CAPÍTULO 16 | MIRELLA
O celular vibrou mais uma vez no bolso da minha calça, e antes mesmo de tirar o aparelho, eu já sabia quem era. Caio, de novo. Ele não largava do meu pé desde aquela noite, como se a gente tivesse alguma coisa. Passei a mão pelo rosto, sentindo a irritação começar a subir pelas veias. Era como se ele não tivesse entendido o recado. Foi uma transa boa, ok, eu não vou negar isso. Até superou as minhas expectativas. Ele tinha o toque certo, sabia mexer no corpo de uma mulher, e eu aproveitei cada segundo.
Mas, para mim, foi só isso. Só mais uma boa f**a. Nada que fosse mudar a minha vida, nada que fosse me prender ou me fazer perder tempo. E eu? Eu já tinha seguido em frente. O problema é que ele não. Pelo jeito, ele achava que aquele momento tinha significado mais do que o que era. Cada mensagem que aparecia na tela do meu celular era um lembrete claro de que ele estava se apegando a uma ideia que não existia.
Suspirei, sentindo um incômodo crescer no peito. A insistência dele estava começando a me irritar de verdade. Uma vez, duas vezes, beleza. Mas ele continuava aparecendo, enchendo meu celular com mensagens como se eu tivesse alguma obrigação de responder. Ele não tinha sacado ainda que, pra mim, aquilo foi o fim da linha.
Desbloqueei o celular, a mensagem piscando na tela.
“Tá livre hoje? Pensei em te ver de novo.”
Direto, como sempre.
Revirei os olhos, sentindo a irritação já borbulhar antes mesmo de pensar em responder. Caio era interessante, eu admitia, mas não o bastante pra me fazer desviar do que realmente importava. Ele tinha lá seu charme, e eu não vou mentir, aquela noite foi bem melhor do que eu esperava. Só que o problema é que ele parecia querer mais, e eu não tinha tempo pra isso. Papinho, encontrozinho, essa merda de joguinho que só distrai — eu não funcionava assim. Meu tempo era precioso, e, com certeza, não seria desperdiçado em algo que não agregasse na minha caminhada.
Eu já tinha decidido o que queria, e meu plano era claro como água: eu quero o morro, quero tudo que vem com ele, o poder, o respeito. E isso não vai acontecer se eu me perder com homem. Pra mim, homem é só mais uma distração no caminho, uma pedra que atrapalha se você não souber desviar. E eu não podia me dar ao luxo de tropeçar agora.
Cada minuto que eu perdesse com Caio seria um passo atrás nos meus objetivos. Enquanto ele achava que tinha algo mais entre a gente, eu sabia que o meu foco estava em outro lugar. Eu tinha outras prioridades, e ele não era uma delas.
“Hoje não”, digitei rapidamente, mas apaguei antes de mandar.
Pra quê responder? Essa era a pergunta que ecoava na minha cabeça. Eu não devia satisfação a ninguém, muito menos a ele. O que a gente teve foi só uma noite, só um momento. Nada mais. Não tinha motivo nenhum pra continuar com esse joguinho de mensagens. Não era como se eu fosse o tipo de garota que se enrola nessas coisas. Relacionamento, romance, essas merdas todas não eram pra mim, e, sinceramente, eu não tinha paciência pra isso.
Desliguei a tela do celular com um toque rápido, guardando o aparelho no bolso sem nem pensar duas vezes. Que perca o tempo dele mandando mensagem, porque eu já tinha decidido: não vou responder. Enquanto o celular vibrava, eu tentava focar no que realmente importava, no que me movia, no que corria nas minhas veias. Eu queria o morro.
Queria o respeito de cada pessoa ali, o reconhecimento de que eu não era só a filha do chefe. Eu queria ser dona daquela p***a, assumir o controle de tudo. E sabia que não ia conquistar isso se ficasse me deixando levar por mensagens de um cara qualquer, mesmo que ele fosse bom de cama. Porque, vamos ser honestos, ele era bom. Mas o morro, o poder, isso era o que realmente me fazia perder o sono. Eu sabia onde queria chegar, e Caio, com suas mensagens insistentes, era apenas um obstáculo que eu ia pular sem esforço.
Ficar presa em joguinho de sedução não fazia parte dos meus planos. Eu sabia que minha força vinha de não me deixar levar por isso, por qualquer distração. O morro exigia respeito, e pra conseguir isso, eu precisava estar focada. Caio? Ele podia continuar tentando, mas nunca ia fazer parte dessa história.
Saí da faculdade, sentindo a leveza do fim de mais um dia de aulas, mas minha cabeça estava em outro lugar. Não no curso, não nas provas, mas no que me esperava no morro. Eu sabia o que precisava fazer. E hoje, o melhor jeito de começar era estar com meu pai. Ele já tinha voltado pra casa, e eu precisava estar perto dele. Aprender, observar, me fazer presente. Quando chegasse a minha vez, não haveria dúvidas de quem mandava.
A direção até o morro era quase uma rotina, o caminho tão familiar que eu não precisava pensar. Quando chegava perto sentia o cheiro de comida misturado com poeira, o som das crianças correndo, as conversas altas pelas vielas. Tudo isso me alimentava. Era aqui que eu pertencia, e era daqui que eu ia tirar o que me era de direito.
Cheguei em casa e lá estava ele, meu pai, sentado na varanda como sempre, uma cerveja na mão, o olhar atento a tudo e a todos. O respeito que ele impunha sem dizer uma palavra era o que mais me impressionava. Era assim que eu queria ser.
— Fala, pai. — Cumprimentei, me jogando na cadeira ao lado dele. — Como tá por aqui?
— Tranquilo — ele respondeu com aquela calma que só ele tinha, como se nada pudesse abalá-lo.
Mas eu sabia que ele via tudo, que estava sempre um passo à frente de qualquer um.
Fiquei quieta, olhando ao redor. Era isso que eu precisava, estar perto, aprender como ele fazia as coisas, como ele comandava com um simples olhar. Quando o morro fosse meu, eu queria que as pessoas me respeitassem da mesma forma.
— E você? Tá indo bem na faculdade? — ele perguntou, desviando os olhos da rua por um segundo pra me encarar.
— Tô indo — respondi, meio vaga.
A faculdade estava lá, mas não era o que realmente importava pra mim. Ele sabia disso também. Mas gostava de ouvir que eu estava “fazendo alguma coisa”, e isso parecia bastar.
O celular vibrou de novo no bolso, e dessa vez, eu nem me dei ao trabalho de olhar. Caio estava sendo insistente demais, e isso começava a me cansar. Ele não entendia que, pra mim, aquilo tinha sido só um momento. Uma f**a boa, mas sem futuro. Meu foco estava aqui, com meu pai, com o morro. Eu precisava estar pronta pra quando chegasse a minha vez. Quando eu assumisse, ninguém ia me questionar. E eu sabia que, pra isso, precisava me manter no controle. Nada de distrações.
Caio era só isso. Uma distração. E eu não tinha tempo pra isso.