CAPÍTULO 4 | MIRELLA
Eu ainda estava perdida nos pensamentos sobre o cara do café, tentando disfarçar o quanto ele havia mexido comigo, quando senti uma presença se aproximando. Minhas amigas continuavam rindo e conversando, mas de repente tudo ficou abafado, como se a atmosfera ao meu redor tivesse mudado. E então, o som da voz dele cortou o ar.
— Qual é o seu nome?
A pergunta foi direta. Senti um arrepio subir pela espinha. Eu me virei lentamente, o coração já acelerando. Ele estava ali, perto o suficiente para que eu pudesse sentir o leve toque de seu perfume amadeirado. Os olhos dele estavam fixos nos meus, e de repente parecia que o ambiente todo tinha se fechado ao nosso redor.
— Mirella — respondi sem pensar muito, tentando soar casual.
Mas o calor na minha pele denunciava o nervosismo.
Ele manteve o olhar firme, como se estivesse me estudando, e eu não consegui desviar. Meu corpo parecia estar em sintonia com algo primitivo, algo que não vinha da razão, mas sim de um lugar profundo e visceral.
Foi aí que me dei conta. Esse tipo de cara não chega perto de você sem querer alguma coisa. Ele era mais velho, seguro, com aquela aura de quem já tinha vivido mais do que eu sequer podia imaginar. Sabia o que queria. E, honestamente, eu também sabia o que ele queria. Só que a questão era: eu queria mesmo?
Meus pensamentos se embaralharam. Eu não era boba, sabia muito bem o que um homem como ele esperava de alguém como eu. Não era difícil de adivinhar. Ele não estava ali procurando uma conversa profunda sobre a vida ou algo que duraria além daquele café. Não. Isso era algo imediato, físico. Ele me via como uma oportunidade de f**a casual, e talvez eu estivesse considerando ser exatamente isso.
— Mirella, né? — Ele repetiu o meu nome de forma lenta, como se estivesse provando o som em sua boca. — Gostei.
Havia algo na forma como ele falava, algo que despertava aquela parte de mim que queria arriscar, que queria sentir o que poderia acontecer se eu simplesmente... deixasse as coisas fluírem. Mas outra parte de mim, a mais racional, gritava para eu ter cuidado. A experiência me dizia que o resultado desse tipo de situação nunca é simples. Era uma aposta.
Eu olhei para ele, e por um segundo, pensei em todas as razões para não me envolver. Ele era o tipo de homem que, se eu não tivesse esbarrado nele naquele café, provavelmente eu não teria sequer notado em um ambiente comum. Mas agora ele estava aqui, e a atração era inevitável.
E então veio a pergunta que não queria calar: eu ia pensar com a cabeça ou com a minha b****a que estava implorando por ele? Eu sabia que, se decidisse seguir adiante, estaria agindo mais com o impulso do que com a razão.
Mas será que isso era r**m? Será que valia o risco?
Eu mantive o olhar fixo nos olhos dele, tentando encontrar alguma resposta ali. O silêncio se estendeu por alguns segundos, mas parecia uma eternidade. Tudo em mim gritava para que eu fizesse a escolha certa, mas qual seria essa escolha? O certo seria recuar, manter distância, evitar qualquer complicação. Mas a tentação de ir em frente, de me jogar naquela atração crua, me provocava.
— E você? — perguntei, quebrando o silêncio. — Qual é o seu nome?
Ele sorriu de canto, como se estivesse esperando por essa pergunta.
— Caio.
O nome saiu com a mesma confiança de tudo o que ele fazia. E naquele momento, senti a linha tênue entre a razão e o desejo se desfazendo.
O sorriso dele se manteve no rosto, suave e provocador. Eu me ajeitei na cadeira, tentando parecer despreocupada, mas era impossível ignorar a tensão crescente entre nós. Ele parecia se divertir com a situação, o que, de certa forma, me irritava e me excitava ao mesmo tempo.
— Caio... — repeti, testando o nome na minha língua, deixando minha voz levemente arrastada, sabendo que isso causaria uma reação. — Parece nome de anjo.
Ele riu, o tipo de riso que faz você querer mais. O olhar dele era fixo, como se estivesse me desafiando, e eu adorava um bom desafio.
— Não sei se sou muito de anjo, não... — ele respondeu, com um tom insinuante, e me olhou de um jeito que me fez sentir um calor crescendo por dentro. — Mas posso te surpreender.
Eu ri, balançando a cabeça. O joguinho continuava, e eu estava mais envolvida do que queria admitir. Mas ainda assim, mantive o controle, pelo menos na superfície.
— Surpreender, né? — Cruzei as pernas devagar, observando a reação dele. Seus olhos seguiram o movimento, o que me fez sentir uma pontada de satisfação. — E o que você acha que eu quero?
A pergunta o pegou de surpresa, mas apenas por um segundo. Ele se recuperou rápido, o sorriso de canto voltando ao rosto enquanto inclinava o corpo levemente para frente.
— Eu acho que você quer ver onde isso pode dar — ele disse, a voz baixa, como se estivesse compartilhando um segredo. — Mas só se valer a pena.
Senti o coração bater mais forte. Ele estava certo, claro. Eu queria ver onde aquilo nos levaria. E a maneira como ele falava, com aquela confiança despreocupada, me deixava ainda mais curiosa. Era o tipo de cara que parecia saber exatamente o que fazer para me manter interessada.
— Talvez eu queira mesmo — admiti, sorrindo de volta. — Mas você vai ter que me convencer.
Ele levantou uma sobrancelha, claramente aceitando o desafio.
— Acho que estou no caminho certo, então.
— Talvez... — brinquei, me inclinando levemente para frente, como se estivesse analisando cada palavra que saía da boca dele. — Mas eu sou exigente.
— Gosto disso.
Nossos olhares se mantiveram conectados por mais tempo do que o necessário, a tensão entre nós ficando quase sufocante. Ele sabia o que estava fazendo, e eu também. O jogo estava em pleno andamento, mas, diferente de muitos outros que eu já tinha jogado, esse estava me puxando para algo além do flerte superficial. Eu sentia a necessidade de manter o controle, mas ao mesmo tempo, queria ver até onde ele iria.
— Se for pra valer a pena, acho que devíamos começar devagar... — ele sugeriu, olhando para mim como se estivesse me oferecendo uma saída, mas, ao mesmo tempo, criando uma ponte para continuar.
— E como seria isso? — perguntei, já sabendo a resposta.
Caio sorriu novamente, puxando o celular do bolso de forma casual.
— Me passa seu número.
Por um segundo, pensei em negar, em manter o controle da situação. Mas havia algo na forma como ele pediu, no jeito como a conversa fluiu até ali, que me fez querer continuar.
Peguei o meu celular, os dedos hesitantes por um breve momento, antes de digitar os números. Quando terminei, passei para ele, e nossos olhares se cruzaram mais uma vez.
— Agora, se você quiser continuar a me surpreender... — falei, em tom de provocação. — Vai ter que me mostrar que vale a pena.
Ele riu, guardando o número no celular.
— Pode deixar, Mirella. Eu vou.