Capítulo 5 •

1815 Words
Isabela Lombardi A mulher estava elegante no seu vestido vermelho. Entre os seus dedos, o papel que podia decidir o meu futuro daqui para frente. Eu não queria ser deixada de lado. Apenas, queria ser escolhida para ter um pingo de liberdade — que meus pais nunca me deram. Não culpo a minha mãe, sempre foi uma mulher bondosa e nos amava mais que tudo. Não podia largar meu pai, mas eu sabia que em seu casamento não havia amor. Certa vez, escutei uma conversa do meu pai com um amigo e descobri que meu pai tinha uma amante. Naquela época, acreditava em separação — assim como Letah, a empregada, havia feito — e fiquei esperançosa. Mas, quando a minha mãe pediu para que eu esquecesse aquilo e não comentasse nada com o meu papa, eu entendi tudo. No nosso mundo, as mulheres não era livres. Sortudos os que se casavam por amor, como Henrico e Nina, que tiveram a sorte. Papai só deixou que eles se casarem depois de o próprio Don — o Senhor De Lucca — ir na minha porta afirmar que o casamento seria favorável, e que ele receberia uma grande recompensa futuramente. Lembro-me de quando o homem morreu, a poucos dias atrás, que papai ficou feliz da vida ao saber que era sogro do consigliere e aposto que, agora, deve estar satisfeito por me ver aqui, na mesa da família do Capo. Tive a impressão de que nenhuma das mulheres foi com a minha cara e suponho que devam estar esperando eu me virar para contar isso a Vicent. — Vamos começar. — A mulher disse. Fazendo um dos homens fazer um barulho de tambor na mesa. Eu estava nervosa. Apertei meus dedos na barra do meu vestido, tentando não mostrar o quão nervosa eu estava. Não para conquistar o Capo, mas por saber que isso beneficiária a mim e somente a mim. Eu precisava disso, nem que por um mês, um único mês, precisava que ele me desse uma paz de espírito, que me permitisse andar pelo jardim e pintar as flores nos meus quadros. Eu só queria a oportunidade de ter uma vida normal, de me sentir normal. Talvez, se eu for a escolhida, eu não tenha isso dentro do casamento e por isso, quero me aproveitar desse pouco tempo que me resta para ter a oportunidade de ser eu mesma. Independentemente de qual seja a escolha de Vicent, eu sei que meu pai me arranjaria um casamento. Talvez, com algum velho nojento ou com seus filhos nojentos. O que pioraria a minha situação, pois sei que as mulheres de outras famílias sofrem nas mãos de seus maridos, tanto quanto a minha mãe. Com o Capo, eu ao menos teria uma oportunidade de ficar sozinha, pois aposto que ele nunca me amaria e nem iria me querer por perto por tempo o suficiente para que eu não pudesse ler ou pintar. — Isabela Lombardi? — A voz da mulher ecoou novamente pelo salão, me fazendo estremecer e olha-la. — Eu? — Eu disse, nervosa. — Sí, Ragazza. — Vicent rolou os olhos. — Vá! Assenti, pedindo licença e correndo por entre as mesas, indo até a mulher no palco. — scusami. — Murmurei. Os olhos da mulher percorreram a mim e ao meu vestido. Acho que ligou os pontos, percebeu a mesa que eu estava e ignorou meu atraso, dando-me um sorriso forçado. — Essas foram as classificadas. — Ela olhou para frente. — Agora, as garotas irão se encaixar na agenda do nosso poderoso chefão — brincou. — e logo logo, saberemos quem é a mais nova primeira dama do cartello DeLucca. A fila já estava formada, uma atrás da outra, enquanto éramos levadas para dentro do enorme corredor. Virei-me dando uma última olhada para a mesa, percebendo agora, que meu lugar já havia sido ocupado por uma mulher mais velha que eu. Eu ainda era muito inocente por achar que ele me trataria bem? Que não colocaria outra ali? Provavelmente, a levaria para a cama ali mesmo. Balancei a cabeça, deixando esses pensamentos sumirem da minha cabeça. As mulheres se encaravam raivosas. Algumas, provavelmente, foram amigas, mas agora, eram inimigas. Todas queriam a mesma coisa: Vicent De Lucca. Elas o tratavam como um prêmio, m*l sabiam elas que nós é que éramos os prêmios da história e que, provavelmente, eles estavam rindo de nós agora mesmo. — Sempre atrasada, Lombardi. — A mulher bufou. — Se não consegue ser pontual... — Ela não precisa, já está a um passo a frente de todas nós. — A loira que estava a minha frente disse, me encarando com certo nojo. — Ah, é? — A mulher riu. — Me digam o motivo? — Ela é irmã da Nina Rossi, esposa do consigliere Henrico. — Ela respondeu. — Para mim, é injusto que ela participe, estava até sentada junto com o Capo hoje. Revirei os olhos. Estava cansada desse papinho frouxo. — Deixe de pensar coisas e se importe em conquistar o seu homem. — Deixei que as palavras saíssem da minha boca. — é mais importante que eu. Bufei, não estava com paciência essa noite, eu só tinha um único pensamento: Eu dormiria em paz. A verdade é que eu dei um grande passo na minha conquista hoje e tinha que me aproveitar disso para conseguir um lugar na vida de Vicent. Eu não almejava ser sua escolhida, na verdade, meu sonho era que ele me deixasse entre as finalistas e me chutasse, como se eu fosse uma qualquer. Em troca, ele me daria um pouco de liberdade. Talvez, eu conseguisse conhecer um cinema qualquer dia dessa semana. Era importante que eu fosse vista depois de ser escolhida, pelo menos, era assim que eu pensava. — Ouvi murmurios de que escolheram a russa por pena. — Uma das meninas comentou com a outra. — Como se o Capo fosse escolher uma impura para viver como uma primeira dama na máfia. — Querem que ela se sinta humilhada e apenas isso, não se preocupe. — A outra disse, em um murmurio. — Ela estava com o Capo. — Uma terceira disse. — Conseguiu se sentar com a família dele. — É por ser cunhada do consigliere, Vicent deve ter sentido pena. — A loira respondeu. — Eu não a levo como competição, não tem motivos para que ele a queira. — Bom, de qualquer forma... — Uma outra estufou o peito. — Espero que se livre dela rapidamente. Meus olhos pararam nela, e eu sorri de canto. Estavam brincando com a pessoa errada. — Signora Lancaster, olhe.. — Donah disse, animada. — Pode ficar com sábado, quem sabe.. — Deixe-me ver Donah. — Ela tomou o caderno preto dos dedos de Vicent. — Eu quero domingo, quem sabe Vicent não me leve a este chá com a sua famiglia, sí? — Sonhe alto, Michela. — A voz de Beatrice ecoou pelo local. — Tomei a liberdade de escolher a agenda do meu Fratello¹, acredito que Donah tenha favoritismo, visto o cenário que presenciei hoje e agora. — É impressão sua, signorina, trato todas iguais. — Donah atuou. A vagabunda era uma ótima atriz, se eu não a conhecesse, cairia no seu teatro. — Bom, de qualquer maneira.. — Ela pegou uma caneta e começou a encarar a agenda. — Céus, os horários de meu Fratello.. — Ela fez uma careta. — Parece que sairá com um bocado de prostitutas. — Seus olhos se levantaram e ela nos estudou. — Não que algumas aqui não sejam. Engoli o seco, encarando o chão. Esperava que ela não estivesse se referindo a mim, que não havia feito nada contra ela até agora. Muito m*l uma ofensa. Mal sabia que Vicent tinha uma irmã e que ela era nova assim. Ela quase me dava inveja. A liberdade que tinha, me invejava. — Bom, vamos começar.. — Ela começou a escrever rapidamente, acho que por ordem de nomes. Demorou alguns segundos até que o caderno estivesse completamente preenchido com a sua letra cursiva e perfeita. As meninas estavam quietas, acho que com o fato de que, um escorregão ou uma reclamação para seu irmão e seu mundinho acabaria. Aposto que estavam remoendo o que fariam com Beatrice assim que Vicent as escolhessem. Ela entregou o caderno a Donah e sorriu. — Se mudar algo... — Disse, em uma ameaça explícita. — Eu vou saber e então, eu mesma cortarei seus dedos, Donah. Você está me dando nos nervos. Donah engoliu um seco, e assentiu. Parece que ela e Beatrice tinham algum tipo de rixa, ou melhor, Donah tinha feito algo para Beatrice. Beatrice saiu com a postura ereta e sem se despedir, se mantendo em cima dos saltos altos e balançando os cabelos. — Louca. — Michela sussurrou. Era quase perceptível que todas ali haviam soltado o ar. Estavam nervosas na presença de Beatrice. — Quando eu for a primeira Dama, contaria a Vicent o jeito que a menina te trata. — Michela disse, com uma falsa expressão de pena. . Falsa. Espero que seja descartada, e que seja a primeira. Eu não suportaria dividir um palco com ela. Ter que me comparar a ela, me deixaria enjoada. — Enfim, esses são os dias de vocês. — Ela começou a dizer, me fazendo piscar algumas vezes. — Vejam só.. Ela começou a pronunciar as meninas e os dias. Éramos em seis, com o Capo tendo um dia livre para escolher se sairia com uma de nós ou não, mas aposto que desejaria estar longe de toda o mais rápido possível e aproveitaria seus dias. — E você, Lombardi.. — Ela disse, chamando a minha atenção. — Ficará com os domingo a tarde, seus horários serão a partir das três. — Ela estava com um bico maior que o mundo. — Depois do café da tarde com a família dele, e quem sabe, ele te aguente até às seis. — Tudo bem. — Falei, passando a língua nos lábios. — Obrigada. — E a agenda dele de domingo é até essa horário? — Michela perguntou. — Me diga, tenho chances de dormir com ele nos domingos? — Sí. — Donah disse animada. — Se ele se livrar da outra mais cedo, você terá uma noite inteira somente para você, só tem de fazer a coisa certa, Signora. — O seu favoritismo é muito aparente, Donah. — Comentei, rindo. — Tome cuidado para não cair junto com ela. Me virei para sair, deixando o lugar, ouvido alguns resmungos da parte de Michela e Donah, que nem se importavam em esconder das outras o complô que ambas haviam montado. Passei pelo corredor, soltando o ar que estava preso. Parecia que o ar aqui fora era até mais leve e respirável. Pelo menos, eu tinha a faca e o queijo na mão. •★• Dicionário: Fratello¹: Irmão
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