A ala médica do D.S.E cheirava à álcool e luva cirúrgica estéril enquanto Luna se via sentada numa maca, com um band-aid redondo colado no pulso que latejava um pouco, irritado e ardido após a invasão nada agradável da agulha fina.
Chupando um pirulito de cereja em forma de coração, a garota sustentava uma expressão serena no rosto, embora um pouco distante após Elizabeth tê-la deixado sozinha com seus pensamentos conflitantes depois de coletar uma amostra de seu sangue e levado para análise.
Alice havia se ocupado poucos minutos depois de deixá-la lá, sob os cuidados da mulher - que também procurava manter sua mente ocupada após os últimos acontecimentos -, e partido para resolver seus assuntos de urgência, afinal, agora que não tinham mais os reforços de Kaleb, precisariam retornar para como as coisas funcionavam no D.S.E no início: sem o suporte do majestoso herói para lidar com o serviço pesado.
Luna era uma cientista formidável, havia se formato com as melhores notas da classe e possuía um QI surpreendente. Também havia analisado e estudado o soro que criou o maior herói que o mundo conheceu, da mesma maneira que fora capaz de desenhar e construir o traje dele.
Mas a única coisa que Luna não fora capaz, fora de prever aquele acontecimento. A criação de um herdeiro de Kaleb que seria responsável por manter vivo o legado de seu povo, assim como carregaria os valores que o loiro havia lutado a vida inteira para proteger. Porém, sem esquecer de levar consigo a verdadeira razão e essência daquela luta. O verdadeiro significado de seu sacrifício: Humanidade.
E foi somente quando Elizabeth entrou na sala com uma placa de escrita e uma expressão ilegível que Luna saiu de seu devaneio, voltando ligeiramente - quase ansiosa - suas íris esmeraldas para a mulher mais velha.
━ Os resultados estão prontos, querida.
Ouvir aquilo afundou o peito de Luna, a deixando ligeiramente sem ar. Todavia, antes que a garota sofresse uma crise de pânico, a matriarca se adiantou, prosseguindo com sua explicação:
━ Respire, docinho - suavizou ━ Analisei seu sangue coletado e o combinei com uma amostra do DNA de Kaleb que havia no banco de dados. E embora eu duvidasse que o resultado seria diferente, é compatível, sim.
Entregando os papéis a ela, Elizabeth a observou analisar os resultados dos exames, tomada pela emoção.
━ Um híbrido - sussurrou a garota.
━ Sim, certamente - declarou a mulher mais velha ━ Cientificamente, o bebê poderá herdará as habilidades do Kaleb. E também, será humano como você.
Naquele instante, Luna já se desmanchava em lágrimas, exibindo um sorriso que teria doído suas bochechas se ela não estivesse tão presa em seu transe momentâneo.
━ Deus, isto é... não tenho palavras.
Luna falava com a voz embargada pelo choro de emoção enquanto Elizabeth compartilhava do sentimento, porém de maneira mais contida enquanto apenas a oferecia um aperto confortante numa das mãos.
━ Sabemos que o Kaleb era poderoso. Ele passou os últimos anos treinando e aprimorando suas habilidades. É possível que seu organismo super desenvolvido tenha distribuído esse poder, como uma válvula de escape para um possível embrião. Neste caso, um herdeiro.
Depois que analisou os papéis e ouviu a explicação da médica, Luna levou a mão destra ao ventre ainda liso, o tocando de maneira suave, quase inconsciente quando algo dentro de si disparou como um gatilho.
━ Elizabeth, é seguro para um humano carregar um bebê tão poderoso?
O questionamento da jovem fez com que a matriarca meneasse a cabeça, em concordância.
━ Não se preocupe. Neste momento, o seu corpo já está sendo preparado para abrigar o novo organismo.
Luna sabia, ela sabia que Kaleb jamais faria algo que colocaria em risco sua vida, afinal, ele havia lutado para mantê-la a salvo, lutado por sua segurança até o seu último suspiro. E foi com um sorriso bobo e as íris esmeraldas um pouco mais claras pelas lágrimas, que a garota riu baixinho.
━ Deus, veja só o que seu filho fez - brincou
━ Eu não poderia desejar presente melhor para um Natal.
O mesmo sorriso de felicidade contornou os lábios de Elizabeth enquanto observava Luna acariciando o próprio ventre. Kaleb ainda estaria com elas, no fim das contas. Mesmo que sua presença não fosse física, levaria apenas alguns meses para que um pequeno coração começasse a bater dentro de Luna e mais alguns para que finalmente conhecessem o pequeno presente que seu filho havia lhes deixado.
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