**Capítulo 2 - Nolasco Narrando**
Tava sentado no escritório, acendendo um baseado enquanto olhava pro Ryan e pros outros que tavam ali comigo. O clima tava pesado, e minha cabeça fervia pensando no que fazer com o Toco. Meu afilhado, sim, mas ele tava passando dos limites, arrastando o nome da facção pro buraco com as cagadas dele.
— E aí, chefe, qual vai ser? — Ryan quebrou o silêncio. — Os donos dos outros morros tão putos. O Toco tá arrumando confusão fora do território dele, e isso não dá pra aceitar.
Soltei a fumaça devagar, ponderando.
— Tô ligado.
— Só que a parada tá feia demais — ele continuou. — Primeiro foi o lance do Medrado, morto numa invasão. Agora o Santa Marta tá só na mão dele, desgovernado. Desse jeito, os vermes vão tomar o morro. Quando a polícia descer, meu irmão, já era. A gente perde o controle, e pra retomar vai ser um inferno.
— Tá certo — concordei, encarando ele. — Liga pro Toco. Quero ele aqui, agora. Tá na hora de cobrar as pendências.
Ryan assentiu, mas antes de sair, lançou:
— Outra coisa... a gente devia ficar de olho naquela fiel dele.
— Antonella, né? — perguntei, já sabendo a resposta. Ele confirmou com a cabeça.
— Tá com cara de ser só mais uma mulher de bandido que gosta de vida boa. Mas sei lá, é sempre bom não subestimar.
— Por enquanto, deixa ela fora. Quero só ele nessa conversa.
Ryan saiu pra fazer a ligação, e eu me voltei pro computador. As contas tavam cheias, o dinheiro entrando que nem água. Mas grana não resolve tudo, principalmente quando as ações de um moleque imprudente começam a ameaçar a estrutura inteira.
O celular vibrou na mesa. Era Gomes, do morro da Rocinha.
— Fala, parceiro.
— Os canas interceptaram a carga que tava indo pro Alemão — ele disparou, direto.
Cerrei os dentes.
— Filhos da puta... tão de olho em cada passo.
— E agora?
— Quem tá no comando da operação? — perguntei, já pensando nos próximos passos.
— Marcelo Souza, sargento do BOPE — respondeu.
— Manda tudo sobre esse cara pra mim. Quero saber onde ele mora, o que come, onde dorme. Quero tudo.
— Vou providenciar e te envio — ele confirmou. Mas antes de desligar, soltou mais uma bomba: — E tem outra coisa... teu afilhado.
— O que tem o Toco agora?
— Tá vindo pra cima do meu território. Tá esquecendo que a gente faz parte da mesma organização? Tá querendo peitar a Rocinha?
Fechei os olhos, controlando a raiva que começava a subir.
— Vou resolver isso ainda hoje.
— Resolve logo. O Santa Marta tá em frangalhos, irmão. Só ontem, três vapores mortos. Ele tá perdendo a linha e colocando todo mundo no risco.
Desliguei sem dizer mais nada. Fui até a janela, deixando o baseado no cinzeiro. Lá fora, Ryan tava terminando de dar o recado pro Toco. Assim que voltou, me encarou, esperando instruções.
— Ele tá vindo. Reclamou da hora, mas tá a caminho — disse Ryan.
Assenti devagar, deixando o silêncio pairar por uns segundos antes de responder.
— Esquece a conversa. Ele não vai sentar aqui com a gente pra trocar ideia. Agora ele vai ter outro destino.
Ryan arqueou a sobrancelha, sem disfarçar a surpresa.
— Como assim?
— Tá na hora de dar um exemplo. Ele passou dos limites, e a facção não pode parecer fraca.
O olhar de Ryan mudou. Não era surpresa mais. Era entendimento.
— E a Antonella?
— Por enquanto, fica de fora. Depois a gente vê o que faz.
Voltei pra cadeira, peguei o telefone e mandei um recado pro Gomes:
— Fica tranquilo. Até o fim do dia, essa situação vai estar resolvida.
Desliguei antes que ele respondesse. Enquanto o relógio corria, a tensão no ar só aumentava. E eu sabia que, a partir daquele momento, não ia ter volta.