Chapter 02.

4908 Words
*** Samara *** NUNCA GOSTEI DE LUGARES CHEIOS.         Deixavam-me ainda mais ansiosa que o normal.         Não gostava de clubes e suas luzes exageradas, pois acabavam com o resquício de visão que eu m*l tinha.         Gabriele não durou quinze minutos do meu lado, e o primeiro par de olhos que cruzou seu traseiro a levou para a pista de dança. Nathalie sumiu mais rápido que a fumaça densa que sambava em meu salto, embora ela tivesse saído sem que eu tivesse visto, sabia exatamente o que ela estava fazendo nesse exato segundo.         Ambas me causavam inveja. Uma boa inveja, pois Gabi e Nathalie conseguiam algo que eu mesma me autossabotava para não fazer: Viver o hoje sem querer saber do amanhã e principalmente do... passado, sem se preocupar de dormir com alguém e ter uma arma apontada em minha cabeça ao acordar. Tudo bem, o lance da arma era exagero, mas elas literalmente viviam sem se importar se amanhã iriam amanhecer sem conseguir filtrar oxigênio pelos pulmões.        — Uma dose de Whisky, o mais antigo que tiver, por favor. — Ainda que o som fosse alto, a voz masculina era destacável — Ah... e, por favor, sem gelo.          Virei-me para olhá-lo e antes não o tivesse feito, talvez ele já tivesse percebido a cara de criança quando ganhava doce estampada em minha face.         O homem era bonito, mas não só isso. Era estupidamente bonito ao ponto de ser desconfortável, isso porque ele apenas olhava para frente de forma importante, com o pescoço duro, como se o processo do garçom para servir seu Whisky, fosse o processo mais importante de toda sua vida. O garçom o serviu, ele puxou uma de suas mãos do bolso, dedos longos e largos, um anel de ouro engolindo o anelar que o ajudava a levar a extremidade do copo de vidro até a boca cheia. Ele fechou os olhos, bebericou o líquido com vigor, degustando até o final e segundos depois, deu um sorriso impecável, os dentes caninos mais longos que os demais lhe dava um ar de homem perigoso, dentes brancos daqueles que estampavam cartões de clínicas odontológicas, a covinha era um charme a mais, entretanto, quando ele mirou em mim os olhos esverdeados, foi que eu literalmente desmaiei ao perceber que o cara não só era lindo, como eu estava o encarando por 5 minutos da mesma forma que “Smigol” encarou o “um anel” em o senhor dos anéis.        — Vou fazer de conta que está curiosa com o sabor do Whisky.         — Eu não...hm... — Talvez sem graça não fosse a palavra certa, mas meu cérebro estava indeciso entre admirar a beleza do homem e abrir mais a boca para respondê-lo de maneira devida.         — Eu me distraí.         Ele sorriu mais uma vez e eu naquele momento percebi que nenhum homem no mundo usara tão pouco para me deixar sem graça.         — Toma um drink comigo? — ele me perguntou.         — Não bebo álcool. — Ele tentaria algo se eu desse brecha. Todos tentaram e mesmo que seu jeito sensual parecesse natural, eu não queria vê-lo usar seu poder masculino intencionalmente. Se antes mesmo de me direcionar o olhar, ele já roubou minha atenção, o que aconteceria se resolvesse me transformar em um desafio pessoal? — Olha, não estou procurando... hmm... companhia amorosa para hoje à noite.        Ele me ouvia e sua face seguia impassível. Seu dedo envolto do anel parecia chamar o garçom que prontamente assentiu, aproximando-se.         — Um copo de água filtrada para a moça e um copo de rum puro para mim. — O homem se aproximou ainda mais, parando à minha frente e só então pude notá-lo mais claramente. Seus cabelos eram de um castanho escuro, sua pele embora sob as luzes escuras, eram de um tom bronzeado, o nariz erguido, pontudo e uniforme. A maçã do rosto era angulosa e cheia, os lábios rosados e inchados mostravam um sorriso com o furinho galante em suas bochechas, e mandíbula quadrada lhe dava um toque: Másculo. Seu trapézio alto era escondido pela blusa social escura, apertada no corpo que parecia querer se libertar da prisão que era o tecido o comprimindo.  Quanto mais próximo, mais lindo ficava.           — Direto ao ponto, estou surpreso! — exclamou soltando um riso abafado. Provavelmente sua surpresa se valia pelo fato de que ele não era o tipo de homem que as mulheres tinham a oportunidade de rejeitar, e para falar a verdade, a “Samara-não-jornalista” não recusaria de forma alguma. — Minha intenção não era transformá-la em minha companhia “amorosa” essa noite. Mas de qualquer maneira, aprecio sua sinceridade.         Pisquei algumas vezes seguidas, confusa, antes de responder.         — Não? — Se ele estivesse mentindo, eu poderia dizer que era um ótimo mentiroso. — Então porque está me oferecendo água?         — Porque cruzou esse salão acompanhada de duas amigas, que a essa hora devem estar quase nuas, e pensei que talvez fosse legal te fazer companhia.         — Então você está me observando desde que eu cheguei? — Ergui uma sobrancelha.         — Eu e o clube inteiro. Com todo respeito, você não é o tipo de mulher que se consegue desviar o olhar, mas acredito que saiba disso.         Havia simplicidade em sua voz, e enquanto eu gostaria de chamá-lo de gostoso, o homem praticamente me glorificou de forma requintada aclamando por minha beleza.          — Senhor, sua água e seu Rum. — O garçom sorriu para ele de forma amistosa.         — Tem muitas mulheres sozinhas aqui...        — Mas nenhuma delas tomando água. Eu prefiro conversar com mulheres sóbrias. — Ele bebeu um pouco do Rum e sorriu bagunçando os cabelos rebeldes.         Afrouxei a resistência.         — Obrigada pela água — agradeci .         — Posso perguntar seu nome?         Sorri em sua direção tomando o copo de água na mão.         — Sem nomes ou informações pessoais, mas pode me chamar de “S”.         Ele sorriu novamente, desconcertando-me.         — Tudo bem, Srta. “S”, me chame de “L”. — O “L” apertou minha mão de forma agradável. — Bom, sei que não é da minha conta, mas o que uma mulher como você vem fazer em um lugar como esse, já que não está à procura de ninguém ou não está bebendo?         Homem curioso. Homens curiosos eram os melhores. Sempre interessados em saber cada vez mais, e quando extremamente instigados, usavam a adrenalina como combustível.          — Vim mais para calar a boca das minhas companhias — eu disse, tentando afastar o tema.         — Então quer dizer que veio trazer as crianças no playground, e agora que elas saíram pra brincar, você vai aguardar até que elas voltem. É isso? — ele perguntou. “L” tinha um bom senso de humor. Talvez fosse um ponto a mais.         — Basicamente é quase isso.         — E quando elas não voltam?         — Nunca aconteceu, mas se um dia acontecer eu vou embora sozinha. Elas sabem se cuidar.         O sr. “L” não estava afobado. Mesmo que seu interesse fosse evidente, ainda era discreto o suficiente para enganar qualquer mulher. Menos a mim.         Nenhum homem me enganava.         Absolutamente nenhum homem.         Mas com aquele sorriso, acho que seria a primeira vez.         — Você é uma boa amiga.         — E você, o que faz aqui?         Ele se debruçou sobre o mármore da bancada sorrindo.         — Me estressei com algumas coisas no trabalho e pra não arrancar a cabeça de ninguém, resolvi vir aqui tomar alguma coisa.         — E encontrar uma companhia?         — Ou talvez deixar que a companhia me encontre. — Ele sorriu mais uma vez e eu temi que ele estivesse fazendo de propósito, pois pela forma que me olhava, era notório que ele sabia o efeito que o ato tinha sobre mim.         — E ela encontrou você?        O Whisky terminou em sua boca.         — Não hoje, quem sabe na próxima! — Ele limpou os lábios com um guardanapo. — Mas acredito que a noite ainda é longa, não acha?         — É a sua perspectiva para hoje?         — Minha perspectiva pra hoje é tudo que seja agradável — ele disse. — Mas vamos enriquecer nossa conversa, já que não pode me dizer muito sobre você, me diga o necessário. O que gosta de fazer?         — Passear? Concertos de ópera talvez — sugeri.        Ele movimentou a cabeça de um lado para o outro ainda sorrindo, desconcertando-me a cada segundo.         — Isso sim é algo peculiar.         — O quê?         Ele coçou a barba m*l feita que parecia espetar sua mão.         — Você parece estar no lugar errado, aqui não é o lugar para pessoas que não bebem e escutam ópera — disse ele.         — É porque você não gosta. — Mas eu gosto, talvez não tanto quanto você! O que mais gosta de fazer? — Eu continuei quieta enquanto seu olhar me aguardava responder.        — Viajar de avião...        — Muito vago, e que tal... — Suas palavras pausaram e ele levou a mão à lateral de seu corpo e eu o admirei mesmo sem saber o que estava fazendo. Seus olhos verdes seguiram sua mão e lá encontraram um telefone piscando. — Me dá dois minutos?         — Fique à vontade, prometo não fugir — eu brinquei. O moreno se afastou e eu fiquei novamente sozinha no bar, na verdade, sozinha não por muito tempo. Senti alguém se aproximar do meu lado, mas antes mesmo que eu pudesse olhar, a voz estridente invadiu meus tímpanos. Se Gabriele fosse cantora, ela nem mesmo precisaria de um microfone. Seus cabelos estavam mais bagunçados do que quando a via acordar pela manhã, e suas roupas pareciam ter sido tiradas de seu corpo e vestidas novamente do lado errado, e o batom... o batom estava completamente espalhado por toda região do maxilar e eu não duvidaria que sua companhia a tivesse ajudado a fazer isso.  — Eu não acredito que você deixou aquele gostoso ir embora. O que nós combinamos, Sam? — Gabi me olhava com um sorriso sacana e um pouco desapontada. Não que eu estivesse feliz, mas havia uma parte de mim duvidando da loucura de rejeitar um homem tão bonito, mas ainda que eu tivesse sentimentos, a parede de concreto e rochas que tinha à minha volta estava se lascando aos poucos e sendo demolida a cada segundo que se arrastava dentro do Clube e isso era um alarme para ir embora, mas a mulher dentro da minha consciência que pedia ajuda e um pouco de alívio devido ao estresse, me manteria ali e me faria a dar ouvidos a Gabriele.        — Só estávamos conversando, acho que o espantei. — Ri. — Garçom, duas tequilas e uma dose de Balkan.         — Pra que isso? Não bebo.         — Você vai beber e se aquele homem voltar vai voltar a ser a Samara original que a essa hora já o teria tirado daqui.  — Gabriele, nós vamos embora daqui a pouco...        — Não mesmo, eu estou indo embora com o gatinho ali. — Ela apontou descaradamente para o homem de preto que pagava as bebidas. — E Nathalie já foi há algum tempo.        Meus olhos procuraram Nathalie e mesmo com um binóculo seria impossível, porque o Clube encheu de uma maneira que nem eu mesma me dei conta. Deus, como elas eram rápidas. Quando se tornaram assim?        — Posso ir sozinha, sem problemas algum.         Minha cabeça estava completamente dividida naquele exato momento. Meus olhos ardiam com as luzes e isso me deixava cada vez mais ansiosa, embora meu colírio estivesse se ausentado por alguns minutos, a alienação de Gabriele havia causado um efeito semântico em minha cabeça. Pensamentos de desestresse já vagavam em bolhas pela minha cabeça por dias, Gabriele só os regou e a aparição do cara gato alcoólatra fez florescer ideias que eu classificaria como estúpidas pela manhã, mas agora, a ideia de dar corda a ele parecia melhor do que a ideia de ir embora.        — Samara, amanhã é outro dia, você não vai ver o cara de novo, você não vai casar com ele, só vai ter uma boa noite de sexo, acordar e ir embora. — Direta ao ponto, acho que era com Gabriele que aprendi a ser assim, direta.        — Eu não sei...        Gabriele estava vencendo.         — O que tem a perder? O máximo que pode acontecer é ele ser r**m de cama e quando acabar você vai embora. Se arrependa de ter feito, mas não de ter tentado.        O garçom voltou com os três drinks, a loira tomou uma das tequilas e as outras duas ela empurrou em minha direção, deu uma piscada e se afastou sem dizer nada.       Gabriele estava certa.         Depois de prender Valério, a adrenalina de poder ser descoberta como a causa de sua prisão, afetou-me psicologicamente de uma forma que nunca pensei que poderia afetar. Meus círculos de amigos se fecharam, minhas idas ao jornal diminuíram, minha confiança no mundo diminuiu. Era como se eu vivesse esperando a morte ou qualquer outra pessoa que pudesse trazê-la até a mim.        Eu amava meu trabalho, e amar o que fazia era uma espécie de s************o mental, porque a cada caso que eu pegava no jornal, fodia ainda mais meus pensamentos, minha cabeça e meu comportamento, e mesmo que isso fosse um problema que eu quisesse resolver, não tinha a mínima vontade de trocar de profissão, porque trabalhar como Jornalista criminal acabou se tornando minha identidade.        Estava há tempo demais sem me olhar, não estava vivendo, estava sobrevivendo, e viver fazia bem, adrenalina fazia bem, precisava entrar na chuva para se molhar porque eu sabia que não era feita de açúcar.         Viver ao menos um dia sem se importar com o amanhã, e talvez o cara descontraído, gato e alcoólatra poderia me ajudar com isso, porque no fundo eu sabia que ele estava no lugar certo, na hora certa.  Tomei a tequila de uma só vez e antes mesmo que eu desistisse engatei no próximo drink pedido por Gabriele, Balkan. Álcool puro, rascante e quente descia pela minha garganta, como brasas em minha pele. Tossi algumas vezes e jurei que meu interior se acendeu com uma fogueira, não por desejo ou algo do tipo, mas seja lá o que Gabriele tivesse pedido, aquilo era alcoólico de verdade. Continuei no bar por alguns minutos e em minha concepção quando eu finalmente decidi que montaria em “L” essa noite, ele havia decidido que talvez eu não fosse interessante o suficiente, já que eu o dera um fora em primeira mão.  Sex on the beach. Essa foi a bebida que o garçom me ofereceu quando eu pedi algo doce para tirar o gosto de álcool intenso na boca. E deu certo, seja qual fosse aquela combinação, tinha gosto de laranja.         Tudo se tornou mais vivo, mais palpável, mais interessante, álcool corria por meu sangue e tudo que consegui fazer foi sentir tudo à minha volta. Estava alcoolizada, não de maneira severa, mas o suficiente para me deixar tão leve ao ponto de ir para a pista de dança.         O cara gato e alcoólatra não voltaria.         Os dois minutos que ele havia me pedido a essa altura já haviam se transformado em quase meia hora e o que havia sido uma simples licença para atender uma possível ligação, havia se tornado uma desculpa para fugir de mim.         A que ponto cheguei? Cheguei ao ponto de afastar homens de mim mesma.         O meio da pista estava cheio e foi inevitável não derrubar parte da bebida no chão ou até mesmo em algumas pessoas. A música recomeçou mais lenta e como não havia nenhuma outra companhia eu apenas dançaria até que meu sangue estivesse livre de todo o álcool, e, eu pudesse ir para casa finalmente dormir e acordar sentindo os calos em meus pés.         — Oi, linda. — Queria que fosse ele, mas antes de abrir os olhos eu sabia que não era.         O homem era loiro, corpo atlético, acredito que tenha a minha altura e seus olhos estavam no meu corpo, de forma que parecia que meu rosto ficava exatamente entre o vale dos meus s***s, fiquei tão calma que eu não me importei com isso, desde que ele não encostasse um dedo em mim.         — Pois não? — Não parei de dançar, meu corpo não permitia.         Dei uma golada exagerada no drink ainda em minha mão e senti novamente a garganta queimar, porém dessa vez de uma forma mais... quente e prazerosa.         — Vi você sozinha no bar e achei que gostaria de uma companhia!         Senti meus olhos mudarem e minha feição mudar, talvez porque diferente de ”L”, ele me olhava como se eu estivesse pelada sobre meus saltos e eu definitivamente não gostava disso.         — Ah, obrigada, não quero, pode voltar de onde saiu. — Detestava homens insistentes, detestava homens que olhavam para meu corpo como se olhassem para meus olhos.         — Posso te levar pra casa ou podemos ir para outro lugar, meu anjo... — O homem loiro tentava reproduzir os mesmos passos de dança de forma estúpida e m*l feita. Nunca fui uma boa dançarina, mas o que ele fazia, parecia mais um índio tentando atrair a chuva.         — Eu disse que não quero. — Bebi de novo o drink e continuei dançando. Senti a mão dele em meu braço, mas antes que eu pudesse me defender, para minha surpresa, o gato alcoólatra surgiu imponente do meio da multidão e se aproximou de nós.        — Se não soltar o braço dela, eu prometo que vou jogar você embaixo do primeiro caminhão que passar na avenida, na verdade, o que sobrar de você depois de eu ter quebrado a sua fuça. — Sua postura era impecável, e embora tivesse violência em suas palavras, sua voz era serena e seu rosto era passível de calma.         “L” era um cavaleiro e eu gostei.         Aquele era o pior tipo de ameaça, quando não tinha indícios de problema, quando eles estavam prestes a surgir do nada era pior porque você não sabia o que esperar.         O cara cedeu diante da postura séria de “L”, mas ainda continuava próximo demais.        — E o que você é dela?        Minha vez.         — Meu marido. — Eu sorri, puxando meu braço, enfiando-me na frente de “L” enquanto o homem murchava com uma flor perto do fogo. — Me desculpe — disse antes de partir.  O gato alcoólatra riu enquanto o homem sumia na multidão.         Virei-me para ele, encarando o par de olhos verdes-folha-seca que estavam um pouco surpresos e sobre mim de forma indecifrável, e o fato dele estar tão perto me deixava com aquela sensação de que parecia ter alguém apertando meus pulmões, inibindo-o de buscar ar.        — Voltei e vejo que temos muitas novidades! — falou. — Quase foi raptada por um estranho, começou a beber álcool e ainda por cima se casou comigo sem o meu sim. — Seus olhos não saíam dos meus.         A música recomeçou mais uma vez e eu comecei a balançar os quadris de leve enquanto ia tomando um ritmo definido.         — Você demorou!         Um sorriso se alastrou pelos seus lábios, um sorriso que levantou a bandeira branca.         — Então realmente ficou me esperando? — Eu fechei os olhos dançando, assentindo com a cabeça afirmativamente. — Problemas com o trabalho.        Podia ser velha na maioria das horas da minha vida, mas ainda sabia o jeito certo de seduzir um homem.        — Eu não deveria? — Não me entregaria de bandeja, mesmo sabendo do resultado final, fosse essa minha escolha ou não.        Embora o prémio fosse o objetivo, a trajetória faria toda a diferença.        Ele se aproximou mais, levando o indicador ao meu rosto, erguendo o meu queixo.         — Está embriagada.        — Não estou.         — Não foi uma pergunta, foi uma afirmação — ele concluiu. — Me disse que não bebia álcool, o que a fez mudar de ideia?        Eu sorri em sua direção, ele tomou o drink da minha mão bebericando.        — Eu sou assim, às vezes, mudo de ideia. — Ainda que minhas palavras não tivessem sido intencionais, eu sabia exatamente o que passava pela cabeça dele naquele exato momento, e mesmo que eu achasse estar errada, o sorriso que surgiu em seus lábios me confirmou, um sorriso que se ele tivesse me dado antes de me direcionar qualquer outra palavra, eu não teria negado uma noite de primeira a ele. Um sorriso tão atraente e sensual que se ele me pedisse qualquer coisa naquele instante, eu faria porque suas palavras seriam uma ordem. — Vamos dançar... — Segurei em sua mão enquanto lhe dei as costas, remexi o quadril de encontro ao seu e senti seu peito inflar.        — Menina, menina... não brinque com fogo — ele sussurrou e me encheu de esperança. — Sua companhia pra mim basta, mas se continuar assim, em alguns minutos não vai ser o suficiente.        — Então você é um homem descontrolado? — perguntei sem parar de dançar. — Todos nós temos um lado descontrolado, e só basta o estímulo certo para fazê-lo sair. — Não encarei nenhum tom de malícia em sua voz, mas nem precisei, porque suas palavras eram certeiras e milimetricamente escolhidas.  Respirei profundamente, sabia que ele poderia estar falando de qualquer tipo de descontrole, mas o único tipo que veio na minha cabeça era o que ele estava despido. Quando me tornei esse tipo de mulher com a cabeça parecida sexualmente com a de um homem?        — E o que te faz se descontrolar?        — Está bolando um plano? — Senti um sorriso em sua voz já que estava de costas para ele, ainda dançando.         — Sou impulsiva, não sigo planos — disse.         — Sou observador, mas não esperava que fosse esse tipo de mulher, você parece ser... centrada demais. — “L” assoprou em meu ouvido. — Ou você pode ser o tipo de mulher que veio chorar as lágrimas de um relacionamento recém-terminado.        Ele chegou mais perto para que eu pudesse sentir seu cheiro amadeirado, deixando-me perdida em um homem que poderia me levar para tantos caminhos, fazendo-me ficar perdida sem saber por onde ir.        — Na verdade, não — neguei. — Estou há um ano sem sair com alguém porque só trabalho.         — E com o que trabalha... — “L” hesitou por um momento e depois voltou a falar. — Sem informações pessoas, me esqueci.         — Exato.        Sua curiosidade retornou.        — Então posso arriscar que suas amigas estavam esperançosas para que você fizesse a mesma coisa que elas. — Menino inteligente.         — Exatamente — eu concordei.         Joguei a cabeça para trás e quando o copo estava prestes a cair da minha mão, senti “L” tomar a bebida dela, colar nossos corpos e pousar a mão sobre a minha cintura. Sua mão grande em meu corpo estava quente, seu toque era leve e me perguntei como seria tomar um tapa de sua mão, na verdade, me perguntei muitas coisas como se cada movimento dele próximo de mim levantasse um questionamento desesperado para ser respondido.          Algo em mim estava acendendo.         E não era o álcool dessa vez.         Aproveitei para mexer ainda mais o quadril, pois era do meu interesse saber o que poderia tirá-lo do sério, já que sua postura diante de mim era tão... impecável.         Ele grunhiu e novamente seu peito se encheu de ar.         Ele estava tenso, mas disfarçou genuinamente.        — Estava bebendo s*x on the beach?        — Como sabe?         — Pela cor e pelo.. hm.... gosto ! — Ele confirmou provando do copo. Eu o olhei de baixo, ele era alto.              — E qual sua cor favorita? — perguntei, mas sabia que ia me arrepender quando um sorriso sacana tomou sua boca, que parecia tão gostosa, ele se aproximou do meu ouvido, com os dentes à mostra e voltou a falar.         — Vermelho. — Eu estremeci como uma vara verde ao vento, e pelo sorriso que se escancarou ainda mais em sua boca eu sabia que ele sentiu, porque “L” estava conseguindo me desconcertar com curtas frases mais do que muitos homens fizeram com a língua, e esse fator me inclinava para saber do que ele era capaz de fazer quando estava calado.  Meu vestido indecente era vermelho. Tecido vermelho.  O tecido infernal que Gabriele empurrara sobre mim, como se eu fosse uma criança sem escolha sendo feita de boneca. Pergunta certa na hora certa, e ele se aproveitou disso.  — Eu... hmmmm... — Devia estar vermelha como a droga de um tomate e pela segunda vez naquela noite eu estava sem palavras, sem raciocínio para rebater sua alegação.        — Sejamos modestos, acho que posso ter encontrado minha companhia pra essa noite.        Agora ou nunca, antes mesmo que eu perdesse a coragem que o álcool me trouxe.         — Acha? — questionei.         — É uma certeza que só você pode me dar — “L” resmungou.         A música era sensual demais dessa vez, e o gato alcoólatra engatou com os mesmos movimentos que o meu, surpreendendo-me com o gingado de seu quadril e eu captei sua mensagem. Como um animal, ele estava tentando impressionar a fêmea do que era capaz, mas, ainda assim, voltou atrás com a conclusão de que seu sorriso com os caninos longos e sensuais eram o suficiente.        Um garçom passou tomando o copo da bebida já quente da mão do homem agarrado ao meu corpo.        — E eu deveria? — Seus dedos largos apertaram a carne de meu quadril e eu quase pude sentir seu anel. Fechei os olhos tentando imaginar como talvez pudesse ser, tendo-o apertando todo meu corpo.         — Eu ficaria honrado com um voto de confiança! — Ouvi o gato alcoólatra rir. — Mas entendo você, eu sou um desconhecido e posso ser... perigoso. Não sei se eu confiaria em mim.        Pela primeira vez em tanto tempo, o perigoso nunca pareceu tão certo. A incerteza do que eu poderia ou não encontrar com “L” me martelava, fazendo-me quase subir em seu colo e suplicar para que ele me tirasse do clube. Onde estava eu? Presa em um mundo fictício por mim, onde era “L” que o alimentava com cada palavra, cada roçada de seu quadril em minha b***a.         — Quero, mas não sei se devo.         — Precisa de motivos? — Ele mexia o quadril em direções contrárias ao meu, no compasso da música e eu podia sentir o pedregulho entre suas pernas. Merda, onde estava a razão dentro da minha cabeça? Deixei-a no bar? — Merda, você me perguntou o que eu preciso pra perder o controle, e aí está, não é algo normal, mas você não precisou fazer nada, porque eu o estou perdendo sozinho.        — Acho que estamos indo pelo mesmo buraco — murmurei e ele definitivamente parou. Eu havia acabado de abrir meu coração dizendo que se ele quisesse, eu estaria prestes a abrir minhas pernas, e o pensamento de que ele poderia ser ainda maior do que eu imaginava, fazia-me chorar pelo ponto de prazer entre minhas pernas que friccionavam umas entre as outras.  — Eu não chamaria de buraco, eu chamaria de precipício. — O que faria se eu confiasse em você hoje?          Ele riu abafado, e colado em seu peito, eu sentia sua respiração desenfreada pela minha safadeza.         Ele não esperava.         Estava surpreso.         Mas fui eu quem fiquei surpresa quando ele simplesmente puxou meu r**o de cavalo, seu hálito quente chegou à minha orelha, sua língua lambeu minha pele crua de desejo, e o que me excitava ainda mais, era que ele não tinha pressa, nenhuma pressa.        — Não sou bom em falar, mas sou ótimo em fazer.        O resquício do homem descontraído havia ido pelos ares e tudo que eu podia enxergar era um homem capaz de fazer o que eu pedisse, ainda que eu achasse o contrário.        Desconcertada, era assim que eu estava. Esfreguei ainda mais meu quadril e pude sentir algo rígido contra meu traseiro.         Ele estava duro, duro feito pedra.         — Ah... — arfei inconsequentemente. — O que vai fazer? — Eu juro que em qualquer ocasião, eu te levaria pra um dos iates na marina, te marcaria inteira de saliva, levantaria seu vestido pela metade, empurraria sua calcinha para o lado com o que tenho entre as pernas antes de me afundar em você... Merda. Merda. Merda. Se ele enfiasse qualquer dedo em mim ali e agora, eu poderia gozar. — E qual ocasião... e-est-a-amos?  Céus.  — A ocasião em que eu posso te levar para outro lugar e provar a você que a melhor coisa que poderia ter acontecido, foi suas amigas terem trazido você aqui hoje — o moreno falava pausadamente, enquanto eu absorvia cada palavra que ele dizia.  Gabriele estava certa, mais uma vez.         Eu não o veria nunca mais, nem mesmo sabia seu nome.         Com o que eu deveria me preocupar?         Apenas esperar que ele me deixasse satisfeita.         Eu precisava me desapegar de tudo que me deixava rabugenta e insatisfeita, e o homem que me agarrava pela cintura de forma possessiva, como se eu fosse dele, era o cara certo para me ajudar.         Amanhã eu seria só a Samara celibatária.         Mas hoje, eu teria meu corpo lavado pela boca do gato alcoólatra.         — Então acho que chegou a hora exata para essa ocasião.         Ele pensou rápido. Seus olhos verdes encontraram os meus antes de me tomar pela mão sorrindo, arrastando-me a passos rápidos para a saída do clube.  
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