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664 Words
**Capítulo 2 - Nolasco Narrando** Tava sentado no escritório, acendendo um baseado enquanto olhava pro Ryan e pros outros que tavam ali comigo. O clima tava pesado, e minha cabeça fervia pensando no que fazer com o Toco. Meu afilhado, sim, mas ele tava passando dos limites, arrastando o nome da facção pro buraco com as cagadas dele. — E aí, chefe, qual vai ser? — Ryan quebrou o silêncio. — Os donos dos outros morros tão putos. O Toco tá arrumando confusão fora do território dele, e isso não dá pra aceitar. Soltei a fumaça devagar, ponderando. — Tô ligado. — Só que a parada tá feia demais — ele continuou. — Primeiro foi o lance do Medrado, morto numa invasão. Agora o Santa Marta tá só na mão dele, desgovernado. Desse jeito, os vermes vão tomar o morro. Quando a polícia descer, meu irmão, já era. A gente perde o controle, e pra retomar vai ser um inferno. — Tá certo — concordei, encarando ele. — Liga pro Toco. Quero ele aqui, agora. Tá na hora de cobrar as pendências. Ryan assentiu, mas antes de sair, lançou: — Outra coisa... a gente devia ficar de olho naquela fiel dele. — Antonella, né? — perguntei, já sabendo a resposta. Ele confirmou com a cabeça. — Tá com cara de ser só mais uma mulher de bandido que gosta de vida boa. Mas sei lá, é sempre bom não subestimar. — Por enquanto, deixa ela fora. Quero só ele nessa conversa. Ryan saiu pra fazer a ligação, e eu me voltei pro computador. As contas tavam cheias, o dinheiro entrando que nem água. Mas grana não resolve tudo, principalmente quando as ações de um moleque imprudente começam a ameaçar a estrutura inteira. O celular vibrou na mesa. Era Gomes, do morro da Rocinha. — Fala, parceiro. — Os canas interceptaram a carga que tava indo pro Alemão — ele disparou, direto. Cerrei os dentes. — Filhos da puta... tão de olho em cada passo. — E agora? — Quem tá no comando da operação? — perguntei, já pensando nos próximos passos. — Marcelo Souza, sargento do BOPE — respondeu. — Manda tudo sobre esse cara pra mim. Quero saber onde ele mora, o que come, onde dorme. Quero tudo. — Vou providenciar e te envio — ele confirmou. Mas antes de desligar, soltou mais uma bomba: — E tem outra coisa... teu afilhado. — O que tem o Toco agora? — Tá vindo pra cima do meu território. Tá esquecendo que a gente faz parte da mesma organização? Tá querendo peitar a Rocinha? Fechei os olhos, controlando a raiva que começava a subir. — Vou resolver isso ainda hoje. — Resolve logo. O Santa Marta tá em frangalhos, irmão. Só ontem, três vapores mortos. Ele tá perdendo a linha e colocando todo mundo no risco. Desliguei sem dizer mais nada. Fui até a janela, deixando o baseado no cinzeiro. Lá fora, Ryan tava terminando de dar o recado pro Toco. Assim que voltou, me encarou, esperando instruções. — Ele tá vindo. Reclamou da hora, mas tá a caminho — disse Ryan. Assenti devagar, deixando o silêncio pairar por uns segundos antes de responder. — Esquece a conversa. Ele não vai sentar aqui com a gente pra trocar ideia. Agora ele vai ter outro destino. Ryan arqueou a sobrancelha, sem disfarçar a surpresa. — Como assim? — Tá na hora de dar um exemplo. Ele passou dos limites, e a facção não pode parecer fraca. O olhar de Ryan mudou. Não era surpresa mais. Era entendimento. — E a Antonella? — Por enquanto, fica de fora. Depois a gente vê o que faz. Voltei pra cadeira, peguei o telefone e mandei um recado pro Gomes: — Fica tranquilo. Até o fim do dia, essa situação vai estar resolvida. Desliguei antes que ele respondesse. Enquanto o relógio corria, a tensão no ar só aumentava. E eu sabia que, a partir daquele momento, não ia ter volta.
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