Capítulo 10

1991 Words
Padre Vergas As semanas se passaram, e meu esforço para manter a distância de Samantha tornou-se uma prática diária, quase uma rotina incômoda. Eu continuava a observá-la de longe, sempre mantendo a distância necessária para não ser visto, mas a presença constante de pessoas ao meu redor frequentemente complicava minha vigilância. A vida da cidade, com sua movimentação e sua energia, tornava a tarefa mais difícil do que eu imaginara. Minha tentativa de seguir Samantha, enquanto lidava com as interrupções de paroquianos e moradores que vinham até mim em busca de benção e orações, era um equilíbrio complicado. Em um dia típico, eu me via em meio a multidões de pessoas que pediam conselhos espirituais ou a minha intervenção em questões pessoais. Cada pedido de oração, cada gesto de fé, era uma oportunidade para eu ser uma presença reconfortante, mas também uma distração constante para a vigilância que estava tentando manter. Em algumas ocasiões, encontrava barreiras para permanecer discreto. Enquanto estava em um mercado local, ajudando um grupo de fiéis com suas preocupações espirituais, o movimento das pessoas me fazia perder de vista Samantha. Seus passos elegantes e seu jeito de se movimentar pelas ruas pareciam desaparecer entre as multidões, e eu sentia uma frustração crescente sempre que a via se afastar. Eu tentava compensar essas perdas de vista seguindo seu caminho de forma não muito óbvia. Acompanhava-a de longe quando ela visitava a praça central da cidade, um local frequentado por muitos. Me posicionava estrategicamente, tentando encontrar um ponto de observação que me permitisse vê-la sem ser notado. No entanto, o fluxo constante de pessoas e as inevitáveis distrações, como aqueles que vinham me procurar para uma palavra de consolo ou uma benção, muitas vezes me impediam de manter a perseguição completa. Houve um dia particularmente desgastante quando, após um longo período de busca e observação, me deparei com um grupo de jovens paroquianos que insistiram em me abordar para uma conversa. No meio da interação, Samantha desapareceu de vista enquanto eu estava imerso nas questões que eles traziam. O sentimento de impotência e frustração era palpável. Era como se cada tentativa minha de me aproximar dela fosse continuamente frustrada por uma força invisível. Eu também a vi em outros lugares da cidade, como em um café local, onde ela parecia estar em uma reunião casual, mas a presença de pessoas ao redor frequentemente dificultava uma observação clara. A cada nova tentativa de seguir seus passos, havia algo que me fazia sentir como se estivesse em uma corrida interminável contra o tempo e a distância. A praça da cidade era um local onde costumava encontrá-la com frequência. Era o centro da vida social da cidade, e ela passava algum tempo ali, interagindo com novos amigos e conhecidos. Era um lugar onde eu podia ver uma faceta mais relaxada de sua vida, mas também um lugar onde a presença de outras pessoas complicava ainda mais minha tentativa de observá-la sem ser visto. A frustração de perder Samantha da minha observância, enquanto tentava equilibrar minha vida sacerdotal e o desejo de proteger e entender seus sentimentos, era um desafio constante. Em minha busca para mantê-la a salvo e permitir que ela seguisse seu caminho, eu me via imerso em um dilema interno, dividido entre meu papel como sacerdote e a inquietação que sentia em relação a ela. Minha vigilância persistia, mas o desejo de manter minha integridade e a necessidade de respeitar sua privacidade continuavam a me desafiar. Cada dia que passava era uma batalha constante entre o desejo de saber mais e a necessidade de me afastar, mantendo a dignidade e a responsabilidade que meu papel exigia. Enquanto continuava a minha jornada pela cidade, observando de longe e enfrentando as constantes interrupções, a tensão dentro de mim crescia. Sabia que a decisão final de como lidar com essa situação estava longe de ser simples e que a busca pela verdade e pela compreensão, tanto sobre os sentimentos de Samantha quanto sobre os meus próprios, era um caminho que eu ainda precisava percorrer. Samantha As semanas se passaram e a distância que o Padre Vergas tentava manter tornou-se um desafio crescente para mim. As tentativas de me aproximar dele, de maneira que não parecesse desesperada ou invasiva, estavam se tornando cada vez mais complexas. Eu desejava compreender melhor o motivo pelo qual ele estava se afastando, mas cada tentativa parecia resultar em mais frustração. Em minha busca por respostas, comecei a seguir seus passos com mais frequência, tentando encontrá-lo em suas atividades fora da paróquia. Eu ia aos eventos que ele costumava frequentar, como as visitas às viúvas, velórios e batismos. Cada uma dessas ocasiões era uma oportunidade para me aproximar, mas, infelizmente, ele parecia sempre encontrar uma maneira de evitar o contato direto comigo. Havia algo doloroso e confuso em ver o padre nas ocasiões que eu também frequentava. Ele estava sempre rodeado por outras pessoas, sempre envolvido em suas responsabilidades e, quando finalmente eu conseguia uma oportunidade de abordá-lo, ele estava apressado ou com uma desculpa pronta para não conversar. A ansiedade se acumulava em mim, e cada encontro evitado parecia uma pequena derrota. No velório de Dona Maria, uma das viúvas da comunidade, eu cheguei cedo, esperando encontrar o padre para uma conversa breve. Ele estava lá, oferecendo seu consolo e suas orações, como era de costume. Eu me aproximei com a esperança de que, ao encontrar um momento sozinho com ele, poderíamos conversar. No entanto, ao perceber minha presença, ele rapidamente se envolveu em uma conversa com outro paroquiano e, antes que eu pudesse me aproximar, já estava se despedindo e indo para o próximo compromisso. Em outra ocasião, no batismo do pequeno Lucas, eu tentei ser sutil, aproximando-me após a cerimônia. O padre estava ocupado com os pais da criança e com outros convidados. Eu esperei pacientemente, tentando achar um momento oportuno. Mas, assim que eu finalmente consegui chegar perto, ele lançou um olhar de reconhecimento e, com um sorriso formal, fez uma breve saudação antes de se retirar rapidamente para a sala dos bastidores. Mais uma vez, ficava com a sensação de que ele estava evitando uma conversa. Eu também fui à casa de algumas das viúvas, com a esperança de encontrá-lo em uma de suas visitas. No entanto, essas tentativas também foram frustradas. Percebia que ele tinha uma habilidade quase sobrenatural para desaparecer antes que eu tivesse a chance de falar com ele. Era como se tivesse uma habilidade para antecipar minha presença e se esquivar dela. A sensação de rejeição e frustração era constante. Não entendia por que ele estava se afastando, e a cada tentativa falhada, o sentimento de impotência crescia. Eu passava horas tentando descobrir onde ele poderia estar e planejando as minhas visitas para coincidir com suas aparições, mas parecia que a cada passo que eu dava, ele dava dois para se afastar. Em minha mente, me questionava se havia algo que eu havia feito para causar essa distância. Talvez ele estivesse ocupado, ou talvez houvesse uma razão que eu ainda não compreendia. De qualquer forma, a situação estava se tornando cada vez mais difícil de suportar. O desejo de entender o que estava acontecendo entre nós se misturava com a dor de ser constantemente evitada. Eu continuava a persistir, mas a frustração e a confusão eram palpáveis. O que antes era um desejo inocente de entender melhor o padre e sua relação comigo agora se transformava em uma luta constante para superar a sensação de rejeição e a dificuldade de fazer com que ele se abrisse para mim. Cada tentativa frustrada me deixava mais determinada a encontrar uma resposta, mas também me fazia sentir uma tristeza crescente pela distância que se estabelecia entre nós. Padre Vergas A igreja estava deserta, o silêncio reverberando suavemente pelas paredes de pedra. Não era dia de missa, e a paz do lugar parecia quase tangível. Estava sozinho, absorto em meus pensamentos enquanto examinava os preparativos para a próxima cerimônia, próximo ao púlpito e aos bancos onde os fiéis costumam se sentar. O peso do vazio me envolvia, criando um ambiente tranquilo e, ao mesmo tempo, inquietante. Foi quando as portas da igreja se abriram lentamente que eu percebi a presença inesperada de alguém. Samantha entrou, sua figura se destacando com uma presença quase etérea. Ela estava vestida com um elegante vestido azul escuro que abraçava suas formas de maneira sofisticada, e seus cabelos estavam maios lisos, escorridos, mas bem alinhados na altura dos ombros, um pouco maior de quando a conheci, há um mês atrás. Alguns fios caindo suavemente ao redor do rosto. Seus olhos, decididos e brilhantes, refletiam uma determinação que eu não via há algum tempo. O vestido, que tinha um caimento impecável, caía delicadamente até os joelhos, e seus passos eram firmes e precisos, traçando um caminho direto até onde estava. Esperando-a, aguardando que o meu coração desse uma trégua antes de voltar com a respiração normal. O impacto da sua presença causava-me um efeito quase que hipnotico. A luz filtrada pelas janelas da igreja lançava um brilho suave sobre ela, fazendo com que sua aparição se destacasse ainda mais. Os passos de Samantha ecoavam pelo silêncio, e o som dos seus saltos no piso de pedra parecia amplificado. Ela se movia com uma confiança inabalável, e eu me vi involuntariamente envolvido na aura que ela carregava. Quando ela chegou perto o suficiente, o olhar dela era fixo, sem hesitação. Eu estava próximo ao púlpito, observando enquanto ela se aproximava com um propósito claro. A princípio, eu não consegui evitar o choque ao ver a audácia dela em se dirigir diretamente a mim, especialmente em um local tão sagrado e deserto. As portas da igreja se fecharam atrás dela com um som quase imperceptível, mas que para mim parecia estrondoso. A olhava com uma mistura de surpresa e apreensão. Havia uma determinação em seus olhos que eu não conseguia ignorar. Muito menos desviar. — Samantha — comecei, tentando manter minha voz firme e controlada — o que faz aqui? Não é dia de missa, e eu não esperava sua visita. Ela não se deixou abalar pela minha pergunta. Em vez disso, deu um passo à frente e, com uma confiança tranquila, respondeu: — Padre Vergas, precisava falar com o senhor. Não é apenas uma visita social, é algo importante. Tenso franzi a testa, sentindo o peso das palavras dela e o impacto que isso tinha sobre meu corpo, alma e mente. O tom dela era sério, e a sua presença, ao invés de me proporcionar uma sensação de calma, aumentava a inquietação que eu sentia desde a última vez que a vi. — Por que decidiu vir aqui agora? — perguntei, tentando entender o que poderia ter motivado essa visita inesperada. Samantha olhou para mim com uma intensidade que fez meu coração acelerar. Sua expressão era uma mistura de determinação e uma leve tristeza, como se o peso do que ela estava prestes a dizer fosse um fardo que ela estava disposta a carregar. — Padre, não posso mais esperar. Eu sei que o senhor tem se afastado, mas preciso entender o que está acontecendo. Não compreendo o que pode ter acontecido entre nós para causar esse esfriamento, esse distânciamento está me matando por dentro, sinto que há algo que precisa ser resolvido. — Ela fez uma pausa, como se ponderasse sobre suas próximas palavras. — A sua presença tem sido fundamental na minha vida, desde que cheguei nesta cidade, e não posso simplesmente ignorar isso. Não posso permitir que essa distância se estabeleça sem tentar pelo menos entender o porquê. O verdadeiro motivo por trás disso. As palavras dela ressoaram no espaço silencioso da igreja, e eu senti uma mistura de confusão e ansiedade. O silêncio que se seguiu ao seu discurso parecia carregado de tensão. Sabia que precisava lidar com a situação com cuidado, especialmente considerando o papel que eu desempenhava e as regras que eu precisava seguir. Continua...
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