⚖️Capítulo 6⚖️

1004 Words
CAPÍTULO 6 | MAJU Eu sabia que precisava resolver isso, de algum jeito. Não dava mais para empurrar com a barriga. Cada vez que eu tentava ignorar, parecia que ficava mais forte, mais intenso. E agora, até o Fantasma estava inquieto, tentando entender o que estava rolando comigo. Ele não falava nada diretamente, mas eu via nos olhos dele que ele estava preocupado. E com razão. Eu não queria, e nem conseguia, falar sobre o Rafael com ele. Aquela história... aquele fim... foi uma coisa que nós dois enterramos juntos, e não havia necessidade de desenterrar isso agora. Pelo menos era o que eu dizia pra mim mesma. O Rafael estava morto. Eu fiz o que tinha que ser feito. Não foi uma escolha fácil, mas foi a única possível. Ele era uma ameaça, e eu precisava proteger quem eu amava. Isso nunca esteve em dúvida. Mas então por que eu sentia como se estivesse enlouquecendo agora? As imagens dele apareciam cada vez mais frequentes, e cada vez mais reais. A culpa era algo que eu achava que já tinha superado, mas será que era isso que estava me matando por dentro? Será que, no fundo, eu nunca consegui realmente lidar com o que fiz? Eu não sei. O que sei é que, a cada dia que passava, parecia que ele estava mais presente do que nunca. Como se estivesse vivo, como se estivesse ali, esperando o momento certo para... o quê? Me confrontar? Me destruir? Me peguei sentada na cama, olhando para o nada, enquanto o Fantasma tomava banho. Ele não tinha dito nada, mas eu sabia que ele sentia meu distanciamento. E eu sentia o dele. Não era que a gente estivesse brigando ou algo assim. Era só o peso do que eu estava vivendo sozinha e não conseguia compartilhar com ele. Eu nunca escondi nada do Fantasma, mas dessa vez... era diferente. — Você tá pirando, Maju, — murmurei pra mim mesma, tentando encontrar uma forma de silenciar a voz na minha cabeça. Por que agora? Por que justo agora, depois de tanto tempo, o Rafael parecia estar voltando para me assombrar? Eu achava que já tinha enterrado aquele passado, junto com ele. Mas, pelo visto, o passado tem uma forma c***l de voltar quando a gente menos espera. Eu tentei me concentrar no presente, nas coisas que importavam: o caso que eu estava trabalhando, a minha família, Fantasma. Mas quanto mais eu tentava focar, mais parecia que o Rafael estava à espreita, me esperando escorregar de novo. Deitei na cama, o corpo exausto. O dia tinha sido longo, e minha cabeça parecia estar girando em círculos, sem parar. Fechei os olhos, esperando que o sono me desse algum alívio, mas logo percebi que não ia ser tão fácil assim. O pesadelo começou devagar. Eu estava em um lugar que não reconhecia, mas sabia que não era seguro. As sombras pareciam se mover à minha volta, e a sensação de estar sendo observada era esmagadora. Foi quando eu o vi. O Rafael, parado no meio de um corredor escuro, me olhando do mesmo jeito que eu lembrava. Aquele olhar frio, penetrante, que parecia enxergar cada parte de mim. — Por que você fez isso? — A voz dele ecoou pelo corredor. Meus pés estavam presos no chão, eu não conseguia me mover. A culpa começou a subir, sufocante. Eu queria responder, queria dizer que não tive escolha, que fiz o que era necessário. Mas minha garganta estava seca, as palavras presas, como se algo me impedisse de falar. Rafael deu um passo em minha direção, e meu coração disparou no peito. — Você acabou comigo, Maju. Aquelas palavras me acertaram como um soco. A culpa, a dor, tudo voltou à tona com uma força devastadora. Eu não conseguia respirar, não conseguia me mover, e a cada passo que ele dava em minha direção, eu me sentia mais pequena, mais fraca. Foi quando ele estendeu a mão, quase me tocando. Eu acordei de repente, ofegante, o coração martelando no peito. O quarto estava escuro, mas eu podia sentir o suor escorrendo pela minha pele. O ar estava denso, como se o próprio sonho ainda estivesse pairando sobre mim. Levantei a mão até o rosto, e só então percebi que estava chorando. As lágrimas vieram de um jeito que eu não pude controlar. Elas não eram só de medo, mas de culpa. Eu sabia que o que fiz não podia ser desfeito, e sabia que o Rafael nunca mais voltaria. Mas por que, então, ele não me deixava em paz? Me encolhi na cama, tentando sufocar os soluços. O Fantasma estava dormindo ao meu lado, mas não queria que ele me visse daquele jeito. Ele não podia entender o que estava acontecendo, não se eu mesma não conseguia entender. A sensação de estar sendo observada ainda estava lá. Mesmo acordada, parecia que os olhos do Rafael estavam cravados em mim, me seguindo, me acusando. "Por que você fez isso?" A voz dele ainda ecoava na minha mente. Eu matei ele para salvar o homem que eu amo. Mas será que o preço que eu paguei foi alto demais? Os soluços começaram a diminuir, mas a dor no peito continuava. Eu não podia continuar assim. Algo tinha que mudar, ou eu ia enlouquecer de verdade. Mas o que? Como é que eu ia enterrar o Rafael de uma vez por todas, se ele continuava voltando? Fechei os olhos de novo, tentando controlar a respiração, tentando afastar o pesadelo. Mas sabia que o sonho não ia desaparecer tão fácil assim. A culpa, o arrependimento, a sensação de que algo muito errado estava acontecendo... tudo isso continuava me atormentando. E o pior de tudo? Eu não sabia por que agora. Por que, depois de tanto tempo, o Rafael parecia estar me perseguindo? Será que era minha mente me pregando peças, ou será que tinha algo mais? Eu não sabia. Tudo o que eu sabia era que o Rafael não parecia disposto a me deixar em paz.
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