Capítulo 15 | Daisy
Voltar pra casa nunca foi uma sensação boa. Toda vez que eu passava pela porta, sentia aquele cheiro velho de lugar que não mudava, como se o tempo tivesse parado ali. E pra piorar, tinha Eloá. Minha irmã, a boa moça, a santa. Ela sempre foi a queridinha da família, a que fazia tudo certo, enquanto eu? Eu era o problema, o peso, o erro. E quer saber? Eu nem ligo. Pelo menos, é o que eu digo pra mim mesma.
Quando entrei, a casa estava quieta, mas eu sabia que ela estava lá. Ela sempre estava, aquela presença insuportável. Subi as escadas, minha cabeça cheia dos meus próprios pensamentos, ainda remoendo tudo que Caio tinha dito. A ideia de destruir Lucas e Mirella me enchia de uma satisfação amarga. Eu queria ver aquela família arruinada, e ajudar Caio nisso era como um presente. Mas antes que eu pudesse focar no plano, tinha que lidar com o inferno de ter Eloá no meu caminho.
Quando abri a porta do meu quarto, lá estava ela, arrumando a cama que eu m*l tinha desfeito.
— O que você tá fazendo aqui? perguntei, minha voz carregada de irritação.
Ela olhou pra mim com aquele olhar de santa que sempre me dava nos nervos. Sério, como ela conseguia ser tão insuportavelmente boa?
— Só estou tentando deixar as coisas em ordem, Daisy. Você está sempre bagunçando tudo.
— Eu não pedi a p***a da sua ajuda — rosnei, entrando no quarto e empurrando ela pra longe da cama.
Eloá suspirou, aquele suspiro que parecia dizer que ela sempre sabia o que era melhor. Como se eu fosse uma criança e ela, a mãe perfeita.
— Você nunca pede ajuda, Daisy. Mas claramente precisa.
— Cala a boca, — murmurei entre dentes, o sangue começando a ferver. Ela não tinha noção do quanto me irritava. Sempre julgando, sempre agindo como se fosse a dona da razão. — Você acha que é melhor do que eu, né? Sempre foi assim. A filhinha perfeita, a boa moça. Mas sabe de uma coisa, Eloá? Eu odeio essa sua cara de santa.
Ela me olhou de novo, mas dessa vez o olhar foi de pena. Pena. Como se eu fosse alguém digno de dó.
— Eu não acho que sou melhor do que você, Daisy. Só acho que você pode ser melhor.
Essa foi a gota d'água. O tapa que dei nela foi tão rápido que nem eu esperava. Minha mão acertou o rosto dela com um estalo alto, o corpo dela se virando com o impacto. Ela caiu no chão, segurando a bochecha, os olhos arregalados de surpresa. Eu sentia o peito subir e descer rápido, o ódio pulsando em cada parte do meu corpo.
— Nunca fala comigo como se você soubesse o que é melhor pra mim! — gritei, meu corpo tremendo de raiva.
Ela ficou no chão por alguns segundos, o choque visível nos olhos dela. E então, aos poucos, ela foi se levantando, a mão ainda no rosto. Mas em vez de reagir, em vez de gritar de volta, ela simplesmente me olhou com aquela mesma expressão de sempre. Como se ela fosse a vítima, e eu fosse o monstro.
— Você sempre reage assim, Daisy. Sempre com ódio, sempre com violência. É por isso que tá nessa situação.
— Cala a boca! — rosnei, querendo acertar ela de novo, mas me segurando.
Eu odiava a Eloá. Odiava a forma como ela sempre me fazia parecer a vilã. Como ela conseguia ser tão calma, tão superior, enquanto eu estava à beira do caos?
Ela me olhou por mais alguns segundos, mas não disse mais nada. Simplesmente saiu do quarto, a mão ainda no rosto, como se eu tivesse acabado de provar o ponto dela. E talvez tivesse.
Fechei a porta com força e me joguei na cama, o coração ainda disparado. A verdade é que eu odiava aquela sensação. Odiava o fato de que, por mais que eu quisesse, não conseguia controlar o ódio que sentia. Eloá sempre sabia como apertar os botões certos, e eu sempre caía. Sempre.
Fiquei ali, deitada, encarando o teto, tentando acalmar a respiração. Meu rosto ardia de raiva, mas eu sabia que não adiantava ficar pensando nisso. Tinha coisas maiores em jogo agora. Coisas mais importantes do que as brigas com Eloá.
Meu celular vibrou em cima da cama, e quando olhei, vi que era uma mensagem de Caio.
— Precisamos conversar sobre o futuro.
A mensagem fez o sangue voltar a correr rápido pelas minhas veias, mas dessa vez, não de raiva. Era a adrenalina da expectativa. O futuro? O futuro era destruir a vida da Maju, do Fantasma, de toda a família deles. E Caio estava me dando a chance de fazer parte disso.
Sorri, um sorriso amargo, pensando em tudo que estava por vir. Lucas... ele seria o primeiro. Eu ia brincar com ele antes de destruir a vida dele de vez. E depois? Depois, a Mirella seria quebrada. Caio sabia o que queria, e eu sabia que estava mais do que pronta pra ajudar.
Respirei fundo, o ódio ainda latente em cada célula do meu corpo, mas dessa vez, canalizando pra algo muito maior.
A mensagem de Caio era o sinal de que as coisas estavam começando a se mover. E eu estava pronta pra entrar de cabeça nisso.
O que ele tinha em mente sobre o futuro? Eu m*l podia esperar pra descobrir.