A MANSÃO DE CAINA - 08

1323 Words
Charles revirou os olhos em um gesto carregado de desprezo e impaciência, sendo que cada movimento feito por ele era um reflexo de sua frustração crescente. As palavras de Adrienne pendiam no ar, frágeis e sem impacto, como folhas secas sopradas pelo vento. Ele m*l se deu ao trabalho de esconder seu desdém, a incredulidade estampada em seu rosto de forma tão vívida que parecia quase palpável. A tensão no ambiente era quase tangível, como uma corda esticada prestes a romper. Adrienne, sem perceber ou sem se importar com a reação de Charles, continuava a falar e sua voz estava se tornando uma constante irritante no tumulto interno de Charles. Ele sentia cada palavra dela como um ataque pessoal, uma ferida aberta sendo constantemente cutucada. O peso do silêncio que se seguiu ao gesto de Charles era sufocante, carregado de uma carga dramática que não podia ser ignorada. “E o que você quer que eu faça? Que eu me ajoelhe e te peça desculpas por querer um pouco de diversão na vida?” Ele responde, sarcástico. “Você é tão chata, tão previsível. Às vezes, eu me pergunto por que ainda estou aqui”. Adrienne se levanta da cadeira com um suspiro de exasperação. “Talvez você devesse se perguntar isso com mais frequência, Charles. Porque eu estou cansada. Cansada de tolerar suas grosserias e suas traições emocionais. Eu mereço mais do que isso”. Charles ergue uma sobrancelha, mostrando um semblante deveras desafiador. “E o que você vai fazer, Adrienne? Me deixar? Você não teria coragem. Você precisa de mim mais do que eu e esta casa precisamos de você”. Adrienne o encara com determinação. “Talvez você se surpreenda, Charles. Talvez eu tenha mais coragem do que você imagina. Afinal, eu não sou mais aquela garota indefesa que você conheceu há tantos anos e que aquele seu amigo escritor, o Lutécio, tenha publicado em forma de conto. Eu mudei. E talvez seja hora de você perceber isso”. A tarde avançava impiedosamente sobre o céu, tingindo-o com tons de escuridão enquanto Charles, em um gesto de desespero contido, atravessava o limiar do lar familiar. As dobradiças, corroídas pelo tempo e pelo desuso, gemiam em protesto ao ímpeto de sua partida, lançando ao ar um lamento que ecoava como um sinistro presságio. Era como se as próprias paredes da casa guardassem a memória dos argumentos que haviam dançado entre elas, os fantasmas do passado sussurrando desavenças e desesperança. Cada passo de Charles ressoava na quietude sombria, com uma cadência marcada pela exasperação que se misturava ao silêncio pesado daquele fim de entardecer. Sua angústia pairava no ar como uma névoa densa, envolvendo-o em um abraço gélido de desilusão e desespero. As sombras se estendiam pelo caminho, como se ecoassem sua própria escuridão interior. A cada movimento, ele sentia o peso esmagador das escolhas erradas, das oportunidades perdidas e das promessas quebradas. O crepúsculo lançava um brilho débil e vacilante sobre a paisagem desolada, refletindo a tormenta em seu coração. Charles andava como se fugisse de um destino inevitável, os pensamentos atropelando-se em sua mente, formando um turbilhão de incertezas e remorsos. O mundo ao seu redor parecia desmoronar lentamente, um palco de memórias dolorosas e sonhos despedaçados. Ele podia quase ouvir os sussurros dos fantasmas de seu passado, lembrando-o constantemente de seus fracassos causados por sua liberdade sem responsabilidade. O ar frio da noite que se aproximava cortava sua pele, mas a verdadeira frieza vinha de dentro e era de uma gelidez que parecia se instalar em seus ossos, alimentada por uma solidão avassaladora. Charles estava perdido em um labirinto de emoções sombrias, sendo que cada passo ecoava como um grito mudo na vastidão do seu desespero. A esperança, uma chama outrora vibrante, agora não passava de uma brasa fraca, lutando para não se apagar na escuridão crescente que ameaçava consumi-lo por completo. Do outro lado da porta, o silêncio desceu como uma cortina pesada, abafando os suspiros entrecortados de Adrienne. Seu coração, dilacerado pelas palavras ásperas da discussão recente, ecoava as mágoas como um tambor funesto. Lágrimas solitárias traçaram caminhos em suas faces pálidas, se tornando um reflexo líquido da dor por anos contida por aquela dona de casa. O ambiente, outrora palco de risos e cumplicidade, transformara-se repentinamente em um cenário de solidão e desamparo, onde sombras dançavam ao som de lamentações não proferidas. Entretanto, quando a presença serena de Sandrine se fez notar entre as paredes ainda reverberando com a tensão do conflito, Adrienne, em um esforço hercúleo, ergueu uma máscara de serenidade em seu rosto marcado pelo sofrimento. Seus olhos, enevoados pelas lágrimas, brilharam com uma determinação forjada no calor da maternidade, enquanto ela se esforçava para ocultar em seu pranto silencioso, um segredo partilhado apenas com a solidão de sua alma, que fora perdida nos labirintos sombrios de seus pensamentos mais íntimos. Na penumbra do lar de Adrienne, onde sombras ancestrais se enroscavam como serpentes famintas por trás dos luxuosos móveis, ela dançava uma dança macabra, com seus movimentos contorcidos entre a serenidade fingida e a agonia silenciosa. Como uma tragédia inescapável, a cada passo ela encenava um papel, oscilando entre a protagonista e a antagonista de sua própria vida. Seus olhos, janelas para um abismo de desespero, refletiam a tormenta que rugia dentro de sua alma. Entre os corredores gélidos da mansão, onde o eco dos segredos sussurrava nas paredes de pedra, Adrienne se via aprisionada em um labirinto de mentiras e decepções. Seus lábios, selados com o lacre do sofrimento, despejavam palavras ensaiadas de conforto, enquanto seu coração, dilacerado pela dor, implorava por liberdade. Sob o manto sombrio da noite, quando o véu da normalidade se desfazia e os demônios do passado emergiam das sombras, Adrienne protegia sua filha como uma mãe leoa, cercando-a com os espinhos de sua própria dor para evitar que ela fosse dilacerada pelas garras da desunião. Cada suspiro, um lamento enraizado na alma; cada gesto, uma promessa frágil de redenção. E assim, no palco sombrio de sua existência, Adriane persistia, uma sombra frágil sob o peso de uma tragédia inominável. Pois, mesmo quando a tempestade rugia com fúria e os ventos da desesperança sopravam gélidos, ela se agarrava à última réstia de luz, uma chama titubeante de esperança que ardia em seu peito como um farol na escuridão: “Já chegou Sandrine? Nem vi você entrar. Vá tomar banho e se trocar, pois daqui a pouco a janta já vai ficar pronta”. “Não adianta tentar me enganar mãe: eu vi tudo”. Ruborizada com as palavras da filha, Adrienne fica sem saber o que falar e tenta disfarçar ainda mais: “Estávamos discutindo sobre a nova decoração da sala. Só isso”. Enfurecida com o que tinha visto naquela tarde no shopping, onde suas suspeitas se confirmaram de forma avassaladora, e pelo que acabara de presenciar dentro de casa, Sandrine sentia seu sangue ferver. Seus olhos ardiam de fúria, e ela m*l podia controlar os tremores que percorriam seu corpo. A imagem que testemunhara no shopping já havia sido um golpe quase insuportável, mas o que acabara de acontecer em sua própria casa era a gota d'água. Com a raiva pulsando em suas veias, Sandrine avançou como uma tempestade sobre a mãe. O dedo indicador tremia enquanto ela o apontava com determinação implacável, quase como se quisesse perfurá-la com a intensidade de seu olhar. Sua voz, quando finalmente encontrou caminho para sair, não era um simples grito, mas um rugido carregado de dor e decepção. “Pare aí mesmo, dona Adrienne! Desde que eu me conheço por gente, que esse cachorro que se diz meu pai, fica te humilhando! E eu já não aguento mais ver a senhora se rebaixando dessa maneira. Ele só faz isso com a senhora, porque a senhora é uma mulher honesta e fiel. Se a senhora fosse outra, ele te trataria melhor!”
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