Capítulo Cinco

926 Words
Ra: E aí? Ra: Vai me contar o que você foi fazer depois da aula, tigrão? Ra: Sei que é relacionado à garota da biblioteca. Ra: Desculpe. Alina. Matt: Nós saímos. Ra: Jura? Nem imaginei. Ra: *sarcasmo* caso você não tenha percebido, bb. Ra: Foram fazer o quê, hein? Matt: Por que escutei certa malícia nisso? Matt: Ah é, porque você é o Raphael. Matt: Que só pensa em pegar as “novinhas”. Ra: É porque você malicia tudo. Matt: Tudo que você diz. Ra: Voltando... Ra: O que aconteceu? Matt: Nós conversamos. Ra: Sobre? Matt: Nós. Ra: O QUE?? Ra: COMO ASSIM?? Ra: VOCÊS ESTÃO JUNTOS??! Matt: Sim. Ra: Kejdjskhziekxosjbsismd Matt: Só que não. Matt: Raphael? Matt: Você está visualizando. Matt: Me responde. Matt: CARALHO Matt: Será que um E.T. te abduziu? Ra: Desculpe. Ra: Eu estava morto e estatelado e enterrado no chão. Matt: Quanto drama. Ra: Tem razão. Ra: Fui comer e deixei nossa conversa aberta.   Franzi os lábios, irritado, porém nada surpreso com Raphael. Por fora da minha janela, uma chuva torrencial lavava a cidade. O clima perfeito para não sair da cama. No entanto, hoje era meu dia de fazer o jantar, e eu não podia me dar esse privilégio. Minha roupa encharcada secava no banheiro, assim como minha mochila que, graças a minha engenhosidade de ter pensado no período de chuva, era à prova d’água e tinha apenas a parte externa molhável, enquanto o resto ficava a salvo. Depois de vestir uma roupa seca, desci as escadas para começar o jantar, conversando por chamada com Raphael, que jogava basquete em seu quarto e me fazia repetir as coisas 4 vezes até que ele me ouvisse e mais 3 para que entendesse. Eu já havia desligado a chamada e passado a assistir um jogo de hóquei no YouTube quando meu pai chegou. Nós comemos o frango-frito quase em completo silêncio, não fosse pelas perguntas sobre como as coisas iam no colégio e um elogio ao frango. Quando terminamos de comer, lavei os pratos e talheres e coloquei-os no escorredor. Subi as escadas e escovei os dentes antes de me trancar no meu quarto para fazer as tarefas do colégio. O período das provas finais de aproximavam, e eu não poderia me arriscar a repetir o ano. Quando por fim deitei para dormir, não consegui pensar em outra coisa senão em Alina. Alina conversando comigo; Alina na chuva; Alina sorrindo. É. A declaração era óbvia: eu estava apaixonado. Se de manhã eu não podia afirmar isso, agora eu podia. Ela não saía de minha mente, seu sorriso, sua forma de falar... Tudo me deixava encantado. E, apesar de não ser experiente no assunto paixões, eu sabia identificar a forma como me sentia. Apesar dos meus 17 anos e a adolescência ser constantemente reconhecida pelas inúmeras paixões, eu só havia me apaixonado uma vez, pela garota que morava ao lado da minha casa. Ela era 4 anos mais velha, os cabelos tingidos em várias cores que a davam uma imagem rebelde, mas seu jeito era completamente gentil. Infelizmente, na época ela tinha um namorado que me botava medo, mesmo que isso não anulasse minha paixonite por ela — paixonite que, inclusive, havia me feito dá-la uma caixa de bombons no dia dos namorados. Bem, eu tinha 12 anos. Um p***e iludido. O dia clareou mais frio que o normal após a chuva, que agora era apenas uma garoa. Vesti uma blusa de frio leve marrom e pus uma calça jeans, além dos meus habituais tênis. Meu pai, assim como na maioria dos dias, estava na cozinha, lendo algo no celular enquanto comia. Sentei-me à mesa e comecei a comer uma torrada. — Bom dia, pai — eu disse. Ele olhou para mim e deu um leve sorriso. Parecia de bom humor. — Bom dia, filho. Eu peguei o galão de leite sobre a mesa e enchi meu copo. Comi outra torrada. Estava deslizando pelos vídeos do YouTube quando ouvi a buzina que já conhecia bem. Arregalei os olhos ao perceber que havia me distraído completamente. Tomei o resto do leite, joguei minha mochila nas costas e saí de casa às pressas. Na rua, chuviscava, e corri para o carro com o cuidado de não pisar em qualquer poça. Odiava me molhar, mesmo que fosse pouco. O que eu certamente não desejava era alagar meu sapato e ter que aturar o frio no pé pelo resto do dia que nem mesmo começara. — Tem medo de chuva? — Ra perguntou, rindo, assim que fechei a porta com força. Ele ligou o carro e acelerou. Lembrei-me do dia anterior, quando Alina havia me feito a mesma pergunta. — Por que você está sorrindo feito um i****a? — A voz de Ra invadiu a minha mente. — Estou? — Tratei de tirar o tal sorriso do meu rosto. — Vai, admite. Estava pensando nela. — Nela quem? — Franzi as sobrancelhas como se não soubesse do que ele estava falando. Ra bufou. — Você é impossível. Está claro que você está caidinho pela garota da biblioteca. — Eu não sei do que você está falando, cara. Não estou caidinho por ninguém. — Admite. — Não. — Sim. — Não. — Sim. — Sim! Ra freou o carro violentamente, quase nos fazendo bater no vidro frontal. Por sorte, a rua estava praticamente vazia, senão ele poderia já separar parte da sua herança para arcar com os custos de conserto do carro que teria batido nele e pra pagar sua nova carteira de motorista. — Sim? — Ele questionou. Segurei um riso. — Não! — Sim! Você disse sim! — Não. — Disse sim. — Eu desisto. Eu disse. — Soltei o sorriso. — Sim! Sim, eu tô apaixonado por ela! — Oh, senhor! Ele admitiu! Ele admitiu, p***a! Ra ficou gritando igual a um maluco, buzinando enquanto dirigia e eu tampei meus ouvidos para não ficar s***o. — Digo e repito: prefiro ter uma idosa como amiga.
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