CAPÍTULO 2
Será Justo?
Narrado por Sophia
O show estava lotado.
O lugar era tomado por uma energia que parecia eletrizar o ar, e eu podia sentir o som reverberar pelo meu corpo antes mesmo de vê-lo no palco.
Eu estava na área reservada para convidados, um pouco atrás da multidão, mas ainda podia ver tudo, as luzes que dançavam pelo espaço, as pessoas se apertando na frente do palco, gritando antes mesmo da banda entrar.
E, quando ele finalmente aparece, o som quase me ensurdeceu.
Um grito coletivo, cheio de euforia, inundou o lugar.
Era ele.
Nathan.
Ele estava ali, com aquele sorriso que eu conhecia tão bem, mas que agora parecia ser de todos.
Era surreal ver como ele tinha crescido no palco, como se aquele fosse o seu lugar natural.
Os outros garotos da banda também exalavam confiança, e o público vibrava em resposta a cada movimento, a cada nota.
Mas ele… havia algo especial em como as pessoas olhavam para ele.
Quando ele se aproximava da borda do palco, sorrindo e estendendo a mão, podia ver as mãos esticadas, como se todas estivessem tentando tocar um pedaço do sonho que ele representava.
Observei as garotas ao meu redor, muitas estavam ali só por ele.
Era fácil perceber pelos cartazes com o nome dele em letras grandes e brilhantes, pelas camisetas estampadas com o rosto dele, pelas lágrimas e sorrisos extasiados de quem via o ídolo de perto.
Elas o olhavam de um jeito que me fez sentir uma pontada de desconforto.
Eu era a namorada, a pessoa que ele procurava no fim do show, mas ali, naquele momento, parecia que ele era de todas elas.
Por um instante, me peguei a questionar se, ao insistir em ficar com ele, eu não estaria, de alguma forma, o prendendo.
Ele tinha apenas dezoito anos, como eu, e o mundo parecia se abrir à sua frente de um jeito que eu não havia previsto.
O que eu estava a fazer ao lado dele, sabendo que a sua vida poderia ser tão livre, cheia de possibilidades?
O show continuava, mas eu me perdi nos pensamentos, cada vez mais confusa.
Lembrei da noite romântica que ele tinha preparado para nós há poucos dias atrás, de como ele me olhou como se eu fosse a única coisa no mundo.
Mas… será que isso era justo? Será que ele não merecia viver plenamente essa experiência, sem ter que voltar para alguém que o esperava, alguém que talvez fosse um peso em meio a toda essa liberdade que ele estava a descobrir?
Quando o show terminou, as fãs se amontoaram perto da saída do palco, tentando conseguir um último olhar, uma última palavra dele.
E eu fiquei ali, parada, observando de longe, enquanto ele acenava, sorrindo, totalmente imerso naquele carinho que era só dele.
Naquele instante, senti como se estivesse invadindo um espaço que não era mais meu, como se estivesse a manter o Nathan num lugar que talvez ele não quisesse realmente estar.
A questão agora era, eu vou ter coragem de deixá-lo ir?
🍀🍀🍀🍀
A porta do meu apartamento fez um leve eco ao fechar, e o som abafado parecia combinar com o peso no meu peito.
Joguei a bolsa no sofá e fui direto para o meu quarto, peguei o telemóvel para ligar para o Nathan. Precisava ouvir a voz dele, precisava saber que, mesmo com tudo aquilo que vi no show, ele ainda era meu, de alguma forma.
Toque… toque… toque.
Ele não atendeu.
Respirei fundo e tentei de novo.
Talvez ele estivesse comemorando com a banda, ou talvez ainda estivesse na multidão, tirando fotos e conversando com as fãs.
Eu tentei me convencer de que era isso, que não tinha nada demais.
Mas, conforme os minutos se passavam e eu tentava pela terceira, quarta, quinta vez, a minha mente se enchia de dúvidas, enquanto o meu peito parecia apertado de saudade e insegurança.
Desisti e fui para a varanda, procurando o ar frio da noite para aliviar o calor incômodo que as emoções me causavam.
Sentei-me no chão, encostada à parede, abraçando os joelhos.
A cidade estava iluminada, tranquila, como se nada tivesse mudado. Mas, para mim, tudo parecia diferente.
A imagem do Nathan no palco, sorrindo para a multidão, não saía da minha cabeça.
Ele parecia… completo.
Como se aquele fosse o mundo ao qual ele pertencia agora, e eu fosse apenas uma parte de uma vida que ele talvez estivesse pronto para deixar para trás.
Mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim se recusava a aceitar isso.
Ele havia preparado uma noite tão especial para mim, ele disse que sentia a minha falta.
Mas e se isso tudo fosse só ele a tentar equilibrar os dois mundos?
Talvez ele não quisesse me magoar e estivesse a tentar se dividir entre mim e aquela nova vida. Eu sabia que não seria justo deixá-lo preso, mas também sabia o quanto me doía a simples ideia de deixá-lo ir.
Cada vez que pensava nisso, sentia um vazio crescer dentro de mim, como se estivesse me preparando para perder algo que eu amava mais do que tudo.
A noite avançou enquanto eu passava pelas mesmas perguntas em looping, sem encontrar nenhuma resposta.
De vez em quando olhava para o telemóvel, mas nenhuma mensagem, nenhuma ligação dele.
Eu o amava o suficiente para deixá-lo seguir, mas será que conseguia de fato fazer isso? Será que, em algum lugar dentro dele, ele sentia que também seria mais livre sem mim? Eu não queria ser o obstáculo que o impedia de viver plenamente.
Quando o sol começou a nascer, eu ainda estava na varanda, os meus olhos pesados e o coração ainda mais.
Estava dividida entre dois desejos opostos, ser a pessoa que o apoiaria em tudo, mesmo que isso significasse soltá-lo, e ser a pessoa que ele queria, que ele amava, que ele escolheria no fim do dia.
A única coisa que eu sabia naquele momento era que não importava o que eu decidisse, o caminho seria doloroso.