Capítulo 11

1942 Words
Continuação... Padre Vergas — Senhorita Samantha, entendo sua necessidade de respostas — disse-lhe, tentando suavizar a situação —, mas este não é o lugar ou o momento adequado para essa conversa. Há limites que devemos respeitar, e eu preciso que você compreenda isso. Ela parecia pesar seriamente na balança as minhas palavras, mas sua determinação era evidente, ela não vacilou. Em vez de se afastar como era esperado, permaneceu ali, desafiadora e cheia de propósito, sua presença dominando o espaço que até então havia sido um refúgio de tranquilidade para mim. O que tanto temia estava se materializando diante de meus olhos, a situação precisava ser contida, resolvida com muito mais do que apenas palavras. O clima na igreja, que antes era tranquilo, estava agora carregado de uma tensão indiscutível, me sentindo cada vez mais confrontado pela situação. Samantha Estava a poucos passos dele, minha presença próxima e desafiadora. O silêncio da igreja parecia ainda mais carregado enquanto continuava a provocá-lo, testando os limites dele com cada palavra. — Padre Vergas — comecei, minha voz baixa e incisiva —, o senhor se importa que eu saia com outro rapaz? Diga-me. É apenas uma curiosidade. Afinal, não seria nada demais, visto que já beijei alguns por aí, três para ser exata. As palavras saíram com uma leve provocação, observando atentamente a mudança visível no seu semblante. Ele parecia endurecer, uma expressão de desconforto se desenhando em seu rosto. Podia ver que as minhas palavras estavam atingindo o alvo, e essa resposta me incentivava a continuar. Aproximando-me ainda mais, por ter deixado brecha, quase podia sentir a respiração dele misturando-se com a minha. A proximidade física estava se tornando quase intolerável, porém necessitava ir além para derrubar todas as barreiras impostas por ele, me jogaria no fogo ao fazer a última contestação. — Padre, antes da sua escolha, o senhor provou a boca de uma mulher? — perguntei, meus olhos fixos nos dele, desafiadores e penetrantes. A reação dele foi instantânea. Ele pareceu vacilar, o olhar escur*o e profundo dele encontrando o meu com uma intensidade que fazia meu coração acelerar. A tensão entre nós se tornou bastante palpável, sentia que a qualquer momento algo dentro dele iria se romper. — Não — ele sussurrou, a voz baixa e carregada de uma vulnerabilidade que eu jamais havia visto antes. — Nunca. A confirmação dele reacendeu um sorriso pequeno e satisfeito em minha boca. Aproveitei a oportunidade e, com uma ênfase quase elétrica, perguntei: — Então, o senhor gostaria que eu fosse a primeira a provar dos seus lábios? O pedido estava impregnado de uma mistura de desejo e desafio. Eu já estava tocando seu rosto, meus dedos traçando um caminho suave pela pele dele. Ele parecia perdido em um mar de emoções, e o momento estava tão carregado que o tempo parecia ter parado. — Sim — ele murmurou, a voz quase inaudível, como se estivesse completamente perdido em um transe. Eu levei meu rosto ainda mais perto, os lábios quase tocando os dele, e ele se entregou ao momento, fechando os olhos e gemendo baixinho. A respiração dele estava quente e acelerada, sentindo a conexão intensa que estava se formando entre nós. Com um gesto suave, encostei delicadamente meus lábios nos dele, começando com um beijo calmo e exploratório. O toque inicial foi gentil, mas a intensidade rapidamente se intensificou à medida que ele me puxou para mais perto, seus braços envolvendo minha cintura e aproximando nossos corpos. De repente aquelas mãos subiram para os meus cabelos, e a sensação de suas mãos nos meus fios trouxe um sentido de eletricidade que parecia percorrer toda a extenção da minha pele. O beijo se aprofundou ainda mais, passando de um toque suave para uma conexão mais intensa e apaixonada. Era como se cada toque, cada contato, estivesse unindo nossas almas de uma maneira que ia além do carnal. A ligação entre nós era mais do que evidente, um misto de desejo e compreensão profunda, senti que algo mais significativo estava acontecendo. O espaço ao redor parecia desaparecer, desintegrar, e a única coisa que existia era a troca de sensações entre nós. O beijo foi mais do que um simples encontro de lábios; era uma dança de almas, uma união profunda que desafiava todas as convenções e limites. Entreguei-me totalmente aquele instante, explorando cada centímetro dos lábios do padre Vergas, enquanto ele correspondia com a mesma intensidade. E, assim, no calor daquela igreja silenciosa, entrelaçados em um beijo que parecia durar uma eternidade, nós dois fomos consumidos por uma paixão que parecia transcendental. Parecia que o mundo havia se reduzido a apenas nós dois, e o que antes era uma tensão não resolvida se transformou em uma realidade intensa e inegável. Padre Vergas A boca de Samantha tocou a minha, e o mundo pareceu parar. Meu corpo, rígido de resistência, derreteu-se em uma confusão de sensações que nunca havia experimentado antes. Os lábios dela eram suaves, quentes e cheios de uma doçura que me envolveu de imediato. Foi como se a terra fugisse debaixo dos meus pés. Cada célula do meu corpo implorava por mais desse contato proibido, dessa ligação que ia contra tudo o que eu tinha jurado proteger. O coração batia descontrolado no peito, ecoando em meus ouvidos, e um calor incontrolável tomou conta do meu corpo. Uma chama pecaminosa queimava minha pele enquanto minhas mãos, antes santas, agora se perdiam nos cabelos dela, sentindo a suavidade dos fios como uma carícia aos meus próprios sentidos. Meu corpo, tão acostumado ao controle, se rendia em cada fibra, cedendo àquele toque íntim*o e profundo. Mas então, no ápice daquele momento, abri os olhos. E ali estava Ele, a figura de Cristo na parede, olhando diretamente para mim. Uma imagem que tantas vezes me trouxera consolo e força agora me encheu de um medo profundo, de uma culpa insuportável. Aquele olhar cravado em minha face me fez acordar do torpor. Descolei meus lábios dos dela de um modo abrupto, quase desajeitado, e a soltei de minhas mãos, como se seu toque queimasse minha alma. — Isso nunca devia ter acontecido — consegui murmurar, a voz vacilando, enquanto o calor que sentia em cada parte de mim se transformava em um tormento inominável. Me afastei dela, embora meu corpo gritasse, exigindo para voltar, para continuar. Passei os dedos pelos meus lábios ainda trêmulos, sentindo a ausência dolorosa daquele beijo, da sensação que havia ali segundos atrás. Era como se o gosto dela estivesse gravado na minha pele, um eco irresistível. Samantha me olhava com um brilho inconfundível nos olhos, um olhar cheio de ternura, desejo e algo mais profundo. Ela estava apaixonada. E eu sabia que não poderia, de forma alguma, corresponder a isso. Meu dever para com Deus, para com meus votos, era maior. Ou pelo menos, deveria ser. — Eu sinto isso, Vergas, desde o momento em que nos conhecemos — ela começou, a voz baixa, carregada de emoção. — Não vou mais esconder o que sinto. Eu te amo. — Pare, Samantha, por favor — implorei, mas meu corpo todo tremia quando ela se aproximou novamente. Quando sua mão tocou o meu braço, uma onda de eletricidade percorreu minha espinha, e cada instinto meu gritou para ceder, para deixá-la me envolver mais uma vez. Foi nesse momento que a porta da igreja rangeu. Um som que, naquele instante, soou como uma sentença de condenação. Aterrorizado, olhei em direção ao intruso, o coração parando por um segundo. Virei-me rapidamente para Samantha, o desespero tomando conta de mim. — Vá, Samantha. Vá para o meu quarto — sussurrei, apontando para a porta dos fundos da igreja, onde ficava o meu aposento privado. Ela hesitou, mas ao ver a urgência no meu olhar, correu para o fundo, sumindo da minha vista. E eu, com o coração ainda acelerado e a mente em caos, virei-me para enfrentar o visitante, tentando me recompor, esconder o pecado que acabava de quase consumir minha alma. Samantha Entrei no quarto do Padre Vergas e, por um momento, o ambiente me envolveu completamente. Era um cômodo pequeno, mas cada detalhe parecia ter sido meticulosamente organizado, como se ele mantivesse controle de cada centímetro do lugar. Não era só a limpeza que me impressionava, mas a precisão. A estante, repletas de livros antigos, todos enfileirados em perfeita ordem, e as peças decorativas que decoravam o espaço, me diziam muito mais sobre ele do que suas palavras jamais haviam revelado. Entre as várias relíquias, reparei em algumas estatuetas antigas da era chinesa e outras que claramente remetiam ao Egito. A riqueza histórica delas me pegou de surpresa. Padre Vergas, com sua seriedade constante e devoção à igreja, poderia facilmente ser confundido com um excêntrico professor de história, ou talvez um arqueólogo em busca de segredos perdidos. A imagem dele explorando civilizações antigas em busca de respostas secretas quase me fez sorrir. Se ele tivesse seguido esse caminho, talvez nossos destinos nunca tivessem se cruzado. Talvez nunca tivesse sentido esse sentimento e... ou essa confusão dentro de mim. Enquanto esses pensamentos cruzavam minha mente, ouvi seus passos. Ele voltou, os olhos fixos em mim, como se tentasse decifrar o que eu estava fazendo ali. O silêncio entre nós era pesado, até que eu quebrei o momento. — Quem era? — perguntei, tentando aliviar a tensão que pairava no ar. — Apenas um fiel — respondeu ele, de forma seca, com a voz rouca de quem estava segurando uma tempestade por dentro. — Tinha esquecido a bíblia no banco da igreja. Eu o observei por mais um segundo, procurando algum sinal de dúvida ou culpa. — Ele... ele nos viu? Juntos? Se beijando? Vergas endureceu imediatamente. Sua postura, que já era rígida, tornou-se quase inquebrável. — Óbvio que não — disse ele, sua voz tensa, como se a própria ideia o aterrorizasse. — E não pode contar a ninguém sobre o que aconteceu, senhorita Samantha. — Havia um tom de desespero no seu pedido, um temor que eu nunca tinha ouvido antes em sua voz. — Não tenho intenção alguma de te prejudicar, padre — respondi suavemente, sabendo o quanto aquele momento pesava para ele. Para aliviar a atmosfera sufocante entre nós, meus olhos caíram sobre uma pequena estatueta de cerâmica em uma das prateleiras. Era uma peça delicada, da dinastia chinesa. Peguei-a com cuidado, deixando meus dedos deslizarem pela superfície fria. Ao perceber o que eu fazia, o Padre Vergas relaxou um pouco, suas feições suavizando. Ele se aproximou na minha direção lentamente, como se o simples ato de falar sobre algo que amava trouxesse alívio. — Essa peça é da Dinastia Han — começou ele, com uma paixão oculta nas palavras. — Eles foram uma das maiores dinastias da China, conhecidos por sua arte, avanços em ciência e cultura. — Ele parou por um segundo, seus olhos presos nos meus. — A história deles... é como um reflexo de algo maior. Algo que sobrevive às eras, mas que carrega suas próprias cicatrizes. Enquanto falava, ele se aproximava cada vez mais. Eu podia sentir o calor do seu corpo ao meu lado, e por um instante, era como se ele estivesse ali, vulnerável, compartilhando comigo uma parte oculta de si. A tensão entre nós, embora diferente daquela do beijo, ainda era visível, transparente. Mas agora, havia algo mais. Uma linha profunda, que transcendia o físico. — Você sempre gostou de história? — perguntei, tentando manter a conversa leve, mas ainda com aquela curiosidade intensa dentro de mim. — Sim — ele respondeu, com um sorriso quase imperceptível. — É a única coisa que me faz entender o mundo... e a mim mesmo. Continua...
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