Capítulo 19 | Fantasma
Quando me passaram um rádio que a minha mulher tinha chegado no morro acompanhada não parecia estar bem, um sinal de alerta já acendeu. E quando a Maju entrou em casa naquela noite, eu soube que alguma coisa muito errada tinha acontecido. Ela tava pálida, os olhos arregalados como se tivesse visto um fantasma – o que, se fosse pela cabeça dela, provavelmente tinha. Eu larguei tudo que tava fazendo e fui até ela, mas antes mesmo de chegar perto, já dava pra ver que ela tava abalada além do normal.
— “Maju, o que aconteceu?” perguntei, mas ela não respondeu. Ela só balançou a cabeça, como se tentar falar fosse piorar tudo. Ela tremia de um jeito que eu nunca tinha visto antes, e isso me deixou em alerta máximo.
Eu levei ela até o sofá, a fazendo sentar devagar, enquanto tentava encontrar alguma resposta nos olhos dela. O que diabös tinha acontecido agora? Ela parecia pior do que nos últimos dias, e isso só me fazia pensar que as coisas estavam indo de mäl a pior.
— “Respira, mulher maravilha, respira.” Tentei usar o apelido que sempre trazia um sorriso ao rosto dela, mas dessa vez não funcionou. Maju olhou pra mim com um desespero que me fez sentir um nó na garganta.
Ela tentou falar algo, mas as palavras não saíram. Era como se tivesse perdido a voz de tanto pânico. Foi aí que eu soube: isso não ia se resolver só com palavras, nem com o meu apoio. Algo muito mais profundo tava acontecendo.
Depois de alguns minutos, ela finalmente murmurou:
— “Eu vi ele de novo, Leandro... o Rafael... ele tava lá. Ele disse que eu ia pagar por tudo.”
Me segurei pra não reagir imediatamente. Toda vez que o nome do Rafael saía da boca dela, parecia que a situação ficava mais séria. Eu sabia que o cara tava morto – fui eu quem garantiu isso, eu verifiquei porrä! Mas o fantasma dele continuava assombrando a Maju, e eu não tinha ideia de como lidar com isso. Mas porque só agora? Isso não estava certo! Eu ia resolver essa merdä ninguém mexe com a minha mulher ... a minha mulher maravilha!
Tentei manter a calma, porque perder a cabeça agora não ia adiantar. Mas por dentro, o sangue fervia. Quem, ou o que, tava mexendo com a minha mulher desse jeito?
— “Escuta,” eu falei, segurando as mãos dela com firmeza. “Rafael tá morto. Ele não pode te machucar mais, não pode tocar em você. Isso é coisa da sua cabeça, Maju. Mas eu vou descobrir o que tá causando isso. Eu juro.”
Ela só balançou a cabeça, como se não acreditasse em nada do que eu dizia. Aquilo me cortou. Eu sempre fui o cara que a acalmava, que trazia segurança, mas agora parecia que nem isso tava funcionando.
Foi quando eu decidi que era hora de chamar a Priscila.
Priscila era a única pessoa que talvez conseguisse penetrar essa barreira que a Maju tinha construído ao redor dela, por causa dessa situação. Elas eram amigas de longa data, e, além disso, Priscila tinha o conhecimento necessário pra ajudar. Ela era a psicóloga mais fodä que eu já conheci e já tinha visto muita coisa. Se alguém podia ajudar Maju a lidar com essa merdä, era ela. A Pri era zica! Ela ia me ajudar ver melhor e descobrir que porrä estava acontecendo!
Peguei o celular e mandei uma mensagem curta pra ela, pedindo que viesse o mais rápido possível. Enquanto esperava, olhei pra Maju de novo. Ela tava mais calma, mas ainda era evidente que o pânico não ia desaparecer tão cedo.
Pouco tempo depois, Priscila chegou. Ela veio direto pro lado de Maju, assumindo o papel de amiga e profissional ao mesmo tempo. Elas começaram a conversar em voz baixa, enquanto eu me afastava um pouco, dando espaço pra Priscilla tentar descobrir o que tava rolando.
Mas eu sabia que a conversa delas não seria o suficiente. Então, enquanto elas trocavam confidências, chamei Canivete pro meu escritório.
— “Eu preciso de respostas,” falei assim que ele entrou. “Maju tá vendo coisas, e eu quero saber se alguém tá tentando mexer com a cabeça dela. Tão tentando enlouquecer minha mulher porrä! E eu não vou deixar, não vou caralhö!”
Canivete, sempre sério e focado, me olhou com aquele jeito analítico de quem já viu muita merda acontecer no morro.
— “Você acha que tem alguém por trás disso?” ele perguntou.
— “Eu não sei, porrä! Se eu soubesse já tinha resolvido!” A raiva tava começando a me consumir, e eu precisava manter o controle. “Eu não sei o que pensar mais. Se é coisa da cabeça dela ou se alguém tá tentando deixar minha mulher louca, mas eu preciso descobrir. E rápido.E se for alguém vai se arrepender! Eu juro!”
Canivete assentiu, claramente levando tudo a sério. Ele sabia o que Maju significava pra mim, e sabia que eu não ia parar até entender o que tava acontecendo.
— “Já mandei gente vigiar ela, como você pediu. Ninguém viu nada estranho, Leandro. Tudo parece estar normal.”
Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago. Nada? Como assim ninguém tinha visto nada? Maju tava surtando, dizendo que viu o Rafael e que ele tava falando com ela, mas ninguém tinha percebido nada de errado?
— “Você tá me dizendo que tá tudo normal enquanto minha mulher tá desmaiando no estacionamento?!” Minha voz saiu mais alta do que eu esperava, e eu vi Canivete apertar a mandíbula.
— “Tô dizendo que, no que diz respeito à segurança, nada passou despercebido. Se alguém tá mexendo com a cabeça dela, é de uma maneira que não estamos conseguindo ver. Pode ser algo mais psicológico, ou alguém jogando sujo.”
Eu me afastei, respirando fundo, tentando não perder a cabeça de vez. Mas a verdade era que nada estava fazendo sentido. Se ninguém tinha visto nada, então o que diabos estava acontecendo com Maju? Eu conhecia minha mulher. Ela não era do tipo que se deixava abalar fácil, mas agora... agora ela tava quebrando, e eu não sabia como consertar isso.
— “Eu preciso de respostas, Canivete. E se ninguém tá vendo nada, a gente vai ter que cavar mais fundo.” Meu tom era definitivo. Eu não ia deixar isso passar.
— “Vou reforçar a vigilância, mas acho que tem algo além do que os olhos podem ver, Leandro.” Ele olhou diretamente pra mim. “Seja lá quem for, tá jogando sujo.”
Eu sabia disso. Sabia que algo muito maior tava por trás do que Maju tava passando. E se fosse psicológico? Talvez, mas eu não podia tirar da cabeça a possibilidade de que alguém estava mexendo com ela de propósito.
Quando voltei pra sala, vi que Priscilla ainda tava conversando com Maju, mas dava pra ver que ela tava perdida. Ela olhou pra mim de longe, e o olhar dela me dizia o que eu já sabia: isso não ia se resolver de forma simples.
Eu fiquei ali, de pé, observando as duas e sentindo o peso de tudo cair sobre mim. O nome de Rafael ainda ecoava na minha mente. O rosto dele, as palavras de Maju.
Seja o que fosse que estava por vir, eu sabia que ainda não tinha visto o pior.