Samantha Ferrari
Depois do incidente ocorrido, graças a Deus consegui chegar ao meu destino, e enquanto estaciono meu carro na garagem, observo com orgulho minha escola de dança. Vocês devem se perguntar: como uma moça de 20 anos já conseguiu comprar uma escola? A resposta é fácil: ganhei na mega-sena!
Que piada!
Se bem que, quem não iria querer ganhar? Eu recebi uma herança dos meus avós paternos que foi dividida entre meus irmãos e eu.
Tenho dois irmãos, uma mais nova e outro mais velho. Milena tem 15 anos e Alessandro, 30. Meus pais, Lorenzo e Alessandra, são os pais que toda garota quer ter. Eles são do ramo da advocacia criminal, mas é claro que eles sempre me apoiaram na dança, mesmo eu sabendo que sempre quiseram que eu seguisse a profissão deles. Mas meu irmão foi quem deu orgulho nesse sentido para eles, e se formou na área. Com o dinheiro que minha avó estipulou em um testamento que fosse dividido entre os netos, mais a poupança que meus pais sempre depositaram em minha conta desde pequena, pude abrir a minha escola.
Quando passava um dia por ali e avistei a placa de “venda-se” na casa com o jardim, liguei na mesma hora para a imobiliária, agendando para conhecê-la por dentro. Adorei tudo. As salas eram enormes, assim como os quartos, então decidi que transformaria o lugar em minha escola e acertei tudo, comprando a casa e dando a ela o nome de Samantha mesmo.
Entro e vejo que a escola está cheia como sempre. De uma das salas sai a minha melhor amiga, Ana Beatriz. Ela é mais que uma amiga. Somos praticamente irmãs. Vejo-a vindo em minha direção com o rosto mostrando preocupação.
— Onde você estava Samantha? Fiquei preocupada com sua demora.
Não disse? Ela está mesmo inquieta.
— Me desculpa pela demora. Aconteceu uma coisa hoje comigo... — m*l acabo de falar e ela me interrompe.
— Pode falar já, Samantha! O que houve? — pergunta Ana, aflita.
— Aninha, podemos falar depois que der a aula, por favor? Já me atrasei e não posso ficar segurando tanto as pessoas.
— Dessa vez passa, mas eu vou querer saber de tudo o que aconteceu — ela declara.
— Pode deixar, Ana, eu te conto tudo. A gente se encontra na hora do almoço, naquela lanchonete de sempre. O que acha?
— Sim, a gente se encontra lá. Às 13 em ponto — ela diz e nos despedimos.
Entro em minha sala, que já está cheia, e saúdo a todos enquanto me anuncio.
— Olá, gente. Bom dia e me desculpem a demora. Vamos começar a aula de hoje pelo tango. — Vou até minha coletânea de música e escolho la cumparsita, um tango envolvente. — Vamos lá. Se formem em duplas. — Enquanto eles se posicionam, aviso que vou chamar um professor, seguindo até a sala dos professores, onde encontro Henrique tomando café.
— Henrique, você está ocupado? — pergunto.
— Não estou não, minha diva — responde ele com aquela voz afeminada. Para a tristeza das mulheres, ele é gay. O homem é um gato, que deixa minhas alunas suspirando a cada vez que passa. Henrique é alto, tendo aproximadamente um e oitenta de altura, moreno e os olhos verdes.
— Vamos, então. Preciso de você — convoco-o e com uma expressão de safado no rosto, ele me questiona:
— Para onde a gente vai, amor? Para minha casa ou a sua?
Como sempre, brincalhão.
— Eu não acredito, Henrique, que você está me fazendo essa proposta. Para com isso! Preciso de você para fazer a parte do tango.
— Nooooossa! Dona Samantha está toda nervosa — ele acusa, rindo, mas me acompanha até a sala. Ao chegar lá, vou até o rádio e chamo a atenção deles novamente.
— Estão todos prontos? — eu pergunto e todos assentem. — Primeiro observem Henrique e eu, em seguida vou falando os passos e vocês continuam.
Eu começo dançando e o Henrique me pega e então dançamos juntos. O ritmo entre nós começa, fazendo-me esquecer de todos e tudo pela dança. Parece aquele momento onde só existe nós e a dança. Henrique me vira de costa para ele, põe a mão nas minhas pernas como se a gente estivesse fazendo amor, ao que todos aplaudem. Quando me deu conta, a música já acabou. Agradeço a todos e a Henrique, que sai da sala.
— Obrigada. Vamos lá! — Toco de novo a música e vou falando os passos pra eles, até que dá a hora e eu encerro a aula, agradecendo mais uma vez e me despedindo de todos. Logo em seguida a sala lota de novo e começo com a nova turma a mesma coisa que ensinei para a anterior, apenas não pedindo mais a ajuda de Henrique, pois ele já está dando a aula dele, e assim mais uma aula termina. Bebo água enquanto sigo para meu escritório, deparando-me com Ana pelo caminho.
— Vamos, Samantha? — ela chama.
— Vamos. Deixa só eu pegar minha bolsa — respondo para ela. — Vamos em seu carro ou no meu?
— Vamos no meu, porque eu reparei que o seu está um pouco amassado — diz ela.
— Como você sabe que meu carro, como mesmo disse, está um pouco amassado? — pergunto a ela.
— Simples. Eu esqueci um CD no meu carro e fui lá buscar, e como o seu está perto do meu, reparei o amassado. Você vai ou não me contar o que aconteceu?
— Eu vou. No caminho eu te falo. — Enquanto saímos, sinto um vento em minha pele que me dá a sensação de ser as mãos daquele deus grego novamente. Saio dos meus devaneios com Ana chamando minha atenção.
— Samantha. você está no mundo da lua hoje, é? Pois estou te chamando já faz cinco minutos.
— Me desculpa, Ana — falo.
— Eu vou querer saber de tudo, viu, mocinha?
Entramos no carro e seguimos direto para a lanchonete, onde nos acomodamos em nossa mesa favorita. Assim que fazemos nossos pedidos, Ana retoma o assunto.
— Vamos, Dona Samantha, me conta porque você chegou atrasada hoje, e não enrola. — Vendo que não tinha jeito, começo a contar desde que acordei até a hora da batida.
Ana acompanha tudo e suas expressões são engraçadas demais.
— Foi isso que aconteceu — concluo. — Agora eu tenho que ligar para e ele e saber em quanto ficou o prejuízo, pois meu seguro irá pagar.
Ana só me olha, até que se manifesta novamente.
—Tá brincando, menina! Esse cara é de verdade mesmo? Como se chama?
— Se chama Damion Filip — eu respondo.
— Nome forte esse homem tem — comenta ela. — Ele é bonito assim mesmo?
— Bonito é pouco. — Ela me olha confusa, e prossigo. — O homem tem uma beleza diferenciada.
— Sua danada! Só você consegue para encontrar um homem desses. — Dá risada.
Depois de termos feito nosso lanche, vamos embora e passamos o caminho brincando com o assunto “deus grego”.
— Ana, esse homem eu queria na minha cama. Pena que ele não deve gostar de mulheres gordinhas — falo com pesar.
— Samantha, pare com isso. Qualquer homem iria se interessar por você. É linda, carismática, simpática.
Me emociono com o que ela diz.
— Eu amo tanto você, minha amiga — declaro, quase chorando.
— Eu também, Samantha.
De volta à escola, continuamos nossos afazeres até que as aulas terminam. Pego minhas coisas no escritório, me despeço de todos, então Ana e eu seguimos para nossas residências, cada uma no seu trajeto. Chego a casa, começo o preparo de uma lasanha à bolonhesa no micro-ondas, mas enquanto não fica pronta subo ao meu quarto e vou direto para o banho. O jato de água quente me lembra daquele homem e começo a imaginar o que ele poderia fazer com as mãos e aquela boca. Sem muitos pudores, passo a me masturbando. Quando chego ao orgasmo, chamo pelo nome dele. Satisfeita e confusa, saio do banho e visto uma roupa leve, seguindo para a cozinha, onde janto e assisto TV. Foi um bom negócio comprar uma para o cômodo, pois posso fazer minhas refeições assistindo meus seriados favoritos, como agora. Termino de comer, lavo a louça e verifico se a casa toda está fechada, indo de volta ao quarto. Antes de dormir, aciono o despertador e escolho uma música, De Janeiro a Janeiro, a qual embala meu sono e permite que eu caia nele pensando no deus grego de mais cedo.