⚖️Capítulo 14⚖️

1124 Words
CAPÍTULO 14 | MIRELLA Estava completamente acabada, depois do que aconteceu com Caio. Cada músculo do meu corpo parecia pesado, como se a intensidade daquela noite tivesse me drenado por completo. O quarto ao meu redor girava devagar, com o calor ainda pulsando na minha pele, como um lembrete constante do que tinha acabado de acontecer. Nunca imaginei que perderia a virgindade desse jeito, sem toda aquela fantasia de romance que as pessoas insistem em contar. Na verdade, eu sabia que não ia ser assim. Sempre soube. A vida não é feita de promessas doces ou momentos idealizados. Não pra mim. Não pra alguém como eu, que cresceu vendo o mundo como ele realmente é. E eu não sou do tipo que fica esperando por um príncipe encantado. Sempre soube que, quando acontecesse, seria direto, sem firulas. E foi exatamente assim. Do jeito que eu precisava. O calor do meu corpo, ainda relaxado, confirmava que, no final das contas, eu tinha gostado. Gostei de como foi: sem enrolação, sem palavras bonitas que não significariam nada. Só nós dois, entregues ao momento. Foi real, cru, intenso... e, pra mim, isso já era mais do que o suficiente. Mas Caio me surpreendeu. Esperava que, depois de tudo, ele simplesmente se levantasse e fosse embora, como muitos fariam. Afinal, o que mais ele poderia querer? Mas ele não fez isso. Ele ficou ali, deitado ao meu lado, o braço jogado sobre mim, a respiração dele ainda se estabilizando. Eu sentia o peso daquele gesto, algo que eu não tinha previsto. Não era só o fato de ele ter ficado, mas o jeito como ele ficou. Sem pressa, sem palavras forçadas. O toque dele, que antes tinha sido intenso e urgente, agora era suave, quase cuidadoso. Isso me deixou meio confusa. — E aí, como é sua vida? — Caio perguntou, com aquele tom casual, como se a gente não tivesse acabado de t*****r com uma intensidade que fazia tudo parecer meio surreal. Eu suspirei, olhando para o teto. Minha cabeça ainda estava processando tudo, e agora ele queria conversar sobre a minha vida? Eu não sou exatamente o tipo de pessoa que se abre fácil, muito menos sobre esse tipo de coisa. Ainda mais quando eu sei o que significaria pra ele se soubesse quem eu realmente sou. Filha do dono do morro, crescendo no meio de tudo isso, com gente à minha volta que pensa que eu sou inalcançável ou que devo satisfação sobre tudo. — Minha vida é normal... ou tão normal quanto pode ser — murmurei, meio sem graça, tentando desviar da conversa. Ele deu um sorriso de canto, como se percebesse que eu não queria me aprofundar muito. Mas claro, ele não parou por aí. — Normal? Tipo, normal como? — Caio continuou apoiando a cabeça na mão, os olhos fixos em mim, claramente curioso. — Você trabalha? Estuda? Revirei os olhos internamente, mas tentei manter a postura relaxada. — Estudo, faço faculdade... — respondi, sem muitos detalhes, esperando que isso fosse suficiente. — Ah, que legal. E você mora sozinha ou com a família? — Ele continuou, aparentemente interessado. Eu respirei fundo, já sentindo que ele estava entrando em território que eu preferia evitar. — Moro com a família. — Me limitei a essa resposta, querendo cortar o assunto ali. Eu sabia onde isso podia dar, e sinceramente, não queria começar a falar sobre o fato de que meu pai é o dono do morro e que a gente não vive exatamente uma vida comum. Ele pareceu perceber que estava mexendo em algo delicado, mas, mesmo assim, continuou. — E sua família, o que faz? — ele perguntou, mais uma vez com aquela curiosidade que, para mim, já estava passando dos limites. Eu senti uma leve tensão subir pelo meu corpo. Não era raiva, mas aquele incômodo crescente de quem sabe que o outro está tentando cavar demais. — Faz o que pode, como todo mundo — respondi seca, virando o rosto pra ele e deixando claro que o assunto estava encerrado. Caio percebeu o corte. Ele deu um pequeno sorriso, balançando a cabeça como se entendesse, e não insistiu mais. Agradeci mentalmente. Ele sabia a hora de parar. Mesmo que eu sentisse que ele estava querendo saber mais do que devia, não tinha me incomodado ao ponto de querer expulsá-lo. Ao menos ele respeitava quando eu colocava um limite. — Vem, vamos tomar um banho — ele sugeriu, quebrando o silêncio com uma suavidade que me surpreendeu. Eu pensei em negar, mas a ideia de água quente relaxando o corpo e apagando o cansaço parecia boa demais para recusar. Caio se levantou primeiro, estendendo a mão para mim, e por um segundo, eu hesitei. Não esperava que ele fosse tão atencioso depois de tudo. Sem pressa, peguei a mão dele e o segui até o banheiro. A água começou a correr, enchendo o ambiente com o som suave do chuveiro. Quando a água tocou minha pele, eu senti o calor imediato relaxando meus músculos. Caio entrou atrás de mim, a água escorrendo pelo seu corpo, e, sem dizer nada, ele pegou o sabonete, ensaboando suas mãos devagar antes de começar a esfregar minhas costas com cuidado. Não era o toque que eu esperava. Foi suave, quase carinhoso. Ele começou devagar, subindo pelos meus ombros, depois descendo pela cintura, sempre atento a cada detalhe, como se quisesse me cuidar de uma forma que eu não estava acostumada. — Relaxa, Mirella — ele murmurou, a voz baixa, quase um sussurro. E, pela primeira vez em muito tempo, eu consegui relaxar. As mãos dele se moviam com uma leveza que me surpreendeu. Ele não estava com pressa, nem com segundas intenções. Apenas cuidando, como se soubesse que eu precisava daquele momento de calma depois da intensidade de tudo que aconteceu. Fechei os olhos, me deixando levar pela sensação de cuidado, algo que, sinceramente, eu não esperava dele. — Tá melhor assim? — ele perguntou, com um sorriso suave na voz. — Tá — respondi, sem pensar muito, ainda com os olhos fechados. Depois de um tempo, trocamos de lugar. Eu me virei para ele, e dessa vez, fui eu quem o esfregou. Não tinha mais pressa. O toque era leve, e o silêncio entre nós parecia mais confortável agora. Não precisávamos de palavras. O simples ato de estar ali, sob a água quente, dividindo aquele momento de carinho, era o suficiente. Quando terminamos, nos enxugamos sem dizer muito. Ele ainda mantinha aquele sorriso discreto no rosto, como se soubesse que tinha quebrado algo dentro de mim, mas sem alarde. Eu podia sentir que ele queria mais, queria saber mais, mas, por enquanto, ele respeitava meus limites. E isso, para mim, era o que importava.
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