*** Samara ***
O SOL ESTAVA SAINDO QUANDO EU ME RETIREI DO QUARTO DE FININHO PELA MANHÃ. Não fiz o check-in, então não havia porque fazer checkout, certamente Leonardo era rico o suficiente para não precisar apresentar documentos, rico o suficiente para alugar uma diária de um quarto que custava provavelmente o meu salário anual no jornal.
Não precisei me olhar no espelho para perceber que eu estava com a aparência de um panda, com os olhos borrados devido a maquiagem e ao banho da última noite. Tudo bem, devido ao sexo suado também.
Saí pelo Hall da recepção junto com alguns estrangeiros que me pareciam serem turcos e que pelas roupas, pareciam querer aproveitar a praia vazia de frente ao hotel.
Fiz sinal para o primeiro táxi que me apareceu e pedi para que me deixasse em frente ao meu prédio.
— 75th com a Madison, próximo ao Central Park, por favor.
Meu apartamento era do tamanho do quarto luxuoso em que estive há algumas horas.
Solteira e sem filhos, ele era perfeito para mim e para os meus problemas insistentes.
Ao abrir a porta da entrada, Gabriele estava estirada sobre o meu sofá, parecia dormir intensamente, mas quando bati a porta atrás de mim, a vi dar um pulo assustada.
— Bom dia! — saudei com um sorriso que sabia que era exagerado em meu rosto.
Era... alegre demais.
— Que horas são? — Gabi m*l conseguia abrir os olhos.
Minhas persianas estavam fechadas, então não havia sinal de raios solares.
Meu apartamento era tipo o covil do Drácula, sabe? Frio e escuro, eu me sentia a Suzie em uma versão Dark da Mattel.
— É hora de trabalhar, na verdade, de eu me arrumar pra ir trabalhar!
Não podia negar que estava cansada. Além de não dormir direito, gastei o pouco de energia que tinha com Leonardo, que por sinal me surpreendeu, pois o que eu achava que seria um desastre, foi de longe um dos melhores sexos que já tive, não pelo fato de ele ser lindo e charmoso, mas pelo fato de que Leonardo sabia exatamente onde me tocar e onde exatamente eu precisava que ele me tocasse. E merda, eu pensaria nele durante um bom tempo.
Foi de longe um dos melhores limites que já ultrapassei. O primeiro estranho que valeu a pena.
— Cara, já são seis e meia da manhã! — ela exclamou. — Agora, você pode dar meia volta e me contar tudo, porque pra ter chegado a essa hora, aquele cara não foi nada m*l.
— Preciso trabalhar.
Ela sentou em meu sofá.
— Você precisa me contar primeiro, vambora.
Respirei fundo antes de tentar encontrar algumas palavras menos pejorativas para descrever o que foi meu último encontro não-desastroso.
— Foi bom, ele foi gentil e me levou em um lugar legal.
— E pra onde foram?
Lá vinha bomba.
— Hm... — Eu hesitei, mas não conseguiria mentir para a loira sentada à minha frente, pois mesmo que eu quisesse, daria a pinta da mentira. — Four Seasons.
Os olhos castanhos de Gabriele se arregalaram e suas mãos agarraram meus ombros eufórica.
— Four Seasons? Na esquina do TAO Uptown?
— Sim? — Não sabia se foi uma pergunta ou afirmação.
— Se o gato de ontem me levasse no Four Seasons eu nem mesmo me importaria que ele trepasse m*l.
— Está me deixando sem graça!
— Ah, fala sério, Sam! Está fazendo pouco caso, eu vi o cara, ele era um gato, ainda te levou pro Four Seasons! Não se levam transas pro Four Seasons.
O Four Seasons era somente um dos hotéis mais luxuosos e caros do mundo, provavelmente pela quantidade de ouro e diamante que as suítes tinham.
E se a intenção de Leonardo era me mostrar o quão rico ele era, devo lhe dar os parabéns. Ele havia conseguido, mas o que Gabriele não sabia, era que Leo provavelmente era tão rico, que o Four Seasons para ele poderia ser feito de cafeteria se ele quisesse.
— Foi só uma noite, Gabi. Você quer que eu faça o quê? Pule de alegria?
— Ponha um sorriso nesse rosto, porque com essa cara emburrada parece até que ele te comeu m*l!
— Minha cara, na verdade, é de sono e desânimo sabendo que eu vou ter que trabalhar agora mesmo, mas prometo que quando eu voltar do trabalho, dormir e acordar, te conto como foi — prometi como uma boa amiga faria. — Agora você, e o cara de ontem?
— p***o pequeno, mas soube usar a boca. Ele é muito bom em ouvir!
— Sugeriu que ele fizesse psicologia?
Era a cara de Gabriele fazer esse tipo de comentário.
— Nem precisei, o cara realmente era formado em Psicologia.
— Que sorte!
Ela se acomodou no sofá, pondo um travesseiro debaixo de sua cabeça.
— Notícias do Valasco?
Já disse que esse nome me causava arrepios?
Mesmo que Valério Valasco estivesse preso, não queria dizer que ele estivesse realmente preso. A diferença era que ele tinha dinheiro aos bocados ao ponto de conseguir comprar os agentes penitenciários e montar um quarto de Hotel na prisão, era o suficiente para transformar sua vida de condenado, na vida de um rei. Seu dinheiro poderia ser inimaginável, mas não o suficiente para comprar sua sentença com dezenas de acusações perante ao Juiz e o promotor que haviam fodido com sua vida.
— Se tiver algo que preciso saber, saberei hoje — respondi a ela.
Gabriele morava no Brooklyn, mas minha casa era mais dela do que minha.
— Algo de especial? — Gabriele me perguntou, prestando mais atenção que antes.
— Valério foi preso, mas as cargas de armas ainda continuam entrando nos estados unidos, segundo a polícia, é do mesmo fornecedor.
— Não é o Jhonatan?
— Bom, não sei! Se não for, ele pode ter contato direto com quem entrega essas porcarias, então a última coisa que a polícia quer, é afastar esse cara, estão dando corda pra saber mais coisas. Eu tive contato com algumas pessoas, Gabi, não posso me expor como da última vez, entende? Porque se Valério sonhar em me descobrir, eu tô fodida, e não é no bom sentido.
Gabriele sorriu minimamente e eu entendia seu sorriso, porque trazer esse assunto à tona, era reviver todo o misto de problemas e sensações ruins que vivenciamos juntas em um passado não tão distante, era saber que quanto mais nos enfiávamos nisso, mesmo que a grana fosse boa, era dormir sem saber se poderíamos acordar vivas novamente.
O jornal ficava na Wall Street. Embora a famosa avenida de Nova York fosse completamente engarrafada pelos motoristas desesperados para deixar seus futuros acionistas milionários em seus prédios, nada funcionava, e o resultado disso era um estresse geral em todos que queriam ir ao mesmo lugar, ao mesmo tempo. Mas como dizia o ditado: Dois corpos não ocupam o mesmo espaço, certo?
O que facilitava minha vida era entrar pela rua transversal do prédio, para que ninguém me visse como uma jornalista ou funcionária. Sempre foi assim e acho que iria ser até o fim.
— Ai esta minha garota! — exclamou Cassiano alegremente, o homem que não tinha um fio de cabelo.
Cassiano Guerra era o diretor do Jornal, era o cara que enfiava no traseiro gordo e suado os milhões de dólares que as matérias escandalosas vendiam. Depois que lhe dei a matéria montada com provas e fotos sobre Valério Valasco, que rendeu recorde de vendas e incontáveis notas verdinhas e novas, Cassiano teve a ideia brilhante de festejar a ascensão do Jornal no Marrocos, enquanto eu me escondia no cu do Texas, em uma cidade fantasma chamada Bandera, comendo areia pela janela do quarto, porque a cidade que eu escolhi para esperar a poeira da prisão de Valério abaixar, ficava localizada em um local que nem mesmo existia no google Maps, e muito menos asfalto ou água encanada.
Nunca fiz o tipo de pessoa que reclamava de barriga cheia, obviamente que, tanto eu quanto Gabriele engordamos nossa conta bancária com tamanho trabalho, mas de uma coisa eu tinha certeza: Não tinha valor que pagasse uma vida.
— Bom dia, Sam! — exclamou a morena baixa com o leque branco e bordado na mão.
Luzia Santana era responsável por digitar as matérias que entregávamos e também pela diagramação de cada notícia. Mesmo que ela não fizesse parte do time de repórteres investigativos, ela participava das reuniões junto com a Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos, mais conhecido como FBI, pois Luzia bolava planos, que até mesmo o agente Diogo invejava, sem falar que ela era antiga no jornal, talvez tão antiga quanto os azulejos debaixo de nossos pés.
— Bom dia, pessoal — desejei, ajeitando a bolsa atravessada em meu ombro.
— Estou descendo pra comprar um café, você quer? — Luzia me ofereceu, enquanto piscava seus olhos amendoados para mim à espera de uma resposta, mas estava perdida entre meu cansaço, a transa incrível com Leonardo e o próximo problema que estava prestes a me enfiar para conseguir um furo. — Samara? — ela perguntou de novo.
— Ah, sim, claro! Me traz o que tiver de mais forte!
— Noite r**m?
— Mais ou menos, preciso de algo pra não dormir na mesa de reunião — respondi cansada.
— Somos tão entediantes assim? — Diogo era muito bonito, moreno, olhos escuros e de pele bronzeada de sol, quase um nativo das praias de São Francisco, um ímã de mulheres e se não fosse tão egocêntrico eu poderia aceitar uma de suas várias investidas.
Eu sorri sem ânimo.
Diogo Carrilho estava sempre à espera de uma brecha.
— Só estou cansada.
Vi Luzia sair de fininho.
— Então alguém te deixou cansada ontem?
Esqueci de dizer que Carrilho também era um babaca. Se ele tinha o direito de ser um i*****l, eu também tinha.
Direitos iguais, pois era isso que a pátria pregava em momentos raros, gostava de fazer jus ao ditado do meu país, mesmo que às vezes fosse para benefício próprio.
— Você não faz ideia, estou esgotada e com o corpo dolorido.
Ele murchou e vi Luzia entrar no elevador rindo. Era raro alguém desmoralizar Diogo, e ela gostava disso.
— Achei que não tinha tempo para diversão — ele balbuciou como um cachorro babão.
— É que eu tenho uma lista de espera meio longa, sabe? E eu acho que vai demorar um pouco para chegar na tua vez.
— Uau, terminou um relacionamento há pouco tempo e já está fazendo lista de espera?
— Anda procurando saber muito da minha vida, não acha?
Ele riu achando-se o cara, quando, na verdade, não passava de um palhaço de circo.
— Na verdade, não, Yuri vai casar com a ginasta gostosa e convidou metade da academia de onde ela trabalha. Daí eu pensei, porque não convidar a Samara?
Diogo nunca foi capaz de me causar ódio com suas piadas xexelentas, não até este momento, mas contrário ao que achava, não foram suas palavras que me causaram ódio e sim a informação em primeira mão. Há quanto tempo estava separada de Yuri? Quase dois anos? Talvez um pouco menos. Talvez o r**o da ginasta loira e gostosa fosse tão bom que ele quisesse estar dentro dele a vida inteira.
— E você acha que eu aceitaria ir?
Sim, eu aceitaria.
Seria ótimo ter a chance de transformar o p*u de Yuri em uma linguiça para churrasco e fatiá-lo como pão de rabanada para o Natal.
— Yuri é um babaca, seria legal vê-lo desconcertado. — Diogo deu de ombros, mas sabia que para ele era importante que eu fosse, pois o inspetor-palhaço-de-circo adorava ser o centro das atenções, e esta era a melhor forma. Ir ao casamento acompanhado da ex-noiva do noivo.
Embora a psicóloga tenha sido fundamental para que eu não me sentisse um lixo pós-relacionamento, ela não havia sido capaz de curar completamente a raiva que ainda sentia de Yuri por ter fodido nosso relacionamento incrível enquanto eu dava duro trabalhando.
— E você quer me usar pra isso?
— Usar é uma palavra muito pesada, prefiro dizer que preciso da sua ajuda.
Poderia ser uma boa amiga, mas não era i****a.
— Por mais que seja tentador, obrigada. Não vou me rebaixar a esse nível e acredite, é só tempo até ele arrumar outra personal para alojar seu pa... — Graças a Deus fui interrompida.
— Gente, a reunião vai começar. — Luzia sorriu amistosamente, entregando-me um copo do Starbucks. — Pedi um expresso para você.
A sala de reunião era média e escondida, no andar do diretor geral, onde ninguém ia ou sabia que existia. A parte boa em ser repórter investigativa era essa, andar nas sombras.
Carrilho sentou ao meu lado, Cassiano na ponta da direita, Luzia ao lado de Carrilho, e ao lado de Luzia, Armando Novaes, um dos meus amigos de profissão que me dava nojo, desde que precisou bater em uma mulher para conseguir a matéria, ao seu lado, sua amiga cascavel que me fazia duvidar se até mesmo uma mamba n***a pudesse ter tanto veneno quanto ela, Fábia Fountaine.
— Todos aqui? — Cassiano indagou, prestando atenção no botão de sua camiseta que não fechava devido à sua barriga imensa. Eu a apelidei de Ifood, o motivo não preciso dizer.
A porta abriu e por ela passou Breno Vianna, amigo de Diogo e pelo lado bom, não era o****o igual a ele. Breno era observador, e para alguns isso era melhor do que falar.
Breno realmente trabalhava como um verdadeiro homem da lei e até mesmo eu nunca o vi usar sua condição para fisgar mulheres.
— Desculpe a demora. — Breno tinha uma voz de presença, que na pessoa certa causaria até mesmo medo. Vianna se dirigiu ao meu lado e sentou-se na cadeira vazia. — Pode continuar.
Cassiano pigarreou. Diogo levantou ajeitando a jaqueta jeans sobre seus ombros largos, ele tinha um semblante antipático e antissocial que eu odiava ver em qualquer pessoa. Seus passos eram lentos e eu me perguntei se ele não entendeu que essa merda não era um filme e ele não era o protagonista.
Ainda em pé ao lado do diretor do Jornal, ele se ajeitava para começar o discurso entediante.
O Trill York Times tinha um trato com o Departamento Federal de Investigação, trato esse que se amparava em ajudarmos com informações investigativas e em troca o furo em primeira mão nas matérias. Um trato onde todo mundo saía ganhando.
O FBI nos dava uma direção e íamos direto na toca do lobo.
— Não esperava chamar vocês aqui tão cedo, mas, ainda assim, preciso frisar que não esperava que o tráfico de armas no Brooklyn não fosse parar com a prisão de Valério, na verdade, sabíamos que continuaria, mas achamos que haveria uma pausa, mas não houve. Valério tem alguém aqui fora que faz tudo por ele, execuções, transações, negociações e várias outras coisas. Sabemos que essa pessoa de fato existe e que é bem provável que ela esteja aqui ou talvez em Manhattan, é difícil dizer com precisão.
Cassiano tocou o braço vestido de Diogo e tomou a voz.
— Se trabalharmos da mesma forma que trabalhamos da última vez, faremos com esse babaca a mesma coisa que fizemos com Valério — Cassiano quase rosnou. Ele era um i****a, mas o i****a adorava desafios e infelizmente, ele havia me ensinado a ter os mesmos gostos.
— Não vai ser tão simples. Você pode ter certeza de que eles vão se precaver dessa vez, não demos espaço para defesa da última vez e agora, você pode ter certeza de que se descobrirem qualquer coisa vão tentar acabar com quem se pôr no caminho! — o companheiro da ruiva exclamou.
Fábia se levantou da mesa, espalmando os dedos na mesa de vidro, obtendo minha atenção para as unhas longas pintadas de rosa choque. Ela ajeitou os cabelos num coque indecente m*l amarrado no alto de sua cabeça, um sorriso correu em seu rosto e já entendia a forma que ela gostava de jogar.
Todos os homens do jornal sabiam.
— Conheço alguém que talvez possa nos ajudar. — Sua voz era enjoada, fanha e desastrosamente doce ao extremo.
Na realidade, Fábia havia dormido com alguém tão babaca quanto ela em troca de informações, e por incrível que pareça todas as informações que ela nos dava eram sujas. Tão sujas quanto ela.
— Claro que conhece! — murmurei baixo, e seus olhos castanhos miraram em mim e me revelaram sua vontade de me assassinar.
— Como é que é, palhaça?
— Palhaça? — Fui séria. Fábia era o tipo de mulher que não se devia dar corda, pois por menor que a ponta fosse, ela puxaria tudo de uma vez.
— Ei, meninas, acalmem-se! — Bendito Armando, bendito e falso.
Reunião de cobras, isso sim.
— Estou saindo com uma pessoa que diz ter tido contato direto com o homem que abastece grande parte dos vendedores de armas no Estado todo e se continuar desse jeito, logo vai abastecer o país. Disse que era coisa grande, eu estou apenas me passando de acompanhante pra ele e tentando extrair o máximo de coisas que posso. Ele é um cara que gosta de dinheiro, acho que se oferecermos uma boa quantia pra que ele trabalhasse conosco, ele aceitaria.
— E você acha que é simples assim, Fábia? — Luzia era ácida.
— Eu nunca disse que seria fácil — a ruiva respondeu recuando.
— Você pretende dizer ao cara que está te comendo que você é jornalista investigativa? Olha, às vezes sua burrice me surpreende.
Eram por momentos como este que eu via porque eu e Luzia nos dávamos tão bem.
— Nós não temos relações sex...
Cassiano balbuciou algo que eu não consegui ouvir porque a voz de Luzia soou mais alto que qualquer coisa e ela não tinha a menor vontade de calar a boca, porque cada palavra de Fábia era como combustível para o seu ranço.
— Com certeza não, você é que tipo de acompanhante então? De Idosos?
— Mas que p***a, calem a merda da boca! — Dessa vez foi a voz de Armando que apaziguou a semi-confusão.
Fábia estava vermelha como uma pimenta e Luzia se sentou em sua cadeira amparando seu queixo fino sobre a mão esquerda.
Muitos dos presentes, mesmo se mostrando amigos, não me esperariam virar de costas para me enfiar uma faca, acho que Luzia era a única digna de confiança. Mesmo com este pensamento de desconfiança eu sabia que ninguém iria me ferrar, porque a esta altura do campeonato, éramos como peças de dominó empilhados em fileiras, e se um de nós caísse, todos cairíamos juntos em um precipício mais alto do que se pode medir. Não era somente um jogo ou matéria que estava em jogo, também era nossa vida, nossa família.
Finalmente decidi começar de fato a nossa reunião.
— Acho burrice oferecer dinheiro assim. Da mesma forma que nós podemos comprá-lo, o suposto fornecedor de armas também pode — falei.
— Samara tem razão, se aproximar demais pode ser perigoso pra você e pra gente também — disse Diogo enquanto cruzava os braços. — Precisamos colher mais informações possíveis antes de agir.
Duas horas quase não foram o suficiente para que Diogo e Cassiano nos prometessem um mundo de luxo pela prisão do “Substituto” de Valério, embora as promessas fossem tentadoras, eu me sentia atraída pela adrenalina que tudo aquilo causava, não era à toa que denominavam o perigo existente. Diogo foi o primeiro a ir embora, não antes sem me dar uma piscadinha indecente. Aguardei alguns minutos e quando ia me lançar para dentro do elevador, ouvi a boca de Cassiano quase gritar meu nome.
— Samara, preciso falar com você antes de ir. — Ele se atentava em guardar lápis por lápis dentro do estojo de plástico transparente.
— Pois não, Sr. Guerra?
Ele jogou suas costas na cadeira.
— Estive pensando, podia usar alguns pseudônimos para voltar a escrever para o jornal. Sei que já tinha seu antigo, mas quem sabe não possa voltar com um novo?
Eu adorava publicar matérias “pontas de faca”, cujo correspondia a matérias publicitárias de pequenas pesquisas, longo alcance e impacto infinitivo.
— Talvez, Cassiano... Estou um pouco enferrujada, mas acho que talvez eu possa conseguir — eu afirmei de forma mentirosa.
Só queria ir para casa e dormir.
— Seria ótimo tê-la conosco novamente nas colunas. Posso cuidar para que ninguém saiba de você.
Cassiano me queria de volta nas colunas. Queria os olhos dos leitores sobre o jornal mesmo quando não havia matérias escandalosas estampando a capa. Cassiano gostava do sucesso em notas verdes e cheirosas.
— Obrigada pela proposta, vou pensar.
Pensei em deixar a sala, mas pela face do diretor, sabia que ele tinha algo a mais, os segundos passaram e vi que estava certa.
— Sam, posso te pedir algo?
Eu sorri em resposta afirmativa.
— Claro!
— Tome cuidado, tudo que estamos prestes a enfrentar, não vai ser como da última vez — ele falava pausadamente.
Minha vez de murchar, e não era à toa. Cassiano sempre soube no que eu me meti para ajudar na ascensão do jornal, todas as experiências de quase morte que me abalaram psicologicamente, e nem mesmo quando ele soube de meu alvo, me pediu para ser cautelosa, mas acredite, se Cassiano chegou ao ponto de solicitar que eu fosse cuidadosa, era porque as bordas do buraco onde poderíamos cair estavam cheias de espinhos e qualquer pulo precipitado, poderia f***r com todo mundo.