A MANSÃO DE CAINA - 07

1282 Words
Na penumbra da sala, Sandrine observou seu pai se afastar, sentindo-se mergulhada em um abismo de frustração e desespero pelo que havia testemunhado horas antes e como Charles representava tão bem dentro de casa que nem ela e nem sua mãe tinham percebido tamanho ardil. A batalha que se desenrolava diante de seus olhos era uma dança sinistra, cujo desfecho parecia tão distante quanto os confins do mundo conhecido. Já Adrienne, que permanecia dentro daquela enorme mansão à mercê daquela vida, estava envolta na névoa gélida da desilusão, ao mesmo tempo em que viu-se tomada por uma dor lancinante, enquanto as palavras afiadas de seu esposo cortavam sua alma como lâminas de aço. Cada sílaba proferida por Charles era como um golpe devastador, dilacerando a frágil teia de esperança que ela ousara tecer ao redor de seu coração, pois nada mais lembrava o homem carinhoso com o qual se casara vinte e dois anos atrás. Seus olhos, reflexos de uma tormenta interior, lutavam contra o pranto que ameaçava romper as comportas de sua dor, traçando caminhos salgados por suas pálidas faces. Era como se cada insulto feito por seu marido fosse um novo golpe infligido sobre a ferida já aberta de sua autoestima, transformando-a em uma vítima indefesa da crueldade humana daquele mundo feito de cera. O silêncio que se seguiu à tempestade de palavras era ainda mais ensurdecedor, ecoando apenas o som sombrio do coração dilacerado. Adrienne, frágil como uma flor exposta à tempestade, debatia-se contra as ondas turbulentas de suas emoções, lutando para manter-se à tona em um mar de desespero. A humilhação, que lhe era como uma sombra perversa, envolvia-a por completo, sufocando-a com seu abraço gélido e implacável. Enquanto sua filha, testemunha ciente dessa batalha íntima, pairava como um espectro sobre o cenário sombrio, absorvendo cada gota de angústia materna com olhos arregalados e aterrorizados. Adrienne sentia o peso de sua maternidade como se uma corrente de ferro estivesse prendendo-a à realidade c***l que se desenrolava diante de seus olhos: uma realidade onde o amor se desvanecia sob o peso opressivo do sofrimento. Ofegante, Adrienne tentava conter os tremores que agitavam suas mãos, como se uma tormenta interior estivesse prestes a se a****r sobre ela em toda sua furiosa magnitude. Cada respiração era um mergulho nos abismos de sua própria angústia, onde sombras dançavam em volta de sua alma, clamando por uma libertação que nunca chegava. Seus pulmões se enchiam e esvaziavam num ritmo frenético, como se absorvessem não apenas o ar impregnado de tensão, mas também os suspiros de todos aqueles que já sucumbiram à aflição do destino. Finalmente, após reunir os fragmentos dispersos de sua dignidade dilacerada, Adrienne deixou escapar um suspiro insatisfatório, que ecoou pelos corredores daquela mansão ancestral, liberando a fúria contida que fervilhava dentro dela como um caldeirão de bruxaria prestes a transbordar. Seu murmurante tom de voz, embora firme, era como o uivo de um lobo solitário na escuridão da noite, tremendo com a intensidade das emoções que há muito tempo haviam sido silenciadas. Cada palavra que proferia era como uma invocação aos espíritos sombrios que habitavam os recantos mais profundos de sua alma torturada, clamando por justiça em um mundo governado pela crueldade de todas as ditaduras existentes. E então, com a graça de uma rainha desafiante em seu trono de espinhos, Adrienne ergueu-se da cadeira onde repousava sua postura, tornando-se uma muralha impenetrável contra as palavras afiadas que seu marido lançava em sua direção. Seu olhar, embora embaçado pelas lágrimas não derramadas, brilhava com uma determinação sombria, desafiando não apenas o homem que ousara desafiá-la, mas também os próprios demônios que habitavam seu íntimo atormentado. Era um desafio silencioso, um convite para que seu marido enxergasse além das cicatrizes visíveis e reconhecesse a força inquebrável que pulsava dentro dela, como um coração n***o e frio batendo no peito de uma criatura que há muito tempo havia abraçado a escuridão como sua única companheira verdadeira. No interior sombrio da mansão, onde as cortinas dançavam ao som dos gemidos do vento, as palavras perversas de Charles ecoaram como facas afiadas, cortando a quietude tétrica que envolvia o ambiente. Adrienne, em seu vestido cinza como um dia nublado, ergueu-se diante da figura sinistra que a encarava com olhos gélidos, determinada a não ser consumida pelo abismo de desespero que se abria diante dela. Suas palavras são como lâminas afiadas, cortando-me profundamente, sem piedade. Cada sílaba que sai de sua boca é um golpe preciso, rasgando minha pele e atingindo minha alma. A dor é intensa, e o sangue que escorre é a prova do seu veneno, que se infiltra nas minhas veias, espalhando-se como fogo. Mas, apesar do tormento que você me causa, eu não vou sucumbir ao seu poder destrutivo. Meu espírito, embora ferido, se recusa a ser derrotado. Cada ferida vai cicatrizar, cada gota de sangue será um testemunho da minha resistência inabalável. Você pode tentar me destruir, mas eu sempre ressurgirei das cinzas, mais forte e resiliente, pronta para enfrentar qualquer tempestade que você traga, murmurou Adrienne sozinha, com sua voz tão frágil quanto a luz que tremia no eco, mas carregada de uma resolução que desafiava as sombras que se agitavam ao seu redor. Cada palavra que escapava de seus lábios era um feitiço de p******o, uma barreira contra a tormenta de desprezo que ameaçava engolfá-la. Os móveis antigos rangiam como almas torturadas enquanto Adrienne, em sua vulnerabilidade corajosa, emergia como uma figura enigmática de resistência contra a crueldade do destino. Seus olhos, refletindo a chama vacilante da vela, brilhavam com uma determinação inquebrável, como estrelas perdidas na vastidão da escuridão. E ali, na penumbra daquela vida nublada e depressiva, ela se ergueu das cinzas da humilhação, como uma fênix renascida das chamas do sofrimento. Seu coração, embora dilacerado pela dor, pulsava com a força de mil trovões, desafiando os grilhões do desespero e proclamando a vitória do amor próprio sobre a escuridão que ameaçava engolfá-la. E essa vitória veio em forma de palavras tão duras quanto as que tinha acabado de escutar, saídas da boca de seu marido: “Você só fala isso e só tem essas atitudes porque eu sou uma mulher boa e fiel. Se eu fosse uma dessas vadias que você arruma e vivesse te enchendo de chifres, você não faria isso comigo e muito menos com sua filha!” Charles para, olha para trás, volta-se para Adrienne e fala: “Você, me colocando chifres? Ah! Ah! Ah! Ah! Se olhe no espelho e se enxergue Adrienne: você já está com quase cinquenta anos, está f**a e quase não sai mais de casa. Não ia e não vai arrumar um amante nunca!” Adrienne olha para Charles com os olhos ardendo de raiva, faíscas de indignação brilhando em suas pupilas. Sua respiração pesada e irregular denuncia uma frustração que parece quase tangível no ar entre eles. Cada inspiração e expiração soa como um trovão s***o, preenchendo a sala com uma tensão palpável. Suas mãos tremem ligeiramente, cerradas em punhos ao lado do corpo, enquanto ela luta para conter as palavras amargas que queimam em sua garganta, prontas para explodir a qualquer momento. O silêncio entre os dois é cortante, carregado de uma eletricidade que ameaça transformar-se em uma tempestade a qualquer instante. Ela sente o peso da ironia de seu marido como uma onda avassaladora prestes a engoli-lo, cada segundo mais sufocante que o anterior: “Como você ousa falar assim comigo, Charles?” Adrienne responde, com um tom de voz bastante carregado de desapontamento. “Eu abri mão de tantas coisas por você, por nossa família. E você? Não passa de um egoísta que não reconhece o que tem ao seu lado”.
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