Chapter 01.
*** Samara ***
AQUILO NÃO ERA UMA BOA IDEIA.
Definitivamente não.
Gabriele era uma ótima amiga, mas tinha compulsão por moda e sempre que tinha oportunidade, ela fazia de mim uma boneca Suzie e por mais que eu fosse vaidosa, até para mim era um tamanho exagero. Nunca gostei da boneca Barbie, embora eu sempre tenha ouvido com frequência que eu me parecesse com uma, a Suzie sempre me pareceu mais... autossuficiente. A Suzie viajava para o Havaí nos comerciais e era aeromoça, e a Barbie? Ah, a Barbie só tinha o Ken, e eu nunca gostei muito do Ken, sabe? Porque todos os homens que passaram por mim, me deram motivos suficientes para acreditar que os melhores momentos da minha vida seriam sem eles, e foi nisso que passei a acreditar, que homens eram apenas degraus, para seja lá o que eu quisesse, dinheiro, ascensão profissional ou reconhecimento.
— c****e, Sam! Você tá gostosa demais! — Embora amigas, o olhar de Gabriele em mim era totalmente masculino, e se ela não fosse tão feminina, eu diria que havia se tornado bissexual.
— Acho que você exagerou dessa vez! — eu repeti novamente, mas dessa vez não foi mentalmente.
— Você fica tanto tempo vestida nesses pedaços de roupas velhas quando está trabalhando no jornal que sequer consegue me agradecer quando eu te visto como uma mulher de verdade.
— Gostaria que eu fosse trabalhar com “isso”? — Apontei para a roupa que vestia meu corpo, ou melhor, apertava meu corpo, não exageradamente, mas o suficiente para que eu me sentisse como um frango ensacado na seção de congelados do supermercado. Talvez fosse porque minhas roupas cotidianas eram confortáveis o suficiente para sobrar muito espaço entre minha pele e o tecido.
Sem chance, Gabriele era louca, ou talvez a definição de louca fosse pouca coisa para ela. Gabriele era o tipo de amiga que toparia ir nadando da praia da baia de Nova York até o monte Everest mesmo sabendo que aquilo era "Impossível", era o tipo de mulher independente o suficiente para não depender de homem algum ou se importar com conotações sexuais que faziam sobre ela por andar no alto do Brooklyn com um salto alto rosa choque de vários centímetros durante as primeiras horas da manhã.
Gabriele não era só minha melhor amiga, ela era meu passarinho, ou como titulavam no jornal onde eu trabalhava, era minha informante.
— Não pedi que trabalhasse assim, mas que se divertisse assim. — Observei seus olhos ainda sobre cada canto de mim e aproveitei para tentar ajeitar a roupa. Incomodada não era a palavra certa, só não estava acostumada. — Se tocar nesse fecho, arranco sua mão — ela falou e eu não me arrisquei, mas tudo bem, seria só por uma noite, não é mesmo?
— E você vai assim? — eu perguntei fazendo menção ao seu estado pós-dormida-diurna. Gabriele se levantou de forma apressada e vestiu um sorriso de suspense no rosto.
— Por que a pressa? Olha, Sam, quero que você se divirta, você precisa espairecer, cara, sério, Yuri acabou contigo e agora você precisa se libertar disso.
Yuri.
O nome me dava asco.
E a pessoa me dava aquela sensação de azia interminável depois do almoço.
A definição de ex-namorado era algo que, classificando gramaticalmente e sentimentalmente, se encontrava sempre no passado e era errado ortograficamente querer usar palavras do passado em frases conjugadas no presente. Voltar com um ex-namorado era exatamente a mesma coisa, não dá certo e muito menos faz sentido. O passado ficava no passado, e eu só me ferrei com Yuri porque eu achei que ele ainda podia ser meu “presente” e Yuri era um passado, uma antiguidade, daquelas que nem em museu pré-histórico você encontrava mais.
— E quem é que está com pressa aqui? — eu menti, na cara dura e ela sabia que eu estava mentindo.
— Precisa de um homem.
— Não. — Nem ao menos deixei continuar.
— Olha, você está interpretando de forma errada. Não disse “depender” de um homem, mas eles sabem ajudar de uma forma que você mesma não consegue. — Gabi me deu uma piscadinha safada.
— Minha resposta continua sendo não, Gabriele.
— Fala sério, Sam. Você não sai com ninguém há mais de um ano. Não vou conseguir t*****r com ninguém sabendo que você vai estar abandonada no bar do clube, tomando suco de laranja e provavelmente ouvindo “Frank Sinatra” se pudesse.
— Então não transe com ninguém e me faça companhia no suco de laranja e no “Frank Sinatra” — eu sugeri.
O sexo masculino me apetecia, na verdade, adorava-os. Muito mesmo. Mesmo que minha paixonite por Yuri tenha me custado meses de psicólogo, eu ainda tentei sair com outros homens falhamente antes de começar minha fase “Samara Celibatária”. Minha psicóloga fez um trabalho incrível para tirar da minha cabeça o looping da cena em que eu literalmente peguei Yuri comendo sua personal trainer — que ele alegava ser lésbica — pelo r**o. Fase difícil.
A parte de superar tudo aquilo foi fácil e até que rápida.
Em três meses eu estava novinha em folha.
Coração mais limpo que o de um recém-nascido quando saía do útero de sua mãe.
Meu grande empecilho para encontrar homens foi o emprego.
Minha profissão? Jornalista investigativa criminal.
Daquelas que só se enfiava em merda para conseguir um furo.
Daquela que se enfiava no esgoto por uma semana o suficiente para conseguir informações que o diretor central do jornal me ligaria para me parabenizar por ter agregado com o país.
Ainda que toda glória tivesse um preço, a minha era a segurança.
O risco iminente de dar merda ou pior... terminar em morte.
Era como renascer a cada dia.
Mas a recompensa… a recompensa era incrível.
Eu me tornei a preferida no jornal Trill York Times justamente por entregar as informações valiosas que enfiaram Valério Valasco em uma merda de cela pútrida com cheiro de lixo pelos próximos vinte e cinco anos.
Alguns homicídios, tráfico de drogas, tráfico de armas, lavagem de dinheiro e várias incontáveis provas que nem mesmo se Jesus viesse advogar por ele, conseguiria tirá-lo de lá, sua nova casa, Ilha de Alcatraz em São Francisco. Fiquei durante muito tempo fora do estado para ter certeza de que nenhum “passarinho” abriria a boca sobre a minha contribuição para a prisão do homem que conseguiu enfiar no Brooklyn, toneladas de cocaína e toneladas de armas sem ser pego ou visto. Ele tinha todo mundo na mão. O cara era o Rei e eu fui a Donzela que o tirou de seu trono.
— Eu duvido muito que vão tocar Frank Sinatra lá. — Eu também, mas do que vale tentar, não é mesmo?
— Nem se eu pedir pro DJ? — Eu ri e ela me olhou como se realmente acreditasse.
— Ele com certeza vai pedir que os seguranças arranquem você de lá e te joguem na calçada.
— Eu tenho que estar no jornal amanhã, Gabi! Vamos lá, encontrar Nathalie, beber alguns drinks e voltar cedo. — Nathalie era o meio termo entre mim e Gabriele. Na balança da justiça era ela quem segurava a balança.
— Não, você vai escolher um homem lá, vai tirar a teia dessa coisa no meio das suas pernas, vai acordar amanhã mais nova do que nunca e quando chegar ao jornal vai me ligar pra agradecer por ter te levado e por estar revigorada e pronta pra ferrar com o próximo i*****l, para então contribuir com o lindo estado de Nova York.
Gabriele era pessimista, eu tinha que admitir. Mas o grande problema, era que eu já passei tempo demais no meio de gente perigosa para confiar em um homem que eu não conhecia, para me aproximar por quem eu não conhecia, e definitivamente os homens que eu já conhecia não me apeteciam.
Vivi tanto tempo no perigo que a desconfiança se tornou constante.
Rotina.
— Gabi, tô bem, sério. Não precisa ficar me empurrando pra todo mundo. Eu realmente tô bem — menti mais uma vez, mas era uma mentira que mesmo que fosse verdade, ela não acreditaria.
— Samara, o seu defeito é esse, nunca me ouve.
— Claro que ouço, sempre ouço.
Sempre ouvia e ela sabia sobre essa veracidade.
— Só quando precisa. — Eu responderia se ela não olhasse o relógio e cortasse minhas próximas palavras. — Fim de papo, vou tomar banho.
Não costumava dar as últimas palavras para Gabi.
— Gabi, posso botar Frank Sinatra pra tocar no teu som?
*** Leonardo ***
Mário Covas estava sentado do outro lado da enorme sala elegante, seus pés descalços deslizavam pelo tapete macio, e se não fosse por suas mãos que tremiam tanto como a velha batedeira da minha falecida avó eu não saberia que ele está mentindo.
— Como pode ver, o valor final está errado. — Fui calmo. Calmo demais para tal tipo de situação.
Ele m*l me olhava.
— Impossível.
— Qualquer criança de dois anos pode constatar isso, basta separar os pacotes e somar. — Dei um meio sorriso sem erguer o olhar sobre ele naquele momento, mas mirei em sua secretária à nossa esquerda, sentada em uma poltrona vinho, sua saia curta preta mostrava mais do que deveria de suas pernas cruzadas de forma obscena. Sua expressão demonstrava interesse e a forma que ela me olhava era como se estivesse vagando há dias no deserto e encontrasse um pote de água. Uma incontrolável vontade de rir subiu pela minha garganta, pela falta de pudor da figura feminina. A mulher morena parecia ser mais do que secretária de Mário, talvez pela marca roxa em seu pescoço.
É claro que poderia ter sido feita por qualquer homem, mas pelo comportamento indecente, eu a classificaria como o tipo de mulher que se excitava com o poder.
E era exatamente isso que era.
O poder em forma física, palpável.
Ela tinha uma caneta na boca, entre os dentes, e a forma que continuava a me encarar parecia desejar outra coisa em sua boca.
Meus olhos voltaram-se para Mário e ele tinha uma das mãos na cabeça procurando a próxima desculpa para me dar.
— Eu juro que estava certo.
— Mário, estou sendo condescendente com você e não gosto de ser feito de i****a por isso.
— Leo, você sabe que eu jamais faria algo assim com você. — Mário era um grande filho da p**a ou pelo menos era o que estava provando ser naquele momento.
— Usar meu apelido não vai resolver a nossa questão. — Eu respirei. — O que vai resolver nossa questão, é você refazer a contagem.
Mário estava cavando a própria cova, talvez seu próprio sobrenome já tenha sido sua maldição, pois se ele tentasse me enganar, era isso que teria. A Própria cova.
Ele era um homem inteligente, mas especialmente no dia de hoje, resolveu deixá-la na gaveta e usar toda sua burrice, com o cara errado por sinal.
— Eu tenho certeza de que houve, sei que não me faria vir do Brooklyn pra dizer que contou 2 milhões de dólares de forma errada. — Tentei não ser sarcástico, mas era inevitável. Ele realmente achava que eu acreditaria naquela conversa esfarrapada.
Daniel estava do meu lado, tremendo mais do que Mário, mas ao contrário do babaca, estava se tremendo de ódio, pela mentira tão evidente de Covas, que nos comprou uma carga de armas de calibres com alta precisão e resolveu nos pagar quase quinhentos mil a menos.
Daniel era como um apoio.
Daniel achava que era um segurança — mesmo que eu detestasse o classificar como um.
Daniel era como uma extensão de mim, um amigo que ficava comigo vinte e quatro horas por dia e já me ajudou mais vezes do que eu podia contar, mesmo que eu tivesse o triplo de dedos nas mãos.
Grande parte dos homens que fechavam negócios comigo, acreditava que eu realmente poderia morar no Brooklyn, entretanto, não era necessário usar o cérebro para saber que morar lá, poderia ser o lugar mais óbvio onde investigaria para me ferrar se eu desse motivo ou pistas.
— Leonardo... — Daniel grunhiu, impaciente para acabar com a palhaçada.
Levantei-me da onde me sentava antes. Ainda que o tapete estivesse cobrindo o chão, meu sapato de couro era pesado o suficiente para fazer barulho, junto com a respiração arranhada que saltava da garganta de Mário.
Nervosismo.
Nervosismo, porque ele estava mentindo.
Nervosismo, porque ele sabia que eu poderia f***r com a vida dele se eu quisesse.
Os pacotes de dinheiro cobriam a mesa.
Todos em nota de cinquenta.
Para mim, aquela visão tinha o mesmo significado que o quadro de Monalisa tinha para os estudantes de arte, era magnífico.
Meus negócios eram importantes, sempre priorizados e toda vez em que iniciados, era muito importante para mim os concluir.
Eu amava dinheiro e negócios, eram como mulheres. Mas o que Mário estava fazendo era como me apresentar uma mulher para passar a noite e dizer que poderia apenas tocar em seus p****s, quando, na verdade, eu deveria tocá-la por inteiro.
E assim como na minha cama eu só aceitava mulheres na qual pudesse dar a elas tudo e mais um pouco, eu só aceitaria de Mário, meu dinheiro completo, centavo por centavo.
— Na verdade, tenho certeza. — Fechei os olhos enquanto espalmava minhas mãos na mesa, abrindo espaços entre os vários mil sobre o vidro entre meus dedos. — Absoluta — reforcei. — Que você contou errado. E é por isso que eu vou dar a você 24h pra contar do jeito certo.
— Leonardo, leve ao menos o que está sobre a mesa — Daniel pediu.
— Ah, não, não quero levar pela metade. Quero levar tudo! — Sorri, virando para a direção da secretária novamente.
Ela espremia as pernas uma na outra, inquietas. E então, olhando aquele convite mudo faria um pedido à figura feminina para que pudesse se juntar a mim.
Fui ali para sair de mãos cheias, e com aquele pensamento eu não sairia de mãos vazias.
Não hoje, não quinta.
Não vi objeção em seus olhos castanhos.
Quando um sorriso apareceu em minha boca, ela apertou a caneta com os dentes e dessa vez fui eu quem quis outra coisa no lugar de sua caneta. Não só decidi, como decidi que teria.
— Seu nome? — a questionei e pelos ombros e vi o olhar arregalado do homem que tentava me roubar.
A caneca saiu de seus lábios e um sorriso de felicidade extrema se instalou ali.
— Gisele — ela disse, e sua voz a denunciou em um gemido. Aquilo já havia sido o suficiente para minha imaginação fértil.
— Bom, Mário, levarei Gisele comigo, e amanhã quando vier buscar meu dinheiro contado da maneira certa a trarei — falei sério.
Daniel riu, de cabeça baixa, ele já me conhecia, talvez até melhor que minha mãe.
— Não pode levá-la, ela me ajudará a contar o dinheiro. — Ele foi rápido e certeiro, mas a resposta dele foi certeira para uma indagação que me fiz em um passado bem próximo, na qual eu me indagava se o chupão em seu pescoço havia sido Mário, e suas palavras o denunciaram.
Ele não queria Gisele para contar dinheiro, queria Gisele para contar quantas vezes ela sentaria em seu p*u durante a madrugada.
Eu não o julgaria, Gisele era gostosa.
— Então foi Gisele que contou meu dinheiro? — Ri junto de Daniel. — Isso fortifica a ideia de que acho que eu preciso ensiná-la a contar.
Enquanto Mário contaria Gisele à sua maneira, eu contaria os orgasmos até que ela não aguentasse mais.
— Leonardo, vamos embora — Daniel reforçou e Mário simplesmente não respondeu. Deixei que Dani respondesse por mim antes de ajeitar meu blazer preto Hugo Deleon. — Vinte e quatro horas, Covas.
Gisele murchou na cadeira.
— Deixe duas pessoas no prédio para garantir que ele não saia daqui! — exclamei para Daniel ao sair pela porta do apartamento da nova pessoa que tentava me roubar.
Mais um para a lista.
Estava cansado. O dia inteiro havia sido uma merda, e querendo fazer jus a frase de Daniel “No final tudo vai dar certo” eu acabei pedindo ao motorista para nos levar até o Iate Clube, já que o dia inteiro havia sido péssimo, talvez ele pudesse terminar da maneira certa, e já que Gisele não estava comigo, eu precisaria de uma substituta.
Eu nunca fui um homem que desrespeitasse as mulheres, muito pelo contrário, sempre as tratava como se fossem únicas. Nunca as iludia com mentiras sórdidas, mas também nunca lhes dizia que estaria ao seu lado na cama quando acordassem...
Mas esse era justamente o problema, eu as tratava tão bem, que a grande maioria achava ter encontrado o cara certo para apresentar aos pais, mas elas m*l sabiam que eu era o último tipo de sujeito que se levava para jantar com a família aos domingos, mesmo que no passado eu já tenha me prestado a esse papel.
Não havia sequer tempo para relacionamentos.
Valério preso, inúmeros negócios fixos que não andavam sem mim e para melhorar, além de tomar conta das coisas do meu irmão, ainda tinha que ter tempo para cuidar das minhas coisas, cuidar da nossa mãe... mesmo que de longe. E no meio de todo esse rebuliço eu conseguia alguns momentos íntimos, para tirar de foco tudo aquilo que me matava um pouco todos os dias.
O bar era extenso no clube, a música não era tão alta, mas era o suficiente para que eu ouvisse a voz do garçom.
Ele sorriu ao dizer:
— Sr. Valasco, é bom vê-lo de volta. — Estava sozinho, Daniel havia ficado do lado de fora. A segurança do Iate Clube era impecável e eu sempre fui conhecido, tão conhecido que se a polícia resolvesse entrar naquele exato momento, haveria uma lancha para ir embora nos fundos da Marina.
E isso era bom.
Não havia nada que pudesse me fazer sentir seguro.
O clube não estava tão cheio como de costume, afinal era quinta. No dia seguinte isso estaria um inferno, mas ainda que não estivesse tão cheio ainda era muito bem frequentado e o meu instinto masculino me faria escolher alguma delas apenas com o olhar se o telefone não tocasse insistente no meu bolso.
Era Jhonatan, o menino que administrava Brooklyn melhor do que muitos homens já administraram.
Eu fornecia o material e ele trabalhava.
— Pela música de fundo deve ter resolvido o problema com Mário. — Seu tom era debochado.
— Na verdade, estou aqui exatamente porque não resolvi meu problema com Mário. Estou cansado e estressado. — Expressei-me tomando em mãos um drink que deixei que o garçom escolhesse, seu gosto também era formidável.
— Ele não lhe deu o que faltava?
— Na verdade, disse que tinha certeza de que o valor estava correto, mas dei 24 horas para contar da forma correta dessa vez. — Dava-me nos nervos ao ter a imagem dele sentado, como um homem sonso e dissimulado.
— Deveria ter dado um tiro nele. — Jhonatan estava irritado ao telefone, seu pavio era curto. Ele era um ótimo amigo para os negócios. Talvez se tivesse vindo resolver o problema do dinheiro no meu lugar, estaríamos pensando neste exato momento onde pôr o corpo de Mário Covas.
— Vocês são violentos demais. Morrer é muito fácil, Jhonatan — disse lentamente. — Você toma um tiro, morre e acaba. Sofremos em vida, então se eu lhe desse um tiro, estaria fazendo um favor a ele.
Jhonatan riu ao telefone. Ele era novo demais, temperamental demais, um homem à flor da pele que havia acabado de sair da adolescência. Eu não era muito mais velho que ele, mas as várias situações que passei me deram alguns anos a mais do que tinha registrado em meu registro de nascimento.
— Você é calmo demais. Como pretende resolver isso?
— De uma maneira eficiente, pode apostar!
— Seu irmão não resolveria assim — Jhonatan cutucou onde não devia.
— É porque isso que ele está preso, porque resolveu muitas coisas da maneira que não deveria. E se você for esperto, não vai tentar ser como ele.
Mesmo através do telefone conseguia ouvir sua respiração pesada, mas como um suspiro.
— Não vou me inspirar nele, eu só... sinto falta dele — disse. — Ele praticamente me criou.
— Valério sempre dizia, faça o que eu digo, mas não faça o que faço. Então siga isso. A sua maior arma não é a pistola que carrega com você, é sua cabeça, Jhonatan. O que se pode fazer com a cabeça é infinitamente mais perigoso que uma arma.
— Obrigado... eu... — Eu sabia que em sua cabeça havia muito mais palavras que a sua boca.
— Valério não está aqui, mas eu estou. Não sou como ele, mas sempre que precisar eu vou estar aqui, Jhonatan.
Jhonatan tinha vinte e três anos, Valério o incentivou a cursar economia e após concluir, ele começou a contabilidade.
Jhonatan era um gênio. Não tinha vícios, mas seu grande defeito era achar que deveria viver o hoje como se fosse o último dia, então isso o fazia ser precipitado. Precipitado até demais. Jhonatan iria tornar-se pai no final do ano, sua então noiva morava no ponto mais perigoso do Bronx, justamente porque a polícia nunca entrava lá, pois a última viatura que entrou, nunca mais saiu. A parceira de Jhonatan tinha a mesma idade que ele e foi expulsa do apartamento de luxo de Nova York depois do pai descobrir que ela se envolvia com um menino armado, que era intitulado como um bandido, mas não sabia ele que o homem que ele intitulava como bandido, fazia um trabalho de administração e contabilidade melhor que muito empresário boa pinta. O problema com Jhonatan era que se ele não queria sair de lá sem uma família, com uma agora, ele criaria raízes e isso, ao contrário de Valério, era algo que eu não queria.
A vida ilícita era covarde. Ela não te fodia de uma vez, ela te fodia aos poucos sem você saber, e quando percebia, estava caindo em um precipício sem chances de voltar, com todos aqueles que dizia te ajudar, apoiados na beirada, assistindo sua queda sem fazer nada.
Desliguei o telefone e voltei a tomar minha bebida que por sinal já estava no final, mas antes que o fundo do meu copo encostasse na mesa, minha atenção se voltou para a entrada.
Ela não tinha mais que um metro e setenta e entrou pela porta do Clube sem nem mesmo parar para analisar o local. Entrou sabendo onde iria. Estavam indo para o segundo bar do outro lado do salão.
Não estava sozinha, pouco mais a frente tinha duas amigas que eu sequer conseguia sustentar o olhar, porque a morena com menos de um metro e setenta era uma espécie de Furacão que puxava todos os olhos em direção a si. Eu me sentia como as casas em Nova Orleans, e aquela morena ali, era o furacão Katrina de 2005 que fodeu a vida de milhares de pessoas e trouxe bilhões de dólares em prejuízos ao governo americano.
O salto alto valorizava as pernas delineadas que subiam até o quadril delgado e farto, ela usava um vestido vermelho que eu afirmo facilmente que foi costurado sobre seu corpo suculento, e que se eu o tirar dela nessa noite, vai virar apenas um tapete de boas-vindas na beirada da cama. O vestido era justo, não tão justo, mas o suficiente para imaginar no que eu poderia encontrar embaixo de tão pouco tecido. Normalmente eu era um cara que controlava os instintos, mas sempre existia um ponto fora da curva que fazia o seu dia não ser normal.
Vestido vermelho de alças finas e frágeis.
Seu cabelo estava em um r**o de cavalo, alto e longo.
Gostosa, tipo, muito gostosa.
Aquele era um sinal. Seria minha companhia a noite já que Gisele me fora negada.
Esperei alguns minutos, e ainda que minha visão não fosse incrível, era o suficiente para ver uma de suas amigas que se agarrava com um homem na pista. A mão da loira era mais ousada que a do cara, o suficiente para saber que... ia ter sexo.
Quando um homem passava a mão no corpo de uma mulher, mesmo que com o consentimento dela, saber se ia ter sexo ou não era uma tarefa fácil, ela podia permitir a conquista, e tudo que passasse da faixa de chamego e t***o, ela podia simplesmente negar.
Mas quando uma mulher passava a mão em um homem, do jeito imoral que a amiga loira da morena furacão fazia, era certo de que se essa mulher não o quebrasse ao meio esta noite, eu não poderia me chamar Leonardo.
Só restavam uma das amigas. A morena tomava algo que parecia... água. Sua companheira restante, uma morena, de cabelos curtos pouco mais baixa que ela seguia ao seu lado, mas seus olhos eram para um homem que estava do outro lado do bar, que de vez em quando sorria safado para ela. Embora ela respondesse algumas palavras que a morena com menos de um metro e setenta falava, seus olhos estavam paralisados no homem, sem nem mesmo disfarçar.
Não demorou mais que quinze minutos e adivinha? O Furacão Katrina estava sozinha no bar, puxando-me gravitacionalmente em passos largos e diretos a ela