Aniversário

1076 Words
**Zara** Escuridão. Tudo que eu via era escuridão, era tão bom simplesmente flutuar no nada, sentir o meu corpo livre e sem dor. Eu me sentia acolhida no nada, a minha mente tranquila como se nada mais pudesse me atingir. Se isso fosse minha morte, eu estava feliz, ali não tinha dor, na verdade, não tinha nada, apenas a doce paz da não existência. Era o que eu pensava, mas eu sentia, mesmo na escuridão, algo me atraindo, era como se alguém tentasse me alcançar. Eu me assusto, não queria voltar para a dor, ali estava tão bom, ninguém podia me encontrar ali. Se eu voltasse, James voltaria a me bater de novo, e desta vez eu sabia que ele me mataria por tê-lo desrespeitado. Mas essa consciência que me atraía era mais forte do que eu, e mesmo que eu lutasse, sentia que ela invadia a minha mente lentamente. "Zara!" ouço uma voz desconhecida, aquilo me confunde, eu não sabia como ela conhecia o meu nome se estávamos no nada. "Zara, desperte!" insiste, mas eu não queria. Ali estava bom, não queria voltar a sofrer, e eu sabia que, se acordasse, era isso que aconteceria. "ZARA!" eu me assusto com o tom da voz, ela estava mais alta na minha cabeça, e o medo enche o meu corpo. "Você precisa acordar, Zara!" diz ela, mas posso sentir a preocupação na sua voz. "Eu não quero, aqui está tão bom", digo, mesmo sabendo que devia ser uma alucinação da minha cabeça. "Não se lembra que dia é hoje?" pergunta a voz, aquilo me deixa confusa. Desde que James havia me prendido, eu não tinha contado os dias, então não fazia a menor ideia de que dia era. "Eu não sei", digo num fio de voz. "Ontem foi seu aniversário, Zara", diz ela animada, aquilo me deixa surpresa. Não sabia que o meu aniversário já tinha acontecido. "Isso não importa mais", digo a ela. Eu sabia que o meu fim estava chegando, então não fazia diferença se o meu aniversário já tinha passado. "Você não entende, agora eu posso te ajudar", diz ela animada novamente. Aquilo me deixa confusa, se tinha algo que eu sabia era que ninguém nunca vinha por mim, então o fato de uma voz na minha cabeça dizer que iria me ajudar era, no mínimo, cômico. Se eu conseguisse, teria rido. "Isso é impossível", digo a ela. "Não é, agora que estou livre posso te ajudar, finalmente." Aquilo chama a minha atenção, eu queria perguntar por que ela estava presa, mas não consegui. "Quem é você?" pergunto um pouco hesitante. "Eu sou sua loba, Nala." Aquilo me deixa surpresa por um segundo. "Eu tenho um lobo?" pergunto, em dúvida. "É claro que tem, Zara. Você não sentiu porque estava desacordada quando o seu aniversário aconteceu", explica ela com um tom de tristeza na voz. "Então podemos sair daqui!" digo a ela animada, finalmente eu poderia desaparecer daquele lugar, ir para bem longe, onde James jamais me encontraria. "Felizmente não", diz ela. "Por que não?" pergunto com desespero, eu não queria mais ficar ali, e sabia que a única chance que tinha seria quando tivesse o meu lobo, e agora ela estava me dizendo que não podia. "Não consigo me transformar, tem muito acônito no seu corpo, e ele impede a minha transformação, sem contar que você está muito fraca." Suas palavras abrem um buraco no meu peito, no final eu tinha lutado tanto para nada. No meio daquelas emoções conflitantes, eu desperto, o sol batendo forte no meu rosto, fazendo os meus olhos doerem. Eu só conseguia abrir um dos meus olhos e sabia que o outro devia estar inchado por causa dos socos de James. Olho em volta e me vejo na mesma posição de antes, as minhas mãos estavam com uma cor estranha e sabia que devia ser por terem ficado amarradas por tanto tempo. Sinto as dores voltando com tudo e trinco os dentes para conter um grito de agonia, não ia dar esse prazer a James. Eu sempre havia sido submissa, fazendo tudo que ele queria, e mesmo assim ele sempre me bateu e me humilhou. Já que eu iria morrer, morreria em silêncio, não dando a ele o prazer de me ver gritar. "Você não vai morrer, nós vamos sair dessa", diz Nala em minha mente. "Acho que você não entendeu ainda a nossa situação. Eu só lamento por você não poder conhecer mais do mundo", digo a ela. Eu também queria conhecer mais do mundo, mas nem sempre tínhamos o que queríamos. "Vamos sair daqui, eu sinto isso. Você só precisa ficar forte por mais um dia", responde ela. "Como tem tanta certeza disso?", pergunto, tentando entender de onde vinha a sua esperança. "Ele está vindo, Zara, posso sentir isso." Não pergunto quem era, nem ao menos acreditava direito que estava falando com ela. Tudo para mim era confuso naquele momento. — Ainda está viva. — diz a voz de James nas minhas costas. Sinto o medo tomar conta de mim novamente quando o ouço, mas me lembro que eu estava morrendo, então não precisava ter medo mais. — É uma surpresa que ainda esteja viva depois de tanto tempo, mas também é algo bom, assim posso me divertir com você mais um pouco. Eu detestaria que o meu brinquedo favorito se quebrasse. As suas palavras me causam repulsa, eu não entendia a fixação dele comigo e nem por que ele insistia em me espancar, mas essa era uma resposta que eu nunca teria dele. Ouço o barulho familiar do chicote sendo mergulhado em acônito. Ele devia saber que eu já tinha o meu lobo, mas, diferente de antes, aquilo não me assusta. Eu só queria descansar, e apenas a morte poderia me trazer esse descanso. No momento em que a primeira chicotada toca a minha pele, vejo a minha visão se turvar pela dor. Mordo os meus lábios, arrancando sangue para não gritar. — Vamos ver por quanto tempo você vai ficar em silêncio. — diz ele, voltando a me bater com o chicote. Eu podia ouvir o ódio na sua voz enquanto ele me batia, mas eu não podia gritar, ele não teria esse prazer. Podia ouvir a frustração em cada suspiro que ele dava, e aquilo me deu satisfação. Mas eu estava muito debilitada, já tinha perdido muito sangue, e não muito tempo depois, me perco novamente na escuridão, meu lugar preferido naquele momento.
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