Capítulo 2

1938 Words
Continuação... Sai para procurar, mas nada tinha me chamado atenção suficiente de novo para levantar suspeitas, por último pensei em olhar a cabine, o confessionário, era o espaço que não foi visitado por mim hoje. Assim que meus pés pisaram ali, pude sentir um perfume adocicado com toques de jasmim. O cheiro trouxe-me outra vez a lembrança daquela distinta moça, mesmo que não houvesse me aproximado o suficiente para comparar, ou distinguir, quem poderia estar se escondendo. Tomei coragem e abri o compartimento, revelando-me imediatamente a figura feminina dormindo serenamente no canto daquele cubículo. Engoli em seco diante daquela imagem inocente, cochilando jogada ali, feito uma anja sem asas. Logo procurei me recompor, respirei fundo olhando para os lados, sabendo no meu interior que ninguém poderia me socorrer. Portanto, precisei ser firme. Voltei a fitá-la ajustando a túnica escura no mesmo instante que me abaixava para olhá-la melhor. Seu peito subia e descia tranquilamente, a cabeça encostada na parte dura estava desconfortavelmente, mesmo assim dormia sem restrições. Não podia deixar ela assim. - Moça… - A chamei sem precisar tocá-la, podia ser invasivo da minha parte. Fora que poderia assustá-la, contudo isso não parecia ser suficiente. Então encostei em sua casaca comprida. - Acorde… - Murmurei num tom adequado, mas nutrindo um verdadeiro desespero. - Não devia estar aqui… Deus me ajude. Clamei-o, e na mesma hora a donzela caiu em meus braços, vislumbrando o decote quadrado do seu b***o, que automaticamente revelou-se aos meus olhos. Olhei para cima pedindo perdão por ter contemplando algo tão belo. - Padre… - Sussurrou-me baixinho em plena sonolência. Sufocando o desejo penoso de fitar aquilo novamente, procurei encarar diretamente na face. - O que faz aqui moça? Devia estar com os seus pais. Ela se recuperou devagar de seu sono, e tentou sair do meu cerco. Mesmo tendo consciência de que seria o melhor para nós dois, não a deixei se afastar. Olhando-a a erguer juntamente comigo, sem desviar daquele par de olhos azuis. Em decorrer estávamos parados muito perto um do outro, sentindo a respiração sincronizada. A altura masculina acima da dela, que era tão pequena comparada à minha. Lentamente fui soltando-a, reparando o tanto de dor sentida pelo meu corpo traidor, maldito. - Eu… não tenho pais… não tenho nada e ninguém nesse mundo. - Passou um mecha de cabelo n***o atrás da orelha. … Preciso do senhor, padre. Pode me ajudar a me confessar? Quase tive uma síncope de contentamento, afinal, estou aqui também para realizar essa função sacerdotal. - Perfeitamente. Fique sossegada. Fui para a parte onde o padre ficava para ouvir os fiéis confessarem, sentei abrindo a janelinha com aqueles pequenos buracos na tela. - Pronto… Pode confessar seus pecados… - Samantha Cruz. A sua voz ao ditar seu nome, tive a certeza que quase arrastou-me para o inferno. Padre! Concentre-se! - Prossiga minha filha. - Acho que fiz um homem pecar. Céus! Samantha Cruz Suspirei meio indisposta, não havia comido nada antes de abandonar aquela moradia do capeta. - Relata-me, pode ser transparente comigo… Senhorita Cruz. Dei uma risadinha, ouvindo de relance sua garganta coçar. Amei a maneira como ditava meu nome. Sua voz naquele estilo grossa misturada a leveza e severidade, fazia dele um homem capaz de transmitir bastante confiança. - Na verdade, ser bonita apresentou-me ser um cargo muito pesado do qual não soube lidar. Sou culpada por despertar o lado devasso do s**o oposto, e não tenho consciência onde podia parar. Ouvia sua respiração controlada do outro lado. - Senhorita, não pode se auto condenar por causa da… imagem que Deus lhe concedeu, o pecado estar no coração do homem que a vê com malícia. - Mas… - Lembrei daquela vez que aquele i****a obrigou-me a sentar no colo dele. - … E se cedemos aos argumentos de uma mente diabólica por motivos torpes, ou por enganação? Fora nos momentos que nos pegam desprevenidos, aproveitando-se da sua vulnerabilidade. Por uns segundos parecia não estar mais em conexão comigo, e isso despertou um desespero em meu interior de maneira alastrante. Forte. - Padre! - Estou aqui minha filha… Eu estava absorvendo suas palavras. Este sujeito chegou a praticar algo indevido? Do tipo… Aquilo me doeu profundamente. - Se está se referindo a molestação… Sim e não… Entende? Soltei o ar com força, descansando a testa na madeira de pinho cheirosa. - Seja mais especifica. - O tom de raiva assustou-me num rompante, tanto que afastei a testa do local Hesitei por um momento, sentindo o peso das lembranças que me assombrava. A raiva na voz do padre, mesmo que não fosse direcionada a mim, trouxe à tona a intensidade dos meus traumas. Mas precisava continuar, colocar para fora essa angústia que nunca passava. — Ele... ele nunca chegou a consumar o ato — comecei, sentindo minha voz tremer. — Mas fazia questão de me deixar desconfortável, de me tocar de maneiras que eu sabia serem erradas, mesmo sem entender completamente na época. As palavras que ele usava, os olhares... tudo parecia distorcido e sujo. Do outro lado, senti que o padre lutava para manter a calma. Sua respiração era audível, pesada, como se ele estivesse tentando conter uma tempestade interna. — Isso é inaceitável — sua voz saiu firme, mas havia uma suavidade nela, como se ele quisesse me proteger. — Ninguém, jamais, deveria fazer alguém se sentir assim. O que ele fez foi um a***o, mesmo que não tenha ido até o fim. E você não é culpada por isso, senhorita Samantha. Fechei os olhos, permitindo-me um momento de vulnerabilidade. Ninguém nunca havia me dito isso antes. Sempre me culparam, como se eu tivesse provocado tudo o que havia acontecido. — Mas por que sinto na alma que fiz por onde merecer aquilo? — Minha voz estava baixa, quase um sussurro, cheia de dúvidas que me corroía por dentro. Houve uma pausa antes que ele respondesse, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas palavras. — O inimigo é astuto, minha filha. Ele planta sementes de culpa e vergonha para nos afastar da graça de Deus. Mas você não deve carregar essa culpa. O peso do pecado não é seu. O verdadeiro pecado é o de quem violou sua inocência. Havia tanta convicção em suas palavras que, por um breve momento, senti o peso em meu peito aliviar. Era como se uma pequena parte de mim começasse a acreditar que, talvez, realmente não fosse culpada por tudo que aconteceu. — Eu... eu quero acreditar nisso — confessei, a voz frágil. — E você vai, senhorita Samantha. A cura é um processo, mas estou aqui para te guiar — ele prometeu. — Você não está sozinha. Essa última frase ressoou dentro de mim. Durante tanto tempo, que me senti isolada, como se ninguém pudesse entender ou compartilhar o que eu estava passando. Mas ali, naquela pequena paróquia, com um homem que eu m*l conhecia, senti algo diferente. Talvez, apenas talvez, eu não estivesse completamente sozinha. — Obrigada, padre — murmurei, permitindo-me relaxar um pouco mais. — Eu realmente preciso disso... de alguém que me entenda. Do outro lado, o padre ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando sobre o que dizer a seguir. Quando falou, sua voz tinha um tom de compreensão profunda. — Deus entende, senhorita Samantha. E eu também estou aqui para te ajudar a encontrar essa compreensão. Juntos, vamos enfrentar essas sombras. Sua promessa foi como uma luz fraca que brilhava em meio à escuridão que me envolvia. E, pela primeira vez em muito tempo, senti uma pequena esperança de que talvez houvesse um caminho certo e reto para mim, longe dos horrores do meu passado. Padre Vergas A jovem cruzou o confessionário, e por um momento, eu fiquei ali, parado, observando a delicadeza de seus movimentos. Havia algo em Samantha Cruz que me comoveu profundamente. Não era apenas sua beleza, que era inegável, mas a fragilidade que ela escondia por trás de um semblante que tentava ser forte. A madrugada já havia caído há algum tempo, e a escuridão da noite parecia amplificar a solidão que via nos olhos de Samantha Cruz quando ela saiu do confessionário. Algo em seu semblante inquieto me fez seguir seus passos. Era evidente que aquela jovem precisava de mais do que apenas palavras de consolo. — Senhorita Cruz, posso perguntar se pretende ficar na cidade por mais algum tempo ou vai embora em breve? — perguntei, aproximando-me devagar. Ela me olhou, com uma mistura de hesitação e cansaço. Após um instante de silêncio, respondeu, mas sua voz carregava uma certa insegurança. — Pretendo ficar, padre, mas... — Sua voz falhou, e ela desviou o olhar. Notei que ela estava envergonhada de admitir sua situação. Senti um aperto no coração. Quantas vezes já vi esse tipo de vulnerabilidade? A vontade de ajudar falou mais alto. — Não precisa se envergonhar. Se a senhorita precisa de um lugar para ficar, eu conheço a cidade inteira e posso lhe arranjar algo. Talvez até um trabalho, se for o caso — disse, sorrindo da melhor forma que podia, já que não fazia tal reação com muita frequência, somente pela tentativa de aliviar seu desconforto. Ela balançou a cabeça, parecendo ainda mais aflita. — Eu não quero ser um fardo para ninguém, padre... Interrompi-a suavemente. — Vergas, esse é o meu nome, mas pode continuar só me chamando de padre. A senhorita Cruz assentiu, dando um meio sorriso, que automaticamente me deixou desconcertado, mas resolvi ignorar essa sensação então continuei: — Não será um fardo. Pensei em oferecer o quartinho nos fundos da igreja para você passar a noite, mas, se preferir algo mais reservado, posso arrumar outro lugar. — Dessa vez abri um sorriso tranquilizador, lábios cerrados, contidos, esticados. Sabendo que qualquer obstáculo poderia ser facilmente superado. Mas Samantha continuou a negar, sua relutância firme. — Agradeço a oferta, mas não seria certo. Não quero ser invasiva... Suspirei, compreendendo sua resistência, mas sabendo que não podia deixá-la sozinha naquela situação. Olhei para suas mãos e percebi a chave do carro pendendo entre seus dedos. — E o seu carro? Talvez você pudesse passar a noite nele, se isso a deixasse mais confortável — sugeri, mesmo sabendo que não era uma solução ideal. Ela balançou a cabeça novamente, um suspiro escapando de seus lábios. — Está sem gasolina. Mas posso tentar passar a noite nele. Por um momento, fiquei em silêncio, refletindo sobre o que fazer. Uma última opção surgiu em minha mente, e decidi tentar. — Então, pensando melhor, vamos ao único lugar que estará aberto a essa hora da madrugada — disse, sentindo uma certa firmeza na voz. — A Casa das Teresinhas. É um abrigo só para mulheres, administrado por freiras muito acolhedoras. Tenho certeza de que elas poderão lhe oferecer um lugar seguro para passar a noite. Senhorita Cruz levantou os olhos na minha direção, e vi um lampejo de alívio em sua expressão, embora ainda houvesse hesitação. — Acha que elas me aceitariam sem aviso? — perguntou, sua voz revelando uma vulnerabilidade que me tocou fundo. Sorri, aprendendo a expressar mais alegria do que era de costume, tentando passar toda a confiança que podia. — Tenho certeza que sim. As irmãs da Casa das Teresinhas são conhecidas por sua hospitalidade. E, como o padre da paróquia, posso garantir que você será bem-vinda. Vamos, Samantha. Não há necessidade de passar a noite sozinha, especialmente depois do que conversamos hoje. Ela respirou fundo e finalmente cedeu. — Está bem. Se realmente não for um problema... eu aceito. Assenti com satisfação e alívio. — Ótimo. Pegue suas coisas, vou levá-la até lá agora mesmo. Continua...
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