⚖️Capítulo 18⚖️

1044 Words
Capítulo 18 | Maju Os últimos dias tinham sido surpreendentemente calmos . Depois de tudo que passei, era difícil acreditar que finalmente estava conseguindo respirar um pouco . Eu tenho muita sorte em ter o Leandro comigo, ele esteve do meu lado o tempo todo, e isso fez toda a diferença. Ele tinha essa habilidade de me manter centrada, de me fazer sentir que, apesar de tudo, eu ainda tinha controle . E, por mais que as sombras do passado ainda tentassem me agarrar, eu tinha começado a acreditar que estava, de fato, me recuperando e que tudo não passava de talvez um estresse ou algo do tipo, Rafael estava morto e não tinha como voltar e assim comecei a tentar voltar a minha rotina novamente. Voltar a trabalhar parecia o próximo passo lógico. Eu sentia que precisava sair de casa, voltar à rotina. O Leandro tinha sido cuidadoso, sempre me perguntando se eu estava pronta, mas eu sabia que ficar presa em casa só ia me fazer mergulhar ainda mais fundo nas minhas paranoias. Então, voltei ao escritório, me permitindo acreditar que talvez, só talvez, as coisas estivessem voltando ao normal cem por cento e aqui estava eu, tentando voltar ser a mulher maravilhosa de sempre. ( ... ) O dia tinha sido como qualquer outro. Reuniões, papéis espalhados pela mesa, telefonemas sem fim. E, embora eu ainda sentisse um certo peso nos ombros, era como se eu estivesse, aos poucos, retomando as rédeas da minha vida. Os pensamentos sombrios que me acompanhavam estavam aqui, sim, mas em segundo plano. Eu conseguia ignorá-los por mais tempo do que antes, e isso me dava esperança. Enquanto eu arrumava minhas coisas no final do expediente, senti um certo alívio. A calma que me envolveu nos últimos dias parecia estar persistindo. O ar condicionado do escritório soprava uma brisa suave, e por um momento, me permiti sorrir, algo que eu não fazia há semanas. Peguei a bolsa, desliguei o computador e saí em direção ao estacionamento, ansiosa para voltar para casa, onde meu amor me esperava. Eu simplesmente sou loucamente apaixonada pelo meu marido, mas com um homem como ele, quem não seria né? Enquanto descia pelo elevador, senti uma leve inquietação, mas ignorei. Era natural, certo? Eu ainda estava me recuperando, ainda havia cicatrizes que demorariam a desaparecer. Mas, mesmo assim, a ideia de ver o Leandro e deitar em nossos lençóis me dava uma sensação de segurança que eu não podia ignorar. Saí do elevador e caminhei em direção ao carro. O estacionamento estava vazio, como sempre era nesse horário. A luz fraca das lâmpadas de teto criava sombras alongadas, mas eu mantinha o foco. Minhas mãos procuraram as chaves dentro da bolsa enquanto eu me aproximava do carro, pronta para ir embora. Foi quando eu senti. Um arrepio subiu pela minha espinha, e antes que eu pudesse entender o porquê, ouvi uma voz, baixa e gutural, bem perto do meu ouvido. — "Você vai pagar por tudo, sua vadia." Meu corpo congelou no mesmo instante. O som da voz era quase inumano, cheio de ódio e rancor, como se viesse de algum pesadelo. Senti o chão sumir debaixo dos meus pés, e um pânico sufocante tomou conta de mim. Minhas mãos começaram a tremer, e o ar pareceu desaparecer ao redor. Eu queria me virar, queria ver quem estava ali, mas não consegui. Meu corpo simplesmente não respondia. Tudo o que consegui fazer foi olhar para o espelho lateral do carro, esperando encontrar um estranho. Mas o que eu vi me deixou completamente paralisada. No reflexo, o rosto que me encarava era o de Rafael. Porrä! Era o Rafael! Rafael! O mundo ao meu redor parou. Minha respiração ficou presa no peito, e o sangue nas minhas veias pareceu congelar. Ele estava ali, tão real quanto qualquer outra pessoa. O olhar fixo em mim, os olhos cheios de fúria e ódio, como se quisesse me arrancar a alma. Meu corpo inteiro tremia. "Isso não é real," tentei dizer a mim mesma, mas a visão de Rafael não desaparecia. Eu podia sentir sua presença, seu cheiro. O mesmo homem que eu matei, que deveria estar enterrado, estava aqui, ameaçando destruir tudo o que restava de mim. A realidade começou a se desintegrar. O estacionamento girava ao meu redor, as luzes piscavam, e meu coração batia tão forte que parecia querer explodir dentro do peito. O som da respiração pesada de Rafael ainda estava em meus ouvidos. Eu não conseguia escapar. Não conseguia me mover. E então, tudo ficou preto. ( ... ) Acordei com um som distante e uma sensação de algo úmido no rosto. Pisquei algumas vezes, tentando entender onde estava. Minha visão voltou lentamente, e quando olhei para cima, vi o rosto preocupado de uma colega de trabalho, Mariana, inclinada sobre mim. — Maju, tá tudo bem? Você desmaiou! Quer que ligue para o seu esposo? Seus filhos? Ela me ajudou a sentar no chão, ainda atordoada. O estacionamento estava exatamente como antes, calmo, silencioso. A visão de Rafael havia desaparecido, mas o pânico ainda queimava dentro de mim. — "Eu... eu vi ele," murmurei, sem conseguir explicar. "Rafael... ele estava aqui." Mariana me olhou com preocupação, passando a mão nas minhas costas, tentando me acalmar. — "Não tem ninguém aqui, Maju. Deve ter sido o estresse. Vem, vamos pra casa. Eu te levo. Você precisa descansar." Mas eu sabia o que tinha visto. Mesmo que Mariana tentasse me convencer de que era só coisa da minha cabeça, o medo ainda estava ali, agarrado em mim como um parasita. A voz de Rafael ainda ecoava na minha mente, aquele tom cheio de ódio. A imagem dele no espelho não ia embora. Eu não sabia mais o que era real ou não, mas uma coisa era certa: ele não ia me deixar em paz. Mariana me ajudou a levantar, e enquanto eu caminhava em direção ao carro, ainda trêmula, um pensamento claro se formou na minha mente. Isso não acabou. O pavor voltou a se instalar no fundo do meu estômago. E por mais que eu tentasse me convencer de que tudo não passava de uma ilusão, o rosto de Rafael continuava me assombrando. E dessa vez, eu não sabia se conseguiria escapar.
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