✔ 38. Lagarta

1411 Words
✔ 38. Lagarta: Sentada em uma cadeira, próxima à ampla janela da cozinha, Aurélia contemplava a paisagem, envolvida pelo ar fresco que a abraçava, deixando paz do lugar invadir o seu ser. Pensava nos últimos acontecimentos. Em muitos momentos tentou entender o que estava acontecendo com a sua vida, não encontrando uma explicação. Também não poderia pensar no amanhã, estar na mira de um assassino não era bom de lembrar. Não pior que sentir medo, que a sua sentença fosse executada. Restava o desejo de dias melhores, o seu pedido para sair de casa, se realizou, não como gostaria, mas estava longe de casa. Estava livre, ainda que presa, presa no que aprendeu a ser. Aurélia poderia ser considera como um botão de uma flor, que a qualquer momento desabrocharia. Outra comparação para definir a situação de Aurélia, seria a de um pássaro em uma gaiola com a porta aberta, que por medo não voa para longe, tenta, porém não consegue. Ela precisava de apoio e estímulo para bater as suas asas e voar para longe, voar alto, deixar para trás tudo o que a aprisionou, entender que era livre. Livre para ser quem quisesse ser. A gaiola continuaria com a porta aberta, enquanto ela voava, enfrentando os seus medos, se falhasse seria aprisionada novamente. Falhar não era uma opção. Não era permitido. O vento soprava balançando as folhas das árvores, os raios solares refletindo na queda d'água distante, o colorido das flores em meio ao verde, borboletas coloridas que pareciam ser levadas pelo vento, o canto dos pássaros quebrando o silêncio, em perfeita sinfonia. Tudo em perfeita harmonia. Estava em paz. Livre! Em meio ao colorido da natureza, os seus olhos encontram Benjamin, que cavalgava pela propriedade com o pai. A paisagem, que já era linda, conseguiu ficar ainda mais. Estava fresco, mas sentiu calor. Ele era lindo. Uma força da natureza. Ao vê-lo cavalgando, imponente, segurando as rédeas com firmeza com a mão direita, com a esquerda indicava algo ao pai. Em nada ele se parecia com o delegado conhecido por proteger mulheres vítimas de agressões, também desfrutava da paz do lugar. Sendo a única semelhança entre o delegado e o homem que cavalgava, era a imponência. Em qualquer lugar que estivesse, Benjamin, era notado por sua presença marcante, sendo fácil perceber que nasceu para comandar, um homem altivo, conhecedor do seu poder. Não era arrogante ou soberbo do tipo que se achava melhor que outras pessoas, mesmo que em muitos momentos atuasse arrogantemente, devido a sua falta de paciência e desejar que tudo fosse feito de forma rápida. Se fosse da sua vontade poderia deixar o cargo de delegado e assumir o comando da fazenda do seu pai. Ter o filho comandado a Fazendo dos Encantos, era o sonho de Pedro. A Fazenda dos Encantos, era produtiva, com terras férteis, água em abundância, localizada próxima à pequena cidade de Vale dos Lírios. A sua renda permitia a família viver de forma confortável e ostentar alguns luxos. Os olhos de Aurélia brilhavam com bela imagem, os seus olhos não eram os únicos que brilhavam, Julieta como uma gata sorrateira a observava, gostando do que via. Feliz por não estar errada no seu primeiro julgamento, o neto era amado por sua protegida. Talvez muitos diriam que ela estava enganada, confundindo admiração e gratidão com amor. Sentimentos que caminhavam lado a lado, mas ali era amor, o brilho no olhar, o sorriso singelo marcando a face. Se conseguisse enxergar pelos olhos de Aurélia, somente veria o neto. _ É uma bela visão. Falou, fazendo com que Aurélia percebesse que não estava sozinha. _ Muito. Julieta precisava conversar com Aurélia, sobre o neto. Ganhar a sua confiança. _ Também me refiro a meu neto. Disse sorrindo, fazendo com que Aurélia ficasse com as bochechas vermelhas. _ Não acha meu neto bonito, Aurélia? A pobre moça ficou sem graça, não estava acostumada a falar sobre a beleza masculina. _ Acho. Benjamin é um homem bonito. Muito bonito. A última parte dita em um sussurro. A matriarca da família não gostava de perder tempo. _ Benjamin nunca trouxe nenhum mulher a nossa casa, raramente vinha nos visitar, para nós uma surpresa vê-lo chegar hoje e com você o acompanhando. _ Ele está me protegendo… Todos poderiam acreditar naquela história de proteção, não Julieta Torres, conhecia seu menino para saber que ele não colocaria uma mulher em seu apartamento, muito menos a levaria para a casa da sua família. Nem tudo estava as claras. _ Que Benjamin a está protegendo eu já sei, mas consigo sentir que existe algo mais. _ Algo mais? _ Sim. Um envolvimento amoroso. A resposta curta e direta fez com que Aurélia, se engasgasse com a própria saliva. Recuperada, bebia água, com Julieta sentada ao seu lado. _ Menina, não tente me enganar, você olha para Benjamin com um olhar apaixonado. Foi pega. _ Pode confiar em mim. Era difícil falar sobre o que sentia, aprendeu que era errado. _ Passei a admirar Benjamin quando o via nos noticiários, acho incrível o trabalho dele. Era bom vê-lo dando entrevista, sério, postura impecável, respondendo tudo com muita firmeza. Eu o achava bonito, mas descobri que pessoalmente é ainda mais. Olhou para a janela procurando por ele. _ Na Universidade as garotas babavam quando ele aparecia, sério, observando, fazendo perguntas. Era engraçado, algumas diziam que para ser um príncipe, só faltava chegar em um cavalo branco, como nos conto de fadas, em que o príncipe salva a mocinha em perigo. _ Benjamin é o seu príncipe. _ É, ele está me salvando de um assassino. Continuaram a conversar, com cuidado a senhora conseguiu as informações que precisava. Sem perceber, Aurélia, durante o tempo em que a ajudou, se abriu, contou da sua vida, de como a mãe a tratava, da sua falta de experiência, o medo de ser assassinada. Contou tudo, até mesmo sobre o beijo. _ Você pediu para Benjamin a ensinar a beijar? Assentiu. _ Isso é melhor do que eu poderia imaginar. E quando irá pedir para que a ensine sobre sexo. Foi por muito pouco que o prato que estava nas mãos de Aurélia, não se transformou em um monte de cacos. _ Nã... Não posso fazer isso, é imoral, indecente. _ Querida, você já sofreu muito, a gaiola está com a porta aberta, aprenda a voar, a desfrutar da liberdade. Sua mãe não está aqui, não irá a repreender. _ Fui criada assim… _ Sua mãe a tratou como um robô programado para fazer o que ela deseja. Lamento pelas moças que morreram, lamento por você está na lista deste bárbaro. Um acontecimento r**m que está proporcionando a você a criar sua própria identidade, fazer suas escolhas, ter vontades. Essa que está na minha frente, não é a verdadeira Aurélia, está é a Aurélia que a mãe deseja que ela seja, a manipulando. Não é fácil, mas precisa tentar. Quando quiser fazer alguma coisa ou falar, pense por você e não no que foi imposto como certo. _ Não sei como fazer, por onde começar, minha mãe sempre decidiu por mim. _ Você já começou quando impôs seu desejo de fazer o curso de inglês. Quando decidiu sair de casa com Benjamin. Quando preferiu ficar no apartamento dele a ir para uma casa de proteção. Quando o pediu para a ensinar a beijar. Está desabrochando, aprendendo a voar. Mas ainda é lagarta, presa no casulo, precisa virar borboleta. Uma linda borboleta. Ela conseguiu entender que a senhora fazia referência às suas roupas, Julieta não escondeu seu desagrado ao olhar o vestido que usava. _ Não tenho dinheiro suficiente para comprar roupas. _ Não se preocupe, Benjamin pagará por suas roupas. Aurélia ficou apavorada, era muito para ela. Benjamin já estava a mantendo segura, gastar com roupas para ela, não poderia aceitar. _ Não, Benjamin já está fazendo muito por mim, não… Não pode completar a frase. _ Ele pagará, é para a sua segurança, com um novo visual chamará menos atenção… A senhora cuidava do fogão, fazendo a comida preferido do neto, aproveitava a oportunidade para convencer Aurélia a aceitar as roupas. Não era muito para Benjamin pagar, ele tinha um bom salário, praticamente não tinha despesas. Também tinha o lucro da fazenda, que Pedro depositava para ele. O dinheiro não faria falta a ele. _____ /// ___ /// ___ /// ___ /// _____ Julieta estava se controlando, Aurélia era muito recatada, não queria a assustar.
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