Capítulo 9

1721 Words
Padre Vergas Durante semanas, me esforcei para não pensar em Samantha Cruz. O calor da sua presença, os olhos azuis que me perturbavam, e a inquietação interna que ela provocava, tudo isso parecia estar começando a se dissipar. A rotina do trabalho na paróquia e as responsabilidades diárias ajudavam a me distrair. Com bastante esforço e disciplina consegui manter a mente ocupada com as questões espirituais e administrativas da igreja. No entanto, toda essa paz aparente foi quebrada assim que ela apareceu na missa do domingo à noite. A casa de cristo estava bem iluminada, o ambiente suave e acolhedor, com os paroquianos reunidos para o culto. Estava no meio da celebração, conduzindo os rituais e tentando focar na palavra de Deus, quando minha atenção foi abruptamente desviada. Entre a multidão de fiéis, avistei Samantha entrando. Ela estava radiante, vestida com um elegante vestido azul que realçava a sua beleza e a fazia parecer ainda mais encantadora. A visão dela me atingiu como um golpe inesperado. Era como se todo o progresso que eu havia feito em esquecer a presença dela desmoronasse instantaneamente. Eu a vi caminhando pela igreja com um sorriso tranquilo, e, mesmo em meio à adoração e aos cânticos, tudo ao redor parecia desvanecer. Era apenas ela e eu, lutando contra a força de uma atração que eu não conseguia controlar. Samantha se sentou em um banco próximo ao altar, e eu tentando me concentrar nas palavras da missa. Mas, cada vez que desviava o olhar para ela, a visão dela me envolvia de uma forma irresistível. Constantemente me esforçava para manter a compostura, rezando para que a cerimônia passasse rapidamente e eu pudesse me afastar daquela tentação. Enquanto a missa prosseguia, o esforço para não sucumbir aos meus pensamentos se tornou quase insuportável. Cada movimento dela, cada gesto sutil, parecia amplificado em minha mente. Eu sabia que não devia sentir o que estava sentindo, que a lubricidade era um obstáculo para minha vocação. Mas a atração e a frustração lutavam para se manifestar, desafiando o autocontrole que eu tinha tentado construir. Após a cerimônia, ficou bem evidente que a presença dela não era uma simples coincidência. Ela havia vindo especificamente para se confessar, e isso trouxe uma nova dimensão à minha luta interna. Samantha A igreja estava silenciosa, envolta na penumbra suave das luzes e no aroma do incenso que preenchia o ar. Caminhei com passo firme em direção ao confessionário, meu coração batendo acelerado. O peso da confissão que eu estava prestes a fazer era bastante considerável, e a atmosfera ao redor parecia refletir a gravidade do momento. Quando entrei no confessionário, o Padre Vergas estava sentado atrás da tela, o seu semblante sempre sereno e inabalável. Respirei fundo, tentando acalmar a inquietação que sentia, comecei a falar. — Padre Vergas, venho para me confessar — minha voz era firme, mas havia um toque de nervosismo. — Fale, minha filha — respondeu ele, a voz dele transmitindo calma e uma autoridade reconfortante. Por um instante hesitei, tentando encontrar as palavras certas. A situação era delicada, e a tensão dentro de mim poderia deixar que cada palavra parecesse um peso. Sabia que precisava falar, mas a forma como o faria era crucial. — Estou enfrentando uma situação complicada — comecei, a voz tremendo um pouco. — Há uma pessoa na cidade que é muito querida por todos, e eu me vejo envolvida em uma situação onde meus sentimentos em relação a essa pessoa estão me causando confusão. Não sei bem como lidar com isso. O silêncio no confessionário era profundo, quase como se pudesse pegá-lo. O Padre Vergas aguardava, sua presença tranquila contrastando com a tempestade interna que eu sentia. — É importante compreender que sentimentos são uma parte natural da nossa experiência humana — disse ele, a voz carregada de uma seriedade que revelava a importância do momento. — No entanto, também é crucial como lidamos com esses sentimentos e como eles impactam nossa vida e nosso comportamento. — Eu sei — respondi, tentando articular meus pensamentos com clareza. — Esses sentimentos têm me confundido, e eu não consigo entender como eles se encaixam com o que eu acredito ser certo. Eles estão me afetando de uma maneira que eu não esperava. — A confusão é uma parte natural do processo — disse o padre, seu tom tranquilizador. — O primeiro passo é reconhecer e entender esses sentimentos. O segundo é buscar uma forma construtiva de lidar com eles. Às vezes, isso pode significar afastar-se de uma situação que está gerando essa confusão, ou buscar uma orientação mais profunda. — Eu tenho tentado seguir esse conselho, mas é difícil quando a pessoa em questão está tão presente na minha vida cotidiana — eu disse, sentindo uma agitação crescente. — O que devo fazer quando é difícil separar meus sentimentos da minha vida diária? — O desafio é grande, mas há caminhos que podem ajudar — respondeu o padre, sua voz refletindo uma compreensão profunda. — Você pode encontrar paz através da oração, da reflexão e da busca por conselhos sábios. Além disso, é importante manter a perspectiva e não deixar que seus sentimentos dominem suas ações ou decisões. — Eu entendo, padre. — Eu disse, tentando absorver a orientação. — Às vezes, parece que as emoções podem obscurecer o julgamento, e é difícil encontrar uma maneira clara de seguir em frente. — É exatamente por isso que a reflexão e a orientação são tão importantes — disse ele, a voz carregada de empatia. — Permita-se tempo para processar e entender seus sentimentos, e não se apresse em tomar decisões. Confie que, com o tempo, a clareza virá. Assenti, sentindo uma mistura de alívio e tristeza. A conversa havia sido difícil, mas também esclarecedora. O padre havia oferecido uma perspectiva que, embora não resolvesse imediatamente meus dilemas internos, proporcionou um alívio importante e uma sensação de direção. — Agradeço pela sua orientação, padre — disse-lhe, com um tom de gratidão. — Eu precisava ouvir isso e entender melhor como lidar com o que estou passando. — Continue buscando orientação e força em sua jornada — respondeu o padre, sua voz agora mais suave, mas ainda imbuída de uma seriedade atenta. — E lembre-se de que você não está sozinha nessa jornada. Padre Vergas O sol estava baixo no horizonte, lançando uma luz dourada sobre a pequena cidade. Eu me encontrava na paróquia, tentando manter minha mente ocupada com os deveres diários, mas os pensamentos de Samantha não me deixavam em paz. Desde nossa última conversa no confessionário, o desejo de me afastar e permitir que ela resolvesse seus sentimentos em seu próprio ritmo era forte, mas a curiosidade persistia. A decisão de manter distância foi minha tentativa de respeitar sua vida e suas escolhas. Eu sabia que a última coisa que ela precisava era da minha presença constante, interferindo em sua vida pessoal. No entanto, a curiosidade me puxou de volta para ela, e eu me vi seguindo um caminho que não deveria percorrer. Foi um esforço consciente manter minha presença oculta. As sombras das tardes eram meu esconderijo, me movia discretamente pelas ruas, sempre atento para não ser visto. Meu coração batia acelerado cada vez que a avistava, e o impulso de proteger e, ao mesmo tempo, me distanciar de sua vida me fazia sentir uma complexidade emocional que lutava para compreender. Hoje, observei Samantha ao longe, da entrada da floricultura onde trabalhava. Seus movimentos eram graciosos, e ela parecia estar tranquila, ocupada com as tarefas do dia. No entanto, algo me surpreendeu. Notei que, ao contrário do que eu esperava, ela não conversava com nenhum homem, e não parecia receber visitas regulares em sua casa. A rua estava viva com a movimentação habitual da cidade, mas sempre que podia mantinha meus olhos fixos nela. A cada interação com clientes ou conhecidos, ela demonstrava uma cordialidade e uma eficiência que me fazia admirar ainda mais a sua dedicação. Não havia sinais de que ela estivesse envolvida com ninguém, e isso, paradoxalmente, causou em mim uma sensação de alívio misturada com uma inquietação persistente. Eu a vi sair da floricultura ao entardecer, caminhando com um passo tranquilo em direção a sua casa. Decidi acompanhá-la à distância, procurando entender mais sobre sua rotina. A distância me permitiu observar sem interferir, e o caminho até sua casa parecia ser uma rotina simples e solitária. O que mais me impressionava era o fato de que, apesar de sua aparência encantadora e da atenção que recebia de alguns, sua vida social parecia restrita. A noite caiu, e eu me escondi nas sombras próximas à sua casa. A tranquilidade do lugar parecia contrastar com a agitação interna que eu sentia. A cada minuto que passava, o desejo de me aproximar e confrontar os meus próprios sentimentos se tornava mais forte. Contudo, sabia que qualquer ação precipitada poderia complicar ainda mais as coisas. Observando a distância, me perguntei diversas vezes se ela estava realmente feliz ou apenas seguindo uma rotina sem grandes variações. Havia algo de solene e, ao mesmo tempo, irrequieto em sua solidão aparente. Me perguntava se ela estava lidando com seus sentimentos como dissera, ou se havia algo mais que eu ainda não conseguia compreender. Ao longo da noite, continuei a observá-la, através da janela aberta de sua sala, via-se os pequenos detalhes de sua vida cotidiana. À medida que o tempo avançava e a cidade se acalmava, uma sensação de tristeza e de impotência me envolvia. Sentia-me como um espectador de uma peça que eu não podia alterar, mas cujo enredo me afetava profundamente. Finalmente, após um longo período de observação, decidi me afastar. O que eu havia aprendido era que, apesar de minha tentativa de manter distância e permitir que Samantha vivesse sua vida, a agitação que sentia continuava. A curiosidade e o desejo de proteger a pessoa que, de algum modo, havia capturado meu coração me mantinha em um estado de constante vigilância. Sabia que precisava encontrar uma maneira de lidar com esses sentimentos sem comprometer o bem-estar de Samantha ou a minha própria integridade. Enquanto me afastava da casa dela, a solidão da noite parecia refletir a minha própria luta interna. A decisão de permanecer distante era a mais responsável, mas a aflição de estar perto dela, de compreender sua verdadeira situação, permanecia um desafio constante.
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