CAPÍTULO 7 | FANTASMA
Nos últimos dias, eu vinha observando a Maju. Ela não tava bem, isso era óbvio, mas a questão era: por quê? Minha mulher nunca escondeu nada de mim. Desde o começo, a gente sempre foi sincero um com o outro, mas agora... agora ela tava se fechando. O que me preocupava mais não era o fato de ela estar agindo diferente, mas sim o motivo.
Ela estava distante, e dava pra ver nos olhos dela que alguma coisa tava pegando. Só que toda vez que eu tentava perguntar, ela disfarçava. Dizia que era só estresse, cansaço do trabalho. Só que eu conhecia ela bem demais pra saber que isso era mais do que uma semana puxada de trabalho. Tinha algo mais.
Na última vez que a gente conversou sobre o caso que ela pegou, eu já senti que ela tava mais tensa do que o normal. Esse processo novo envolvia gente perigosa, e eu sei que ela sabe se cuidar, mas isso não significa que eu não me preocupe. O tal do Carlos “Bicho” Miranda era um desgraçado sem escrúpulos. Já tentou f***r comigo antes, e agora que a Maju tá atrás dele, não me surpreenderia se ele tivesse mandado alguém fazer alguma coisa.
E se esse era o motivo para o jeito que ela tava? E se alguém tentou ameaçar ela por causa desse processo? O pensamento não saía da minha cabeça. E se Maju tivesse com medo e não quisesse me contar? Se ela tivesse tentando segurar a barra sozinha? Eu não podia deixar isso acontecer.
Eu não ia mais ficar esperando pra ver. Era melhor me antecipar. Se tinha alguma coisa errada, eu ia garantir que a segurança em torno dela estivesse reforçada. E se esse filho da p**a do Bicho tava por trás disso, ia se arrepender. Porque ninguém mexe com a minha mulher maravilha.
Peguei o celular e mandei uma mensagem pro Canivete, meu irmão e sub, desde que o Xamã foi comandar o morro que era do Alemão com a Lelê e o cara que eu sabia que ia fazer o que fosse necessário pra garantir a segurança dela.
— Encontra comigo na boca principal, preciso trocar uma ideia você.
Canivete era casado com a Pri, a melhor amiga da Maju e minha parceira também, a mulher é f**a de verdade. Isso significava que ele conhecia minha mulher quase tão bem quanto eu, e se alguém poderia ficar de olho nela sem ser invasivo, era ele.
Pouco tempo depois, Canivete chegou. Ele entrou no meu escritório sem enrolar, direto ao ponto, como sempre. Sentou na cadeira de frente pra mim e já mandou:
— Qual foi, Fantasma? O que tá pegando?
Eu respirei fundo e fui direto.
— Quero reforçar a segurança da Maju.
Ele arqueou as sobrancelhas, claramente surpreso.
— Ela tá com algum problema?
— Não sei, mas ela tá estranha. Tô achando que pode ser por causa desse caso novo. O cara que ela tá enfrentando não presta. O tal do Carlos Miranda. Pode ser que ela tenha sofrido algum tipo de ameaça e não tá me falando nada. E eu não vou arriscar. Quero mais segurança ao redor dela, mas sem que ela perceba muito. Discreto, entendeu?
Canivete balançou a cabeça, concordando, já puxando o celular pra anotar o que precisava.
— Entendido. Como você quer que eu faça?
— Mais gente em volta dela. Na rua, no morro, onde quer que ela vá. Ninguém chega perto dela sem você saber. Se alguém estranho aparecer, me avisa na hora.
Ele assentiu, já focado.
— Beleza. Vou aumentar a equipe em volta dela e reforçar as áreas que ela mais frequenta. Tudo discreto, ela não vai perceber, mas ninguém vai se aproximar sem a gente saber.
Fiquei mais aliviado ao ouvir isso, mas ainda tinha a questão do morro.
— E a segurança aqui no morro?
— Já aumentei o número de vigias, mas se você quiser, posso dobrar a segurança.
Eu pensei por um segundo e respondi:
— Dobra. Quero o morro fechado, Canivete. Qualquer movimentação fora do normal, qualquer boato, você me avisa.
Ele sorriu de leve, aquele jeito discreto dele, sabendo que eu não brincava quando se tratava da segurança da minha família.
— Pode deixar. Vou cuidar de tudo. Não vai passar nada.
Olhei bem pra ele, confiante. Se tinha alguém que podia segurar as pontas e garantir que nada de r**m chegasse perto da Maju, esse alguém era Canivete. Ele sabia o que fazer, e eu confiava nele de olhos fechados.
— Obrigado, irmão. Isso é importante pra mim. Não quero que nada aconteça com ela. Você sabe como eu amo essa mulher.
Canivete sorriu e se levantou, já pronto pra organizar tudo.
— Ela vai ficar bem, Fantasma. Pode contar comigo.
Quando ele saiu, fiquei parado na boca, olhando pela janela. A Rocinha, lá fora, era um caos organizado. Eu já tinha passado por muita coisa pra manter esse morro sob controle, já segurei as pontas em situações piores. Mas agora, o que tava em jogo era muito mais importante.
A Maju sempre foi forte, sempre segurou as broncas do trabalho dela com a mesma coragem que eu seguro o morro. Mas essa mudança nela... essa preocupação velada, esse medo que ela não falava... isso me deixava com a pulga atrás da orelha.
Ela tava se afastando, se distanciando, e isso nunca aconteceu antes. Algo estava acontecendo, algo que ela não queria me contar. E seja lá o que fosse, eu ia descobrir.
Passei a mão pela barba, pensando em tudo que poderia estar acontecendo por trás das cortinas. Será que ela tava sendo ameaçada? Será que esse Bicho sabia mais do que eu achava? Se ele tinha feito alguma coisa pra assustar a Maju, ia se arrepender amargamente. Porque eu ia matar ele sem pensar duas vezes.
Eu conhecia a minha mulher. E sabia que, por mais forte que ela fosse, algo estava abalando ela. E isso era o suficiente pra me deixar em alerta máximo.
A partir de agora, eu não ia esperar por respostas. A segurança dela tava garantida, mas minha cabeça não ia parar até eu entender o que tava realmente acontecendo.
Eu olhei pela janela uma última vez antes de sair da boca. O sol tava começando a se pôr, e o morro seguia seu ritmo. Mas eu sabia, no fundo, que algo estava por vir. E quando esse algo viesse, eu estaria pronto.
Se alguém ousasse ameaçar a Maju, ou os meus filhos, não teria chance. E eu faria o que fosse preciso pra proteger minha mulher e a minha família.