CAPÍTULO 3 | MAJU
Minha cabeça estava uma bagunça . A cada dia, parecia que eu estava perdendo mais o controle. Ver Rafael em todos os cantos, sentir aquela presença constante me observando... não estava fácil. Eu sempre fui uma mulher forte, sempre tive o controle da situação, mas agora? Agora parecia que o chão estava sumindo sob meus pés, e eu não sabia como sair disso .
Sentada no meu escritório, me peguei encarando os papéis na minha frente, tentando focar no novo caso que eu tinha acabado de pegar . O nome do bandido estava estampado no topo dos documentos. Carlos "Bicho" Miranda. Um desgraçado sem honra nenhuma, o tipo de cara que já tentou ferrar o Fantasma várias vezes, sempre pelas costas, sempre com jogadas sujas. Agora, eu tinha a chance de colocá-lo atrás das grades, de uma vez por todas. Eu sabia que precisava focar nisso . Esse caso era importante, não só pra mim, mas para o Fantasma também. A gente não podia deixar esse cara escapar, não de novo .
Suspirei, fechando os olhos por um momento . Precisava de concentração, precisava de foco . Mas como é que eu ia focar com o fantasma do meu ex-noivo me atormentando em todos os lugares que eu ia? Ele estava morto . Eu sabia disso. Fui eu mesma quem colocou um ponto final nessa história . Fiz o que tinha que ser feito. Rafael era uma ameaça, e eu não tive escolha. Só que, agora, parecia que ele estava voltando para me assombrar, e eu não sabia se ia aguentar muito tempo assim .
Abri os olhos de novo e olhei os papéis na mesa . "Vamos, Maju, foca", murmurei para mim mesma . Eu tinha que deixar essa história do Rafael de lado, pelo menos por enquanto . Tinha um trabalho a fazer, e não podia me dar ao luxo de perder a cabeça agora . Carlos Miranda era o tipo de cara que não hesitaria em atacar de novo, e dessa vez, eu precisava garantir que ele fosse preso. Esse bandido já tinha causado danos suficientes, e Fantasma queria ver ele longe do morro, assim como eu .
Mas a verdade é que, por mais que eu tentasse, minha mente não parava de voltar para Rafael. Cada vez que eu fechava os olhos, lá estava ele. Em pé, me observando, como se estivesse esperando algo de mim. Era uma sensação sufocante, como se ele estivesse sempre por perto, mesmo quando eu sabia que era impossível. Às vezes, a lógica não ajudava. A razão me dizia que Rafael estava morto, que eu o matei para proteger o Fantasma, para proteger minha família. Mas meu coração... meu coração estava confuso.
E foi aí que pensei na Pri.
Priscilla sempre foi a minha melhor amiga e a mais louca também, sem falar que inteligente como ela nunca vi, se hoje eu vivo a vida com o meu grande amor eu devo isso a ela também, ela é uma das poucas pessoas em quem eu confiava de verdade. Ela sempre foi minha confidente, a pessoa com quem eu podia ser honesta, sem julgamentos. E, sendo psicóloga, ela entendia de questões como essas. Ela era a única pessoa com quem eu talvez pudesse conversar sobre o que estava acontecendo, sobre as visões, sobre o tormento que eu estava vivendo.
Mas pedir ajuda? Eu, Maria Julia, pedindo ajuda? Só de pensar nisso, eu sentia o orgulho falar mais alto. Sempre lidei com meus problemas sozinha, e agora não seria diferente. E, sinceramente, eu não tinha nem certeza se o que estava acontecendo era real ou só minha cabeça bagunçada .
Mesmo assim, uma parte de mim sabia que talvez fosse uma boa ideia procurar a Pri. Ela poderia me ajudar a entender o que estava acontecendo, a separar a realidade da ilusão. Mas eu resistia a essa ideia, como sempre fiz. Eu precisava ser forte, focar no que era importante, e o que era importante agora era esse maldito caso. Carlos Miranda precisava ser preso, e eu tinha uma missão. Fantasma confiava em mim, e eu não podia decepcioná-lo . Não agora .
Respirei fundo e olhei mais uma vez para os papéis à minha frente, tentando ignorar o peso da presença de Rafael na minha mente. Eu sabia que precisava focar, mas cada vez que eu tentava, sentia como se algo me puxasse de volta para aquele momento. O momento em que tudo mudou, quando decidi que a vida de Rafael precisava acabar .
Voltei a pensar no Fantasma . Ele sempre confiou em mim, me deu todo o espaço que eu precisava, e agora não seria diferente. Mas será que ele notava que algo estava errado? Será que ele percebia que eu não estava sendo completamente honesta sobre o que estava acontecendo? Eu sabia que ele não ia me pressionar, ele nunca fazia isso. Mas eu também sabia que ele sentia quando eu não estava bem .
A verdade é que, por mais que eu tentasse afastar o pensamento do Rafael, ele continuava me assombrando . Cada esquina, cada rua, cada rosto desconhecido que eu via de longe me fazia lembrar dele . E quanto mais eu tentava ignorar, mais presente ele parecia ficar .
Me levantei da cadeira, caminhando até a janela do meu escritório . A vista daqui se estendia diante de mim, mas nem mesmo aquela paisagem familiar me trazia paz agora. Meus pensamentos estavam uma bagunça, e eu não sabia como sair disso . Uma parte de mim queria correr até a Pri e contar tudo, pedir ajuda. Mas a outra parte ... a parte que me conhecia melhor, sabia que eu não estava pronta para isso.
Eu precisava ser forte. Precisava focar no que era importante .
Olhei para a rua lá embaixo, observando as pessoas indo e vindo, como sempre . A vida continuava, não importava o que estivesse acontecendo na minha cabeça . Eu tinha um trabalho a fazer, e não podia me dar ao luxo de perder o controle agora. Carlos Miranda precisava ser preso, e eu ia garantir que isso acontecesse .
Mas, no fundo, eu sabia que essa não seria a última vez que eu veria Rafael. Ele estava lá, sempre à espreita, esperando o momento certo para aparecer de novo. E, por mais que eu tentasse deixar isso de lado, o fantasma do meu passado continuava me atormentando.
Eu podia fingir que estava tudo bem, podia dizer a mim mesma que nada disso era real, que era só a minha cabeça jogando comigo. Mas, no fundo, eu sabia que a verdade era mais complicada do que isso. E, enquanto eu não enfrentasse de vez o que estava acontecendo, Rafael não iria embora.
Eu precisava de ajuda. Talvez a Pri fosse mesmo a resposta. Talvez ela pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo, na minha mente. Mas será que eu estava pronta para isso?
Suspirei, ainda encarando a rua lá embaixo. "Depois", pensei. Eu ia lidar com isso depois. Agora, tinha um bandido para derrubar. Mas a verdade é que, mesmo que eu quisesse deixar esse assunto de lado, Rafael não ia me deixar em paz tão cedo.