03 - Você não sabe no que está se metendo

1988 Words
― Você sabe de mais alguma coisa? ― Apenas o necessário. ― Deu de ombros. ― De qualquer forma... Christian Cooper não nos ajuda a resolver este caso de vez. E agora, é o que a polícia acha. E como a polícia decretou... Assim será. Matt desencostou da sua mesa prestes a ir em direção a saída da delegacia, mas eu o impedi segurando em seu pulso. ― Eu preciso de uma cópia dessa papelada. ― Realmente você não tem limites. Não é, Jade? ― suspirou. ― Eu já analisei parte dos documentos que há dentro desse envelope. Mas não consegui analisar todos. ― Soltei o seu pulso. ― Michael não me deixou. ― Por que não me escuta? ― deslizou o seu olhar até mim. ― Ou o seu pai? Quem sabe, até você mesma? ― respirou profundamente e negou com a cabeça. ― Você deve saber o quanto pode ser perigoso se envolver. ― Todos já me disseram isso, O’Connell. ― Respondi ríspida. ― Mas não vejo problema algum nisso, quando... ― Observei todos os policiais ao redor. Alguns estavam satisfeitos com os paparicos da Sra. Cooper, enquanto outros ficavam sentados em frente a uma tela de computador, sem estima para concluir os objetivos de sua profissão. ― A própria polícia parece temer o culpado. ― Voltei a centralizar a minha atenção em Matt. ― E o que quer que a gente faça? ― arqueou as sobrancelhas. ― Vocês são capazes de fazer qualquer coisa. Mas não estão. ― Não podemos tomar qualquer decisão involuntariamente, Jade! ― vociferou. ― Você não sabe como é isso. Você não faz parte da polícia ainda. ― Fechou os olhos brevemente e soltou um suspiro. ― Deixe esse assunto para quem realmente entende. Deslizei o meu olhar para o lado e balancei a cabeça. ― E por que eu deveria seguir essas ordens? ― voltei a encará-lo. ― Como você mesmo disse... Não faço parte da polícia ainda. Então... Eu não preciso da autorização de ninguém. ― Você não sabe com o que está se metendo. ― Eu também não sabia quando a minha mãe foi acusada injustamente. ― Suspirei. Lancei o meu último olhar para Matt e me encaminhei para a saída da delegacia. (...) ― Srta. Chapelle? ― a enfermeira me olhou curiosa. ― O que faz aqui novamente? ― Christian Cooper está em seu quarto? ― Sim. Mas... ― Eu preciso vê-lo. ― Eu tenho que prepará-lo para a sala de visitas, senhorita. E... Não deixei a enfermeira concluir e a mostrei o meu falso distintivo. ― Eu preciso vê-lo agora. É urgente. ― Respondi. ― E... Não comente com ninguém que eu estive aqui. Ok? ― alertei mostrando a a**a em minha cintura. ― Se alguém souber... ― Estralo a língua no céu da minha boca, emitindo um pequeno barulho. ― C-Certo. ― Eu posso ir sozinha. Apenas me dê o número e a senha do quarto. ― O-O que a senhorita vai fazer? ― seu timbre estava assustado. A enfermeira me entregou um pedaço de papel com números no verso. Analisei-os ligeiramente e segui caminho pelo corredor a procura do quarto de Christian Cooper. Parei em frente a uma cela com portas que se assemelhavam com aço. Em uma pequena caixinha pregada na parede ao lado, havia o nome de Christian Cooper. Levei a minha mão até a tela da fechadura digital e digitei os números que haviam no verso do papel. A porta foi aberta com um click e logo pude entrar, vendo Christian de frente a uma janela, olhando para o lado de fora, o jardim. ― Christian Cooper? Fechei a porta e tentei chamar a sua atenção. Ele permaneceu calado. Afastei-me um pouco da porta e me aproximei cautelosamente dele. ― É a garota de antes, não é? ― perguntou. ― Como sabe? ― Sua voz é fácil de memorizar. O observo surpresa. ― Podemos conversar? Em um simples gesto, Christian mexeu os ombros e logo se virou para mim. ― O que quer? ― perguntou. O analisei superficialmente. Sem os vestígios do sedativo, ele realmente era um homem intrigante e sedutor, como era descrito em seu perfil pela polícia. Os seus cabelos castanhos claros combinavam harmoniosamente com os seus olhos verdes. ― Eu posso... Fazer algumas perguntas para você? ― Você não acha que já fez o suficiente? ― sua voz transmitia impaciência. ― Eu só tenho mais algumas coisas... ― Por que está tão interessada nisso? ― me interrompeu. ― Sei que você não é um deles. ― O que? Christian desceu o seu olhar até o meu quadril e inesperadamente avançou em minha direção. Sua mão percorreu ligeiramente por minha coxa até o bolso lateral da minha calça, retirando o meu distintivo ― que estava com a ponta superior do lado de fora ― de dentro de meu bolso. Automaticamente levei a minha mão até a minha a**a e a apontei para ele ao ver o seu ato. ― Qualquer um pode perceber que este é falso. ― Analisou o distintivo enquanto girava-o entre os seus dedos. ― O original é dourado. Este é bronze. ― Olhou para mim e arqueou as sobrancelhas. ― Não vou fazer nada com você, então, n******e atirar em mim. ― Como você sabe disso? Como sabe diferenciar um distintivo falso de um verdadeiro? ― Abaixe a a**a. ― Disse astuto. ― E dessa forma eu te contarei. ― E como posso confiar que você não tentará nada? ― Eu não pedi para que confiasse. ― Encarou-me em desdém. ― Agora se quiser que eu responda às suas perguntas... Antes você terá que me fazer confiar em você. E começa por isso. Christian apontou para a a**a, pedindo para que eu a abaixasse. E assim eu fiz. ― Meu pai era policial. ― Disse e me devolveu o distintivo. ― Ele me ensinou alguns truques sobre o seu trabalho. Reconhecer um falso policial foi um deles. ― Seguiu de volta a janela. ― Talvez um dia... Eu decidisse seguir a sua profissão. Mas, ele era muito egoísta. Apenas pensava em si mesmo e... Deixava os filhos em segundo plano. ― Suspirou e voltou o seu olhar para o jardim. ― Mas, não que eu guardasse mágoa dele por isso. Ele apenas era cego de amor... ― Apertou os olhos. ― Até na sua morte. ― Respirou fundo. ― Talvez se ele não tivesse sido tão e******o em chegar ao ponto de ficar cego por ela... Ele pudesse estar vivo agora. ― Cerrou os seus punhos. ― Ele sabia com quem estava se envolvendo, mas... Ele recusou enxergar que ela usava uma máscara. E que ao tirar... Ela poderia se transformar em alguém totalmente diferente daquela que demonstrava ser. ― De quem você está falando... Fui interrompida por um barulho na fechadura da porta. Alguém digitava a senha. ― Esconda-se. Ela n******e vê-la aqui! ― Quem? ― Vá para debaixo da cama! Apressou-me, tentando me esconder debaixo de sua cama. ― Fique aí até ela ir embora. A porta é destravada e em instantes passos encaminham-se para o interior do quarto. Fui capaz de notar somente os saltos vermelhos. ― Vejo que você está bem recuperado do seu surto de hoje cedo. ― Disse uma mulher. ― Parece que teremos de aumentar a dose dos seus remédios. Aquela voz... Aquela voz não era tão estranha. ― O que você quer? ― Christian soou tenso. ― Por que está vindo com tanta frequência aqui? ― Uma mãe n******e vir ver o seu filho? ― forçou a sua voz em um tom magoado. ― Você não é minha mãe. E nunca será. ― Cuspiu as palavras. ― Minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos! ― Poupe-me de suas lamentações. ― O seu tom de voz modificou-se completamente. ― Graças a Deus você não é o meu filho. ― Por que? Me mataria igualmente matou o meu pai? Arregalei os olhos ao ouvir o que Christian havia dito. ― Sério? ― riu. ― Você n******e me culpar por m***r o seu pai, Christian. Todos acreditam que foi você quem o matou. Até porque... Quem iria desconfiar de uma p***e viúva que sofre com o enteado rebelde. Que sempre que vem aqui, ao invés dele ficar feliz por ter uma visita, ele tenta matá-la? Tampei minha boca ao ouvir aquela revelação. Eu estava frustrada. Christian Cooper não era o culpado, mas sim a vítima. ― Você não se safará para sempre, Kimberly. Os policiais saberão a verdade. ― Os policiais? Quais? Os que eu matei? Bem... Acho que não, hein. ― Gargalhou. ― Você só está vivo, porque eu preciso que me dê a herança do seu pai. E como eu sei que você não fará isso tão facilmente, eu terei o prazer de ir acabando com a sua vida aos poucos, até o ponto de você clamar por misericórdia e decidir me dar o que eu quero. E depois... Você se juntará a todos que entraram em meu caminho. ― Suas palavras soavam amargamente. ― Agora, vamos a tarefa do dia. Está na hora de você se divertir um pouco. Seja um bom menino e não me faça gritar pelos enfermeiros. Você sabe o que acontece quando eles vêm até você. Eles não te darão apenas uma pequena furada com uma seringa, mas... Te machucarão. Os seus cortes revelam muito. ― Afaste-se de mim! ― rosnou Christian. ― Por favor, não vamos passar pela mesma coisa de hoje cedo. Quanto mais rápido eu injeto isso em você, mais rápido diminui os seus anos de vida. ― Eu já mandei se afastar! ― Ou você toma isso por bem ou por mal... A porta do quarto é aberta. ― Sra. Cooper? Reconheço a voz de Matt. ― P-Policial O’Connell? ― ela parecia surpresa. ― O que faz por aqui? ― Eu estou à procura da policial Chapelle. A enfermeira disse que ela veio atrás do seu filho. Mas... Parece que ela não está aqui. ― Disse ele. Xingo mentalmente a enfermeira. Eu havia pedido para não contar que eu estava aqui, mas parecia ter sido em vão.  ― Por que está com uma seringa na mão, Sra. Cooper? ― Matt lançou desconfiado. ― Ah, isso? Bem... Eu já fui enfermeira há alguns anos atrás. E a do hospital estava ocupada no momento, então eu me ofereci para ajudá-la. Mas... Não está dando muito certo. O meu pequeno Christian sempre teve medo de agulhas. Até me corta o coração ter que vê-lo ser furado todos os dias. Como ela pode ser cínica? Pensei. Sinto um embrulho percorrer por meu estômago ao escutar a sua desculpa. ― Ah, entendi. Você precisa de ajuda? ― Huh? Não. Eu posso me virar sozinha. Vá. Volte a procurar pela policial Chapelle. ― Ok. A vejo em breve. Matt saiu do quarto e fechou a porta. Espera? O que?! Ele acreditou no que ela disse? ― A cada dia que passa as rotas desses policiais estão ficando mais consecutivas. Já não está dando mais. ― Resmungou. ― E essa policial Chapelle... O que ela quer com você? É a segunda vez que ela vem aqui. ― Pausou por um pouco, parecendo suspeitar de algo. Seus passos aproximaram-se da cama, logo cessando. ― Eu espero que você não abra a boca para ela. ― E o que vai adiantar? ― questionou Christian. ― Por mais que eu fale. Nada vai mudar. ― Assim eu espero. Caso contrário... Aquele rostinho bonito terá um triste fim. Eu deixarei para aplicar a seringa mais tarde. Não me arriscarei por outro policial entrar aqui novamente. Afastou-se da cama e se encaminhou para a saída do quarto. Respirei fundo e fechei os meus olhos. O que estava acontecendo? Eu teria os meus dias contados por saber demais? ― Agora você entende porque eu mandei você ficar longe de mim. ― Christian comentou.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD