✔ 39. Para esconder o passado

1925 Words
✔ 39. Para esconder o passado: ✔ 39.1. Pai e filho: Enquanto cavalgava pela Encantos, Benjamin relembrava os bons momentos que viveu ali, os passeios com o pai, os momentos com a mãe, as brincadeiras com os primos, o avô contando histórias, a mesa farta preparada pela avó. A família reunida, os pais, avós, tios e primos. A felicidade era companheira constante. Relembrar era bom, sentiu saudades. Sabia que era desejo do pai que ele cuidasse da fazenda, por muito tempo foi o seu desejo também, até o instante da promessa feita a mãe. Após o ocorrido, passou a não se sentir digno de herdar a propriedade, os fantasmas do passado não o abandonavam ou ele era quem não abandonava os fantasmas que o atormenta. Diferente de Aurélia, que era aprisionada pela mãe e pela família, Benjamin era aprisionado por vontade própria, por não esclarecer, os fatos do passado. Por ter uma ideia fixa que o amor, não era um bom sentimento, foi em nome desse sentimento que um maldito matou a sua mãe. Odiava o amor entre homem e mulher. Homens matavam em nome desse sentimento. Ele, que sempre viveu conforme as suas escolhas, seguindo o seu caminho, estava se sentindo perdido, agindo de um modo que jamais imaginou. Estava de volta a casa que sempre foi o seu lar, para descansar por trinta dias e com um problema de um metro e sessenta, cabelos longos, dona de um pelo sorriso e olhos castanhos brilhantes, com uma pele exalava um perfume que o inebriava. Problema que atendia pelo nome de Aurélia. Aurélia Castro. Perfeita se não fosse uma ladra. A considerava uma ladra por roubar o seu juízo, os seus pensamentos, por o fazer de um modo estranho. Estava confuso. Desde o dia em que a beijou não fazia outra coisa a não ser desejá-la, ansiava pelo momento em que a beijaria novamente. Antes do beijo já a desejava, o beijo só fez aumentar o seu desejo. Deduziu ser um perfeito i****a ao cogitar que Aurélia pedisse a ele para ser seu professor de sexo. Algo que faria com o maior prazer. Ao mesmo tempo que desejava ser seu professor de intimidades, se repreendia, não podia fazer tal coisa com ela. Não podia a corromper. “Você é um completo i****a, Benjamin, como pode pensar que ela irá te pedir um absurdo desses? Pedir para a ensinar beijar é bem diferente de pedir para a ensinar transar.” Esta distante da sede da fazenda somente de corpo físico, pois os seus pensamentos estavam lá, mas especificamente em Aurélia. Não podia ficar longe, precisava a proteger. Ele como delegado, por entrar em conflito com o interesse de alguns homens importantes, precisava estar sempre em alerta, alguém poderia tentar contra a sua vida como já havia acontecido. A sua profissão implicava riscos, não podia vacilar, dar chance para o azar. _ Filho, você está distraído, está acontecendo algo? Quer conversar? Pedro perguntou percebendo que o filho estava disperso, com o olhar perdido. _ Não está acontecendo nada, somente as preocupações diárias. _ Entendo, preocupação com nome e sobrenome. _ Como? Franziu o senho ao olhar para o pai, confuso. _ Aurélia, não sei o seu sobrenome, mas este é o nome do seu problema. _ Tenho que a proteger, mas ela não é um problema. É uma boa moça, com uma mãe louca, uma família religiosa ao extremo e com um assassino planejando a matar. Pedro sorriu. _ Benjamin, essa mulher está mexendo com você. Olha tudo o que esta fazendo por ela, a levou para o seu apartamento, as férias, a trouxe com você. Você sente algo por ela. Repreendeu o pai, não gostando nada do rumo daquela conversa. _ Não começa pai, estou a ajudando como ajudaria qualquer outra mulher, não tem nada de mais. _ Não sente atração por ela? Não a deseja? _ Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O pai não entendeu a sua resposta. _ Então admite que ela o atrai que a deseja? Não respondeu. _ Acho melhor voltarmos para casa, não posso ficar tanto tempo longe. Pedro sorriu, Benjamin podia negar que estava sentindo algo por sua protegida, não esconder o modo como a olhava, a preocupação e as suas atitudes atípicas em função dela. _ Filho, você é homem e não há mau algum em desejar Aurélia, ela é uma mulher bonita, mesmo que tente esconder sua beleza com aquele vestido horrível. Concordava com o pai, a achava linda, as roupas em nada escondiam a sua beleza, muito pelo contrário o atiçava, imaginando como ela seria com roupas normais que pudessem revelar um pouco mais do seu corpo. _ Vocês podem curtir o momento. Pedro sugeriu. _ Aurélia não é mulher de curtir o momento, ela não tem malícia, nunca se envolveu com homem algum. _ Nada que a impeça, como homem experiente que sei que é, pode ensiná-la. _ Não farei isso e chega desse assunto. Benjamin encerrou o assunto de forma ríspida, não desejava falar sobre Aurélia, não queria admitir que ela mexia com ele, que a desejava feito um louco. Que ansiava por a beijar novamente, sentir o calor da sua pele grudada a sua. A ensinar todos os prazeres do sexo. Não podia a corromper com a sua devassidão, não era um canalha, por mais que desejasse muito mais que um beijo. Se sentiria o pior dos homens se o fizesse. ... /// ... /// ... /// ... /// ... ✔ 39.2. Inofensiva e terrível: Benjamin poderia até tentar fugir, resistir por um tempo, mas não conseguiria por muito tempo, desejava Aurélia como nunca desejou outra mulher. A queria! A sua boca negava o que o seu corpo ansiava para ter. De volta a casa, quando a sua avó o informou sobre a ida ao shopping, gostou da ideia, imaginou como seria bom para Aurélia a transformação no visual. Seria importante para ela se desprender das amarras da mãe. Seria impossível para ele resistir quando a visse após as compras, com um novo visual. Compras, outra coisa que não se imaginava fazendo. Levar uma mulher às compras. Com razão sua avó e o seu pai estavam estranhando o seu comportamento, nem ele mesmo se reconhecia. Sairiam após o almoço. … Estava em seu quarto se arrumando quando a avó bateu na porta. _ Filho, quero conversar com você. Deu permissão para que Julieta entrasse. _ Tenho medo quando a senhora deseja conversar. Sabia que a avó tinha uma aparência de senhora frágil, inofensiva, mas era terrível, dona de uma linguá afiada, sem pudor algum para se expressar. _ Quero conversar sobre Aurélia, gostei dela, percebi ser uma boa moça, por isso vim falar com você sobre as compras que faremos para ela. Julieta sentou-se aos pés da cama, cruzando os pés. _ Concordo que ela é uma boa moça, tímida e reprimida. _ Quero pedir que não reclame de pagar por suas roupas, posso o ajudar caso precise, se ficar muito caro. _ Vovó, sabe que nunca fiz questão de dinheiro, não tenho problema algum em pagar as compras que Aurélia fizer. _ Sei que não, não é ganancioso e nunca fez questão de dinheiro, mas mesmo assim achei melhor conversar com você. Enquanto cavalgava com o seu pai, pedi para ver as roupas que ela trouxe, senti um aperto no coração. Uma jovem não pode usar aquelas coisas… _ Horríveis. Ele completou. _ Se fosse só a aparência até que ia, mas os tecidos são grossos, quente, imagino como deve ser desconfortável para ela. Assim que voltarmos do shopping quero fazer uma fogueira com elas. Ele não conteve o sorriso, entendendo que sua avó transformaria Aurélia numa nova mulher. _ Ela precisa de muitas coisas, calças, saias, vestidos, blusas, pijamas, tudo o que uma mulher na idade dela precisa. _ Imagino que sim. _ Não ficará barato. _ Também imagino que não. _ Gostei dela, quero a ajudar. Se for muito para você, eu o ajudo a pagar. _ Dona Julieta, não se preocupe, mesmo que fique caro, posso pagar, não tenho problema algum em pagar. Tenho uma boa economia, praticamente não gasto com nada. O salário de dele era bom, com uma despesa baixa conseguia economizar. Pagaria com prazer por tudo que ela quisesse comprar, ansiava por ver como Aurélia ficaria vestindo roupas normais de acordo com a sua idade. A atitude da sua avó chamou a sua atenção, não entendeu a calma, a disposição em ajudá-lo a pagar as pelas compras. Um comportamento bem diferente do que estava acostumado, fazia mais sentido que ela ordenasse que ele pagasse sem reclamar. Que o obrigasse. Uma Julieta imponente era o se esperava. "Não quando ela estava testando as reações do neto", mas esta parte Benjamin não precisava saber. A senhora estava incomodada desde o momento em que ouviu Aurélia contando como era a sua vida, as atitudes da mãe, a pressão, a falta de liberdade. Precisava de uma explicação. _ Outra coisa, não acho normal o comportamento da mãe dela, tem algo mais. Não faz sentindo uma mulher obrigar a filha a se vestir… Fez uma careta. _ Como no seculo XIII. Não sabia se no século XIII, as mulheres se vestiam daquela forma, mas era uma hipótese. _ Tenho para mim que a mãe dela esconde algo. Benjamin analisou a situação, ele mesmo já havia cogitado que existia uma motivação por trás das atitudes de Luiza, algo além da religião, porém não deu atenção ao fato, ela poderia ser mais uma mãe narcisista, controladora. Esfregou a barba, ouvindo o que a avó dizia. _ A mãe de Aurélia provavelmente era uma meretriz. Arregalou os olhos ao ouvir a avó expressar o que havia deduzido sobre Luiza. _ Não precisa fazer esta cara de assustado, a mãe dela provavelmente fazia a vida e possui medo da filha ter herdado o seu lado, p**a, meretriz. Ele, que já estava surpreso, ficou ainda mais. _ Vovó, a senhora está insinuando que Luiza era uma mulher da vida? _ Sim. Rapariga, p**a, rameira, messalina, cocote, marafona, prostituta, seja lá qual nome se dá para a essas mulheres. Cogitou a hipótese da avó estar ficando louca, conhecia o seu vocabulário chulo, fato que não o impediu de ficar espantado com tantos adjetivos usados por ela para qualificar a mãe de Aurélia. _ Somente assim para ter tais atitudes. Ela deve ter o sangue quente com medo da filha ter herdado a sua genética despudorada. Ela explicou a ele o seu ponto de vista. _ Mulheres que ganhavam a vida se prostituindo quando ou se conseguem se casar, viram umas chatas, arrotando moral, exibindo uma falsa postura repleta de pudores para esconder o passado de libertinagem e devassidão. Julieta fez com que o neto avaliasse a situação, não era normal as exigências impostas por Luiza a filha. Mães com comportamentos controladores e narcisistas eram mais comuns do que se imaginava. Luiza poderia ser uma delas ou talvez sua avó estivesse correta, nas duas vezes que a encontrou foi acusado por ela de estar tentando corromper Aurélia, a levando para o mundo da devassidão, que seu desejo era a transformar em uma meretriz. De tudo o que poderia imaginar, imaginar que a mãe da sua protegida poderia ter um passado imoral, era demais até para ele acostumado a lidar com as mais diversas situações. ... /// ... /// ... /// ... Benjamin tinha uma nova investigação para fazer, investigar o passado de Luiza Castro, sorte possuir os contatos necessários para conseguir tais informações.
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