**Fenrir**
Estava no meu escritório a examinar alguns documentos quando o meu beta, Ethan, entra, e, pela sua cara, eu sabia que não iria gostar do que ele ia dizer. Coloco os documentos de lado e encaro os seus olhos castanhos com ferocidade.
— Apenas diga — falo para ele. Vejo o seu desconforto com as minhas palavras, mas não posso evitar. Nos últimos dias, não tenho sido eu mesmo, e isso é algo que não consigo explicar.
— Queria apenas lembrar-te do teu encontro com o alfa James depois de amanhã. — Os meus olhos ficam frios. Eu odiava terrivelmente o alfa James. O homem era mesquinho e tratava o seu bando como se fossem seus súditos.
— Preciso mesmo de ir? — pergunto com os meus dentes trincados. A mera menção do nome dele fazia o meu lobo, Koda, rosnar de raiva, algo que eu também não entendia.
— Sim, alfa. Já cancelou os últimos encontros, não podemos cancelar este. — diz ele, coçando a cabeça. Suspiro, deixando-me relaxar na cadeira. Não adiantava chorar por algo que estava fora do meu alcance.
— Pergunto-me o que aquele i****a pode querer de mim. Ele, com certeza, não tem nada que eu queira. — digo, frustrado. Não era surpresa para ninguém o meu ódio pelo homem, e, à medida que os anos passaram, a minha aversão a ele apenas aumentou.
— Vai descobrir amanhã, quando viajar. — Olho para o meu beta e dou um sorriso. Vejo o seu rosto ficar branco; ele sabia o que eu diria.
— Vem comigo. — digo, olhando nos seus olhos.
— Qual é, Fenrir! — reclama ele, passando a mão pelos cabelos, frustrado.
— É bem simples, meu amigo. Sabe que não gosto dele, então o teu dever é impedir-me de matá-lo por me entediar com a sua conversa tola. — digo, levantando-me e saindo do meu escritório.
Caminho em direção ao meu quarto, entro e sirvo-me de um gole de whisky, indo até à sacada. Eu adorava aquela vista, podia ver todo o bando dali, já que a casa ficava mais alta que as outras. O meu bando era o segundo maior que existia, e eu orgulhava-me desse número. A alcateia Presa Branca crescia mais a cada dia, o que mostrava que eu estava a fazer um bom trabalho.
Termino a minha bebida e saio novamente. Nos últimos dias, Koda estava muito agitado, o que mexia com o meu humor, deixando-me mais stressado, então a melhor forma de conter isso era correr. Saio de casa e caminho em direção à floresta à minha frente. Era ali que eu me sentia em casa; poder correr pela floresta era reconfortante e nada me fazia sentir tão livre quanto isso.
Quando já estava bem dentro da floresta, retiro as minhas roupas, colocando-as num canto. Então, permito que Koda assuma o meu corpo. A mudança, para mim, não era difícil; aquilo fazia parte da minha essência, e só precisava pensar no meu lobo para que ele viesse à frente. Pouso nas minhas patas, sacudindo o meu pelo n***o, e disparo floresta adentro.
— O que te tem incomodado? — pergunto a Koda, depois de algum tempo.
— Eu não sei. — Aquilo confunde-me. Koda não era um lobo confuso, pelo contrário, ele sempre agia de forma fria e calculada.
— Algo não está certo — rosna ele, saltando de uma margem à outra do rio que cortava a alcateia.
— Não entendo o que quer dizer — digo-lhe.
— Também não sei, mas quando penso em James, uma ira sobe pelo meu corpo — diz Koda, rosnando. Eu entendia o que ele queria dizer. Também nunca havia compreendido aquilo direito. Nenhum de nós gostava do alfa da alcateia Eclipse.
Koda corre até à exaustão. Eu não o impeço, apenas permito que ele seja o animal que é. Podia sentir os seus sentimentos e entendia bem por que estava a fazer aquilo. Quando ele está bem cansado, decide voltar. Então, volto à minha forma humana e visto-me. Já estava escuro quando entro na casa da alcateia. Ethan esperava-me na sala, sentado no sofá.
— Demorou. — diz ele, com olhos preocupados. Eu sabia o que ele estava a pensar. Já tinha atingido uma idade perigosa para a alcateia e ainda não tinha encontrado a minha companheira, então todos se preocupavam que eu pudesse enlouquecer, algo em que eu não acreditava.
Havia muitas matilhas que enfraqueciam quando o alfa não encontrava a sua companheira, então os olhos de todos estavam sempre em mim. Em breve, faria trinta e dois anos, e a minha idade apenas atraía mais pessoas preocupadas com o futuro do bando.
— Koda estava stressado. Precisava acalmá-lo. — digo, sentando-me ao seu lado. Ele olha-me apreensivo.
— Tenho notado que não tem andado bem nos últimos dias. — diz ele em voz baixa.
— Eu sei. Há algo incomodando Koda, mas ele não sabe dizer o que é. — respondo, frustrado.
— O seu lobo está confuso? — pergunta ele, chocado. Ethan sabia que Koda era um lobo muito enérgico, então ouvir que ele estava em dúvida com algo não era um bom sinal.
— Sim. Desde que soube que tenho de encontrar James, anda agitado. — digo, frustrado.
— Isso não é bom. Se há algo em que confio, é no seu lobo. Acho melhor levar uma caravana maior para a alcateia Eclipse. — diz ele, pensativo.
— Ficarei feliz se providenciar isso. Eu realmente não sei se algo de bom sairá deste encontro. Koda odeia James. — digo a Ethan, e ouço Koda rosnar na minha cabeça. Aquilo estava a deixar-me louco. Ao menos, depois de amanhã, eu estaria lá e poderia ver o que estava de errado com aquele lugar.
— Vou tratar disso. Tenho algumas pessoas que serão de grande ajuda. — diz ele, olhando para mim. E sabia, pelo seu olhar, que não estava a levar essas pessoas por causa de um possível ataque, mas para que eu pudesse ser contido, se chegasse a esse ponto. Por isso, Ethan era o meu beta. Eu não precisava de dizer certas coisas para que ele as entendesse, e, nestes momentos, ele era sempre muito eficiente. Apenas esperava que os guerreiros que ele escolhesse fossem suficientes para me deter, se fosse o caso.