Capítulo 4

1201 Words
ALÍCIA — Alícia, mesa quatro está pedindo um café. Meire aponta e balanço a cabeça saindo do transe em que me encontrava. — Certo. Obrigada! Caminho em direção a mesa quatro com meu bloquinho e caneta em punho. No caminho o sino da porta soou chamando minha atenção. Meu coração erra algumas batidas. Droga! Não sei o que está acontecendo comigo. A todo momento quando o sino da porta toca imagino ser Théo. Não o vejo há uma semana desde a nossa… transa em sua casa. Posso ter contribuído para o seu sumiço pois no segundo momento em que ele adormeceu, vesti as minhas roupas e fui embora sem ao menos me despedir. Tenho essa regra de nunca ficar para dormir e essa é a forma que encontrei para manter o meu coração seguro. Solto um suspiro baixo e volto a minha atenção ao senhor de cabelos negros e olhos castanhos. Focar no trabalho, é isso que eu preciso fazer para manter a minha mente ocupada. Após um dia intenso de trabalho e total exaustão, retorno para a solidão gélida do meu apartamento. Me arrasto até meu quarto e retiro minhas roupas, seguindo para o banheiro onde tomo um banho demorado. Seco o meu cabelo com o secador e visto o meu pijama vermelho de bolinhas brancas. Tento fechar os olhos e dormir, mas a todo momento ouço sua voz ofegante em minha orelha. Gemendo, sussurrando palavras sujas. É como se eu revivesse aquela noite uma e outra vez. No dia seguinte o despertador toca anunciando um novo dia de trabalho. Chegando no café encontro-o com a movimentação de costume. Clientes que vem a anos no mesmo horário tomar uma xícara de café e saborear nossas rosquinhas de nata. Sorrio vendo um garotinho devorando uma e se lambuzando para o desespero da mãe. Ouço o sino da porta tocar e dessa vez me controlo para não olhar. Busquei pelo um bom sexo e tive, não é como se ele fosse me pedir em casamento. — Nossa, eu tenho uma queda por homem de terno. Bendito seja quem criou. Traje tão perfeito. — Meire sussurra em minha orelha enquanto passa por mim. Sorrio, mas o mesmo sorriso lentamente desaparece quando sigo o seu olhar. Ele está impecável como sempre e exibe um sorriso que provoca arrepios pelo meu corpo. Só de lembrar o que aqueles lábios são capazes de provocar fica difícil até respirar.  Ele parece… feliz. Observo como olha para a sua companhia e puxa a cadeira para ela sentar. Seus olhos azuis estão mais vívidos e quando olha para ela, chega a brilhar. Também poderia. Ela é linda. Fios longos e dourados, rosto delicado, lábios carnudos. Ele a olha com devoção. Não, balanço a cabeça. Com amor. Engulo em seco sentindo um nó se formar em minha garganta. Não seja tola, Alícia. Essa deve ser a grande paixão dele. Eles voltaram e está tudo bem. Você foi algo casual e no fundo sabia disso. Se jogar perigosamente sempre terá um preço a se pagar. Por um momento seu olhar encontra os meus, e é tão intenso que chego a sentir um calor percorrer a minha pele. Foram breves segundos que pareceu ser uma eternidade. Umedeço meus lábios e desvio o olhar, apesar de sentir o peso dos seus olhos em cada movimento meu.  Provavelmente deve estar com receio que eu fale algo para a sua namorada. Não nessa vida. Nunca me envolvi com homens comprometidos e não será agora que irei. Mesmo que ele seja irrestivelmente gostoso e que tenha proporcionando o melhor sexo da minha vida. Enquanto trabalho, evito a todo custo olhar na direção da sua mesa. Mesmo que de canto de olho minha curiosidade vença me fazendo vislumbrar gestos íntimos sendo trocados pelos dois. Tento me distrair anotando os pedidos, servido algumas mesas mantendo uma distância segura do casal. — Ali, tem algum compromisso para hoje? Letícia outra garçonete me pergunta com um sorriso travesso. — Não — n**o. — Ah, perfeito! Meus amigos e eu vamos ao um pub, quer ir? Olho na direção de Théo e o vejo derretendo em sorrisos para a loira, sua namorada. Sinto uma onda de desconforto e acabo aceitando o convite.  Preciso voltar a ser eu mesma. Alícia Blaire. A mulher que adora dominar e não é dominada. Que tem fetiche em sentir a adrenalina fluir por suas veias.  Marcamos de nos encontrarmos no pub às sete. Levo alguns minutos para me arrumar e seguir para o endereço que Letícia me mandou por mensagem. O pub está lotado e percebo alguns olhares de homens e mulheres em minha direção. Em uma mesa do canto a vejo gritar meu nome e acenar com a mão esquerda. Tento me desvencilhar de pessoas pelo caminho para conseguir alcançá-la. Ela sorri e vem em minha direção me puxando para um abraço. Pela sua alegria exagerada, sei que já está com bastante álcool em sua mente. O que é inacreditável, a noite m*l começou.  Ela segura a minha mão me apresentando para um casal e dois caras que sorriem me cumprimentando, ambos com dois beijos em cada bochecha. O moreno me olha e vislumbro algo a mais no seu olhar, vai além de cortesia. Seus olhos castanhos estão em toda parte do meu corpo e parecem descansar no decote do meu vestido preto. O loiro sorri docemente e se oferece para pagar-me uma bebida. Recuso educadamente. Se tem algo em que me orgulho é de ser capaz de me bancar sozinha, nem que seja uma bebida.  Papo vai, papo vem, Letícia e eu embarcamos em alguns shots de tequila. Me sinto leve como a muito tempo não me sentia. Gargalho quando a vejo tentando imitar um cinquentão que todos os dias vai ao café apenas para vê-la. Isso e tentar pedi-la em casamento pela milésima vez. “ Se casar comigo, não precisará trabalhar nunca mais.” Sou muito rico, Letícia. “Te darei uma vida de rainha.” — Nossa, Tá podendo hein, Letícia! — Carla, sua amiga, fala soltando uma risada. — Nãm! — Letícia murmura fazendo um sinal de desdém. Bebo mais uma dose de tequila e olho em volta e de repente vejo uma pessoa acabando de entrar no pub.  Ele! Merda! Théo está uma loucura. Como pode ser tão gostoso, Jesus? Diferente do seu traje formal de executivo, está usando uma blusa preta de mangas e um jeans azul com alguns rasgos.Seu cabelo que sempre é penteado para trás elegantemente, agora está meio selvagem. Mordo o lábio inferior sentindo meu corpo arder em chamas. Ele não pode me ver aqui, isso pode estragar a minha noite. Me inclino em minha cadeira e pendo a cabeça para o lado observando-o. Ele parece estar sozinho, sem a sua namorada. Não devia, mas gostei de saber disso. — Ali, vem, vamos dançar— Letícia praticamente me arrastou para dançar uma música sensual que começou a tocar. Nego, tentando sair do seu agarre mas ela não facilita.  Dando-me por vencida aos poucos relaxo e acabo cedendo a melodia. Fecho os olhos por um instante e quando torno abri-los, um par de olhos azuis cristalinos me observam atentamente e tudo ao meu redor deixa de existir. 
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