CAPÍTULO 1
OITO ANOS DEPOIS
Saudades
Narrado por Nathan
Olho o relógio do meu pulso pela terceira vez em menos de um minuto. O ponteiro das horas parece se arrastar, como se provocasse a ansiedade que eu sinto.
Depois de semanas a tentar coordenar horários, finalmente temos uma noite só para nós, e eu quero que seja perfeita.
A sala está quase pronta.
Espalhei algumas velas aromáticas pelo ambiente e ajeitei as luzes, deixando o clima aconchegante, do jeito que ela gosta.
A música toca suavemente ao fundo, uma lista de músicas que eu sei que ela adora, escolhidas a dedo para a ocasião.
Mas, mesmo com tudo organizado, não consigo me livrar da leve insegurança que sinto.
Temos estado tão ocupados ultimamente, que às vezes parece que quase não a conheço mais. Desde que a banda começou a crescer, os ensaios, os shows e entrevistas tomaram uma parte enorme do meu tempo, e também sei que a carreira de atriz da Sophia também exige muito tempo e dedicação.
No fundo, me pergunto se ela ainda me vê como o garoto que a fazia rir com piadas bobas, ou apenas como alguém distante, consumido pela rotina de ensaios e viagens.
Respiro fundo e olho para a pequena mesa que acabei de preparar, coberta com uma toalha que a minha mãe me emprestou e decorada com pétalas de rosa.
É um toque clássico, e eu espero que ela goste. Ao lado da mesa, duas taças de vidro cintilam à luz das velas, e uma garrafa de suco de uva descansa, à espera para ser aberta.
Penso em como a minha saudade se traduz em detalhes, em como, durante a última semana, tentava me lembrar de todas as pequenas coisas que a Sophia ama, o tipo exato de chocolate, o perfume de morangos que ela usa, o sorriso que surge sempre que eu erro a letra de uma música e finjo que é de propósito.
Então, a campainha toca.
Sinto o coração disparar e, por um instante, fecho os olhos e digo para mim mesmo.
— Calma, ensaio para shows o tempo todo. Isso é só… uma noite.
Mas no fundo eu sei que é mais que isso.
Esta é a chance de mostrar que ela ainda é o centro do meu mundo.
Abro a porta com um sorriso tímido.
Sophia está linda, como sempre, com aquele brilho nos seus olhos tão azuis, que parece iluminar tudo ao seu redor.
Trocamos um olhar que diz muito mais do que qualquer palavra.
— Eu estava com saudades. — Digo, tentando manter a voz firme, mas sinto que, de algum modo, isso revela toda a verdade sobre o quanto eu me importo.
Sophia sorri e segura a minha mão, apertando levemente.
— Eu também estava com saudades. — Ela responde, e, naquele momento, eu sei que, mesmo com a distância e a correria, o nosso sentimento ainda está aqui, mais forte do que qualquer agenda ou compromisso.
O Meu Porto Seguro
Narrado por Sophia
Eu respiro fundo antes de apertar a campainha, o meu dedo hesitando um segundo mais do que deveria.
“É só uma noite," eu pensei, como se fosse possível enganar o meu coração.
Só uma noite para nos reconectar depois de tanto tempo afastados, para tentar entender se ainda existe um "nós" no meio de toda essa loucura.
Nathan e eu sempre tivemos uma conexão fácil, como se tudo fluísse naturalmente entre nós. Mas desde que a carreira dele decolou, parece que o tempo virou o nosso maior inimigo. Ensaios, viagens, as entrevistas dele, os meus testes, os papéis que me tiram horas de sono.
O nosso mundo, que costumava se alinhar, de repente parece duas realidades paralelas, e é impossível ignorar o medo de que essas realidades nunca mais se encontrem.
A porta se abre, e lá está ele.
Nathan me olha com aquele sorriso tímido, o mesmo que ele dava quando a gente ainda estava no colégio e ele me ia buscar com a mochila cheia de partituras e promessas.
E neste instante, toda a ansiedade deu uma trégua.
Ele está aqui, comigo, e percebo que, de alguma forma, ele está tão nervoso quanto eu.
— Eu estava com saudades. — Ele diz, e eu sinto que a minha voz quase falha quando respondo.
— Eu também estava com saudades. — Falo segurando a mão dele.
A palma dele está quente, como se dissesse "eu ainda estou aqui, mesmo quando tu pensas que não."
É estranho pensar que uma parte de mim tinha medo de que ele tivesse mudado tanto que talvez não fosse mais o mesmo Nathan.
Mas quando ele me puxa para dentro, eu sei que, não importa o quanto as coisas tenham mudado, algo entre nós ainda permanece igual.
A sala está lindamente decorada, simples, mas cheia de detalhes que me lembram de quem ele era e do quanto ele sabe sobre mim.
As velas, a mesa arrumada, a playlist com aquelas músicas antigas que ele fingia que gostava só porque eu adorava.
Olho para ele, e parece que todo aquele esforço dele era uma promessa silenciosa de que ele ainda se importa, talvez até mais do que antes.
Enquanto a noite foi avançando, conversamos sobre coisas que não conseguíamos colocar em palavras há semanas. Ele me contou sobre a loucura da banda, sobre as pessoas que ele conhecia e o quanto era fácil se perder no meio disso tudo. E eu, em silêncio, entendi que esse também era o medo dele, que, de alguma forma, a gente se perca um do outro.
Mas aqui, neste momento, sinto que a distância não tem o poder que eu tanto temia.
Na verdade, talvez ela só me fizesse querer estar ainda mais próxima dele.
Ele é o meu porto seguro, mesmo quando a vida parece correr em mil direções.
Passamos a noite juntos e de alguma maneira nos conseguimos nos conectar ainda mais.