Capítulo 15

1656 Words
Samantha Acordei em um sobressalto, o coração disparado e o suor frio escorrendo pela minha testa. Tudo ainda estava tão real em minha mente, as vozes, as palavras asquerosas, o rosto do meu padrasto me encarando com aquele olhar de desprezo e malícia. Era como se eu ainda estivesse presa num pesadelo, sem conseguir escapar. Minha respiração estava ofegante, e, sem pensar, comecei a arranhar meus braços e pernas, como se quisesse arrancar aquela sensação h******l da minha pele. Mas quanto mais eu arranhava, mais doía, e a dor física, de certo modo, me trazia de volta à realidade. Eu ainda estava no quarto do Padre Vergas. O lugar que horas atrás parecia tão seguro agora parecia pequeno e sufocante. Fechei os olhos com força, tentando afastar as imagens do meu padrasto que insistiam em me atormentar, mas elas voltavam, sempre com a mesma intensidade. Seu rosto sujo, as palavras nojentas... Eu não conseguia me livrar delas. Não conseguia respirar. De repente, a porta se abriu, e o padre entrou carregando uma bandeja com o café da manhã. O cheiro do café e do pão fresco era acolhedor, mas eu não conseguia me conectar com nada de bom naquele momento. Ele me olhou, o rosto imediatamente se transformando em uma expressão de preocupação ao perceber o estado em que me encontrava. — Samantha? — sua voz era suave, mas cheia de inquietação. — O que está acontecendo? Ele colocou a bandeja com cuidado sobre a cômoda ao lado da cama e veio até mim, hesitante, mas determinado a entender o que estava acontecendo. Minhas mãos ainda tremiam, os arranhões nos braços e pernas doíam, e eu m*l conseguia encarar a situação. Quando ele tocou meu ombro, eu me encolhi automaticamente, afastando-me de supetão. Minha primeira reação foi me proteger. Meu corpo se moveu sozinho, sem pensar, sem raciocinar. Afastei-me dele, encolhendo as pernas contra o peito e abraçando-as, enquanto apoiava o queixo sobre os joelhos. Eu sabia que ele não me faria m*l, mas naquele momento meu corpo não reagia à lógica. Era puro instinto, puro pavor. — Samantha... — Ele se ajoelhou ao lado da cama, o olhar ainda mais preocupado agora. — Por favor, me diga o que está acontecendo. Seus olhos, sempre tão calmos e cheios de fé, estavam assustados. Ele não sabia o que fazer, e ver sua confusão e medo só me deixou mais desesperada. Eu queria falar, explicar, mas as palavras não saíam. O nó na minha garganta era tão apertado que eu m*l conseguia respirar, quanto mais dizer qualquer coisa. — Eu... eu... — balbuciei, mas minha voz estava trêmula, fraca. Ele se aproximou novamente, sem me tocar dessa vez, respeitando o meu espaço. A dor em seus olhos era evidente. Ele queria ajudar, mas estava perdido. Eu não podia culpá-lo. A pessoa que eu precisava enfrentar naquele momento não estava no quarto. Estava na minha cabeça, nos meus pesadelos, nas minhas memórias. — Samantha, por favor, confie em mim... — disse ele, a voz baixa, quase um sussurro. — Não vou deixar que nada te machuque. Você está segura aqui. Eu sabia que ele estava sendo sincero, mas ainda sentia a presença sombria do meu padrasto, como se ele estivesse à espreita, mesmo sabendo que isso era impossível. A raiva e o medo que eu sentia estavam tão misturados que não conseguia distinguir um do outro. Respirei fundo, ainda me abraçando com força. Olhei para o padre, os olhos cheios de lágrimas que eu estava tentando conter. Ele não merecia ver isso. Não merecia carregar o peso do que sua namorada carregava. Padre Vergas Eu a observei de perto, sem saber exatamente como agir. O pânico que vi em seus olhos me deixou imobilizado por alguns instantes. Ela parecia tão frágil, tão vulnerável, encolhida ali na cama, com o queixo apoiado nos joelhos, as unhas cravadas na pele dos próprios braços. Era como se ela estivesse em uma batalha silenciosa, lutando contra algo invisível, algo que eu não conseguia entender, mas que claramente a estava destruindo por dentro. — Samantha... — sussurrei de novo, mantendo a voz baixa e calma, na esperança de não assustá-la mais do que ela já estava. — O que aconteceu? Você está machucada? Ela não me respondia, apenas continuava a respirar de forma irregular, com os olhos cheios de lágrimas, tentando manter o controle. Senti uma pressão no peito, como se a dor dela estivesse me atravessando, mas eu não sabia como acudi-la. Meu primeiro instinto foi me aproximar e confortá-la com um abraço, mas ao ver como ela se afastou ao meu toque, temi que minha presença pudesse estar piorando tudo. Fiquei de pé por um momento, sentindo a impotência se enraizar. Era um sacerdote, alguém treinado para cuidar, confortar, ouvir, mas ali estava eu, incapaz de alcançar a alma dessa jovem mulher que, por alguma razão, significava tanto para mim. Sentia-me perdido, sem a mínima noção de como trazer paz àquele tormento. Eu me ajoelhei novamente ao seu lado, sem forçar a proximidade, mas querendo que ela soubesse que eu estava ali. O silêncio no quarto era quase sufocante, e então eu o quebrei, sussurrando: — Seja o que for... você não precisa enfrentar isso sozinha. Samantha continuava a se proteger, como se estivesse em outro mundo, mas vi seus olhos finalmente me encararem, embora por trás de um véu de dor. Meu coração apertou com aquilo. — Diga-me o que fazer... — pedi, mais para mim mesmo do que para ela. Eu me lembrei do que sempre digo aos meus fiéis: “Confie em Deus, busque a luz e o alívio virá”. Mas agora, essas palavras pareciam vazias. Ali estava uma jovem diante de mim, quebrada, precisando de ajuda, e eu... eu era apenas um homem, preso entre minha devoção e os sentimentos cada vez mais profundos que se acumulavam por ela. Sentia uma tempestade dentro de mim, mas não havia tempo para pensar nisso agora. O que importava era ela, sua dor. — Samantha — chamei suavemente de novo, me aproximando, mas mantendo a distância que ela parecia querer. — Eu não sei o que você está passando, mas estou aqui. Não vou a lugar nenhum. Ela piscou, suas lágrimas finalmente rolaram pelo rosto. Ao vê-la assim, meu peito se contraiu em um misto de raiva e desespero. Quem poderia ter causado este sofrimento nela? O que estava a assombrando tanto? Sem pensar, estendi a mão, hesitante, e toquei de leve seu joelho. Dessa vez, ela não se afastou. Era um progresso mínimo, mas suficiente para que eu sentisse que talvez, de alguma forma, eu pudesse ajudá-la a sair dessa escuridão. — Você está segura aqui, eu prometo — falei mais firme, na esperança de que, se ela não pudesse confiar em mais nada, pelo menos confiasse nisso. Ela mordeu o lábio, lutando contra as palavras, mas então murmurou, num sussurro quase inaudível: — É meu padrasto... ele não me deixa em paz... nem mesmo quando estou longe... Meu sangue gelou. Uma mistura de choque e indignação tomou conta de mim. Então era isso. O homem que deveria cuidar e proteger Samantha havia, de alguma forma, causado uma dor tão profunda que a atormentava mesmo agora, longe dele. Fechei os olhos por um instante, buscando uma força que só Deus poderia me dar. — Ele não pode te machucar mais — afirmei, com mais convicção do que antes. — Eu não vou deixar. Ela me olhou, vulnerável, como se quisesse acreditar, mas ainda havia um peso enorme em seus ombros. Eu me aproximei um pouco mais, dessa vez com mais segurança, e toquei de leve seu braço, como quem tenta trazer alguém de volta à superfície depois de muito tempo submerso. — Samantha... — comecei, a voz quase falhando pela intensidade que eu sentia. — Você não está sozinha. Não mais. Samantha Por causa dele a tristeza presa na minha alma foi dando espaço para o presente, e quanto ele se sentava carregando consigo um frasco de medicamento, pediu-me encarecidamente para que eu estendesse os braços e pernas para ele limpar as minha feridas. — Não precisa se incomodar com elas, meu padre. Ele suspirou estendendo a ponta do objeto onde extraiu o remédio, era para eu fazer sem fazer objeções. — Seja uma namorada obediente. — Abriu a outra mão. — Vou tocá-la agora senhorita Samantha, por favor não se afaste, me magoaria se caso fizesse novamente. Eu não sou ele. Essa última frase me atingiu em cheio e imediatamente fiz como havia pedido. — Em nenhum momento pensei ou sequer cogitei tal pensamento maligno do senhor. Padre Vergas passou o produto em cada arranhão cometido pela minha pessoa, e eu o olhava atentamente esperando que dissesse algo para não me sentir tão culpada por ele ter pensado isso. — Sei que não pensou, senhorita. Foi só uma maneira de demonstrar meu inconformismo, mas esqueça isso, agi como um criatura egoísta naquele instante. O que me preocupa se a senhorita está bem, está? Tá ardendo? Dei um amistoso e caloroso sorriso em resposta, e acabei sentindo uma emoção que não cabia em meu peito, então avancei nele, sem pensar em nada, muito menos medindo as consequências desse simples ato de demonstração de carinho. Na intenção de agarrá-lo pelo pescoço, abracei-o tão fortemente que a sua única reação foi arfar, inclinando seu queixo até os meus cabelos, pude sentir seu leve tremor ao me aninhar em seu peito, puxando-me para si ao ponto de quase se colocada em seu colo. — Pierzării… — murmurou em meu ouvido enquanto nossos rostos se deslocavam vagarosamente, pouco a pouco, lentamente, até se encontrarem raspando ardentemente na face um do outro de maneira quase que bruta devida a intensidade. Logo nossos olhos se cruzaram, desviando-se em uníssono em nossas bocas. Então sem questionar ou raciocinar nos entregamos aquele beijo da manhã enquanto os sinos da igreja anunciavam um novo dia. Continua...
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