A MANSÃO DE CAINA- 06

1301 Words
A determinação de Sandrine se fortalecia a cada passo, alimentada pela sede implacável de confrontar a verdade obscura que agora se erguia diante dela como um espectro implacável. E mesmo caminhando a passos rápidos, ela estava determinada a desvendar os véus de mentiras que haviam obscurecido sua visão por tanto tempo, mesmo que isso a levasse a enfrentar os abismos mais profundos de sua própria alma atormentada. Mas quando chegou a seu luxuoso quartel, onde o pai era o general e ela e sua mãe eram as recrutas zeros, ela ouve o pai, que havia chegado do shopping muito antes dela, discutindo mais uma vez com sua mãe: “Eu não vou te dar mais dinheiro Adrienne! O que te dou por semana é para passar a semana: se vire pro dinheiro render!” “É até engraçado essa sua vida, Charles. O maior empresário do ramo de estofados do Estado ser o mais pão duro de toda a região”, disse Adrienne num tom de ironia, “E esse dinheiro é para pagar os livros da universidade onde Sandrine estuda. Livros do terceiro grau são caros, Sabia?” “Se ela quiser ser alguém na vida, que vá trabalhar!” Esbravejou Charles “Eu já dou o suficiente para as duas. E quer saber? Não vou comer essa comida de hospital que você faz, não: vou jantar fora!” “Pai, mãe, o que está acontecendo aqui?” Sandrine entrou na sala, sua voz trazendo um tom de autoridade e firmeza que refletia sua determinação. “Ah, querida, você chegou”. Adrienne dirigiu-se a ela, tentando suavizar a tensão no ar. “Estávamos apenas discutindo alguns assuntos familiares”. “Assuntos familiares, mãe? Parece mais uma batalha campal”. Sandrine cruzou os braços, encarando seu pai com uma expressão de desaprovação. “E qual é o problema em eu estudar e receber apoio para isso?” Charles bufou, mesmo com os músculos do rosto tensionados em um esforço para conter a raiva que borbulhava dentro dele. Ele ignorou o olhar duro e penetrante de sua filha, que parecia desafiá-lo a cada segundo. Era um olhar carregado de mágoa, dor e uma ponta de desafio, como se estivesse dizendo sem palavras: "Até quando vai continuar mentindo assim?". Ele virou o rosto, tentando afastar os pensamentos tumultuados que surgiam em sua mente. O silêncio de milésimos de segundo entre eles era pesado, quase palpável, como uma tempestade prestes a desabar. Cada respiração parecia um desafio e cada segundo uma eternidade. O ar estava impregnado de tensão, e Charles sentia o peso do julgamento nos olhos da filha, olhos que antes eram cheios de admiração e agora só refletiam desapontamento e tristeza. O coração de Charles batia forte, e ele podia sentir o suor frio escorrendo pela nuca. A cada suspiro que ele tentava controlar, parecia que o abismo entre ele e sua filha aumentava. Ele sabia que deveria dizer algo, qualquer coisa, para quebrar aquela barreira invisível que os separava, mas as palavras não vinham. Apenas o silêncio e o som abafado de sua própria respiração. Finalmente, ele fechou os olhos por um momento, tentando encontrar a calma que tanto lhe escapava. Quando os abriu novamente, viu que sua filha ainda o observava, implacável, com um brilho de lágrimas não derramadas que apenas acentuava o drama daquela confrontação silenciosa. E naquele instante, Charles percebeu o quanto tinha a perder, e o quanto já havia perdido: “Não quero discutir isso agora, Sandrine. Já disse que você precisa aprender a se sustentar sozinha”. “Mas pai, eu tenho direito a uma educação, a um futuro!” Sandrine sentia as palavras saírem com mais força do que imaginava. A traição de seu pai ao tentar cortar seu acesso à educação a deixava furiosa. Adrienne interveio, a voz firme, mas suave, ecoando pela sala em um esforço desesperado para acalmar os ânimos exaltados. Seus olhos brilhavam com determinação enquanto se colocava entre as partes em conflito, erguendo as mãos em um gesto pacificador. A tensão no ar era quase palpável, cada respiração pesada, carregada de emoções reprimidas e palavras não ditas. Adrienne sabia que precisava agir rapidamente, antes que a situação explodisse em uma tempestade incontrolável de ira e ressentimento. “Por favor, vamos todo nos acalmar...” Começou Adrienne, dando a perceber que sua voz tinha um misto de urgência e serenidade. “Todos nós estamos aqui porque nos importamos, então vamos encontrar uma maneira de resolver isso juntos”. Sandrine, cuja expressão era de frustração contida, olhou diretamente para Adrienne. “Mas como, mãe? Como podemos resolver isso quando parece que ninguém está ouvindo?” Adrienne manteve seu olhar firme em Sandrine, os olhos refletindo compreensão e paciência. “Nós precisamos ouvir uns aos outros”. Respondeu ela. “Não apenas ouvir, mas realmente entender. Vamos tentar de novo, um de cada vez”. Charles, com o rosto corado de raiva, deu um passo à frente. “O problema é que Sandrine não entende a pressão que estou sofrendo na empresa!” Exclamou Charles, com a voz carregada de exasperação. Adrienne voltou-se para ele, assentindo lentamente. “Eu entendo que você está sob muita pressão. E é exatamente por isso que precisamos conversar, Sandrine...” Disse Adrienne virando-se novamente para a filha, “Você consegue explicar seu ponto de vista, novamente? Agora, por favor, com calma”. Sandrine respirou fundo, com seus ombros relaxando ligeiramente. “Eu só quero ser ouvida. Apenas isso”. Disse ela, com a voz agora mais controlada. “A cada dia que se passa, sinto que minhas preocupações acadêmicas não estão sendo levadas a sério”. O silêncio que se seguiu era denso, carregado de possibilidades. Adrienne manteve sua postura, o coração batendo forte no peito e sua mente formulando palavras que fossem as mais adequadas para acalmar as almas perturbadas ao seu redor, enquanto Charles estava planejando mil formas de escapar dali, antes que algum interrogatório íntimo começasse. “Estamos ouvindo você agora...” Afirmou Adrienne com um pequeno sorriso encorajador. “E vamos trabalhar juntos para encontrar uma solução que funcione para melhor para nós todos”. A sala parecia prender a respiração coletivamente, os olhares fixos de Sandrine em Adrienne, a tensão lentamente dando lugar a uma curiosidade cautelosa. Com cada palavra medida e gesto calculado, Adrienne plantava sementes de esperança, transformando uma tempestade iminente em uma possibilidade de paz e compreensão. Ela sabia que o momento era crucial e qualquer passo em falso poderia desfazer o delicado fio de esperança que havia começado a tecer: “Sandrine, seu pai apenas quer o melhor para você, mesmo que às vezes sua forma de expressar isso não seja a mais gentil”. “O melhor para mim é ter controle sobre meu próprio destino, mãe”. Sandrine olhou firmemente nos olhos de sua mãe, buscando compreensão. “E isso inclui continuar meus estudos”. Charles se levantou abruptamente, com uma fúria que parecia emanar de cada fibra de seu ser. Seu rosto, antes tranquilo, agora estava contorcido em uma expressão de pura indignação. Seus olhos, ardendo com uma intensidade feroz, varreram a sala, procurando um alvo para a sua raiva incontida. As mãos, cerradas em punhos, tremiam ligeiramente, como se ele estivesse lutando para conter um impulso de violência. A energia de sua explosão silenciosa se espalhou pelo ambiente, criando uma tensão palpável que fez com que todos à sua volta prendessem a respiração, esperando pela próxima ação desse homem tomado por uma ira quase palpável. “Chega dessa conversa! Sandrine, vá para o seu quarto. E você, Adrienne, faça um jantar decente da próxima vez, porque essa lavagem não serve nem pra dar pros cachorros! Estou saindo”.
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