frente para a mesa de Luna, Alice se adiantou em tirar os lanches da embalagem, deixando tudo ali, pronto para o consumo. ━ E então você decidiu me trazer o almoço como uma desculpa para descobrir o porquê de eu não responder suas mensagens? - Luna indagou. ━ Sim, de certa forma - declarou a mais jovem das duas ━ Sabemos que você tem o complexo de workaholic e costuma pular as refeições. Sabe, o Richard também não está encarando isso da melhor maneira, mas estamos todos tentando. Rendendo-se ao cheiro tentador de batatas fritas e queijo cheddar, Luna deixou a caneta de lado e levantou-se de sua cadeira. Decidida a se juntar à cunhada, antes que Alice devorasse todas as batatas da embalagem que faziam seu estômago clamar e protestar. Por alguma razão que ainda não era de seu conhecimento, Luna nunca quis tanto comer aquela porcaria calórica e gordurosa que Kaleb devorava sem nenhuma preocupação ou cerimônia, apenas para ser criticado por Luna, por não haver nada de saudável naquela alimentação pouco disciplinada. (Que não fazia nada para diminuir os músculos do herói). ━ O problema é que essas coisas descem pela minha garganta e se alojam nas minhas coxas - retrucou a irlandesa. A crítica fez Alice rolar os olhos e morder o hambúrguer após desembrulhá-lo enquanto Luna começava a comer algumas batatas fritas depois de sentar na outra extremidade do sofá. Contudo, algo aconteceu e a cientista percebeu que parecia mais faminta e ansiosa a cada batata consumida, o sabor lhe causou uma estranha sensação de felicidade e a garota de olhos verdes passou a comer de maneira quase compulsiva, oferecendo, por sua vez, algumas mordidas generosas no sanduíche enquanto intercalava entre batata, hambúrguer e refrigerante. O fato não passou despercebido por Alice, como não podia deixar de ser, e a garota por alguma razão achou aquilo estranhamente familiar. O tipo de coisa que Kaleb faria. ━ Ainda bem que eu não trouxe uma daquelas saladas sem graça - replicou Alice, com uma sobrancelha erguida. ━ Eu realmente pulei o café da manhã, não me estresse - murmurou Luna de boca cheia. As duas comeram em um silêncio confortável, até que Luna sentiu uma estranha sensação nauseante que a fez levantar-se num pulo, saltar dos saltos e correr para o banheiro de seu escritório. Confusa, Alice tratou de levantar e ir até a porta, oferecendo uma batida nesta com os nós dos dedos. ━ Luna? Você está bem? Como não obteve resposta, apenas o barulho da descarga da privada, a garota encostou-se na madeira. ━ Eu não sei, provavelmente algo não desceu bem - respondeu Luna. Ainda com a porta fechada, Alice ouviu a torneira aberta e supôs que Luna escovava os dentes, lavava o rosto e tentava parecer apresentável e impecável como o de costume. Foi então que ela se afastou ao ouvir o trinco da porta abrir e a figura pálida surgir. ━ Você realmente não parece bem, nós comemos a mesma comida e eu não tive reação alguma Alice apontou, analisando a amiga com atenção enquanto Luna tentava sustentar - porém sem muito sucesso, a máscara da seriedade imaculada. ━ Desde o enterro, eu não tenho me sentido bem, eu não tenho... Menstruado. Quando a realidade do que poderia ser a tomou como uma descarga elétrica, enviando um arrepio para sua espinha, Luna estremeceu. Abraçando-se como se de alguma forma estivesse confortando a si mesma, a garota foi em busca do celular deixado na mesa, verificando seu aplicativo de calendário menstrual. Lá, encontrou um atraso de pelo menos um mês e alguns dias. Seu atraso estava próximo do segundo mês. Sentindo como se o chão estivesse afundando sob seus pés, a jovem irlandesa percebeu que sua visão era embaçada pelas lágrimas. ㅤㅤ ──────⊱◈◈◈⊰──────
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