✔ 15. A tristeza de Aurélia:
✔15.1 Delegacia:
Muitas coisas poderiam ser esclarecidas com a colaboração voluntária de Giancarlo, como confessou as agressões antes mesmo de Fiorella formalizar uma denúncia também poderia fornecer informações sobre o tráfico de mulheres.
Benjamin, ponderou antes de abordar o assunto, não sabia até que ponto ele estava disposto a colaborar.
_ Giancarlo, sei que veio hoje a delegacia para falar das agressões a Fiorella, que chegou aqui sabendo que seria preso.
_ Exatamente.
_ Como veio aqui para assumir a autoria uma de agressão, aproveito a oportunidade para perguntar se tem algum envolvimento em outro tipo de crime?
Ele entendeu a que ponto o delegado desejava chegar, estava em uma delegacia de crimes contra as mulheres, provavelmente o delegado estavã investigando sobre as mulheres do bloco Hepta, que chegavam ao país e trabalhavam em sua boate.
_ Muito se especula a meu respeito, até hoje nada foi comprovado. Por estarmos em uma delegacia de crimes contra a mulher, deduzo que esteja perguntando se tenho algum outro tipo de crime que envolva outra ou outras mulheres.
Sorriu.
_ Eu ajudo algumas mulheres do bloco hepta, elas trabalham em uma boate em que sou sócio. Elas querem fugir, forneço a elas a oportunidade, e elas pagam pela ajuda.
_ Você alicia mulheres para trabalharem em sua boate?
_ Não engano nenhuma delas, nenhuma vem obrigada ou a força. Elas veem sabendo que terão o empréstimo que é feito, para sair do bloco. São mulheres com baixa ou sem nenhuma escolaridade, que nunca trabalharam. Você que sem estudo e experiência não é fácil conseguir um emprego. Assim é oferecido a elas trabalho na boate. Elas chegam com uma dívida e precisam pagar.
Ele recusou a dar mais informações, não foi para falar de mulheres que fugiam da tradição existente no bloco hepta, que a delegacia.
Alguns fragmentos do trecho a seguir estão presentes no capítulo oitenta e cinco da história: "Uma pequena Flor no Jardim de Fabrizio".
Pela primeira vez Giancarlo não estava sendo covarde.
Chegou a delegacia sabendo que seria preso. Quando Benjamin o conduziu até a cela, não refutou, apenas o seguiu.
Fez um único pedido.
_ Sei que é um homem de caráter, cheguei hoje sabendo o que aconteceria. Revelei o meu segredo, o guardei por anos sem que ninguém soubesse. Sei que terá que repassar as informações a seus superiores, a Fabrizio e a Coisinha. Entendo que é parte do seu trabalho, porém não desejo que meu desabafo seja exposto na mídia.
Giancarlo não encarou seu depoimento mesmo que de forma espontânea, como um depoimento, foi o seu momento de falar sobre seus sentimentos.
O que viria daquele momento em diante não tinha importância alguma. Não tinha nada a perder. Tinha perdido o que nunca teve.
O que mais poderia ter importância?
Com a confissão, Benjamin entrou em contato com Fabrizio. Ele precisaria levar Fiorella a delegacia para formalizar uma denúncia.
Fabrizio recusou, estavam felizes, pretendia ter uma noite agradável com a família, a levar a delegacia, falar do passado, a deixariam triste.
Giancarlo havia tirado de Fiorella a felicidade, o seu sorriso, não permitiria que ele estragasse a alegria daquele dia.
Tudo poderia esperar, não a comemoração em família.
(Fim do trecho retirado do capítulo oitenta e cinco.
Este foi o último trecho repetido nas duas histórias.)
...
✔ 15.2 A tristeza de Aurélia:
Aurélia tentava levar sua vida da melhor maneira possível, em paz, sem conflitos. Mas a cada dia que passava a situação em sua casa piorava. Não saberia até quando poderia suportar o machismo e o autoritarismo da mãe.
Muitas foram as vezes em que se olhou no espelho e não viu uma mulher jovem, as roupas que usava não eram condizentes com a sua idade e talvez uma senhora de setenta anos.
Aos vinte e três anos, não possuía a liberdade de usar as roupas que escolhesse.
Sempre reprimida.
Aurélia aprendeu a calar suas vontades, os seus desejos de uma jovem mulher, para evitar conflitos com a mãe. Ela nunca vencia os embates com ela.
Além da repressão sofrida, passou a sofrer pressão para aceitar Saulo como namorado. Um tormento a mais em sua vida.
As cunhadas não frequentavam muito a sua casa, raramente apareciam, evitavam a sogra.
A avó com idade avançada, o pai não era muito de conversar, amigas não tinha. Para a mãe ninguém era boa suficiente para ser sua amiga,e quem se aproximasse ela dava um jeito de espantar. Luiza sempre dizia que eram má influência para a filha.
Não havia com quem desabafar, em muitas noites abraçava o seu travesseiro e chorava, sozinha no escuro do seu quarto, deixa suas lágrimas molharem o seu rosto. A sua única forma e o seu momento de extravasar e dor.
Sentia-se fraca e se odiava por este motivo.
Sua esperança era o curso de inglês, a oportunidade de conseguir uma forma de se sustentar e poder fugir das garras da mãe, da família.
O medo estava sempre a rondando quando começou a planejar sair da casa dos pais.
Não tinha outra forma, mesmo com medo precisava tomar as rédeas de sua vida. Ser independente. Ser livre. Ser ela, a Aurélia que pensa, fala, sente, tem vontades, personalidade. Não a Aurélia que a mãe e a família desejam que ela seja.