Capítulo 12 | Maju
Quando me disseram que a Daisy tinha sido solta, eu fiquei preocupada não vou mentir, aquela mulher não era de confiança e depois do que fizemos para dificultar a vida dela na prisão eu sabia que ela poderia querer se vingar. Tudo voltou com uma força que eu não estava preparada para lidar. Eu achei que a prisão dela fosse se prolongar e ela não sairia tão cedo, apesar que ela ficou muito tempo presa. Mas agora? Agora parecia que o universo estava me torturando. Primeiro, o fantasma do Rafael. Agora, Daisy livre, solta, pronta para se vingar a qualquer momento. O que mais faltava acontecer?
— Como assim ela foi solta? — perguntei, com a voz preocupada, enquanto segurava o telefone com força. — Isso não faz sentido, ela deveria estar na cadeia!
A secretária do fórum me deu uma explicação burocrática, mas eu m*l ouvi. Minha cabeça girava, o coração disparado. Daisy era perigosa, uma cobra disfarçada de mulher. Eu sabia que ela não ia parar até causar mais confusão. E agora, ela estava livre pra fazer o que quisesse.
Desliguei o telefone e me joguei na cadeira do meu escritório, tentando recuperar o fôlego. Eu não conseguia pensar direito. O que eu tinha feito pra merecer isso? Primeiro Rafael, agora Daisy... parecia que o passado estava voltando com força para me destruir.
Respirei fundo, tentando manter a calma, mas foi inútil. Quando levantei os olhos, meu corpo congelou. Lá, na recepção, parado como se estivesse esperando por mim, estava o Rafael. Ele. O homem que eu matei. Com as mãos nos bolsos, me encarando com aquele olhar vazio, sem vida.
A respiração saiu em ofegos, o peito apertado. Era impossível. Rafael estava morto. Eu sabia que estava. Mas por que ele continuava voltando? Por que parecia tão real?
— Rafael? murmurei, m*l conseguindo ouvir minha própria voz.
Ele não se mexeu. Apenas me olhava, parado, imóvel, como uma sombra de tudo que eu tinha deixado pra trás. Foi nesse momento que o pânico tomou conta de mim. Eu gritei, o som ecoando pelo escritório, e saí correndo. Não olhei para trás, não queria ver se ele ainda estava lá. Eu só precisava fugir, sair dali o mais rápido possível.
Desci as escadas em disparada, quase tropeçando nos degraus, o coração batendo tão forte que parecia que ia explodir. Quando cheguei na rua, o ar quente me atingiu como um tapa, mas não foi o suficiente para me fazer parar. Continuei correndo até chegar no meu carro. Entrei nele, as mãos tremendo tanto que m*l consegui ligar o motor.
Quando finalmente consegui dar a partida, eu dirigi sem rumo, as ruas da cidade passando borradas pelas lágrimas nos meus olhos. Eu precisava sair dali, precisava ficar longe. Tudo dentro de mim gritava que algo estava muito errado, que eu não podia mais aguentar isso. Daisy solta. Rafael me assombrando. O que mais o universo ia jogar na minha cara?
Foi então que quase causei um acidente.
Eu estava tão perdida nos meus pensamentos, tão presa ao medo e ao desespero, que nem percebi o semáforo vermelho. Quando olhei para frente, um carro vinha na minha direção. Buzinas, gritos... eu consegui desviar no último segundo, mas o susto foi tão grande que tive que encostar o carro na calçada e respirar. Meu corpo inteiro tremia, o suor escorrendo pela testa. Eu quase matei alguém. Ou quase morri. E tudo por causa desse inferno que minha vida tinha se tornado.
Fechei os olhos, tentando controlar a respiração. Mas nada parecia ajudar. Tudo o que eu via quando fechava os olhos era o rosto de Rafael, e tudo que eu sentia era o medo de Daisy estar à solta, pronta pra fazer alguma coisa. Eu não podia continuar assim. Eu precisava de ajuda.
Eu fechei os olhos quando escutei alguém falar comigo, era um dos vapores do Fantasma, mas o que ele está fazendo aqui?
Me seguindo?
— Dona Maju, tá tudo bem? — ele perguntou, preocupado.
Eu balancei a cabeça, incapaz de responder. As palavras simplesmente não saíam. Eu estava em choque, completamente fora de mim.
— Vamos te levar pra casa.
Ele entrou no carro com mais quatro vapores e dirigiu até o morro no meu lugar, o caminho parecendo mais longo do que nunca.
Quando cheguei lá, ele e mais dois vapores me ajudaram a sair do carro e, antes que eu percebesse, eu já estava dentro de casa. O lugar que normalmente me trazia conforto agora parecia vazio, frio. Me joguei no sofá, as mãos ainda tremendo, o corpo inteiro descompassado.
— O patrão já está descendo, estamos lá fora se precisar.
Eu fiquei ali, parada, sem conseguir pensar em nada que não fosse o que tinha acontecido. Daisy livre, Rafael na recepção, o quase acidente... parecia que tudo estava desmoronando.
Quando Fantasma chegou, eu sabia que não dava mais para segurar. Ele me olhou com aquela preocupação no rosto, o olhar atento, tentando entender o que estava acontecendo. Eu sabia que ele estava preocupado, que ele já vinha suspeitando que algo estava errado há dias. Mas agora, finalmente, eu não tinha mais como esconder.
— Maju, o que aconteceu? — Ele veio até mim, se ajoelhando na minha frente, segurando minhas mãos, como sempre fazia quando queria me acalmar.
As palavras ficaram presas na minha garganta por um segundo, mas, finalmente, elas saíram.
— Eu... eu não tô bem, Leandro.
Ele me olhou nos olhos, tentando entender o que aquilo significava.
— Daisy... Daisy foi solta. E...
— Meu amor a Daisy é uma coitada. Não precisa ficar desse jeito.
— Eu ....
Minha voz falhou. Como eu ia dizer pra ele que estava vendo Rafael em todo lugar? Que o homem que eu matei não saía da minha cabeça? Que eu não sabia mais o que era real e o que era imaginação?
— Eu vi o Rafael.
O rosto do Fantasma ficou tenso, os olhos se arregalaram por um segundo, antes de ele tentar disfarçar a reação. Ele ficou em silêncio, me observando com atenção, esperando eu continuar.
— Eu vi ele. No escritório. Eu sei que ele tá morto, mas... mas ele estava lá. Eu gritei. Corri. E depois quase causei um acidente.
As palavras saíram de uma vez, como se eu tivesse segurado isso por tanto tempo que agora era impossível conter. Eu não conseguia mais fingir que estava tudo bem. Não conseguia mais esconder o medo, o desespero, a confusão.
Fantasma continuou segurando minhas mãos, os olhos fixos nos meus. Ele era o único que sempre conseguia me acalmar, mas agora... agora nem ele parecia ter as respostas.
— Maju... a gente vai resolver isso, — ele disse com a voz baixa, mas firme. — Vamos descobrir o que tá acontecendo. Eu tô aqui com você, sempre.
Eu sabia que ele ia me ajudar, mas a verdade é que nem eu sabia o que estava acontecendo. Daisy estava solta, pronta pra atacar. E Rafael... Rafael não me deixava em paz. Eu não sabia o que era real, o que era fruto da minha mente, mas o que eu sabia era que isso não ia acabar tão cedo.
O olhar de Fantasma era de pura determinação, mas eu via a preocupação por trás. Ele sabia que a situação era muito pior do que eu estava deixando transparecer.
E eu... eu sabia que o pior ainda estava por vir.