Isa
Ultimamente, tenho me sentido terrivelmente ma'l. Meu corpo está dolorido, as náuseas e vômitos não me dão trégua, nada para no meu estômago, além de uma dor de cabeça constante parece martelar os meus pensamentos sem piedade. Para piorar, minha mente está inundada de preocupações. Já faz dias que não consigo sair para procurar trabalho, a força para sair da cama simplesmente desapareceu, como se a minha energia estivesse sendo sugada.
E Jaque... ah, Jaque... ela tem sido uma fonte de inquietação adicional. Após dias sem dar notícias, ela viajou, deixando um vazio estranho atrás de si. Tenho motivos para acreditar que ela pode estar se envolvendo em atividades ilícitas. Nunca presenciei alguém adquirir móveis novos e televisores de última geração sem uma fonte de renda aparente, e de forma tão abrupta. Sim, ela trabalhou no mesmo emprego por dois anos, mas isso de forma alguma justifica tal extravagância em futilidades, mas como ela diz a vida e dela e não tenho que me meter.
Pelo que sei, ela tem passado tempo com Heitor, inclusive viajaram juntos. E, pelo que entendi, Heitor é filho de um homem extremamente rico. Começo a juntar os pontos: ou Heitor está mimando-a com presentes, explicando os novos aquisitos, ou há algo mais sombrio por trás dessas mudanças repentinas. Contudo, nas últimas mensagens que ela enviou, Jaque mencionou que eles estão se entendendo muito bem, até mesmo disse que estava dormindo na casa dele. Isso apenas adiciona mais camadas à minha preocupação. Será que ela está perdendo o senso do que é certo e errado, ou há uma explicação razoável para tudo isso que não estou vendo?
Bruna tornou-se minha amiga e confidente desde que me mudei para esta cidade. Ela é como eu, longe de ser perfeita, e juntas, de certa forma, nos tornamos um pouco marginalizadas, afastadas dos grandes círculos de amizade que vejo por aí. Mas de alguma maneira, isso só fortaleceu a nossa conexão.
Hoje, ela veio à minha casa com uma missão: levar-me ao médico. A preocupação dela era que eu pudesse ser mais uma vítima da dengue, que tem causado um verdadeiro caos no nosso bairro e na cidade recentemente. É incrível pensar que Bruna, apesar de seus próprios desafios, tirou o dia para cuidar de mim, sacrificando um dia de trabalho. Depois que seu pai parou com as panfletagens, ela assumiu a responsabilidade de ajudar financeiramente em casa, tornando-se motorista de aplicativo. E devo dizer, ela é a motorista mais amigável e dedicada que conheço – e não digo isso apenas porque ela é minha amiga. Sua disposição para ajudar, especialmente em um dia como hoje, mostra o quão incrível ela realmente é.
No carro a caminho do hospital, a conversa flui entre preocupação e revelações pessoais.
— A Jaque é uma desalmada mesmo, deixando você doente e nem para te levar ao hospital? — Bruna expressou sua indignação enquanto manobrava o carro com habilidade pelas ruas movimentadas.
— Calma, Bruninha, ela nem sabe que estou passando ma'l. Aliás, ela nem tem aparecido em casa esses dias; está se divertindo com o Heitor — respondi, tentando amenizar a situação, embora uma pontada de ressentimento colorisse minhas palavras.
— Sério? Eles estão juntos depois de tanto tempo? — Bruna perguntou, surpresa, enquanto lançava um rápido olhar em minha direção.
— Eu até imaginei que eles já tinham ficado antes — comentei, perdida em pensamentos, lembrando dos sinais que poderiam ter indicado algo mais entre Jaque e Heitor.
— Não, não, mas te contar... sua prima é estranha, né, por que ficar com aquele cara que você ficou semanas atrás? — Bruna estava claramente preocupada, sua testa franzida refletindo a luz que entrava pela janela do carro.
— É, depois que ficamos, ele terminou com a namorada, e parece que ele e Jaque se entenderam bem — expliquei, sentindo um misto de alívio e desapontamento.
— Acho isso uma total saca'nagem — Bruna não escondeu o seu desgosto, balançando a cabeça em desaprovação.
— Pois eu não estou me importando. Não tenho nada com o Heitor, e após saber que ele escondeu a namorada de mim, não quero nada com ele. Eu, hein, cara safado. Tô fora, ele definitivamente não é o meu tipo — declarei, sentindo uma onda de determinação me invadir.
— Ué, achei que você tinha gostado dele — Bruna me lançou um olhar confuso, tentando entender meus sentimentos conflitantes.
— Gostei, mas aprendi a lição. Melhor sozinha do que m*l acompanhada, né? — concluí, tentando convencer a mim mesma tanto quanto a Bruna, enquanto o hospital finalmente aparecia à nossa frente.
— Homem comprometido, para mim, é como se não existisse. Que ele e a Jaque se deem muito bem — afirmei com firmeza, decidida a fechar esse capítulo da minha vida e a não permitir que as ações de outros definam meu bem-estar.
Bruna lançou-me um olhar de compreensão antes de focar novamente na estrada.
— Vamos cuidar de você agora. Logo menos, você encontrará alguém que valha a pena, alguém só seu, um verdadeiro 'boy magia' — disse ela com um sorriso, tentando injetar uma dose de otimismo na conversa.
— Com a minha sorte? Duvido... Tenho medo de acabar como a minha mãe, repetindo os mesmos erros, caindo nas mesmas armadilhas — confessei, o meu olhar perdido na entrada superlotada do hospital. A realidade da minha própria vida refletia-se naquela multidão: caótica e desafiadora. No entanto, algo dentro de mim se recusava a ceder ao desespero.
— Olha, a vida é cheia de altos e baixos, mas você é forte. A sua história não precisa ser a mesma da sua mãe. Você tem o poder de mudar o seu destino — Bruna disse, estacionando o carro, sua voz carregada de sinceridade e apoio.
Respirei fundo, absorvendo as palavras dela. Era hora de enfrentar mais um desafio, mas eu não estaria sozinha. Com Bruna ao meu lado, senti uma onda de coragem me invadir. Sim, a vida não tem sido fácil, mas desistir não é uma opção para mim.